quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Mais ratoagem

Tem gente da estrelhinha se dizendo indignado com tanta roubalheira. Até a Dona Marta já deu no pira.
Pera lá, petralhinhas. Todo mundo sabia da roubalheira e vocês não se incomodaram em teclar o 1 e o 3  na urna eletrônica.
Quando os ratos começam a pular do navio é melhor mesmo agarrar um colete salva vidas. Tá certo que é questão de sobrevivência, mas nem faz um mês vocês estavam ovacionando a capitão dessa nau. Agora, aguentem e afundem com o navio que vocês nos fizeram embarcar.

Ratoagem

Fez bem a polícia em admitir o erro de ter citado José Carlos Cosenza entre os envolvidos no Petrolão.
Sim, fez bem a polícia, mas também fez mal, muito mal, em ter errado.
Tudo o que a pilantragem quer é desacreditar a investigação. Não basta que ela esteja correta; mas terá que ser absolutamente convincente. Afinal, depois do que se viu no julgamento do mensalão, será que ainda há alguém que acredite piamente na lisura de alguns dos togados do STF? Uma brecha processual, um furo que se deixe, logo se transformará num imenso rombo jurídico, por onde a ratoagem escapará impune.
Foi bom a polícia revelar logo o seu erro, mas, em nome dos brasileiros de bem, por favor, não errem mais.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Malvinas



        A pacífica transferência de soberania de Hong Kong para a China me faz pensar se os argentinos teriam conseguido algo semelhante com as Malvinas se tivessem insistido na via diplomática ao invés de invadir as ilhas em abril de 1982.
        Na época, o golpe de mão me parecia uma aposta vitoriosa, pois duvidava que a Inglaterra seria capaz de enviar sua esquadra e seus soldados para retomar o território invadido.
        Os ingleses agiram com firmeza, mas também muito cuidado para não escalar o conflito, o que traria consequencias desfavoráveis com seu principal aliado, os EUA.
        Os ingleses parecem ter sido também muito habilidosos no trato da questão de Hong Kong. Eu vi o episódio com atenção e, depois de tantos anos, a vida por ali parece bastante civilizada. Prova da paciência chinesa ao buscar seus objetivos. Essa mesma paciência faltou aos afoitos generais argentinos do início da década de 1980.

domingo, 21 de setembro de 2014

Escócia

Gostei do resultado do referendo na Escócia. Os tempos de William Wallace ficaram mesmo para trás. O líder escocês do século XIII revoltara-se contra a tirania inglesa. Ele foi morto, mas inspirou o sentimento de identidade de sua nação.
Escócia e Inglaterra foram inimigos por muito tempo, mas acabaram forjando a união britânica em 1707, mesmo com motivações diferentes. Os ingleses movidos por razões geopolíticas, os escoceses por razões econômicas.
É curioso, mas as preocupações geopolíticas e econômicas voltaram ao centro do debate nas campanhas do sim e do não. A separação trazia o perigo do enfraquecimento de todos. As urnas escocesas mostraram a força da identidade nacional britânica e a percepção de que as vantagens em pertencer à Grã Bretanha superam as promessas de prosperidade, meio vagas, dos que defendiam a independência.
Por fim, o bom senso venceu o referendo. A razão foi mais forte que a emoção.

sábado, 13 de setembro de 2014

Irã atômico

Pelo que tenho acompanhado, o Irã já domina a tecnologia de enriquecimento de urânio.
É claro que o programa nuclear iraniano tem outros propósitos além da produção de energia termoelétrica, mas, antes de condenar o regime dos iatolás, é preciso considerar alguns fatos.
O primeiro é que o entorno regional iraniano apresenta de um lado o Paquistão e a Índia, e do outro Israel, os três possuindo seus próprios artefatos nucleares.
O segundo é que é legítimo que um país busque o domínio de um setor tecnológico. O que não é legítimo é a obtenção da arma atômica, seja por aquisição ou por desenvolvimento próprio.
O domínio da tecnologia de enriquecimento de urânio por si só já representa um poderoso elemento dissuasório contra eventuais ameaças.
Não percebo nenhum sinal de que o Irã já possua alguma arma atômica e, neste momento, um ataque contra as instalações nucleares iranianas seria catastrófico para as tentativas de estabilização regional.

Um leão por vez


Os EUA definiram sua  estratégia no Oriente Médio há muitos anos. Até a Primeira Guerra Mundial, toda aquela porção de terra do planeta era percebida apenas como a ligação entre o Egito e a Índia; depois da segunda guerra, como simples fornecedor de petróleo para os países desenvolvidos. 
Israel é um importante componente da equação geopolítica daquela região. As guerras de 67 e 73 conjugaram-se com o nacionalismo árabe da época e redundaram na crise do petróleo, que afetou as economias de todo mundo, e o terrorismo dos anos setenta, com atentados sangrentos e de viés esquerdista, alguns financiados e coordenados pela URSS.
A revolução teocrática iraniana de 79 é o marco temporal mais importante da contemporânea estratégia americana para o Oriente Médio. A partir dela, os EUA perseguem um grande objetivo de manter o status quo da região, buscando assegurar a consolidação do estado israelense, percebido como um quisto de democracia e prosperidade numa região dominana pelas oligarquias dos petrodólares.
É claro que nos 35 anos que seguiram ao domínio dos iatolás no Irã houve a ascenção e queda de Saddam Hussein, mas o ditador iraquiano deve ser compreendido como efeito, e não como causa, da instabilidade regional.
Obama continua perseguindo o grande objetivo estratégico americano, só que a fluidez dos acontecimentos no Oriente Médio o obriga a matar um leão a cada dia. Ele apenas vai matando aqueles leões que estão mais perto e isso causa alguma confusão.
 A morte de Osama Bin Laden e a retirada das tropas americanas no Iraque pareciam sinalizar um período inédito de estabilização regional, permitindo até que os EUA pudessem alterar o eixo de seus interesses estratégicos do Oriente Médio para a China. Contudo, o conflito na Síria e o fracasso do governo iraquiano em consolidar-se democraticamente obrigaram Obama a rever seus objetivos intermediários.
Por fim, ressalto que o Oriente Médio deixou de ser apenas um ponto de ligação entre o Egito e a Índia ou um mero supridor de petróleo. Nos últimos cinquenta anos, tem sido o foco das maiores preocupações mundiais. Não é lugar para amadores, mas para quem consiga matar os leões devoradores da paz.

sábado, 6 de setembro de 2014

Traspassados

Algumas observações.
- Na primeira grande guerra, soldados traspassados por tiros no abdômem gritavam por suas mães antes de morrer.
- Às vésperas do ataque a Pearl Harbour, o Comando da Marinha Imperial cogitou permitir a quebra do silêncio radiofônico pelas aeronaves que fossem abatidas. Os pilotos japoneses protestaram. A vida de um indivíduo pouco valia diante dos destinos do Império; que deixassem os abatidos morrer dignamente em silêncio.
- O povo americano se opôs à entrada de seu país na segunda grande guerra até que o trauma do ataque japonês o impeliu ao conflito.
- Os alemães, derrotados e humilhados em 1918, elegeram Hitler, abraçaram o nazismo e permitiram o holocausto.
- Europeus desempregados protestam por falta de perspectivas. A crise econômica leva seus governantes a cortarem drasticamente os gastos públicos.
- O povo russo se redescobre grande e poderoso e apóia Putin; a mãe Rússia não permitirá o expansionismo da OTAN em suas fronteiras.
- Depois de anos de campanha no Iraque e Afeganistão, os soldados americanos retornam à sua casa menos dispostos a aceitar novos conflitos. Bin Laden está morto e o 11 de setembro está cada vez mais longe no passado.
- No deserto do Iraque, um grupo radical sunita captura centenas de soldados inimigos, os humilha e executa impiedosamente.
A história não acabou. Ela resulta da ação dos governantes, que, em maior ou menor grau, realizam os anseios de seus povos. A crise na Ucrânia reflete os interesses e valores de sociedades diferentes e antagônicas. Eu me pergunto se o pensamento liberal e democrático poderá algum dia  prevalescer em todas partes do mundo. Os acontecimentos recentes gritam qu não.

OTAN


Recentemente, Francis Fukuyama afirmou que a OTAN deixou de ser uma aliança militar para se transformar num instrumento de promoção dos valores políticos dos EUA e da Europa Ocidental. É curioso que o mesmo autor que publicou o fim da história, duas décadas atrás, hoje reconheça um de seus efeitos mais evidentes.
A queda do Muro de Berlim e do Império Soviético marcaram a vitória do liberalismo e sinalizavam um longo período de predomínio daquela  ideologia. A partir de então, a União Europeia cresceu com a adesão de antigos membros do bloco comunista e consolidou-se com medidas de integração econômica. Ao mesmo tempo, uma Rússia enfraquecida via seu poder militar desmilinguir-se e enfrentava as rebeliões separatistas do Cáucaso.
Esse cenário levou a que se questionasse os propósitos da OTAN. Sem o inimigo de sempre, aaquela aliança encontrou novos adversários no terrorismo, crime organizado e narcotráfico. As chamadas novas ameaças relacionavam-se muito mais com a segurança pública do que com a defesa propriamente dita.
Sim, a OTAN foi realmente empregada como força armada nas intervenções na antiga Iugoslávia e no Afeganistão, mas guardou a tendência de se tornar uma estrutura cara e dispensável.
Os recentes movimentos de Putin servem como um choque de realidade. A OTAN foi criada com um propósito, ae afastou dele e precisa voltar a cumprir a finalidade de sua criação.
Os EUA exercem indiscutível liderança na OTAN. O longo tempo de reação de Obama aos movimentos russos na Ucrânia indicam mais hesitação do que prudência. As sanções impostas à Rússia podem ser efetivas, sem necessidade de um conflito militar, mas seus efeitos serão percebidos apenas em médio prazo.
Enquanto isso, Putin permanece ameaçando a integridade ucraniana e amedrontando os vizinhos do leste europeu e do Báltico.
Pela garantia da paz, é mesmo preciso impedir o avanço militar russo. Já é tarde, mas isso é melhor do que nunca.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Quem mandou acreditar em papai noel?


