sábado, 26 de outubro de 2013
A ruína da civilização ocidental
sábado, 12 de outubro de 2013
Nobel da Paz
O Nobel da Paz deste ano foi para a Organização para a Proibição de Armas Químicas, a OPAQ. Longe de ser injusto, pela relevância de eliminar armas de destruição em massa; e também longe de ser o mais merecido, porque a OPAQ existe tão somente para cumprir um tratado internacional.
Os inspetores de armas químicas aplicam a ciência pelo bem da humanidade, trabalham em ambientes inóspitos e se expõem ao perigo do envenenamento. É justo que sejam reconhecidos, mas eles só se movem quando autorizados pelos governos.
Quem mais mereceria esse prêmio seria a Convenção para a Proibição de Armas Químicas, um instrumento ratificado por praticamente todas as nações e que traduz o propósito de livrar o mundo de um tipo de arma particularmente cruel.
Não se pode premiar um propósito ou uma boa intenção. Então, o prêmio segue para a instituição que torna o desejo em realidade. É justo que seja assim.
sábado, 14 de setembro de 2013
Mal menor
Admiro a atitude de Robert Kaplan em admitir um erro que teria cometido. Li seu artigo e o considerei consistente, mas discordo de sua análise.
Kaplan diz que um bom analista teria que formular seu trabalho pensando em cinco ou seis etapas adiante. Ora, isso seria muito temerário, pois os acontecimentos sempre carregam um elevado grau de incerteza.
Pode ser que um mestre do xadrez consiga antecipar cinco ou seis jogadas adiante de seu adversário, mas isso é bem diferente de se prever, na vida real, as consequências a longo prazo de um fato no presente.
A incerteza é ainda maior quando se trata do Oriente Médio, onde povos milenares coabitam países artificialmente criados, com menos de cem anos de existência juridicamente aceita. Lembro que aqueles mesmos países foram construídos em território que pertenceu, por séculos, ao Império Otomano, sem notícias de maiores instabilidades. Contudo, ao longo de um século, o que era tranquilo se transformou numa região onde afloram as rivalidades, onde a violência assusta pela sua extensão e profundidade.
Não ouso prever o que ocorrerá naquele canto do planeta. Acho que ali funciona melhor o ditado que diz que o futuro a Deus pertence.
Um segundo aspecto quanto à análise de Kaplan diz respeito à ideia do mal menor. Não acredito nesse conceito. Recordo que, na vida, não existe um pequeno câncer ou uma pequena gravidez. O que é pequeno hoje, amanhã pode lhe consumir o corpo e a alma. Assim também é com os regimes de governo. Não se pode pensar numa ditadura inofensiva ou até mesmo do bem, funcionando como como uma rolha impedindo que se libere o mal contido numa garrafa. O autoritarismo também evolui e nada é tão ruim que não possa piorar.
A guerra civil da Síria envolve interesses difusos, com um nível de violência e crueldade que a equipara aos piores conflitos da humanidade, como aqueles que atingiram os balcãs ou os da rivalidade entre hutus e tutsies na África.
Os que praticam genocídios merecem as consequências de seus atos. Não me preocupo tanto com qual facção merece viver ou morrer nas guerras. Afinal, morrer faz parte dos riscos do combate. O que realmente me incomoda é a imagem de crianças envenenadas, daqueles pequenos anjos que o homem mata com tanta facilidade.
Melhor que prever o futuro é impedir os massacres de inocentes que continuam acontecendo.
Ontem, Ban Ki Moon afirmou que o governo Sírio é o responsável pelo massacre do dia 21 de agosto. A crueldade só aumenta a pressão da garrafa síria. A rolha, do jeito que está, provocará a explosão da garrafa em mil estilhaços. Parece que é hora de destampá-la e enfrentar de vez o mal que ela contém.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Dachau em Damasco
A atual aversão de boa parte dos americanos em se enroscar em mais um conflito me lembra que os EUA só ingressaram na Segunda Guerra Mundial depois de mais de dois anos do início das hostilidades. Foi preciso um acontecimento dramático, o ataque a Pearl Harbor, para mover e comover o Gigante do Norte.
Logo depois do final daquela guerra, soldados americanos esbarraram com o campo de concentração de Dachau, surpreendendo-se com o que encontraram. Impuseram à população alemã das redondezas o merecido castigo de enterrar os corpos acumulados naquele campo.
Foi uma lição memorável. Os alemães aprenderam que toda sua Nação, mesmo aqueles que não eram combatentes ou nazistas, era responsável pelo ocorria nos campos de extermínio. Muitos clamaram desconhecer as atrocidades, mas ainda que não tivessem sido informados, deveriam desconfiar e, de algum modo, agir.
