domingo, 23 de março de 2014

O gás russo

Eu tenho escrito por aqui que as sanções econômicas contra a Rússia não se sustentarão por muito tempo, sempre justificando que a Europa depende do gás russo para seu aquecimento no inverno.

Sim, é verdade que eles dependem do gás para se aquecerem no frio do inverno, mas o gás também é essencial para mover sua indústria, tocar sua própria economia.Sem energia não há prosperidade e a Europa em crise sofre com desemprego, com déficits fiscais, com cortes e mais cortes dos benefícios sociais. A população sofre.

Ontem houve protesto em Madri. Cinquenta mil foram às ruas reclamar do desemprego, da falta de perspectivas e marcharam pela dignidade. Como sempre, a passeata acabou em confusão, detidos, depredações.

O protesto de ontem foi uma sombra daqueles que ocorreram poucos anos atrás, mas repetiu o mesmo repertório. Os protestos ocorrem em quase toda Europa e são, sobretudo, o resultado da crise econômica.

As economias de muitos países europeus estão em crise e seus governantes precisam resolver o problema de seus cidadãos. Aliás, convenhamos, a falta de perspectivas também foi um dos combustíveis que moveram a revolta ucraniana contra o antigo governo.

O fã clube do Putin pode argumentar que tais protestos não aparecem em Moscou. Pode ser. Quem sabe isso ocorra porque o povo russo está feliz e satisfeito, ou será que é porque os que se atreveriam a protestar tenham mais medo da polícia e da cadeia do que os outros?

Seja lá o motivo da falta de protestos em Moscou, a conquista da Crimeia inflamou o orgulho russo, elevando a popularidade de Putin, o que é perigoso. Um líder ambicioso com ego elevado pode se inspirar a escalar a crise.

Pode, mas duvido que o faça. Putin sabe que escalar a crise é um jogo do tipo perde-perde. Se os europeus precisam do gás russo, a economia russa depende mais ainda da venda do combustível. Esse fato demonstra a desindustrialização da economia russa, muito dependente da venda de commodities. Parece que esse é o resultado do predomínio das máfias, da concentração de renda, da falta de investimentos.

Se pensarmos um pouco mais veremos que o que Putin mais teme não são os mísseis da OTAN instalados na sua fronteira com a Ucrânia, mas a proximidade da civilização europeia, tão perto do povo russo, tornado inevitáveis a contaminação dos anseios por liberdade e prosperidade.

A população russa também sofre dificuldades e falta de perspectivas. Quando também ficar indignada e perder o medo da polícia, irá para as ruas. Daí Moscou repetirá Madri e a situação ficará definitivamente russa.

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