sábado, 31 de março de 2012

Preposos

Eu acredito que foi boa a medida de realizar o primeiro ano da formação do oficial na EsPCEx (Prep) e os outros quatro na AMAN. Agora, os alunos da Prep ingressam na escola por volta dos dezessete ou dezoito anos, já com o ensino médio concluído. 
Na minha época, havia três caminhos para a AMAN: a Prep, o Colégio Militar (CM) ou o concurso. Fazia-se concurso para a EsPCEx quando se tinha uns catorze anos de idade. Vamos convir que era muito prematuro para um jovem daquela idade definir a profissão que desejaria seguir o rsto da vida. Este foi o meu caso. 
Concluí a oitava série com catorze anos e nem pensava em ser militar. Preferi seguir no CM a ingressar na Prep. Aos dezesseis anos, descobri minha vocação e direcionei meus estudos para entrar na AMAN. 
Não me arrependo, mas tenho admiração da determinação dos companheiros que foram para a Prep tão cedo.

Suecos

O Fernando Rodrigues publicou um artigo hoje na Folha que relata uma pergunta que um grupo de deputados suecos lhe fez num encontro social. Os suecos querem saber o que quer o Brasil no cenário internacional. Eles não gostaram da resposta que um ministro lhes deu, que o Brasil quer crescer; acham que isso é apenas um objetivo doméstico, que não o guindaria à condição de protagonista no cenário internacional.
Eu comento. Para mim, a resposta do ministro está cem por cento correta. O Brasil quer mesmo crescer, se desenvolver, melhorar. Isso não é um objetivo apenas doméstico. O crescimento sustentável dependerá de um ambiente internacional harmônico e respeitoso.
Os suecos não gostam que o Brasil tente ser amigo de todos; para eles, quando alguém é amigo de todo mundo, não consegue o respeito necessário.
Vai ver que é por isso que há tantos conflitos no mundo. Mesmo os suecos, campeões mundiais do progressismo e do politicamente correto, são hostilizados por outros povos que não gostam quando loiros de olhos azuis lhes imponham normas de conduta.
Eu gosto mais da idéia da autodeterminação dos povos e do princípio de respeitar para ser respeitado.

Vai de metrô



Um dos artigos da Folha de São Paulo de hoje reproduz uma pergunta do General Nilton Cerqueira, ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro e justamente o homem que matou Carlos Lamarca.
O general estava na palestra de anteontem no Clube Militar e foi bastante hostilizado pelos “bandeiras vermelhas” que tumultuavam o ato dos militares da reserva. A pergunta do general era: que mal oferecia um monte de idosos?
O general, de 81 anos, fez a pergunta e eu respondo: o mal é que a palestra ofendeu a “verdade oficial” que os “bandeiras vermelhas” nos impõem.
Isso é tão óbvio que até uma criança de dez anos, que leia algo mais do que lhe é ensinado nas escolas, poderia responder. Bastaria só um pouquinho de isenção, mas o artigo da Folha não chegou a essa conclusão.
Ah, só para constar, depois da palestra, o general voltou para casa de metrô, como fazem tantos outros brasileiros honestos e trabalhadores.

Vocês tão de sacanagem, não é?


Esse mundo está mesmo torto! Hoje, 31 de março, 48 anos depois de 1964, a imprensa publicou vários artigos sobre a Comissão da Verdade. Os que li foram muito bem escritos e com uma argumentação bem encadeada.

Pena que todos apresentam o mesmo pecado recorrente: baseiam-se numa premissa falsa, a de que os militares não querem a verdade. Pois digo que é muito pelo contrário; os brasileiros de farda querem a verdade, mas TODA A VERDADE. Vou explicar.

A anistia de 1979 serviu para pacificar o Brasil e levá-lo à democracia. Os crimes de ambos os lados foram, digamos, perdoados. Os assassinos e terroristas de bandeira vermelha voltaram ao País e muitos à cena política; os outros, na maioria funcionários do Estado, continuaram discretamente com suas vidas.