A OTAN surgiu há 65 anos para proteger a Europa contra o expansionismo soviético. Quando o muro caiu e a União Soviética se esfarelou, foi preciso encontrar novas ameaças que justificassem a existência dquela aliança.
Poucos anos atrás, os governantes europeus ditavam o rumo da OTAN no sentido de aproximação com os russos, buscando temas de interesse comum que levassem à cooperação.
Agora, a OTAN se vê novamente diante do velho inimigo e, depois de tantas décadas de existência, não sabe bem o que fazer.
Os gastos militares da maioria dos seus membros não alcançam o necessário para assegurar sua segurança. Investe-se em drones, vigilância e em forças de ação rápida. Tudo muito leve e enxuto, embora não necessariamente barato. Ao mesmo tempo, a estrutura de defesa dos países europeus vai perdendo gente e encolhendo.
Isso é compreensível. A crise econômica persiste no velho continente, com desemprego em alta e receitas em baixa. O dinheiro é mais necessário para manter a vida dos mais pobres do que para comprar mísseis e tanques. 
Não era hora do Putin anexar a Crimeia e tocar todo esse banzé na Ucrânia. Ele não devia fazer nada disso, mas fez. Não gostou de terem derrubado o governo anterior da Ucrânia sem terem sequer lhe pedido autorização.
Agora, todos e até a OTAN estão metidos até o pescoço nessa encrenca. Culpa dos ucranianos, que levaram a sério essa história de democracia e livre determinação dos povos. Culpa deles, que fizeram o que fizeram sem combinar antes com os russos.

sábado, 30 de agosto de 2014

Super Homem

Passou outro dia no Telecine, não vi na hora, mas gravei.
Acabo de assistir a última versão do filme do Super Homem.
Enfim, o Homem de Aço é muito melhor que o Homem de Ferro.

Reino Unido. ISIS. Putin

Dois fatos.
1) Faz pouco tempo, o governo britânico anunciou novos cortes de pessoal em sua estrutura de defesa. A invasão da Ucrânia não mudou suas prioridades, que continuam sendo defesa cibernéticam, drones e tropas de reação rápida.
2) O numeroso contingente de cidadãos britânicos lutando ao lado do ISIS levou o mesmo Reino Unido a elevar o alerta de risco de ataque terrorista.

São apenas dois fatos, mas já me reforçam a ideia de que Putin não é a maior preocupação dos britânicos. Certamente é a dos ucranianos, deve ser a dos poloneses, pode ser a dos alemães, mas ainda não é a dos britânicos.

Isso não quer dizer que Putin tenha plena liberdade de ação. Os movimentos russos estão sendo monitorados, só que de longe. O alarme está mais estridente para aqueles europeus que degolam jornalistas no deserto território reivindicado pelo ISIS. Pelo menos por enquanto a banda toca desse jeito. Por enquanto.

Bruxas


A humanidade caminha seguindo alguns princípios e sofrendo todo tipo de influência boa ou ruim. Vem daí que eu não creio em bruxas, mas elas estão soltas, sim, elas e seua feitiços, conspirando contra nossa felicidade. 
Temos que prestar muita atenção nelas e também no chamado alinhamento astral. Os astrólogos conhecem bem esse fenômeno, determinante para a ocorrência dos tantos eventos que influenciam nosso cotidiano.
Astrologia não é ciência e eu, que quase já fui cientista, não acredito nessa história de alinhamento astral, embora continue acompanhando meu horóscopo diariamente.
Este aninho de 2014 vai render uma bela e tumultuada retrospectiva. Quem tiver olhos verá os astros e seus alinhamentos  funcionando quase como tuneis da faixa de gaza, como um caminho para as bruxas terroristas soltarem foguetes e feitiços.
Na Crimeia e na Ucrânia, uma conjunção de fatores impulsionou a invasão russa no país vizinho. E pode nem ter sido tanto assim. Bastou combinar ambição política e um cálculo de custos benefícios. Pronto, isso foi o suficiente e o resto funcionou como pretexto, consolidando a  linha de ação eleita pelo governante do Kremlim.
Algumas centenas de quilômetros de terra e mais um mar negro distante dali, um outro alinhamento astral deu vazão às bruxas de ocasião.

Em Gaza, o conflito serviu para oferecer uma sobrevida ao Hamas, que andava meio fraco das pernas, sumido do noticiário. Não era por outra, o mundo tinha mais olhos e ouvidos voltados para Ucrânia, Rússia e Síria. 
Depois de semanas de conflito, dois mil mortos e farta difusão de imagens de menininhos dilacerados, o Hamas deu sinais de melhora na UTI. Quero saber se isso é indicativo que o grupo vai se fortalecer ou é apenas o que costuma acontecer com os moribundos antes do instante derradeiro.
As bruxas me dizem que coisa ruim não morre. Veremos.
Quem literalmente anda morrendo aos montes são as vítimas do ISIS. Se não morrem andando, andam para morrer. Depos de capturados e humilhados, caminham um bom trecho, se ajoelham e recebem o seu tiro na nuca.
Tanta coisa acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos e me convencendo que as bruxas existem, não é mesmo?

domingo, 10 de agosto de 2014

Saudade do Saddam

Uma ironia macabra e carregada de uma verdade cruel, mas que saudade do Saddam Hussein! Com ele, era mais fácil saber quem era o bom e o mau; nem se precisava de muito esforço analítico para identificar os problemas e apontar soluções. E quantos e quantos equívocos!Os EUA intervieram agudamente no Oriente Médio e muitos os criticaram. Eu também, porque sabia que a invasão do Iraque tentava se justificar com uma mentira. Depois de tantos anos de Unscom, os americanos sabiam muito bem que Saddam não possuía mais as armas de destruição em massa. Invadiram, depuseram e enforcaram o monstro. Acabaram fazendo o certo pelo motivo errado.
Anos de ocupação os cansaram da guerra e os EUA retiraram suas tropas antes de assegurar a estabilidade do novo regime iraquiano. Daí, fizeram o errado pelo motivo certo.
Não dá para se abster, nem para lavar as mãos e deixar que os árabes se matem uns aos outros.O Oriente Médio é muito mais que um imenso poço de petróleo. É apenas o berço da religião judaica-cristã-islâmica, ou, para os incrédulos, a convergência do leste e o oeste do planeta.Mataram o Saddam, que tantas mortes tinha nas costas, e o que veio em seu lugar parece ser um demônio ainda pior.
O mundo já foi um lugar mais fácil de se entender.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Azar

Em 82, estava na frente da TV, me segurando no Brasil e Itália. Tive que ir ao banheiro e Paulo Rossi botou o terceiro gol deles em cima da gente. Meu xixi nos desclassificou. Hoje, estava dois a zero, um calor danado. Abri a porta da varanda e senti que podia dar azar. Um minuto depois, pênalti para eles. Fechei a porta na mesma hora. Não deu para salvar o pênalti, mas preferi o calor até o apito final. Vencemos. Quem disse que coincidências não existem?

sábado, 28 de junho de 2014

Primeira guerra

Cem anos atrás, havia quem pensasse que uma guerrinha vez em quando nem era assim tão ruim. Tropas, canhões, desfiles, tudo isso despertaria o orgulho nacional, reforçando a unidade dos povos em torno de seus reis.
Quando a guerra começou, moças inglesas distribuíam penas brancas aos rapazes que não se alistassem para lutar, um símbolo de vergonha a quem não tinha coragem de matar e morrer pela pátria.
Pacifistas não eram bem quistos e os generais de botequim apostavam em rápidos combates, repletos de fulminantes cargas de cavalaria, que logo levariam a um bem-vindo armistício para honra e glória dos vencedores.
Não foi isso que aconteceu. A primeira guerra mundial foi aquela dos longos duelos de artilharia, dos campos cobertos pelas vastas imensidões de arame farpado, das armas químicas e das trincheiras, as onipresentes, lamacentas e fétidas trincheiras, onde homens e ratos conviviam em buracos alagados, repletos de piolhos, de doenças e de morte.
Culpa das metralhadoras, que varriam os campos de batalha e impediam quaisquer avanços mais audaciosos.
Mas isso foi no front ocidental. No leste, o exército russo fragmentava-se diante dos alemães, de melhores soldados e generais,
O golpe final foi a revolução comunista de 1917, que acabou liberando dezenas de divisões que a Alemanha logo transportou para o Oeste.
Não foram os tanques, os aviões ou gás mostarda que definiram os vencedores, mas a exaustão dos que já combatiam havia mais de três anos.
O reforço das tropas norte-americanas foi decisivo para a vitória aliada.
Daí, uma paz impiedosa e mal conduzida deu motivos para a outra guerra que viria vinte anos depois.
Só depois do fim da segunda grande guerra foi que todos enfim se convenceram que uma guerrinha vez e quando é ruim, muito ruim.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Meu quase único leitor