A lição deveria ser aprendida por todos os homens e nações, mas não foi.
Hoje, sabemos que criancinhas morrem envenadas por bombas químicas na Síria, algo inaceitável. Contudo, muitos se escoram num pragmatismo perverso de não se envolver numa guerra que não lhes pertence. É justamente aí que mora o engano.
O massacre das crianças de Damasco é um crime contra a humanidadee não se pode tolerar sua repetição. Por isso, algo tem que ser feito, de preferência em conformidade com as regras do Direito Internacional. Caso contrário, no final dessa história teremos nossa própria pilha de pequenos cadáveres para enterrar.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Pois é
Tem gente que acha que não vale à pena ir à guerra contra o regime sírio. É muito perigoso, dizem; a Síria não é a Líbia, observam; há muitos interesses em jogo, lembram; os inimigos de Assad são piores do que ele, avisam. Também tem gente que não se comove com criancinhas mortas. É tudo mentira, desafiam; é armação dos rebeldes, reclamam; nada ficou provado, argumentam; por tiro ou veneno, morto é morto, sacramentam. Eis que Obama rufa os tambores. Amarelão, xingam; anômalo, criticam; covardão, acusam; ardiloso, proclamam. Os EUA mandarão mísseis, mas não tropas. Pergunto: tirando o povo daquele canto do planeta, quem mais está disposto a morrer pleo carniceiro de Damasco?
domingo, 1 de setembro de 2013
Rua da Enganação
Nesta semana, O GLOBO publicou uma autocrítica, condenando um editorial escrito há quase meio século e que tecia elogios à deposição de João Goulart.
Muitos condenam os que conduziram o governo do país a partir de 31 de março de 1964. Condenam o que chamam de golpe militar, classificando-o como um atentado à democracia, mas propositadamente omitem que, apenas três décadas antes, a revolução de 1930 também havia deposto um governo legalmente eleito. Em 1964, vivia-se o ambiente da guerra fria e a democracia no Brasil estava longe de ser consolidada.
Dizer que nada de bom surgiu dos governos militares é pactuar com a mentira dos que forjam os fatos ao gosto de sua ideologia.
Atualmente, vivemos momentos perigosos. Esses perigos eram mais evidentes cinquenta anos atrás, mas hoje eles estão presentes, manifestando-se em atos e fatos que esgarçam o tecido social e fragilizam as instituições.
Tal qual uma prostituta, boa parte da mídia se vendeu às benesses do poder, deslumbrada com a fartura do dinheiro público e se enganando na utopia de um mundo mais igualitário, só que mais injusto e autoritário.
Os jornalistas de O GLOBO despiram mais uma camada de seus disfarces. Aquele jornal deu loas aos black blocs e não repudiou o ato das vadias que vandalizaram imagens religiosas. Agora, o GLOBO desmente sua própria história.
É triste ver as prostitutas se vendendo na rua da Enganação.
Síria e os ensinamentos da história
Toda crise oferece suas próprias lições e os três séculos e meio desde a paz de Vestfália encerram vários ensinamentos na longa história das relações entre os Estados Nacionais. Na história moderna, é recentíssima a formação dos países do Oriente Médio.
Cem anos atrás, Síria, Iraque, Arábia Saudita e outros eram províncias do Império Otomano e sua conformação como Estados foi decidida pelas potências vencedoras da primeira guerra mundial, mas levando-se em conta também os interesses da elite política regional. Daí, juntaram-se grupos étnicos distintos num mesmo país e nações foram segmentadas. Isso explica, pelo menos em parte, os ódios e disputas que instabilizam aquela parte do planeta.
Além disso, como ponto de encontro entre os continentes, o Oriente Médio é palco de disputas de espaço de poder e influência. As grandes jazidas de petróleo na região adicionam mais um ingrediente a esse caldo de conflitos.
Chegamos então à Síria, onde há mais de dois anos uma guerra civil vem produzindo milhares e milhares de mortos, destruindo as estruturas do país e deslocando expressiva parte de sua população na busca de refúgio, de algum local onde se possa viver sem a perspectiva sombria de repentinamente morrer de bomba, de tiro ou de veneno.
Nesta última semana, as imagens de crianças mortas por armas químicas, supostamente lançadas por tropas do governo sírio, chocou a opinião pública mundial e levou a um intenso debate sobre o que deve ser feito. Como costuma ocorrer, espera-se que a principal potência mundial encontre uma solução que impeça novas mortes de inocentes.
A crise Síria possui componentes dramáticos, cruéis e inusitados. Não é fácil resolvê-la. Para isso, será preciso levar em conta a história regional e os ensinamentos colhidos em outros conflitos.