Trinta e tantos anos depois, o palco do teatro político é dominado pelos “bandeira vermelha”, que resolvem que resolvem que apenas os crimes dos torturadores devem ser elucidados; que os crimes dos terroristas e assassinos não eram crimes, eram reclames sociais legítimos. Ora, vamos convir que isso é ..., perdão, mas vou dizer, ... uma SACANAGEM.

Os brasileiros de farda estão cansados das mentiras da bandeira vermelha; não querem meias verdades; se for para contar a verdade, que ela seja inteira, imparcial, despolitizada.

Vamos convir que isso é bem razoável. Experimente você chegar em casa de madrugada, fedendo a cachaça, com mancha de batom no colarinho, e conte apenas uma meia verdade à sua mulher. Ela, no mínimo vai lhe dizer: VOCÊ TÁ DE SACANAGEM, NÃO É?

quinta-feira, 29 de março de 2012

Ovo da serpente

No último 23 de março, o Leonardo Sakamoto publicou em seu Blog o texto "Cale-se! O silêncio machuca, o diálogo é música". Do texto, destaco o seguinte trecho: "No dia 21 de março, um protesto contra o direito ao aborto reuniu pessoas na Praça da Sé, em São Paulo. Elisa Gargiulo, da banda Dominatrix, resolveu dar a sua opinião, contrária, pacificamente. Poderia ser um momento de diálogo, rico. Mas calar Elisa foi mais fácil." 

Pois é, o Sakamoto reclamou quando impediram uma de suas correligionários de se manifestar; chegou a falar da riqueza do diálogo, da oportunidade perdida em se trocar ideias civilizadamente. É claro que a tal dominatrix provocou uma reação para depois se fazer de vítima. Em linguajar bolchevique, ela agiu como uma provocadora. 

O Sakamoto, que tanto reclamou uma semana atrás, hoje não escreveu uma linha sequer para se queixar da violência contra a livre manifestação dos militares da reserva. É obvio: tinta na roupa dos outros é refresco. 

Um bando, devidamente orquestrado pelos caciques vermelhos, dedicou sua tarde de hoje para tumultuar um evento legítimo. O resultado é que homens de setenta e tantos anos, alguns até mais idosos, se viram acossados por uma turba que não os poupou de cusparadas, xingamentos e até agressões físicas. Tudo isso porque a bandeira vermelha não admite opiniões contrárias. 

Daí, pergunto: isso é mesmo o estado democrático de direito? Eu respondo que não. Há muita coisa errada e truculência não faz parte do repertório de uma democracia saudável. Também tenho uma convicção: todo revolucionário tem dentro de si um germe de autoritarismo. Concluo que o jovem que hoje cuspiu nos velhinhos do Clube Militar é o protótipo do autocrata do amanhã. 

Estamos diante do ovo da serpente.

domingo, 18 de março de 2012

Dor na alma

Não se pode conformar com tratamentos desiguais. A dor da injustiça é mais aguda que a da injúria. A Lei vale para todos e a maior ofensa é a desigualdade. Isonomia não diz respeito apenas à questão salarial; antes de tudo, é um princípio. 
Foge ao bom senso a existência de uma comissão que investigue apenas um lado da história e se intitule que é da Verdade. Não pode haver verdade onde há apenas meia-verdade. Meias verdades são completas mentiras. 
Militares obedecem, cumprem missões que outros recusam, e, algumas vezes, morrem. Tantos morreram no Haiti e agora na Antártica. Mesmo assim, não se notam lágrimas nas faces daqueles que conduzem este país. 
Pior que a indiferença é saber que há outros que não obedecem, recusam missões e são premiados com altos salários. Uns se limitam a cumprir suas horas de expediente tal como uma missa de corpo presente; auditores e delegados recém admitidos recebem salários mais elevados que generais com quase quatro décadas de serviço. Os soldos das praças não condizem com o trabalho que desenvolvem e são muito, mas muito menores do que o de outros servidores de nível médio. 
Tudo isso dói na alma, mas militares são resistentes, generosos e abnegados. Sim, são tudo isso,  mas sua resistência, generosidade e abnegação não significam resignação e muito menos concordância.