Plena quinta-feira e eu em casa, dormindo até mais tarde, até o corpo doer na cama, até enjoar de tanto dormir. Tem jogo da Copa em Brasília e nos dispensaram, funcionários públicos e militares, de comparecer ao trabalho. Há muito o que fazer no quartel, mas a partida impõe o bloqueio do trânsito e, numa cidade carente de transporte público, não se chega a nenhum canto sem um automóvel. Bem, o governo decretou a dispensa, eu cumpro ordens e não trabalho. Venhamos e convenhamos: que bom!
Quinta-feira, eu em casa, já quase meio dia. Agorinha mesmo, liguei o computador, o velho, porque o outro, novo de três anos é pior que este, de sete. Vim digitar algo por aqui.
Daí, lembrei do McGee do NCIS, aquele que escreve livros em sua velha máquina de escrever. No seriado, seus colegas zombam do trambolho, mas ele segue firme. Se fosse comigo, simples e acomodado mortal, nem precisariam zoar duas vezes. Faço no velho Notebook o que jamais faria em qualquer máquina de escrever.
Quase sempre, quem gosta de escrever lê muito. Baixei uns três ou quatro livros do Machado de Assis no meu iPhone. Aquele escritor carioca do século XIX é o meu preferido. Seus romances são bons de história, mas ele é notável mesmo quando emprega os recursos do idioma, elegante em seus pronomes, substantivos e  verbos. Diferente dos blogs de hoje em dia, sua obra não combina com leituras dinâmicas, mas requer idas e voltas, círculos e retas, diagonais, aclives e declives, contemplação e reflexão
Capítulos curtos, parágrafos mais ainda. Não é economia, mas pouco desperdício. Afinal, para que tantas palavras se menos já bastam? Machado corta os excessos e, mesmo quando pouco sobra, nada falta.
Ele não usava máquina, escrevia mesmo à mão, com pena, tinteiro e mata-borrão, gastando folhas e folhas, riscadas e rasgadas, sujando seus dedos e unhas, castigando os artelhos. E se tanto fez assim, o que faria se vivesse hoje, com teclado, mouse e tela plana?
Tão cômodo escrever nos  notebooks e porque será que não surgem outros escritores como ele? Bem sei a resposta. Estamos mal acostumados com o conforto, que é parceiro da preguiça. A ansiedade em escrever rápido nos desculpa por escrever mal.
Enfim, milhares e milhares leram e continuarão lendo Machado de Assis; e eu, que mal crio um simples texto, bem mereço ser meu quase único leitor.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Corpus Christi

Hoje, Corpus Christi, é feriado no Brasil. Eu, católico, quase meio século de vida, não sabia o significado dessa festa cristã. Li no wikipedia que poucos países no mundo estabelecem feriados nacionais nesta data, que celebra a presença do corpo de Cristo na eucaristia. Uma tradição motivada por visões de Santa Juliana de Liege, há oito séculos, em plena Idade Média.

Aquele período da história é conhecido como idade das trevas, um rótulo que é injusto à grande devoção religiosa medieval. Os materialistas associam a religião com o atraso, a submissão, a fome, a doença, a guerra.  Nada, porém, me convence que a ausência de Deus possa trazer algo de bom à humanidade.

Se na Idade Média as tiranias se serviam da religião como instrumento de poder, hoje elas desprezam as crenças religiosas e escravizam seus povos.

Pois então que aproveitemos este feriado para refletir sobre a importância de Deus em nossa vida. Acreditar na divindade e fazer o bem  confortam o espírito e imprimem um significado para nossa existência.

sábado, 14 de junho de 2014

Beicinho

Que jogos!
A copa está sendo um sucesso. Ainda bem.
Lula conseguiu trazê-la para o Brasil. Merece respeito por isso.
Muitas obras de mobilidade atrasaram e muitas sequer serão concluídas.
Nisso, o governo fracassou.
O futebol merece aplauso, a incompetência leva vaia.
Normal, natural e democrático.
Quem não concordar que faça beicinho e cara feia.

Gás

Quase cem anos atrás, um capitão britânico se protegia numa tricheira de um bombardeio inimigo. Una granada arrebentou perto e logo ele sentiu aquele cheiro estranho. Não teve dúvidas, gritou gás e obrigou todos a colocarem suas máscaras.
O tempo passou, o bombardeio acabou e todos puderam voltar a respirar livremente. Foi então que o capitão descobriu que o cheiro não era de gás venenoso, mas de uma pilha de cadáveres em decomposição que o estouro da granada remexera.
Na quinta-feira passada, o Itaquerão arrebentou numa vaia à nossa líder. Trajanos e Kfouris reclamaram do público, mas ainda não perceberam que o cheiro de estragado vem mesmo é de um governo em putrefação.

Machado de Assis

Já velho, tantos e tantos anos depois das provas de literatura do segundo grau, descubro Machado de Assis. Li todo Memórias Póstumas de Brás Cubas  e parti para o Quincas Borba e o Memorial de Aires. Mostram o autor na casa de seus quarenta, cinquenta e sessenta anos.
As histórias são boas, mas o que vale mesmo é o estilo, o jogo de palavras, a arte do escritor.
Ler Machado de Assis aos cinquenta e foi bem melhor que aos quinze. Ele não é um contador de histórias; seus textos devem ser saboreados, não devorados.
Porque será que nunca mais tivemos um autor como ele no Brasil?

O segredo do ovomaltine

Comprei mais uma lata de ovomaltine. Pura teimosia. Por mais que eu mude a dosagem do pó, bata com leite no liquidificador, use e abuse do mixer, ou mesmo passe horas e horas mexendo com a colher, nunca, nunca repetirei o sabor do ovomaltine que tomava na loja da fábrica, em Resende, à beira da Dutra, quando viajava para Sâo Paulo. Era criança, mas nunca esqueci o gosto daquilo.
Acho que o líquido marrom e doce que me encantava a cada gole era resultado de alguma bruxaria. Qual será a fórmula secreta do ovomaltine da estrada?

Vaias

Brasileiros que foram ao Itaquerão na quinta-feira xingaram a presidente e muitos jornalistas se apressaram a criticá-los. Não foram dez ou cem, mas uns bons vinte mil presentes, ou até mais, que fizeram um coro de aeiou contra a governante. Que eu saiba, e eu leio muito, foi ato espontâneo, bem característico da torcida num estádio de futebol.
Ofenderam a nossa mandatária como se xingassem um juiz ladrão ou um jogador do time adversário. Trajanos e Kfouris classificaram o público vaiante  de gente branca, endinheirada e mal-educada. Aquele ex-presidente dos nove dedos quis colocar o povão contra os burgueses que vaiam. Disse que as ofensas partiam de seres afortunados que, diferente da nossa atual líder, nunca haviam passado fome na vida.
No mar, a lula quer convencer o polvo que as vaias e os aeious são apenas falta de educação dos que têm dinheiro no bolso, comida na panela, roupa no armário e carro na garagem.
É bem verdade que quem paga mil e tantos reais por um ingresso tem mesmo tudo aquilo, mas também é certo que a maioria dos vaiantes conquistou seus bens e direitos trabalhando duro e honestamente. Nisso, aqueles brasileiros se distinguem de parte dos governantes e, talvez, até mesmo de alguns col(m)unistas de futebol que os criticam.
Aquelas vaias e palavrões tiveram seus motivos; não vieram do nada. Pensando melhor, vieram, sim. Brasileiros honestos estamos aborrecidos por trabalhar duro, pagar impostos vultosos e receber nada ou quase nada em retorno.
É injusto dizer isso? Pode ser, mas essa é a minha percepção.
Vaias e palavrões não são ofensas, mas um recado em som alto e claro. A paciência se esvai a cada greve oportunista, cada invasão de propriedade, cada rua interditada, cada ataque de black blocs. É preciso menos leniência com os que desafiam a lei e mais competência na gestão dos interesses públicos.
Eu não estava no Itaquerão e a Globo não mostrou a vaia, mas acho que eu também xingaria quem não me respeita e não me representa.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Laranja irritante