Há quem recomende extrema cautela, pois é grande o perigo de se espalhar uma guerra que hoje está contida nas fronteiras sírias. Outros são mais pragmáticos; enxergam o ditador sírio como o menor dos males, a opção menos danosa para o equilíbrio político regional.
Remeto o leitor, então, a dois acontecimentos da história.
Lembro que, durante os anos trinta, foi infrutífera a tolerância de Chamberlain ao expansionismo de Hitler. Sem freios, o ditador alemão levou adiante seu apetite de poder, que acabou provocando a segunda guerra mundial.
Cinquenta anos depois, a tolerância do ocidente aos massacres da população curda iraquiana, também utilizando armas químicas, levou Sadam Hussein a confiar na impunidade por seus atos, motivando-o a invadir o Kuwait.
Hoje, há quem critique o presidente dos EUA por ele ainda não ter agido contra o governo sírio. Ao revés, outros o criticam por sua opção em tomar as medidas contra o ditador Assad. Eu discordo de ambas as críticas.
Obama deixou claro os limites de sua tolerância e, mesmo assim, o governo sírio os ultrapassou.
O uso de armas químicas poderia oferecer alguma vantagem no terreno tático, mas é moralmente inaceitável. Deixar o regime de Damasco sem punição será o mesmo que convidá-lo a continuar usando aquelas armas contra seus adversários e mesmo contra outros países da região.
A situação exige ação, mas também cautela. Obama tem dado repetidos avisos e oportunidades ao governo sírio, que ainda tem uma saída. Basta entregar os responsáveis pelo ataque do dia 21 de agosto para julgamento no Tribunal Penal Internacional.
Entregar um bode expiatório para os crimes do regime seria uma resposta aceitável e ofereceria maiores chances de sobrevida ao governo Sírio.
Isso deu certo com a Líbia, nos anos oitenta, quando um agente da inteligência daquele país foi entregue para julgamento pela Grã-Bretanha pela explosão do avião da PANAM sobre a cidade escocesa de Lockerbie, um atentado com fortes indícios de ter sido determinado pelo ditador Kadafi.
A história oferece lições e ensinamentos. Precisa ser lida e levada mais a sério, principalmente por quem tem as melhores condições de conduzir os acontecimentos.
Mais Síria
Evidentemente, a crise síria reúne componentes mais complexos que os da siituação iraquiana dos anos noventa. Os interesses geopolíticos dos EUA e da Rússia, sem esquecer os das potências regionais, enevoam a visão do quadro. Ali, a briga envolve mais do que a luta entre segmentos da sociedade síria, mas a disputa por espaço de poder e influência.
Daí, a dúvida: será que a mesma fórmula que impediu a matança de civis no Iraque daria certo na Síria?
Essa questão puxa outra: se aquela fórmula não resolver, o que deveria ser feito, então?
Em 2003, os EUA invadiram o Iraque escorados numa mentira: a da existência de armas de destruição em massa. Dez anos depois, colhem-se evidências atrás de evidências do uso de armas químicas pelo regime sírio, o que justifica e mesmo impele a ação militar punitiva.
O cerne da questão é impedir a repetição dos crimes de guerra. O mais certo seria levar os responsáveis pelo ataque químico a julgamento em Haia, mas é preciso convencer o governo sírio a cortar na própria carne.
Talvez alguns mísseis desobstruam a Estrada de Damasco. O perigo é que eles incendeiem outros barris de pólvora, mas é certo que alguma coisa tem que ser feita.
sábado, 31 de agosto de 2013
É preciso agir na Síria
Produzir armas químicas é relativamente simples e a tecnologia para utilizá-las em granadas de artilharia ou de morteiros data de quase cem anos, ou seja, desde a primeira guerra mundial.
São tremendamente insensíveis os que dizem que mortos são mortos, não importando se foram vítimas de tiros, bombas ou envenenamento. Não, não é assim.
Os efeitos das armas químicas são devastadores. Os que são pegos desprevenidos num ataque com agentes neurotóxicos podem morrer em questão de minutos. A morte é cruel. A vítima paralisada perde a capacidade de respirar. A consciência se esvai aos poucos, numa agonia desesperadora.
Agora, parem um pouco e pensem nas imagens das crianças mortas e imaginem como elas sofreram em sua morte. Convenhamos que, mesmo nas guerras, há limites para a crueldade.
O regime sírio manteve por longo tempo as armas químicas em estoque e tudo indica que perdeu o pudor em utilizá-las contra seus compatriotas.
É verdade que uma ação militar punitiva contra a Síria poderia espalhar o conflito perigosamente.