sábado, 17 de março de 2012

Lenga-lenga

Quando comandei o Arsenal de Guerra General Câmara, descobri uma biblioteca repleta de livros historicos. Antes que as traças os devorassem completamente, eu fotografei uma parte deles e me propus a escrever sobre o velho arsenal. Enviei dois artigos para a Revista do Exército Brasileiro, que aproveitou apenas um, que tratava sobre a epidemia de cólera que atingiu o Exército Imperial no Paraguai. 
Essa minha lenga-lenga é apenas para desabafar. Um cretino chamado José Júlio Chiavenatto publicou, nos anos setenta, um livro difamando o Brasil. Para ele, a guerra contra os paraguaios foi um genocídio planejado pelos ingleses e executado pelos cruéis militares brasileiros. Ele chega ao cúmulo de acusar o Duque de Caxias de atirar no rio os corpos dos paraguaios mortos pelo cólera, numa tentativa de propagar a doença no lado inimigo. Além de infame, o sujeito é um completo ignorante da geografia e dos cursos dos rios na zona de conflito. 
Felizmente, ainda que haja muito imbecil que acredite na retórica vermelha dos anos 60 e 70, sinto que parte de nossa juventude  já está de saco cheio de ouvir tanta mentira e exige mais honestidade no trato dos fatos.

Babaq¨#¨&@

Eu não suporto esses xiitas do ambientalismo inconsequente. Parecem a reencarnação dos inquisidores da idade média. Tudo é errado, tudo faz mal, tudo destroi a natureza. Não se pode comer carne, tomar leite, usar o celular, usar sacolinhas plásticas, tomar banho quente, comer batata frita, usar o microondas, andar de carro e, agora, falar no celular. 
Hoje não se pode mais dizer isso, mas quando eu era mais jovem eu chamaria toda essa paranoia de ... babaquice.

Mão na massa

Um artigo publicado na edição de 22 de janeiro deste ano no Estado de São Paulo comenta a abertura de 300 mil vagas em cursos profissionalizantes. Seria uma iniciativa do Governo Federal e os cursos se destinariam à formação de pintores, pedreiros, eletricistas, dentre outros.
Embora elogie a iniciativa, o Estadão a qualifica como assistencialista e reclama uma estratégia que integre as políticas sociais com a modernização da economia.
Eu discordo dessa cobrança. A iniciativa é uma etapa adicional de um amplo programa de transferência de rendas, que tem dado muito certo. 
Fui um cético e um crítico do Bolsa Família, mas reconheço que ele tem dado certo. A melhor distribuição de renda tem favorecido a expansão da economia, fortemente apoiada na capacidade de consumo do mercado interno. 
É evidente que o País necessita da turma da vanguarda, aquela dos nerds e cientistas que puxam o trem da economia com sua locomotiva da inovação. Mas, esse trem tem muitos vagões e há espaço de sobra para pedreiros, eletricistas e jardineiros. Essas profissões não são glamurosas, mas são indispensáveis. 
Encontro até uma similitude com o mundo militar. Na primeira Guerra do Golfo, vinte anos atrás, para cada combatente na linha de frente havia nove outros militares provendo apoio logístico. 
Todo empreendimento humano necessita de uma boa infraestrutura de apoio. É como o pianista que depende que alguém carregue seu piano. Assim, se não houver quem se disponha a botar a mão na massa, não haverá espetáculo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Não devo, mas temo

Dizem que quem não deve, não teme. Pode ser em outros lugares, mas aqui no Brasil, quem não deve, teme; e quem deve, esse fica tranquilo. Em dezembro do ano passado, a ONG Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos acusou oito soldados brasileiros de espancar três haitianos. A notícia correu o mundo e teve gente que acreditou que o militar brasileiro é violento e cruel. Em janeiro deste ano, uma investigação das Nações Unidas comprovou que a denúncia era falsa. Nossos soldados eram inocentes, mas sua inocência não teve a menor repercussão na mídia. Aí, vem uma regrinha: a percepção vale mais do que a realidade.

sábado, 3 de março de 2012

O mensalão, a mentira ideológica e a vergonha do Exército

O texto abaixo foi publicado pelo Correio Brasiliense e transcrito na Resenha do Exército em 27 de dezembro de 2011. Trata-se de um artigo de Jarbas Passarinho, um sujeito admirável. Qualquer um que estuda história com um mínimo de isenção sabe que a guerrilha das décadas de 1960 e 1970 repudiava a democracia burguesa. Hoje, os antigos guerrilheiros posam como heróis da resistência. Paro por aqui. É melhor ir logo ao texto.