E a copa começou, com direito a gol contra, penalti mal marcado, Espanha goleada y otras cositas más.
Até o momento, não teve protesto que merecesse dez segundos de noticiário e o destaque foi o pai arrastando seu filho de 16 anos do meio dos black blocs.
Foi até engraçado.
O pai:
- sai daí menino, sai agora!
- mas pai, eu quero educação, saúde e prisão para corrupto.
- quando você ganhar o seu dinheiro, daí se meta na confusão que quiser. Enquanto eu bancar sua escola e sua vida, não quero nada de confusão.
O garoto acabou cedendo e saiu dali.
Essa história de black blocs já encheu o saco. Todo mundo já sacou que esses caras não querem nada de bom para ninguém, só para eles mesmos. Pena que ainda haja menino de 16 anos iludido que entra nessa.
Não demora e a garotada acorda. Fico imaginando:
- Lênin, Marx, Carta Capital!
- Ei, você, vai tomar no crush
- seu capitalista reacionário.
- Fanta-se.
Tá mesmo na hora de acabar essa laranja irritante!

domingo, 27 de abril de 2014

Desemprego e desempregados

Pelo método de medir desemprego no Brasil, o desempregado é o sujeito que procura emprego e não acha. É diferente do método espanhol, que mede os desempregados pelo número de gente sem emprego.
Na Espanha, 25% da população está desempregada; no Brasil, um terço da população não tem emprego e a grande maioria desses nem quer se empregar.
O Bolsa Família dá de comer para muitos brasileiros acomodados com a pobreza. Essa turma pode ser preguiçosa, mas não é ingrata.
Por isso é que é tão difícil tirar do poder a cambada de ladrões que nos governa.

sábado, 26 de abril de 2014

Flores da democracia

Estou quase nos cinquenta e sou conservador. Não estranhem, isso não é uma confissão, mas um preâmbulo.
Conservadores, por definiçâo, não gostam de revoltas porque elas quase sempre destroem sem nada construir no lugar. Daí a minha antipatia inicial à primavera árabe, que eu via com o receio de quem já viu tantas outras rebeliões que não passavam de movimentos orquestrados por grupos de esquerda, tão totalitários e antidemocratas como as autocracias que ainda predominam no Oriente Médio. Mas, parece que há perfume em alguma brisa da primavera árabe. Seriam flores da democracia? De que democracia, então?
Seriam flores do tipo  da democracia que veio do pensamento iluminista europeu dos séculos XVII e XVIII? Ou será que a primavera árabe é mais um fenômeno da globalização dos desiludidos?
Ano passado, jovens protestaram nas ruas brasileiras, num movimento difuso, mas que certamente demonstrava insatisfação e desejo de mudança; na Europa, a juventude sem emprego ainda protesta contra a austeridade que equilibra economias mas destroi esperanças; no Oriente Médio, a revolta é claramente contra as ditaduras que sufocam qualquer suspiro por liberdade.
Os desiludidos estão nas ruas porque as promessas fáceis das esquerdas representaram em corrupção, ineficiência e autoritarismo.
O que se viu em Túnis parece com o que se vê no Rio, Madri ou Kiev.As flores da democracia exalam o perfume da democracia, que desperta desejos por mais liberdade, mais participação, mais honestidade e menos hipocrisia.
Por isso, mesmo conservador, mesmo antipático a revoltas, fico feliz por sentir o aroma perfumado dos ventos que começam a soprar do Oriente Médio.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Xadrez

Não entendo muito de xadrez, mas repito o que ouvi dizerem: quem estuda e treina muito xadrez se torna um bom … enxadrista.

Sei que oscrussos são bons nesse jogo e meus poucos lances no tabuleiro saíram a fórceps, depois de muita insistência de um tio que é …filho de russo.

A turma do Kremlin deve ser boa de xadrez, mas parece não entender bulhufas do tabuleiro do jogo político.

Tá certo que nessa história toda lá na Crimeia, os ucranianos cometeram seus pecados. No final de fevereiro, o governo e a oposição em Kiev haviam costurar um acordo para a crise. Bastava antecipar as eleições para deixar a solução bem encaminhada. Ora, pacta sund servanda, os pactos devem ser respeitados, mas não foi isso que aconteceu e a oposição derrubou o ex-presidente Yunokovych.

Bem, revoluções são revoluções e nelas não se costuma respeitar leis e menos ainda os pactos.Poderiam afirmar que a Rússia está tão somente reagindo à derrubada do antigo presidente, mas isso já não cola mais.

Os bambambans da diplomacia russa não enxergaram o obvio. Forçaram o jogo na Crimeia, precipitaram uma eleição para lá de fajuta e deixaram o Obama sem opções.

Não tinha necessidade disso. Um referendo minimamente honesto daria a Putin toda a legitimidade que ele precisava.

Mas, não. Ao invés de colher dividendos políticos, os russos preferiram a truculência. Ocuparam quarteis, botaram os cães de guerra nas ruas e patrocinaram eleições em urnas transparentes, com eleitores  votando sob a miracde fuzis. Que barbaridade!

Os enxadristas do Kremlin confundiram política com xadrez. Pensaram ter encurralado o adversário paracdar um xeque-mate, mas ficaram mesmo sem opções para sair da encrenca em que eles mesmos se meteram.

Um economista americano, ex-campeão de xadrex, sugeriuque Obama repitisse o que Kennedy fez cinquenta anos atrás com Krushov na crise dos mísseis, ou seja, que ele oferecesse uma saída honrosa aos russos.

Ah, isso seria um erro primário! Imaginem como ficaria ruim para o Obama aceitar que Putin usurpasse a Crimeia e ainda pagar uma compensação para a Rússia não invadir a Ucrânia. Como se diz por aqui, como é wue Obamacse explicaria em casa?

No atual momento do jogo, quem tem que encontrar a solução é o próprio Putin, não o Obama.Se fosse xadrez, o próximo lance seria dos russos. Eles é que têm que encontrar um modo de aliviar as sanções que o Ocidente merecidamente lhes impôs.

Querem se integrar á economia europeia? Então, comportem-se como gente civilizada, começando por respeitar o acordo que firmaram há pouco em Genebra.

Putin está numa posição pior no tabuleiro político e tem que arquitetar bem sua próxima jogada. Talvez tenha que demitir alguns de seus conselheiros. Convenhamos que nem será tão ruim assim para eles, que terão mais tempo para ocupar jogando xadrez.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Não existe vácuo de poder


A Rússia já se apoderou da Crimeia e mantém a Ucrânia sob pressão. Os russos afirmam não estarem dispostos a invadir o país vizinho, mas incentivam e coordenam ações de separatistas e pressionam por uma maior autonomia das províncias do leste ucraniano, locais onde há muita resistência ao governo de Kiev.

A Rússia não quer abocanhar novos territórios. Melhor do que isso é garantir permanentes focos de tensão entre os vizinhos. Putin aproveita-se de um momento de fraqueza de seu par norteamericano.

A morte de Bin Laden encerrou o ciclo das  batalhas contra o terrorismo e motivou a mudança do eixo da estratégia  dos EUA. Suas forças armadas têm se reduzido significativamente. Durante as campanhas do Iraque e do Afeganistão, o exército norteamericano 
atingiu um efetivo de 570 mil soldados na ativa. Com o fim daquelas campanhas, esse número cairá para pouco mais que 440 mil. 

Desde os anos 90, o Departamento de Defesa dos EUA baseava a estrutura de sua força no conceito de que deveria ser capaz de
atuar e prevalecer em dois teatros de operações simultaneamente. Com menos soldados ativos, esse conceito se modificou. Agora, suas forças armadas não buscam mais o predomínio e a vitória, mas apenas conter o avanço de seus eventuais adversários.  

Não são apenas os norteamericanos que estão mais fracos, mas também seus parceiros europeus da OTAN. Atingidos pela crise
econômica, países militarmente importantes como Alemanha, Inglaterra e França têm reduzido seus efetivos, desmobilizado unidades e se desfazido de numerosos equipamentos. Hoje, a OTAN tem menos capacidade de combate do que há poucos anos atrás.

Em 2004, ocorreu a chamada Revolução Laranja na Ucrânia, com claros objetivos de aproximação com o ocidente e de afastamento
da Rússia. Na época, o mesmo Presidente Putin não ensaiou os movimentos que hoje executa. Tal fato deixa claro que o verdadeiro fator da crise não é o desejo russo de maior autonomia para os ucranianos do leste, mas a exploração da oportunidade de um momento de fraqueza dos EUA e de seus aliados europeus.  

Essa fraqueza não é apenas militar, mas sobretudo de disposição política dos líderes norteamericano e europeus em defender os 
interesses de seus países. A recusa do parlamento britânico em autorizar um ataque à Síria no ano passado é um bom exemplo de que a Europa Ocidental está relutante em lidar com medidas extremas para a defesa de seus interesses.

Não existe vácuo de poder. Os EUA mudaram o foco de sua estratégia num momento de fraqueza política e militar de seus aliados europeus. Com isso, deixaram o campo livre para Putin, que avança aproveitando a retirada de seus oponentes. 

A Rússia ganha prestígio e se coloca numa posição em que conseguirá diminuir ou mesmo anular os impactos das sanções.
Num primeiro momento, tudo isso é ruim, principalmente para os ucranianos, e, em seguida, para os países do leste europeu.

O cenário que se vislumbra indica que o poder militar dos EUA e da OTAN é o único instrumento capaz de deter o avanço russo sobre seus vizinhos.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Ditadores

Neste nosso mundo, os ditadores estão se dando bem.
Começando de perto para longe e citando apenas alguns dos muitos ditadores que atormetam o planeta azul. Maduro radicaliza a repressão, distorce as leis que o próprio Chavez criou e abusa da autoridade. A cassação da deputada é um escândalo, sim, mas, infelizmnte, é apenas um escândalo a mais.