Um general francês afirmou recentemente que interessaria ao ocidente manter Assad no poder, pois, diante das perspectivas surgidas em sua eventual queda, ele seria o menor dos males.
Pode ser, mas diante do recente ataque químico esse mal menor está ficando cada vez pior.
Antes de concluir, ainda cabe uma reflexão final. O que interessa mesmo é fazer todo o possível para evitar a morte de outros inocentes. Atingir esse objetivo é muito complicado. Não há solução fácil ou indolor.
Agir pode ser perigoso pelas consequencias da ação; deixar de agir pode ser interpretado como fraqueza, deixando desimpedido o caminho para mais mortes.
Agir não necessariamente significa lançar bombas e mísseis. Assim como se faz para comer um mingau quente, a situação pode ser resolvida das beiradas para o centro do conflito.
Vislumbro que um acordo entre as grandes potências e os principais países do Oriente Médio poderia permitir que os responsáveis pelo ataques químicos fossem identificados e levados a julgamento no Tribunal Internacional Penal, em Haia. Essa seria uma solução adequada às normas do direito internacional e inibiria a repetição de outros ataques desa natureza.
Evidentemente, seria difícil convencer o regime sírio a cortar sua própria carne, mas poderia prevalescer o dito de que é melhor entregar os aneis do que cortar os dedos.
Soube hoje que Obama resolveu agir e isso é bom. Afinal, o presidente da nação mais poderosa do mundo é quem está mais apto a exercer a liderança em mais esse difícil da história da humanidade e o mínimo que se espera de um líder é que ele lidere.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
A Estrada de Damasco
Para começar, é bom lembrar que há um século, o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando desencadeou uma série de eventos que provocaram a primeira guerra mundial.
Considerando que a segunda guerra é consequência da primeira, podemos dizer que o tiro disparado em Saravejo provocou a morte não de um homem, mas de milhões; foi um tiro que mudou o mundo.
Tendo isso em mente, voltamos a nossos dias. Uma ação militar na Síria poderia ser desastrosa, ampliando uma guerra civil contida num país para um conflito em escala global. A percepção que a Estrada de Damasco conduz a um beco sem saída levou os britânicos cansados de guerra a negarem o uso da força contra o regime de Assad.
Daí, me vem à mente a pergunta que não quer calar: o que fazer?
Desde já, vislumbro uma saída. Uma investigação que aponte os culpados pelo bombardeio químico e levar os responsáveis para julgamento no Tribunal Internacional Penal de Haia.
Tudo indica que foi tropa do governo que disparou as bombas químicas. É difícil convencer Assad a cortar na própria carne. Afinal, lembremos que ele também se equilibra no fio da navalha e naquelas bandas demonstrar fraqueza equivale a enrolar a corda no pescoço. Contudo, o instinto de preservação também conta e sempre vale lembrar que perder os aneis pode não ser tão desastroso se ficarem os dedos.
Deixar de agir não me parece uma boa alternativa. Nada adiantará empurrar o problema com a barriga e deixar os sírios se matarem uns aos outros até que se escorra o último copo de sangue.
É verdade que há monstros de um lado e do outro daquela guerra civil, mas também há inocentes e muitas criancinhas no meio disso tudo.
Se a ação militar é perigosa, deixar de agir não resolve nada. O problema é difícil, mas tem que ser resolvido.
É hora do presidente do país mais poderoso do mundo decidir o que fazer. O hemisfério ocidental precisa que seu líder tome a iniciativa e mostre o caminho a seguir. Nem que ele leve mesmo a Damasco.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Salvo conduto
Quem aluga um imóvel no Chile tem que se submeter à regra do salvo conduto na hora de deixá-lo.
Explicando melhor, no fim do contrato de locação, o inquilino tem que pedir ao dono do imóvel quecele firme uma autorização para que possa tiar seus pertences de lá. Essa autorização é firmada em cartório e sem ela os carabineros podem impedir a mudança.
Fui Iinquilino lá por aquelas bandas e achava um absurdo essa regra do salvo conduto. Meus amigos chilenos, contudo, pensam que esse procedimento é absolutamente normal. Os chilenos pensam diferente de mim e provavelmente os bolivianos também.
Asilar ou deixar de asilar é uma decisão soberana de um país. O Brasil deu asilo ao senador boliviano, mas o presidente do país vizinho não autorizou que ele deixasse a embaixada. Para Morales, pouco importava se o Brasil asilava o senador; a Bolívia não permitiria a consumação do asilo. É de se perguntar quem violou a soberania de quem nessa história.
