Passamos os últimos dias discutindo os motivos e as consequências do atentado. Grupos políticos aproveitaram o acontecimento para reforçar suas posições e atacar seus adversários. Debatemos também quais os limites aceitáveis da liberdade de expressão. Alguns articulistas alinharam-se incondicionalmente ao Charlie Hebdo com o propósito de consolidar suas convicções contra quaisquer tentativas de cerceamento do trabalho jornalístico.
Em resumo, vimos o fato e o interpretamos conforme nossa visão e interesses como integrantes da civilização ocidental, aquela resultante da matriz histórica europeia e de fundamento moral judaico-cristão.
Nos esquecemos de ver como os adversários de nossa civilização nos veem. Nesta semana, fomos lembrados, mais uma vez, que há quem nos odeie.
Há fortes indícios de que o atentado da última semana tenha sido cuidadosamente planejado e executado, como parte de um amplo movimento orquestrado desde o mundo islâmico, por grupos como a Al Qaeda ou o Estado Islâmico, para citar apenas os mais evidentes.
Quando o Irã e o Hamas oferecem sua solidariedade às vítimas do atentado, novamente há os que repetem o erro de recusar esse apoio escorados na visão e interesses puramente ocidentais.
O apoio oferecido evidencia fissuras no movimento contra o ocidente. Mais do que isso, é uma oportunidade de integração de esforços em busca de objetivos comuns, o que poderia redundar, até mesmo, na solução de alguns focos de conflito no Oriente Médio, como o palestino e israelense.
Na pior das hipóteses, a divisão dos antagonistas permite melhores condições de batê-los por partes.
Não é hora de recusar alianças. Os inimigos do ocidente ou estão ativos ou dormentes, infiltrados entre os milhões de imigrantes que buscam apenas um espaço de paz para trabalhar e prosperar. O Ocidente não os vencerá sozinho, pelo menos não sem provocar fissuras nos fundamentos de sua civilização.
O terrorismo de fundamento islâmico intensificou suas ações após o fim da guerra fria, como uma nova modalidade de antagonismo ao predomínio econômico e político do capitalismo liberal. Ele cresceu com o vácuo de poder surgido com a derrocada do nacionalismo árabe da década de sessenta. Hoje, atreve-se a desafiar as estruturas de poder no Oriente Médio e ameaça o Ocidente.
O combate a essa ameaça requer abordagens novas, mesmo que implique em alianças com velhos adversários. O que não se pode fazer é focar na tática e esquecer a estratégia. Os interesses ocidentais são mais amplos que derrotar o terrorismo; eles devem buscar sobretudo a paz e melhores condições de vida para todos.
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