Prosseguindo, Assad, cuja grande obra de governo é tocar uma guerra civil há três anos, vai realizando seu grande programa: “minha arma, sua vida”. É verdade que seus inimigos conseguem ser piores do que ele, que a guerra entre os sírios é mesmo de vida e de morte, pois quem prevalecer vai exterminar os vencidos. Mas não esqueço a imagem das criancinhas mortas pelas armas químicas do ditador e torço para que ele pague seus pecados, aqui ou em outro mundo.

Chegamos a Putin, o terceiro da lista, um ditador light, se comparado aos seus congêneres. Campeão da nacionalidade russa, acabou de erguer a Taça Guanabaea do Mar Negro. Contra ele, temos Obama, o prudente, que é bom,  porque é mesmo bom ter prudência com o russo; mas também é ruim, por que para Putin os fracos não têm vez. A imagem débil do presidente dos EUA condena o futuro da Ucrânia e, de quebra, o dos países bálticos.

Por fim, o Kim Jong-Un, o da Coreia do Norte, uma paródia de ditador, mas o pior deles. Mantém o povo na linha e mostra para o mundo até onde chega o regime comunista. Um sujeito frustrado, que quer espalhar a felicidade marxista para todos os cantos do planeta. Coitado,  não faz mais porque não pode.

Ah, pulei o dirador do Egito, mas, quem é mesmo ele? Parei de acompanhar quando derrubaram o Mursi, que também era um protótipo de ditador.

Na verdade, as ditaduras prosperam no nosso planetinha por causa da fraqueza das democracias, que teimam em respeitar o lívre arbítrio. É muito bonita essa história de quem diz “não concordo com sua opinião, mas morreria pelo seu sagrado direito de expressá-la”. Eu também gosto essa frase e  tudo seria lindo e maravilhoso se todos a seguissem. Só que isso é utopia e os ditadores desse mundo a ignoram solenemente. Seuem livres e soltos pelo nosso sagrado princípio de não intervenção na casa alheia.

Chega então o grande dilema. Como preservar a democracia sem ofender os seus princípios?

A pergunta é difícil e eu não sei respondê-la.

Enquanto me debato com essas minhas palavrinhas fúteis, Putin invade, King Jong-un oprime, Assad mata e a democracia na Venezuela cai de Maduro.

domingo, 23 de março de 2014

Erros de sobra

Hoje, o El País publicou um artigo de Orlando Figes, comparando as ações de Putin com as de Nicolau I, czar da Rússia no Século XIX e apresentando razões e motivos para a recente anexação da Crimeia pelo governo de Moscou.
Realmente, pode-se evocar motivos e razões de sobra para o golpe de Putin na Crimeia, mas se sobram explicações para os anseios russos, faltam justificativas para a truculência na anexação do território.
A Rússia já infiltrava seus agentes naquela península antes mesmo da queda do antigo governo de Kiev.
O referendo carece de legitimidade, foi realizado na marra e o próprio resultado indica o escândalo da mentira fabricada.
Tudo podia ser diferente se houvesse maior preocupação com a legitimidade das ações. Uma eleição transparente, mas com urnas opacas, num processo que desse vez e voz à oposição, que respeitasse de verdade a opinião dos votantes, tudo isso favoreceria a própria posição russa, nem tanto para o hoje, mas para o amanhã.
A causa russa pode ter méritos no conteúdo, mas erra feio na forma.

O gás russo

Eu tenho escrito por aqui que as sanções econômicas contra a Rússia não se sustentarão por muito tempo, sempre justificando que a Europa depende do gás russo para seu aquecimento no inverno.

Sim, é verdade que eles dependem do gás para se aquecerem no frio do inverno, mas o gás também é essencial para mover sua indústria, tocar sua própria economia.Sem energia não há prosperidade e a Europa em crise sofre com desemprego, com déficits fiscais, com cortes e mais cortes dos benefícios sociais. A população sofre.

Ontem houve protesto em Madri. Cinquenta mil foram às ruas reclamar do desemprego, da falta de perspectivas e marcharam pela dignidade. Como sempre, a passeata acabou em confusão, detidos, depredações.

O protesto de ontem foi uma sombra daqueles que ocorreram poucos anos atrás, mas repetiu o mesmo repertório. Os protestos ocorrem em quase toda Europa e são, sobretudo, o resultado da crise econômica.

As economias de muitos países europeus estão em crise e seus governantes precisam resolver o problema de seus cidadãos. Aliás, convenhamos, a falta de perspectivas também foi um dos combustíveis que moveram a revolta ucraniana contra o antigo governo.

O fã clube do Putin pode argumentar que tais protestos não aparecem em Moscou. Pode ser. Quem sabe isso ocorra porque o povo russo está feliz e satisfeito, ou será que é porque os que se atreveriam a protestar tenham mais medo da polícia e da cadeia do que os outros?

Seja lá o motivo da falta de protestos em Moscou, a conquista da Crimeia inflamou o orgulho russo, elevando a popularidade de Putin, o que é perigoso. Um líder ambicioso com ego elevado pode se inspirar a escalar a crise.

Pode, mas duvido que o faça. Putin sabe que escalar a crise é um jogo do tipo perde-perde. Se os europeus precisam do gás russo, a economia russa depende mais ainda da venda do combustível. Esse fato demonstra a desindustrialização da economia russa, muito dependente da venda de commodities. Parece que esse é o resultado do predomínio das máfias, da concentração de renda, da falta de investimentos.

Se pensarmos um pouco mais veremos que o que Putin mais teme não são os mísseis da OTAN instalados na sua fronteira com a Ucrânia, mas a proximidade da civilização europeia, tão perto do povo russo, tornado inevitáveis a contaminação dos anseios por liberdade e prosperidade.

A população russa também sofre dificuldades e falta de perspectivas. Quando também ficar indignada e perder o medo da polícia, irá para as ruas. Daí Moscou repetirá Madri e a situação ficará definitivamente russa.

sábado, 22 de março de 2014

Delegação tricolor

Putin conseguiu posicionar-se como protagonista do jogo internacional, mas como vilão. Mesmo assim, ainda tem a iniciativa das ações e é bastante esperto para reverter sua imagem.

Tenho me surpreendido com seus passos e não me atrevo a prever o que ele fará, mas posso arriscar alguns palpites.

Putin é ambicioso, mas duvido que invada a Ucrânia. Ele pode incenticar alguma revolta dos ucranianos simpatizantes dos russos, mas com o propósito limitado de provocar desestabilização no país vizinho.

Mesmo pifada, minha bola de cristal me deu uma dica de alguma pressão russa sobre o Brasil, para aumentar o comércio. Talvez os bois e porcos brasileiros fiquem, de uma hora para outra, com uma saúde de ferro. Nada de aftosa no rebanho brasileiro, pelo menos não por enquanto.

As armas, sempre as armas. Armas custam caro e a Rússia adora fabricá-las. A Índia compra aos montes, mas não dá pra vender para a China que literalmente copia tudo o que compra e depois fabrica cópias melhores que os originais. Resta o Brasil, carente de armas e mísseis e cheio de porco e frango para vender.

Mas o Brasil nem está com essa bola toda. Quem não está com todo gás, mas doido para ter é a Europa. O inverno esrá longe, mas sempre chega forte por lá. Dois mais dois são quatro e as sanções não durarão muito.

Se Putin tiver gelo nas veias, ele aguardará um pouco mais. Não muito, só o tempo para eclodirem os conflitos no Pacífico, onde China e Japão guardam ressentimentos históricos. Logo, logo, os EUA serão chamados para resolver problemas por ali e sentirão necessidade de um aliado poderoso como a Rússia.

Em termos futebolísticos, ocupar a Crimeia foi como ganhar a taça guanabara do Mar Negro. A torcida russa vibrou, mas logo a euforia passa. Ainda mais se a economia for para o buraco.

Agora, o time de Putin tem que jogar com mais cautela, ir menos ao ataque e garantir os pontos fora de casa.Se Putin for afoito, aí é que vai mesmo é que seu time cai para a segunda divisão.

Abraço.PS: fiquei preocupado quando me disseram que uma delegação de cartolas tricolores visitou o Kremlin nesta semana.

A velhinha da Crimeia

Tem gente por aí que persegue o Putin. Que coisa feia!

O sujeito é tachado de moralista, fascista, nazista e, para alguns saudosistas, até trotskista. É demais!

O Putin foi, é e sempre será comunista. Sim, c o m u n i s t a! Daqueles  de carteirinha vermelha do partido e com crachá de funcionário da KGB.

Desculpem o desabafo. É que no Brasil, há muita leniência com a turma da foice e do martelo. Quando dá 6 horas da tarde, a TV exibe uma novelinha que divide o elenco. Os malvados são fascistas inescrupulosos, gente da pior espécie, liderados por um doido varrido; os bonzinhos, ah, esses são artistas, operários, idealistas, tudo gente boa, filiados e simpatizantes do Partido Comunista.
Haja hipocrisia!

Aí, tenho que desligar a TV e teclar bobagem no meu blog.Viram só o castigo?

