sexta-feira, 13 de maio de 2011

Uma fralda

Vi uma fralda suja no estacionamento.

Eu voltava do almoço, caminhando, e vi uma fralda suja, de criança, jogada no chão, perto do meio fio de um estacionamento no complexo administrativo onde trabalho.

O blogueiro Sakamoto poderá inferir que, como não disse qual era a marca da fralda, se tratava de uma fralda barata, jogada no chão pelos pais pobres da criança, que não tiveram acesso a materiais de melhor qualidade, vivem com dificuldade e não quiseram empestear seu carro com as fezes. Isso não seria justo! O carro é único patrimônio de uma família pobre, foi pago em centenas e centenas de prestações. 

Os burgueses, esses sim, merecem a fralda jogada no canto. As fezes embaladas na fralda são um castigo pequeno perto da aberração do trabalho escravo. Logo os leitores deste Blog seriam brindados com mais uma crônica a respeito da insensibilidade das elites, dessa vez com fraldas de criança pequena.

Eu já adivinho que o Asqueroso, por sua vez, lerá o texto do blogueiro e dirá que ele tem complexo de adolescente. Recitará Sócrates em grego, francês e alemão e, numa lógica confusa, perguntará que espécie de coronel é esse que não recolheu a fralda e não a jogou no lixo. Atacará minha hipocrisia por ter visto o errado e não ter mexido uma palha para corrigí-lo. E ele terá sua razão.

Então, já lhes respondo que não sei qual era a marca da fralda e não sei quem a jogou. Não vi latas de lixo onde pudesse jogar a fralda, mesmo assim, não a pegaria por um motivo simples: tive nojo! 
  
A polêmica fralda serve apenas de degrau para comentar sobre o poder da comunicação má intencionada. É prática comum na imprensa e nos blogs pegar os fatos e apertá-los de um lado e de outro para que caibam numa caixa, a caixa ideológica! Nessa caixa, os acontecimentos se resumem ao aspecto que interessar ao objetivo final, convencer os outros de suas opiniões e, se puder, convertê-los aos seus dogmas.

Reparem que eu não peguei a fralda, mas, nesse texto, eu a apertei e a amoldei aos meus próprios interesses. Foi um bom exercício de retórica para que todos procurem a verdade por trás dos fatos; e não o que se quer lhes impor. 
 
Uma fralda é apenas uma fralda. Jogá-la no estacionamento foi obra de gente mal educada e este texto tem a melhor das intenções. Mesmo assim, cuidado! O inferno está cheio de gente bem intencionada.


Nenhum comentário:

Postar um comentário