quarta-feira, 11 de maio de 2011

A história do Asqueroso

O Asqueroso não foi sempre um asqueroso. Ele nasceu Garibaldo, no distrito de Azalapão, município de Fiofó das Dores, que fica depois da serra de Itapequenatanga, próximo à represa de Mixuruquitinga. Ali, onde só tem roça e onça, nasceu e se criou o Asqueroso.

Desde pequeno, revelou impressionante talento para memorizar trechos inteiros de livros, fórmulas matemáticas e bulas de remédio. Pena que tivesse tanta dificuldade em geometria; era incapaz de unir dois pontos com uma reta. Pior ainda, não conseguia elaborar um pensamento lógico sequer. Contudo, nada o superava na arte da recitação.

Recitava, recitava e recitava, tal qual um papagaio sabido. Campeão fioforense de recitação.

Nos esportes, era uma negação absoluta, tropeçava nas próprias pernas infantis e na água não conseguia dar duas braçadas seguidas. Dizia-se que ele era descoordenado e caótico.

Como tantos e tantos conterrâneos fioforenses, Garibaldo era são paulino roxo. Por isso, amava o São Paulo e o roxo era sua cor preferida. Tanto era assim, que comprou a camisa roxa do Corinthians, mantida a sete chaves dentro de seu armário. Segredinhos são paulinos, sabe?

O craque do São Paulo era o Raí. Garibaldo tinha fotos do craque espalhada no seu quarto, colecionava as figurinhas do Raí, o poster do Raí ficava na parede defronte sua cama e seu rosto era a primeira coisa que via todos os dias, quando acordava. Ah, que felicidade!

Então, um dia descobriu que Raí tinha um irmão, o Sócrates.
Curioso, pesquisou o que pôde sobre o irmão do Raí e acabou esbarrando em outro Sócrates, o filósofo grego. Foi uma revelação!
Apaixonou-se pelo filósofo e seu estilo de vida, leu tudo sobre a doutrina socrática, dedicou horas e horas a decorar, decorar e decorar.

Anos depois, quando Rai foi vendido para um clube francês, Garibaldo juntou suas parcas economias e seguiu para a Europa, seguindo seu amor pelo craque.

Quando ele chegou a Paris, precisou buscar o que fazer.
Era tempo do Baccalauréat (vestibular) e o Asqueroso se inscreveu para as provas do curso de filosofia da Sorbonne. Nas provas, havia um teste oral e Garibaldo, mesmo sem falar uma palavra sequer de francês, recitou dois livros do filósofo Sócrates, em grego e de cor. Impressionou tanto a banca, que foi admitido na hora.

O Asqueroso sofreu duramente com o idioma e, por isso, foi se arrastando pelo curso. Seu francês era tão ruim, que os professores mal o entendiam. Melhor para ele, pois assim conseguiu disfarçar a total falta de lógica de seus pensamentos.

Depois de vários e vários anos na Sorbonne, depois de decorar livros e livros, citações e citações em francês, grego e alemão, Garibaldo conseguiu a tão sonhada carteirinha de filósofo francês.

Por ser um filósofo formado pela Sorbonne, ele tratou de mudar de nome. Passou a se chamar Garribaud, pronunciando-se Garribô. Gostou tanto que mudou também de nacionalidade. Passou a ser Garribaud, um legítimo francês.

Desde sempre, adorou a bandeira tricolor e torceu ardorosamente para a França na Copa de 98. Vibrou com os gols do Zidane e cantou emocionado a Marselhesa, bêbado, nos bulevardes.

Contudo, engana-se quem pensa que o Asqueroso esqueceu suas origens. Se antes ele era um Fioforense De Azalapão; passou a adotar as iniciais de sua nova identidade, le Français D´Azalapón.

Minha gente, esse é o Asqueroso, o Garibaldo de Fiofó das Dores, São Paulo, agora, Garribaud, le Français D´Azalapón.




Nenhum comentário:

Postar um comentário