Por favor, chamem o Putin de comunista. Eu e a velhinha na Crimeia, aquela beijando a foto do Stalin, agradecemos.

populações

Outro cometário do mesmo leitor do Caio Blinder

Daniel M - 22/03/2014 às 14:53

Ordem mundial.
Instigante perspectiva trazida pelo colunista. E bem complexa.Dados interessantes e que nao devem ser desprezados (números estimados):
- populacao do planeta: 7.2 bilhão
- populacao Europa: 505 milhões
- populacao EUA: 316 milhões
- populacao Canadá: 35 milhões
- populacao Japão: 127 milhões:
- populacao “bloco ocidental” mais Japão: 983 milhões
- populacao China: 1.35 bilhão
- populacao Índia: 1.22 bilhão
- populacao Brasil: 200 milhões
- populacao Rússia: 142 milhões
- populacao BRIC: 2.91 bilhões
- populacao Oriente: em torno de 61 por cento da populacao do planeta;
- populacao continente africano: 1.03 bilhão
- populacao Indonésia: 251 milhões
- populacao Nigéria: 174 milhões
- populacao Bangladesh: 163 milhões
- populacao Egito: 85 milhões
- populacao Ira: 80 milhões
- populacao do maior pais da Europa: 81 milhões (Alemanha)
- populacao Iraque: 32 milhões
- populacao Afeganistão: 31 milhões
- populacao Síria: 22 milhões
- populacao Israel: 7 milhões
- populacao Líbia: 6 milhões.

2030

Comentário de um leitor do blog do Caio Blinder

Daniel M - 22/03/2014 às 15:32
Parece que o FMI fez previsões sobre os paises que seriam as maiores economias do mundo em 2030 (ou seja, em 16 anos)
.A lista seria essa:
1.. China
2. EUA
3. Índia
4. Brasi
l5. Japão
6. Russia
7. Alemanha
8. Indonésia
9. Turquia
10. Franca
Claro que isso pode nao ocorrer (e particularmente duvido do desempenho brasileiro), mas existe uma evidente tendência, que eu diria muito pouco provável de ser revertida.E isso refletira na tal “ordem mundial” – que esta em plena transformação.

Reescrever a história

Em junho de 1941, quando invadiu a União Sóviética, Hitler não queria tão somente derrotar as tropas que defendiam seu país, mas expulsar toda população que vivia a oeste de Moscou para criar uma nova civilização alemã no território ocupado.
Hitler perdeu a guerra, o nazi-fascismo foi banido, a União Soviética se desintegrou, mas setenta anos depois, Putin ameaça reverter a marcha de Hitler, não para criar outra nova civilização, mas para restabelecer um cinturão que isole os russos dos europeus.
Talvez seja a luta de um patriota defendendo a sua nacionalidade, ou será apenas mais um tirano rescrevendo a história?

Civilização

Quando discutimos aqui os problemas da Rússia e da Crimeia, deixamos de ser moradores do bairro, da cidade ou mesmo do Brasil para nos tornarmos cidadãos do mundo.
O leste europeu é muito longe daqui, mas se enganam os que pensam que nada do que passa por lá nos afeta.
Com os recursos que dispomos hoje, não seria difícil apresentar dados e informações aos montes comprovando os laços econômicos e comerciais entre, por exemplo, o Brasil e a Rússia.
Nossos destinos estão entrelaçados e nem é mais preciso recorrer à imagem das mortais nuvens radioativas de uma guerra nuclear para demonstrar que todos nós sofreremos as consequências de um conflito armado entre o ocidente e a Rússia.
Talvez essa crise e seus desdobramentos tenham um lado positivo, a de difundir e consolidar os valores da democracia liberal, tão característica da civilização ocidental, para aqueles países que padeceram tantos anos sob o jugo do totalitarismo soviético.
Acredito que países como Letônia, Lituânia, Estônia e agora Ucrânia estão perto de se incorporarem integralmente à realidade ocidental, com todas suas virtudes, defeitos e contradições.
Os russos, esses ainda terão um longo caminho para se transformarem em europeus.

sexta-feira, 21 de março de 2014

O rublo furado

Ontem, li um relato de um repórter da BBC que esteve na Crimeia em meados de fevereiro. Enquanto o governo Yanukovych dava seus últimos suspiros, já havia agentes russos infiltrados na península, controlando suas rotas de acesso e preparando o terreno para sua anexação à Rússia.
A ocupação da Crimeia não foi precipitada. Ela foi planejada com antecedência e executada em sigilo.
Em seu discurso na última terça-feira, Putin deu o recado de que não pretende invadir a Ucrânia. Transmitiu uma mensagem clara e direta, mas não sei se podemos confiar no que ele disse.
Discordo que o ocidente tenha tripudiado da Rússia depois do fim da União Soviética, pelo menos não depois que Putin substituiu Yeltsin como mandatário em Moscou. Pelo contrário, os EUA foram muito tolerantes com a ação russa na Chechênia, onde a população local foi sacrificada, e na Georgia, que teve sua soberania violada pelos russos.
Nos últimos meses, a Rússia vinda ampliando seu prestígio na comunidade internacional, impedindo a ação norte-americana na Síria e explorando habilmente os jogos olímpicos de inverno. Acredito que o episódio na Crimeia vai tirar alguns pontos dos russos no tabuleiro do jogo das nações.
Putin é muito bom tático, mas parece não ser um bom estrategista.

O adversário de hoje

Uma das diferenças entre as ações táticas e as estratégicas situa-se na capacidade de antever suas consequências em longo prazo e além do espaço de sua vizinhança.
Muitos consideram modestas as represálias adotadas pelos EUA e seus aliados europeus contra a Rússia. Seu teor, notadamente de ordem econômica, mostrará efeito, mas só a longo prazo e apenas se persistir a vontade de retaliar a agressão cometida.
Faltam poucos dias para começar a primavera no hemisfério norte. Temperaturas mais amenas diminuem a necessidade de calefação e pode admitir um menor consumo de gás.
Mas todo ano tem inverno e frio por lá.
Significativa parte da economia russa se baseia na exportação de commodities, como petróleo e outros combustíveis. É provável que esse setor não seja muito afetado pelas sanções.
Mas, há outros aspectos a se considerar.
Independente da imposição de sanções, as próprias decisões de Putin nessa crise provocam temores em quem pense em investir na produção de bens e serviços na Rússia. É certo que dinheiro chama dinheiro, mas é preciso coragem para colocar seu capital num país onde o governo é capaz de se apropriar do território alheio. Ora, quem tem ganas de confiscar um naco de outro país, mesmo enfrentando uma reação Internacional pode, sem muito esforço, nacionalizar os ativos de uma empresa estrangeira.
Assim, a invasão da Crimeia pode ter consequências negativas a longo prazo. Putin estaria errando como estrategista.
E Obama?
O presidente dos EUA pode estar com seu pensamento focado para o pacífico. Inegavelmente, a Rússia é um adversário formidável no campo militar e, por isso mesmo, pode ser um valioso aliado na disputa de poder que certamente aflorará entre os EUA e a China.
Insistir em sanções econômicas tem efeitos na política interna, diante do eleitorado norte-americano, e também no campo internacional, atingindo o adversário onde dói, ou seja, no bolso. Com isso, consegue-se retaliar, mas sem precisar trilhar o caminho sem volta do conflito militar.
A visão do estrategista enxerga o adversário de hoje como o potencial aliado de amanhã.

A Taça Guanabara do Mar Negro

A anexação da Crimeia foi uma vitória tática, mas pode ter sido um movimento desastroso para a estratégia russa.
O motivo? Vejamos
1) Em termos militares, não havia necessidade da anexação. As bases russas permaneceriam na Crimeia, pois, recentemente, a Ucrânia e a Rússia haviam renovado o contrato de permissão de seu uso.
2) Uma Crimeia ligada a Ucrânia sempre seria uma fonte de preocupações para Kiev, mesmo na condição de província autônoma. A maioria dos seus dois milhões de habitantes é de origem russa, seus votos influenciariam o resultado nas eleições ucranianas e sempre haveria a chance de se rebelarem contra o governo, como, aliás, acabou acontecendo.
3) Caso não houvesse a anexação, a parte oriental da Ucrânia, com significativa população de origem russa, continuaria desfrutando de grande liberdade de ação. A anexação da península enfraquece os eventuais movimentos separatistas do leste da Ucrânia, pois a perda de um território certamente tem inflamado o patriotismo ucraniano.
4) O confisco da península acrescenta mais um motivo de inimizade entre a Ucrânia e a Rússia. Em curto prazo, dificilmente haverá uma nova ascensão, em Kiev, de algum governo com tendências pró-Rússia.
5) A Ucrânia se sente ameaçada e é forte a tendência de se incorporar à União Europeia e à OTAN.
6) A OTAN, que estava mesmo sendo relegada a segundo plano pelos políticos europeus, recupera seu prestígio. A ameaça russa desperta as percepções de insegurança que já estavam adormecidas.
7) por fim, o comportamento do governo russo provocará consequências econômicas adversas para sua economia, nem tanto por causa dos embargos, mas pela insegurança para novos investimentos na Rússia pelo capital externo.
A curto prazo, Moscou teve uma vitória expressiva, mas há argumentos que apontam que a anexação da Crimeia pode ser um desastre em termos estratégicos.
Em termos futebolísticos, podemos dizer que o time do Putin ganhou a Taça Guanabara do Mar Negro, mas é bem capaz de ser rebaixado para a segunda divisão do campeonato.