Pelo que eu saiba, nossa presidenta nunca precisou alugar um apartamento no Chile. Mesmo assim, parece que ela acha normal forçar o inquilino a obter salvo conduto para poder tirar o que é dele de dentro do imóvel alugado.
Querem um conselho de amigo? Façam de tudo para não ter que alugar um apartamento da Dona Dilma.
Síria
Hoje, li a notícia sobre o ataque com agentes de guerra química, que foi publicada no site do terra em 23 de agosto. Ela contém fotos de crianças mortas. São imagens revoltantes.Quem tiver estômago, conseguirá vê-las em
http://noticias.terra.com.br/mundo/oriente-medio/especialistas-misseis-com-agente-nervoso-podem-estar-por-tras-de-ataque-na-siria,a171d4b1997a0410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html
Não consigo entender o que pensava o sujeito que lançou os mísseis com aqueles agentes. Certamente, é um monstro, um animal.
Não se vence o mal matando demônios, mas salvando almas. O fato me convenceu que é preciso agir na Síria, senão outras crianças morrerão.
domingo, 25 de agosto de 2013
Caxias
Proposta indecente
Parece inevitável a vinda dos cubanos, mas não percamos a esperança, ainda temos uma última cartada. Lançaremos a seguinte proposta: nós aceitamos a vinda de 4000 médicos cubanos se Cuba aceitar que mandemos 4000 advogados brasileiros para lá.
Conflito no Oriente Médio
- A situação no Oriente Médio nos interessa mais do que se costuma supor. Isso, não só pela siignificativa parcela de nossa população com descendência árabe, mas por laços que a maioria dos brasileiros ignora.Quarenta anos atrás, a escalada nos preços do petróleo nos levou a estreitar relações com o regime de Saddam Hussein, uma parceria com desdobramentos na nossa indústria automobilistica e bélica, no desenvolvimento da tecnologia nuclear e em diveras obras da construção civil.Décadas depois, um ex-presidente tentou projetar sua influência política na região, com um ousado movimento em direção ao Irã. Fez isso em conjunto com a Turquia, mas sofreu forte oposição de outros países tanto da região como do resto do mundo. Foi rechaçado e sua reputação sofreu alguns arranhões.A turbulência política, habitual no Oriente Médio, tem se intensificado. Para explicar os acontecimentos, muitos enxergam apenas a ação das grandes potências, mas fica cada vez mais claro que qualquer análise tem que abordar os interesses dos atores locais. Para entendê-los, é preciso conhecer a cultura e o pensamento árabes. Já trabalhei por ali e posso dizer que isso é muito complicado.Não é segredo que a ONU pretende que o Brasil contribua com tropas para uma força de manutenção de paz no Líbano. Não consigo pensar em melhores soldados para essa missão, mas ela é muito perigosa. Há evidentes riscos para a vida dos nossos militares e mesmo para o prestígio de nosso país.Para o observador isento e distante, já é difícil entender a sucessão de conflitos no Oriente Médio. Essa dificuldade aumentará muito quando brasileiros começarem a morrer por ali.
Ciência e dominação
Mais de dois séculos depois, a Revolução Francesa ainda é um assunto inacabado. Muitos matam e morrem para impor mais igualdade; outros, para defender a liberdade. Minúscula mesmo é a turma da fraternidade, mas Iso é papo para outra hora.
Vivemos também os efeitos perniciosos de um cientificismo exagerado, em que se procura explicar todos os fenômenos do mundo apenas pelos critérios da ciência. É como se a razão matasse o espírito.
Ao tentar explicar e moldar o mundo, o cientista enxerga o coletivo, o macro, e caracteriza tudo em função do grupo. Como não consegue explicar o indivíduo, despreza-o e o reduz a uma réles partícula do conjunto. Daí, a defesa do aborto e as restrições à liberdade de cada um. Nesse aspecto, a ciência é ferramenta do homem contra o homem.
O predomínio da razão sufoca a fraternidade e escraviza o homem. O coletivo sufoca o indivíduo e limita sua liberdade. Isso é conveniente para alguns. Como sempre, as elites de cada grupo dominam seus componentes, impondo-lhes regras que garantem sua supremacia interna e inibem as oportunidades dos que ousam lhes opor.
No Brasil, esse fenômeno se manifesta seja em guetos, favelas ou mesmo nos palácios. Os traficantes impõem regras aos moradores das comunidades pobres; os donos do mídia ninja exigem fidelidade irrestrita aos seus membros; e, no nível do Governo Federal, é cada vez mais claro as relações de poder e trocas de favor que sustentam o grupo político dominante.
sábado, 24 de agosto de 2013
Carlos, o Chacal
Chavez acreditou
O problema do mau atendimento de saúde no Brasil é crônico e tem que ser resolvido por medidas permanentes.