O mensalão, a mentira ideológica e a vergonha do Exército
Jarbas Passarinho
 

Coronel reformado, foi governador, senador e ministro de Estado
O mensalão chega ao limite dos prazos judiciais para a sua apuração às vésperas de consumar a absolvição coletiva dos denunciados, por efeito da prescrição voluntária. Os quatro anos decorridos, entre hoje e a denúncia da "organização criminosa", assim denominada pelo honrado procurador-geral da República, Antônio Souza, ao Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2007, foram fruto de manobras protelatórias dos advogados e da tardança tradicional da Justiça. Já causaram a prescrição do crime de formação de quadrilha que pesa sobre José Dirceu, "chefe da quadrilha dos 40", assim qualificado na denúncia. Daí a preocupação com a possível prescrição total em 2012, ano final para o voto do relator, Joaquim Barbosa.
O processo avança a passo de cágado, agora sob a ameaça da declaração pública, intempestiva do voto anunciado
pelo ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo, a quem cabe falar imediatamente e obrigatoriamente após receber
o relatório, para opinar. Dizendo-se compelido a ler e opinar sobre mais de 2 mil páginas do processo, de que já recebera
cópia e acaba de receber o original das mãos do ministro Barbosa, alega só poder fazê-lo em 2013.
Nessa data, estaremos há um ano de cumpridos todos os prazos para o voto final do ministro Joaquim Barbosa. Então dois ministros de conhecida inclinação para votar contra os mensaleiros terão deixado o STF por terem mais de 70 anos, obrigando-os à aposentadoria compulsória. Informa a revista Veja — edição de 21 de dezembro de 2011 — que "o voto anunciado do ministro Lewandowski criou um enorme mal-estar entre os colegas do Supremo Tribunal Federal", pois tornaria o processo totalmente perempto.
Certamente não esperava que o relator, mediante grande esforço físico e mental, iria remeter-lhe o processo pronto para a revisão, como já o fez. Antecipou sua disposição de, recebido de volta o relatório com o parecer do revisor, estará pronto para apresentar seu voto final habilitando o STF a iniciar o julgamento em abril. No relatório, antecipa voto, condenando desde logo José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, líderes do PT e Marcos Valério, organizadores "do mecanismo que possibilitou ao governo de Lula desviar milhões de reais dos cofres públicos para financiar campanhas políticas e subornar deputados".
O desafio do maior escândalo ocorrido logo no segundo ano do primeiro mandato de Lula abateu muito o então presidente. Sua popularidade desabou de 80% para 20%. Dizendo-se traído, foi acreditado. Cumpriu o conselho do seu ministro da Justiça, criminalista famoso, e passou a dizer que se tratava de "inocente caixa dois". Desde então, os mensaleiros viraram vítimas de uma farsa.
A leniência de ontem é trocada hoje pelo combate aos acusados de má conduta, exceção para o companheiro de guerrilha. O atual ministro de Estado Fernando Pimentel é o caso. Companheira de crença ideológica que perfilhou quando, ainda estudante, a hoje presidente deixou-se empolgar pela paixão revolucionária que dominou o século 20. No discurso de posse na Presidência da República declarou que não se arrependia e tinha orgulho desse passado.
Já o ministro Pimentel, não. Em resposta aos que o atacam da prática de suspeita relação financeira com a Federação das Indústrias de Minas Gerais, quando deixou a Prefeitura de Belo Horizonte, sempre foi democrata toda a sua vida e pela defesa da democracia lutara contra a "ditadura militar". Não é verdade. Desde sua filiação à facção marxista Colina, de estudantes de Minas Gerais, usando codinome, foi colega da jovem que hoje é presidente da República e do destacado líder Daniel Aarão Reis, mais tarde preso e exilado. 