Sempre alerta!

Em dezembro, houve uma reunião dos ministros de relações exteriores dos países da OTAN, em que eles discutiram quais seriam os tópicos mais importantes para aquela organização, levando-se em conta fatores como a retirada das tropas do Afeganistão e a redução de suas forças armadas e orçamentos de defesa.
Em linhas gerais, aqueles ministros definiram que as forças da OTAN devem, dentre outras prioridades:
- contar com forças de reação rápida;
- aperfeiçoar seus meios de comunicações e informações;
- melhorar suas condições em defesa química, biológica, radiológica e nuclear;
- desenvolver novas capacidades em defesa cibernética;
- possuir adequada defesa antiaérea, principalmente contra mísseis; e
- proteger as infraestruturas de seus países.
As prioridades estabelecidas indicam uma forte tendência defensiva, com ênfase na tecnologia e em meios que exijam poucos recursos em pessoal para sua operação.
Isso foi em dezembro, mas dois meses depois a realidade europeia mudou.
Certamente, a anexação da Crimeia mudou o cenário da defesa europeia. A maioria dos países da OTAN reduziu fortemente seus efetivos e seus meios mecanizados.
Durante os vinte anos após o fim da guerra fria, a Rússia foi deixando de ser percebida como ameaça.
É duvidoso que os países europeus possam, sozinhos, deter um avanço das forças russas sobre a Ucrânia, principalmente se houve maciço emprego de blindados.
Tudo isso mostra que é verdadeira a velha lição de estar sempre preparado para o pior.

Que seja eterno enquanto dure

Costumo dizer que não acredito em bruxas e que nada é por acaso.
Repito sempre essa frase, mas é da boca para fora. Porque as bruxas existem, sim, e ultimamente há um monte delas andado soltas por aí, e as coincidências são o que mais acontece com todo mundo.
Peguei um livrinho qualquer. Capinha azul, fininho, poucas páginas, letras grandes, do jeitinho certo para quem quer somente preencher uns cinco minutinhos da vida lendo alguma coisa.
Fui folheando, bati o olho e arregalei. Li alguns trechos atentamente, reli e resolvi que tinha que lhes contar o que estava escrito.
Antes que alguém reclame, esclareço que o tal livrinho está impresso em inglês, e eu tive que traduzir os trechos para o meu sofrível português. Por favor, não se zanguem comigo quando descobrirem os inevitáveis erros de tradução.
O título do livro é “Conceitos Estratégicos para a Defesa e Segurança dos Membros da OTAN”.
Embaixo, em letrinhas miúdas: “adotado pelos chefes de estado e de Governo durante o encontro da OTAN em Lisboa, 18-20 de novembro de 2010.”
Pois é, logo hoje, o destino quis que eu abrisse justamente esse tal livrinho azul.
Dai, fui lendo e vejam só: no item 33, está escrito mais ou menos assim:
“A cooperação entre a Rússia e a OTAN é de estratégica importância assim como contribui para a criação de um espaço comum de paz, estabilidade e segurança. A OTAN não representa uma ameaça para a Rússia. Pelo contrário: nós queremos ver uma verdadeira parceria estratégica entre a OTAN e a Rússia [...] com a expectativa de reciprocidade da Rússia”.
Lindas palavras. Continuando, fui ao item 34:
“O relacionamento entre a OTAN e a Rússia baseia-se em objetivos, princípios e compromissos [... ] com especial respeito aos princípios democráticos e à soberania, independência e integridade territorial de todos os Estados na área Euro-Atlântica.”
Aí, fiquei emocionado com tão boas intenções, mas tem mais:
“Não obstante as diferenças sobre questões específicas, continuamos convencidos do entrelaçamento entre a segurança da OTAN e da Rússia, e de que uma parceria forte e construtiva, com base na confiança mútua, transparência e previsibilidade, pode servir melhor à nossa segurança.“
“Estamos determinados a fortalecer as consultas políticas e a cooperação prática com a Rússia em áreas de compartilhado interesse, incluindo defesa contra mísseis, contra-terrorismo, ações contra o tráfico de drogas, contra a pirataria e a promoção de uma ampla segurança internacional.
Leiam de novo e percebam que, há apenas três anos, os temas de cooperação estavam muito mais relacionados às chamadas “novas ameaças”, como o terrorismo e o crime organizado, do que a assuntos de defesa propriamente ditos.
Tenham certeza que tudo isso mudou desde a ocupação da Criméia.
Para terminar, é razoável afirmar que diplomatas russos e ocidentais estiveram presentes nas reuniões. Fico imaginando o final da reunião, depois de escreverem o rascunho das decisões, na recepção gentilmente oferecida por uma das luxuosas embaixadas, canapés e champanhe, sorrisos e apertos de mão. Nem seria tanta maldade imaginar diplomatas russos e franceses trocando beijinhos no rosto.
É gente, é bonita a história romântica da diplomacia internacional.
O amor entre as nações sempre é eterno, mas só enquanto dura.

segunda-feira, 17 de março de 2014

O bandido

Rússia e Ucrânia são muito longe daqui e, mesmo agora depois do referendo, a imprensa brasileira não dá o devido destaque à crise. Os fatos estão se desenrolando muito rápido, o que é assustador. Olhando de longe, os movimentos da Rússia seguiram o repertório esperado; de perto, a truculência na ocupação do território e no referendo indicam que a crise pode se agravar e alcançar o que antes era improvavel.

Já há os que vislumbram outras secessões no território ucraniano. Esses fatos nada têm de bom, pelo contrário. É muito arriscado quando duas potências militares do porte dos Estados Unidos e da Rússia se desafiam mutuamente.

A quase unanimidade das urnas da Crimeia pela reincorporação do território à Rússia foi uma conta de mentiroso. Ela indica que boa parcela dos votantes decidiu optar pela própria vida,  influenciada pelo poder da argumentação de um cano de fuzil apontado para sua cabeça.

Pior que o mentiroso, é o mentiroso que acredita na sua própria mentira.Quando a Argentina invadiu as Malvinas, os generais da junta militar, embalados pelo frenesi do sucesso inicial, se recusaram a negociar uma saída honrosa antes que o pior acontecesse.

O paralelo com a guerra das Malvinas é válido porque o mesmo pode acontecer no atual conflito da Crimeia.Um governante autocrata e ambicioso pode se embriagar com o sucesso e não deter o seu avanço. Ora, não foi isso que aconteceu quando Chamberlain não pôs freios em Hitler?

Quem porá freios em Putin? Para mim, a resposta é obvia. Aguardo os movimentos de Obama.

O antiamericanismo pode soar muito corajoso nos comícios, muito chique nas rodas socialistas socialaites, mas não se enganem, agora não é hora de torcer pelo bandido.

domingo, 16 de março de 2014

A soma de todos os medos

Ontem, discordei do Caio Blinder porque considero que a truculência russa na Crimeia ocorreria mesmo se a Rússia fosse uma democracia plena, pelo simples fato de que a ocupação daquela península correponde a um anseio do povo daquele país. Mas, é evidente que a autocracia de Putin o libera de vários entraves do jogo democrático e deixa o caminho livre para agir.

Putin acredita que a mudança do regime de Kiev foi maquinada pelo ocidente e, considerando imensas perdas e danos de uma Ucrânia na União Europeia e na Otan, resolveu agir. Sua ação foi rápida, fulminante, mas não precipitada, porque há reais motivos de interesse nacional russo em manter suas bases na Crimeia e os mísseis da Otan o mais longe possível de Moscou.

Lembrem-se da importância de Moscou como centro de gravidade do poder russo.

Sim, há fartos motivos para os movimentos russos na Crimeia. Mesmo assim, o referendo é uma farsa. Os votos colhidos hoje nas urnas da península serão o resultado da escolha de quem tem medo. Medo fabricado por quem já controla o território.

O mapa da Ucrânia com a suástica nazista representa bem a mentira fabricada. Há o medo da ameaça dos neonazistas, fundamentado numa mentira; e o medo das armas russas apontadas para a cabeça dos eleitores, o que é bem real.

O referendo é ilegal e mentiroso, mas servirá como verniz de legalidade para uma situação que já está definida.

A Crimeia já é da Rússia.

domingo, 9 de março de 2014

O estilo de Obama

Obama tem sido coerente ao longo de seu governo, evitando que os EUA protagonizem ações militares, embora forneça o apoio necessário para que elas ocorram.Na Líbia, os ataques aéreos foram desferidos por outros países da OTAN, como a França e a Itália; e Putin não precisou dispender esforço sobre-humano para convencer Obama a não lançar aviões e mísseis contra o governo de Assad. Além disso, Obama implementou a retirada das tropas americanas que ocupavam o Iraque e o Afeganistão. É verdade que ainda há soldados americanos naqueles países, mas como assessores militares.