É elevado o orçamento da saúde, mas os recursos são mal aplicados. Também há uma grande quantidade de médicos no Brasil, mas eles são mal distribuídos.
A solução que o governo encontrou lhe é muito conveniente. Primeiro, é um paliativo para o problema e uma resposta à insatisfação da população com a saúde; depois, é um eficiente instrumentos de propagação de sua ideologia, já que os cubanos são todos muito bem doutrinados politicamente; por fim, é um mecanismo de justificar ajuda financeira ao regime dos patronos dos nossos dirigentes.
É risível dizer que a medicina cubana é avançada, mas tem gente que acredita.
Chavez acreditou.
sábado, 17 de agosto de 2013
Tatuagem
a conta
Não era só a guerrilha, mas os protestos das ruas também movimentavam o cenário político da época, com jovens cabeludos reclamando contra o governo, brigando com a polícia, correndo da cavalaria.
Quarenta anos depois, nossas ruas voltamos a assistir protestos, depredações e correrias, dessa vez com mascarados de um lado e policiais sem cassetetes de outro.
Os porretes estão fora de moda. Agora, falamos de coquetéis molotov e spray de pimenta.
Outra diferença marcante é que hoje sabemos quem financia os manifestantes. O mecenas da baderna se chama GOVERNO FEDERAL. Nosso glorioso e honesto governo que manda dinheiro para Mídias Ninjas, com verba publicitária da Petrobras e outras estatais, escudadas na Lei Rouanet de promoção da cultura.
Sim, porque o dinheiro da cultura é usado para a baderna das ruas.
Nossos manifestantes são profissionais da rebeldia e tacar pedra na polícia, pichar muros e incendiar ônibus é uma nova forma de arte.
Fica claro e evidente que baderneiro também come e comunista gosta mesmo é de dinheiro, mas do nosso dinheiro.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
ninjas petralhas mascarados
A luta é por corações e mentes. Não deixem esses ninjas petralhas mascarados depredarem nossa noção do que é certo e do que é errado.
sábado, 10 de agosto de 2013
Unir os pontos
No site de Ana Helena Tavares há uma matéria simpática ao autor da cusparada. Quem quise lê-la, está em
http://quemtemmedodademocracia.com/2013/01/21/eu-nao-me-arrependo-do-cuspe-porque-eles-tambem-nao-se-arrependem-do-que-fizeram-na-ditadura/
Naquele dia, centenas de manifestantes portando bandeiras vermelhas se acumularam no centro do Rio para a hostilidade. As Organizações Globo e a Folha de São Paulo abordaram o fato com inegável simpatia aos vermelhos.
Naquele dia, o governador Tarso Genro foi visto nas imediações do Clube, acompanhando o que se passava. O detalhe é que ele é governador do Rio Grande do Sul e pai de Luciana Genro, uma das principsis dirigestes do PSOL.
Um ano depois, noticiou-se que militantes lotados no Palácio do Planalto, mais especificamente junto ao Ministro Gilberto Carvalho, haviam organizado e financiado uma manifestação contra a Copa do Mundo, inclusive com pagamento em dinheiro a alguns dos manifestantes.
Os protestos de junho e julho deram margem a várias especulações sobre a manipulação de jovens insatisfeitos com a realidade do Brasil. Descobrimos o que são os white, pink e black blocs.
Agora, no início de agosto, desvenda-se o que está por trás do grupo Mídia Ninja.
Não preciso mostrar a figura. Liguem os pontos que ela aparecerá.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
A mentira parece verdade.
Deu no que deu, a bandidagem cresceu e todo mundo se fu*%&*.
O triste retrato do delegado de polícia - texto copiado de Amir Sobral
O TRISTE RETRATO DO DELEGADO DE POLÍCIA - texto copiado de uma postagem do Almir Sobral
Segundo o lexicógrafo Aurélio, delegado é aquele que é autorizado por
outrem a representá-lo, ou seja, é a pessoa que recebeu uma delegação
cujas funções e atribuições não lhe são próprias. Comparável
significação encontramos no direito romano onde a investigação foi
estruturada em um processo chamado "inquisitio", isto é, trabalhos
investigatórios para se apurar as circunstâncias do crime e localizar o
criminoso. Tratava-se de uma delegação de poderes feita pelo magistrado à
própria vítima ou parentes, que se transformavam em investigantes e
acusadores. Nascia, assim, a figura do delegado de polícia. Portanto, o
atual vocábulo "delegado" guarda sentido absolutamente análogo aos
procedimentos adotado pelos antigos romanos, entretanto o ente designado
pela citada palavra sofreu uma significativa transformação.