Pois é Daniel quem o desmente por escrito para os jornais. Afirma que nenhum documento da guerrilha fala em luta pela democracia. Confirma-o também para a mídia Fernando Gabeira, enquanto José Dirceu acrescenta que a versão falsa foi um artifício usado a partir da luta pela anistia, por ser mais aceitável para com a opinião pública.
Quando eclodiu a série de desonestidades no Dnit do Ministério dos Transportes, o noticiário da mídia foi profuso em relação às fraudes em vários dos convênios para transposição de águas do Rio São Francisco para a região do semiárido do Nordeste. Obra de vulto faraônico do PAC, está praticamente paralisada por falta de verba para prosseguir os trabalhos.
Aproveitando-se disso, houve quem se utilizasse da ausência da fiscalização permanente e desviasse máquinas do patrimônio da União para uso próprio ou para projetos do mesmo programa em curso, não importa.
Havia, entre os convênios, alguns a cargo do Exército. Fiquei confiante como sempre na tradicional reputação respeitável colhida pela Engenharia Militar de Construção. Os civis responsáveis pelos desvios foram demitidos. A honestidade, nunca antes manchada e por isso dela colhida em obras civis associadas, horrorizou-me vê-la pela primeira vez moralmente ofendida. Temos orgulho desde a existência do Exército, de centenas de anos, de conduta inatacável.
Antes da eclosão pública e política das fraudes, o Exército já havia aberto inquérito que certamente trará consequências cuja gravidade é incompatível com generosidade para com quem enlameou a honra da instituição.

Fígado

Eu ainda tenho fígado e muito do que leio, vejo e ouço me fazem mal à saúde. É que violações à Lei e atentados ao bom senso são um veneno. O mais provável é que eu chegue ao xadrez ou ao cemitério antes de qualquer outra coisa. O ruim disso tudo é que não dá para ficar calado; o bom é que escrever ajuda a botar o veneno para fora e desopila o figueiredo.

Querem impor a mordaça, de Marco Antonio Villa

Publicado pelo Globo e transcrito na Resenha do Exército em 27 de dezembro de 2011