Obama prefere um estilo cirúrgico, usando drones para matar seus inimigos sem maiores danos colaterais. A própria operação que levou à morte do Bin Laden pelas forças especiais dos EUA comprova que o atual presidente dos EUA é mais discreto que seus antecessores.

Já contei aqui o bunquer de Armaryiah, que visitei em Bagdá e onde mísseis americanos mataram mais de mil pessoas, a maioria crianças, durante a primeira guerra do Golfo. Acredito que aquele ataque não ocorreria com o atual ocupante da casa branca.

O estilo Obama se repete na crise da Ucrania, onde a diplomacia e as sanções econômicas do ocidente substituem canhões e mísseis e têm conseguido deter o avanço das tropas russas.

Honestidade intelectual

A ação militar russa na Crimeia era, sim, esperada, mas será que é legítima?
Evidentemente, a invasão de um país soberano contraria muitas leis internacionais. Mas, deixando de lado os aspectos jurídicos, seria legítimo um país invadir seu vizinho?
No caso da Crimeia, a resposta depende do grau de envolvimento do ocidente nas revoltas que derrubaram o antigo presidente da Ucrânia. Será que o ocidente foi um espectador dos acontecimentos, seu envolvimento limitou-se a um estímulo moral, uma torcida ou será que houve orquestração e financiamento das revoltas?
Cinquenta mil pessoas protestando numa praça representam 40 milhões? Não? Ah, e se forem quinhentos mil? E cinco milhões? E se esse protesto envolver tiros na polícia, ataques violentos, intransigência? Ah, e quando for o caso de um presidente inepto, levando seu país ao caos político e econômico, com imensas passeatas de protesto, há movimento de tropas e o presidente foge, isso é golpe ou é revolução? E se esse país não for a Ucrânia de 2014 mas o Brasil de exatos cinquenta anos atrás?
Eu não acho essas perguntas fáceis, mas é bom pensar nelas para pelo menos saber qual é o grau de nossa própria honestidade intelectual.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Quebrando o crânio na Ucrânia

O  Caio Blinder vem publicando no seu blog uma série de artigos sobre a crise da Ucrânia. No texto de hoje, uma frase me chamou a atenção: “Putin poderá até vencer a batalha da Crimeia, mas perderá a guerra da Ucrânia."
Para a Rússia, a Criméia é importante sob o ponto de vista militar, pois aquela península abriga o único porto russo capaz de operar durante todas as estações do ano.  Por outro lado, a Ucrânia além de ser muito relevante militarmente; é fundamental para o projeto geopolítico russo de voltar a ser uma superpotência, um projeto que corre contra o tempo.
Os anos 1990 iniciaram-se com o esfacelamento do império soviético e o ressurgimento, dentre outros países, da Rússia e da Ucrânia, ambos muito enfraquecidos economicamente.
Nas duas décadas seguintes, a Ucrânia enfrentou crises de natureza política, resultantes da divisão de seu território em áreas com maior e menor influência da Rússia e da Europa Ocidental, respectivamente. Pelo lado russo, houve a consolidação do poder político do grupo capitaneado pelo presidente Putin, bem como o revigoramento de sua economia, embora em ritmo insuficiente para contrabalançar o crescimento vigoroso da China.
Faz pouco tempo, os Estados Unidos declararam que o eixo de seus interesses estratégicos se deslocava para o Pacífico. Essa mudança é motivada pela ascensão econômica e militar chinesa e é cada vez mais provável uma nova bipolarização do poder mundial, dessa vez entre os EUA e a China.  Isso é bem provável, mas o governo russo ainda vislumbraria possibilidades de alterar essa tendência.
O aprofundamento da crise da Ucrânia interrompe uma sucessão de ganhos políticos pelo presidente Putin. Ele mereceu destaque pela sua atuação ao evitar um ataque dos EUA contra a Síria e mostrou habilidade na exploração política dos jogos olímpicos de inverno. Tudo isso aumentou seu prestígio tanto no plano interno de seu país, como internacionalmente.
O início da semana passada prometia ao Kremlin uma grande oportunidade de recolocar a Ucrânia na sua esfera de influência. Os acontecimentos seguintes contrariaram as expectativas russas de um jogo fácil.  Os adversários, que antes pareciam desinteressados, endureceram a partida. O presidente Putin parece que perdeu a iniciativa das ações.
Por fim, é cedo, o jogo ainda não acabou e está indefinido, mas a tendência do momento é que as peças russas terão que voltar algumas casas no grande tabuleiro do jogo de poder.

quarta-feira, 5 de março de 2014

A taça

Parece mesmo que a competência de Putin venceu novamente o talento de Obama.

Eu temia uma invasão armada da Crimeia pelos russos, mas agora duvido que isso ocorra. Tenho lá meus motivos para isso. Em primeiro lugar porque eles já estão lá em suas bases militares, em territorio ucraniano e pagando aluguel pela ocupação. Depois, há o fato de 60 porcento da população da península ser de origem russa.Alguém pode então dizer que há outros 40 porcento que não são russos. É verdade, mas se houver um referendum sobre o destino do território, a maioria vence.
Putin não precisa invadir nada. Basta manter suas tropas em posição deixando o bicho rosnar e latir,  mas mantendo-o preso na coleira. Em resumo, o russo está à frente no placar, batendo seu colega americano em mais um jogo de poder, e parece que levará outra taça para sua sala de trofeus no Kremlin.

terça-feira, 4 de março de 2014

Um pouco da história recente

Os anos 1990 foram os da hegemonia do neoliberalismo no mundo ocidental, algo amplamente aceito e seguido porque era percebido como benigno. Os EUA ditaram os rumos da história num período em que a China não era ainda tão poderosa e a Rússia estava bastante enfraquecida.
Daí, Bin Laden deu seu jeito e transformou o mocinho em bandido.
A invasão do Iraque é pedra angular da história mundial. Quando lhe interessou, o grande líder mundial passou por cima dos mecanismos de estabilidade internacional que ele mesmo promovia. A guerra ao terror deixou milhares de mortos e feridos e também provocou cicatrizes no prestígio dos EUA.
Putin chegou ao poder em Moscou no final do ciclo da hegemonia norte-americana e, desde então, vem liderando a Rússia de volta ao papel de grande potência mundial. Ele é insuperável no atual cenário político russo.
Os EUA e a UE toleraram suas ações na Chechênia e na Geórgia, lugares remotos aos olhos ocidentais. O noticiário de hoje indica que finalmente Putin encontrou seus limites. Duvido que invada a Ucrânia. Tomara que eu esteja certo.

Putin

Escrevi o seguinte comentário no texto publicado hoje no blog do Caio Blinder.

Não acho que o Putin seja a encarnação do mal. Ele é um nacionalista e usa o nacionalismo como justificativa para suas intervenções nos países vizinhos, mas seu objetivo não é anexar novos territórios à gigantesca Rússia. Seu objetivo é elevar seu país novamente à condição de superpotência.
Putin é produto da ortodoxa máquina soviética. Não tolera dissidentes simplesmente porque não é um democrata. Ele é e sempre será um comunista soviético. Quando pode, atua com mão de ferro. Mantém seus inimigos em estreita vigilância e não deixa grupos como Greenpeace, Pussy Riots e Black Blocs atuarem no seu território. Afinal, anarquistas são úteis para tumultuar as democracias ocidentais, mas não podem agir na eterna pátria do comunismo mundial.
Putin é um político inteligente, capaz, exibicionista e ambicioso. Não há quem o vença no atual cenário político russo. No plano externo, é bom não dar corda para ele.
A guerra fria não acabou, não. Ela se transformou e é bom mesmo ter cuidado com o Putin.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Otimismo

A séria série do samba do russo doido está bombando e não é a toa. A perspectiva de um conflito armado consegue ser sombria e empolgante ao mesmo tempo.
Passei meu carnaval acompanhando a crise na Ucrânia, os movimentos de tropas e de políticos. A falta de novas notícias relevantes nas últimas horas é auspiciosa. Num mundo tecnológico e globalizado, isso significa que, no momento, nada está acontecendo e estão todos em compasso de espera. Menos mau!
Putin deixou os tanques do outro lado da fronteira e parece mesmo que eles ficarão por lá. A hora é de botar água na fervura e de buscar uma saída diplomática que deixe todos, se não satisfetos, pelo menos aliviados.
É bem provável que eu seja um ingênuo, mas quem é otimista tem que pensar positivamente.  

Come ou não come Friboi?

Enquanto aviões russos cruzam os ceus da Crimeia, os noticiários brasileiros continuam apostando em quem ganhará o desfile de carnaval e quem pegará quem no BBB.

A grande dúvida do momento é se Roberto Carlos come ou não come Friboi.


É, aimigo, a Ucrãnia fica mesmo muito longe daqui.


Um colega me enviou uma postagem de um ucraniano no Facebook. Ele, um militar experimentado em missões de paz, tem medo da invasão russa e pede que rezem pela sua pátria. Não quer ver nela o que viu na Bósnia e no Kosovo.


Eu atendo o pedido e peço para Deus pela paz. Que tudo se resolva bem, sem mais sangue derramado, nem que seja para tudo voltar ao que era antes no Quartel de Abrantes.


E também para que deixem o Roberto Carlos comer o que lhe der na telha