Fazendo-se uma análise acurada do trabalho executado pelo delegado de
polícia, torna-se evidente tratar-se de um simples intermediário da
investigação penal em razão de ele próprio, o delegado, jamais
participar diretamente das citadas investigações, salvo raríssimas
exceções, posto que as suas tarefas prendem-se tão-somente à compilação
de provas ou indícios perquiridos por outros policiais. Dessa forma, a
maioria dos delegados de polícia não sai de seu gabinete para buscar
elementos elucidativos do fato ilícito a ser investigado ou para
capturar o criminoso, portanto trata-se de um policial atípico que
trabalha estritamente entre quatro paredes, fato gerador de grande
perplexidade em policiais estrangeiros, haja vista ser inconciliável a
investigação, que requer buscas incessantes por evidências do
acontecimento ilegítimo, com as atividades puramente burocráticas e
sedentárias exercidas pelo delegado.
Como se vê, é desnecessário
ser especialista para se reconhecer um verdadeiro paradoxo nas
atribuições do delegado de polícia. Mas o contra-senso não para por ai,
isto é, sabendo-se que realmente a investigação não é realizada pelo
delegado e sim pelos policiais que vão a campo efetuar a investigação,
os treinamentos e especializações deveriam ser direcionados a esses
policiais que realmente investigam, mas não é isso que acontece, no
instante no qual surge a oportunidade de realização de aprimoramento
através de cursos, na maioria das vezes quem vai fazê-lo é o delegado
que nunca coloca em prática o que aprendeu, incrementando a ineficácia
policial com o consequente dano à sociedade.
Ao que parece, os
delegados sempre aspiraram exercer a tão sonhada "atividade jurista",
mas policial-jurista faz sentido? Isso soa como um desvario. Afinal, não
é o policial quem deve esclarecer uma infração penal? Por outro lado,
juristas não são os profissionais que lidam com a ciência jurídica,
cujas tarefas associam-se à sistematização do ordenamento jurídico?
Realmente, não tem cabimento essa distorcida concepção jurista para a
polícia, o policial deveria ter o foco centrado nas técnicas de
investigação e prevenção ao crime, em lugar de divagar no exercício de
seu trabalho. A pretensão de ser policial-jurista é uma clara ofensa à
lógica, mas os delegados nunca desistiram dessa quimera, concentrando as
suas forças no Poder Legislativo a fim de modificar a norma legal em
proveito próprio. Já na Constituição Federal de 1988 foi inserido o
termo "polícia judiciária", inexistente na CF de 1967, nessa expressão o
verbete “judiciária” é impróprio para designar atividades policiais.
Vejamos a definição de De Plácido e Silva, para a palavra JUDICIÁRIO, em
seu Vocabulário Jurídico, Ed. Forense 11a Edição:
“Derivado do
latim 'judiciarius', adjetivamente é empregado o vocábulo, na linguagem
forense, para designar tudo que se refere à justiça ou ao juiz.
Substantivamente, é usado para designar um dos poderes públicos, a que
se comete autoridade para administrar a justiça.” Portanto, as
autoridades policiais conseguiram inserir esse termo inepto na nossa
Constituição Federal. Assim, a utopia permeia os devaneios da categoria
que sempre lutou com persistência a fim de atingir as suas cobiças
corporativistas. Para isso, o caminho mais curto, segundo eles próprios,
é através do parlamento, dessa forma, hoje no Congresso Nacional há
vários parlamentares-delegados (ou delegados-parlamentares) que tentam
legislar em benefício da própria categoria ou procuram convencer os
demais congressistas a apoiarem as suas idéias. Dentre esses intentos
está o recente Projeto de Lei da Câmara (PLC) 132 que tramitou
rapidamente no CN e teve várias manifestações contrárias, uma delas é
originária do mestre Wendell Beetoven Ribeiro Agra, promotor de Justiça
(MPRN), especialista em Direito Processual Civil e mestrando em
Segurança Pública, vejamos suas razões: "O PLC 132, como um todo,
representa um retrocesso, na medida em que consolida um instrumento
obsoleto como o inquérito policial como o principal meio de investigação
policial, favorecendo ainda o bacharelismo ao privilegiar uma classe de
policiais civis (os delegados) em detrimento das demais (agentes,
escrivães peritos e papiloscopistas), criando uma espécie de
"magistratura policial". Nesse contexto, o indiciamento é mais uma
burocracia inútil que, agora, ganha o potencial de repercutir
negativamente na persecução penal, sem trazer, em contrapartida,
qualquer garantia adicional ao investigado." Apesar dos significativos
apelos de autoridade especialistas no assunto, contrários a esse
disparate, em 20 de junho de 2012 o PLC 132 transformou-se na Lei
12.830.