Opinião
Querem impor a mordaça
Marco Antonio Villa
Não é novidade a forma de agir dos donos do poder. Nas três últimas eleições presidenciais, o PT e seus comparsas
produziram dossiês, violaram sigilos fiscais e bancários, espalharam boatos, caluniaram seus opositores, montaram farsas.
Não tiveram receio de transgredir a Constituição e todo aparato legal. Para ganhar, praticaram a estratégia do vale-tudo.
Transformaram seus militantes, incrustados na máquina do Estado, em informantes, em difamadores dos cidadãos. A
máquina petista virou uma Stasi tropical, tão truculenta como aquela que oprimiu os alemães-orientais durante 40 anos.
A truculência é uma forma fascista de evitar o confronto de ideias. Para os fascistas, o debate é nocivo à sua forma de
domínio, de controle absoluto da sociedade, pois pressupõe a existência do opositor. Para o PT, que segue esta linha, a
política não é o espaço da cidadania. Na verdade, os petistas odeiam a política. Fizeram nos últimos anos um trabalho de
despolitizar os confrontos ideológicos e infantilizaram as divergências (basta recordar a denominação "mãe do PAC").
A pluralidade ideológica e a alternância do poder foram somente suportadas. Na verdade, os petistas odeiam ter de
conviver com a democracia. No passado adjetivavam o regime como "burguês"; hoje, como detém o poder, demonizam
todos aqueles que se colocam contra o seu projeto autoritário. Enxergam na Venezuela, no Equador e, mais recentemente,
na Argentina exemplos para serem seguidos. Querem, como nestes três países, amordaçar os meios de comunicação e
impor a ferro e fogo seu domínio sobre a sociedade.
Mesmo com todo o poder de Estado, nunca conseguiram vencer, no primeiro turno, uma eleição presidencial.
Encontraram resistência por parte de milhões de eleitores. Mas não desistiram de seus propósitos. Querem controlar a
imprensa de qualquer forma. Para isso contam com o poder financeiro do governo e de seus asseclas. Compram
consciências sem nenhum recato. E não faltam vendedores sequiosos para mamar nas tetas do Estado.
O panfleto de Amaury Ribeiro Junior ("A privataria tucana") é apenas um produto da máquina petista de triturar
reputações. Foi produzido nos esgotos do Palácio do Planalto. E foi publicado, neste momento, justamente com a intenção
de desviar a atenção nacional dos sucessivos escândalos de corrupção do governo federal. A marca oficialista é tão
evidente que, na quarta capa, o editor usa a expressão "malfeito", popularizada recentemente pela presidente Dilma
Rousseff quando defendeu seus ministros corruptos.
Sob o pretexto de criticar as privatizações, focou exclusivamente o seu panfleto em José Serra. O autor chegou a
pagar a um despachante para violar os sigilos fiscais de vários cidadãos, tudo isso sob a proteção de uma funcionária
(petista, claro) da agência da Receita Federal, em Mauá, região metropolitana de São Paulo. Ribeiro - que está sendo
processado - não tem vergonha de confessar o crime. Disse que não sabia como o despachante obtinha as informações
sigilosas. Usou 130 páginas para transcrever documentos sem nenhuma relação com o texto, como uma tentativa de
apresentar seriedade, pesquisa, na elaboração das calúnias. Na verdade, não tinha como ocupar as páginas do panfleto
com outras reportagens requentadas (a maioria publicada na revista "IstoÉ").
Demonstrando absoluto desconhecimento do processo das privatizações, o autor construiu um texto desconexo.
Começa contando que sofreu um atentado quando investigava o tráfico de drogas em uma cidade-satélite do Distrito
Federal. Depois apresenta uma enorme barafunda de nomes e informações. Fala até de um diamante cor -de-rosa que teria
saído clandestinamente do país. Passa por Fernandinho Beira-Mar, o juiz Nicolau e por Ricardo Teixeira. Chega até a
desenvolver uma tese que as lan houses, na periferia, facilitam a ação dos traficantes. Termina o longo arrazoado dizendo
que foi obrigado a fugir de Brasília (sem explicar algum motivo razoável).
O panfleto não tem o mínimo sentido. Poderia servir - pela prática petista - como um dossiê, destes que o partido usa
habitualmente para coagir e tentar desmoralizar seus adversários nas eleições (vale recordar que Ribeiro trabalhou na
campanha presidencial de Dilma). O autor faz afirmações megalomaníacas, sem nenhuma comprovação. A edição foi tão
malfeita que não tomaram nem o cuidado de atualizar as reportagens requentadas, como na página 170, quando é dito que
"o primo do hoje candidato tucano à Presidência da República..." A eleição foi em 2010 e o livro foi publicado em novembro
de 2011 (e, segundo o autor, concluído em junho deste ano).
O panfleto deveria ser ignorado. Porém, o Ministério da Verdade petista, digno de George Orwell, construiu um
verdadeiro rolo compressor. Criou a farsa do livro invisível, isto quando recebeu ampla cobertura televisiva da rede onde o
jornalista dá expediente. Junto às centenas de vozes de aluguel, Ribeiro quis transformar o texto difamatório em denúncia.
Fracassou. O panfleto não para em pé e logo cairá no esquecimento. Mas deixa uma lição: o PT não vai deixar o poder tão
facilmente, como alguns ingênuos imaginam. Usará de todos os instrumentos de intimidação contra seus adversários,
mesmo aqueles que hoje silenciam, acreditando que estão "pela covardia" protegidos da fúria fascista. O PT não terá dúvida
em rasgar a Constituição, se for necessário ao seu plano de perpetuação no poder. O panfleto é somente uma pequena
peça da estrutura fascista do petismo.
MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP).