sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Tortura

É emblemático que os atentados ocorram na França, berço do liberalismo, baluarte do socialismo, tão avançada na defesa dos direitos do homem.
A mesma França que, nas décadas e sessenta e setenta,  permitia plena liberdade para que os terroristas latino americanos planejassem e financiassem suas ações no Brasil e na Argentina. 
A maravilhosa França foi alvo do terrorismo de assassinos fanatizados por uma ideologia que nós ocidentais pouco compreendemos.
As notícias apontam que a polícia cercou os assassinos do Charlie Hebdo, que estariam fortemente armados e mantendo inocentes como reféns.
Ao mesmo tempo, outros terroristas teriam assassinado policiais e estourado bombas no mercado judeu em Paris.
O que fazer?
Dialogar?  E cabe algum diálogo com fanáticos?
A viúva do Charb reclama, com toda razão, que o governo francês mantinha os terroristas sob vigilância e, mesmo assim, não conteve os atentados.
Daí me lembro do 1984, em que George Orwell foi absolutamente claro ao afirmar a eficiência da dor física em quebrar a resistência do homem. Orwell lutou na guerra civil espanhola e entendia sobre a crueldade humana.
Mas, e daí? Algum agente público francês se atreverá em torturar um terrorista aprisionado? Duvido, mesmo se isso significar a morte de dezenas de reféns inocentes. Que morram os reféns, então.
Nem sempre o Ocidente deu tanta importância para a ética no combate ao inimigo.
Na segunda guerra, os britânicos lançaram bombas e mais bombas sobre cidades alemãs e francesas, visando destruir a estrutura de guerra inimiga. Os bombardeios atingiam fábricas e instalações militares,  mas também hospitais e residências, matando milhares de civis, idosos, mulheres e crianças, frágeis e absolutamente inocentes. Mas, como diziam então, guerra é guerra, o que justificava os tais danos colaterais.
Tudo muito eficaz. A liberdade estava sob risco, o que permitia os atos mais crueis em sua defesa.
Hoje, a chamada guerra ao terror encontra limitações em sua liberdade de ação. Não se admite abusos como a tortura, mas o fato é que os terroristas também pouco temem a punição pelos seus atos.
Quem terá a coragem de defender a tortura? Penso que ninguém. Depois do massacre, o premiê Hollande ainda pôde afirmar que doze morreram mas que dezenas de outros haviam sido salvos. Será mesmo?
Dois dias depois, a polícia francesa não prendeu ainda os assassinos do Charlie Hebdo e Paris tem sido alvo de outros ataques terroristas. Vamos ver o que acontecerá se as coisas piorarem. Talvez, então, os humanistas tenham que admitir que se quebre alguns ovos.

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