Consagrando o bacharelismo, o relator do citado PLC 132 foi o
senador Humberto Costa (PT/PE) cujo Assessor é o delegado de Polícia
Federal Adilson Batista Bezerra, portanto, não por acaso encontra-se
inserido no aludido "parecer" as premissas corporativistas defendidas
por delegados e suas associações, segundo as quais "o inquérito policial
é uma garantia do cidadão". Evidentemente, essa assertiva é um sofisma,
trata-se de argumento falso para induzir a erro, até porque o instituto
do indiciamento é uma inculpação travestida de relatório, com
repercussão social equivalente a uma punição em razão de a sociedade
passar a rejeitar o "indiciado", considerando-o culpado das imputações
antes mesmo do julgamento. Lembramos a notícia publicada pela mídia em
24/05/2007 onde o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes,
acusa a Polícia Federal de "canalhice". A reação do Ministro foi
motivada pela informação, vazada de inquérito que corria na Polícia
Federal, segundo a qual o seu nome teria aparecido em uma suposta lista
da PF entre os acusados de receber "benefícios" da empresa Gautama -
apontada como a coordenadora do esquema de fraudes em licitações
públicas desmontado pela Operação Navalha. Depois esclareceu-se que o
"Gilmar Mendes" mencionado na suposta lista é um homônimo do ministro -
que se chama Gilmar de Melo Mendes e seria engenheiro civil em Sergipe.
Mas a moral do Ministro já estava abalada. Desse modo, fica evidente que
o delegado da Polícia Federal não respeitou sequer as garantias do
Ministro do Supremo Tribunal Federal, conclui-se portanto, que muito
menos respeitará as garantias do cidadão comum. Fatos como esse se vê
constantemente no "Jornal Nacional" e outras mídias, onde trechos de
monitoramento telefônico efetuados pelas Polícias Federal e Civis são
publicados antes mesmos de confirmada ou analisada a culpabilidade dos
envolvidos. Assim sendo, um sem números cidadãos são expostos pela
polícia à execração popular e depois declarados inocentes pela justiça.
Portanto, o inquérito policial é o avesso da garantia individual pelo
fato de propiciar o abuso da autoridade policial.
Ao que parece, os
delegados de polícia têm um desejo desmesurável pelo poder, desse modo,
prevalecendo-se da grande corrupção e ilicitudes que pairam no meio
político, cujo maior repressor tem sido o Ministério Público, razão pela
qual muitos parlamentares são adversos ou inimigos do MP, as
"autoridades policiais" apresentaram a Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 37, através do deputado-delegado Lourival Mendes (PT do B-MA),
que propunha exclusividade na investigação criminal para eles próprios,
ou seja, o propósito dos delegados é eliminar a possibilidade de que
quaisquer outros órgãos possam ter as prerrogativas de efetuarem
investigação criminal, tornando essa tarefa privativa de delegados de
polícia. O conteúdo da PEC 37 é bastante agradável para muitos
parlamentares que passaram a apoiar de pronto essa emenda constitucional
porque estavam diante da efetiva possibilidade de redenção criminal
para os políticos corruptos, isto é, iria prevalecer a impunidade em
razão do fácil e grande poder de controle das polícias exercidos pelos
governadores, ministro da justiça e até por políticos do "baixo clero".
Dessa forma poder-se-ia infligir um tapa-boca no Ministério Público
contra a sua brilhante luta em desfavor da devassidão política. De fato,
alguns dias antes do projeto ir à votação, as pesquisas indicavam a sua
aprovação iminente e por ampla maioria. Entretanto, inesperadamente,
conforme palavras do delegado-deputado Lourival Mendes, autor da PEC 37,
"aconteceu um acidente de percurso", isto é, eclodiram intensas
manifestações populares de descontentamento de norte a sul do País, como
não se via há anos no Brasil. O povo estava indignado com uma sucessão
de patifaria política. Uma das reivindicações das ruas exigia a extinção
da PEC 37, a rotulada "PEC DA IMPUNIDADE". Ainda houve uma manobra do
presidente da Câmara do Deputados, Henrique Alves, na tentativa de
iludir o povo, tirando a mencionada PEC da pauta de votação sob as
alegações de que queria ouvir as bases, mas pressionado pelas fortes
manifestações de ruas, retrocedeu. Assim, a Câmara dos Deputados
derrubou essa malfadada PEC 37, por 430 votos a 9 (e 2 abstenções).
Venceu o povo brasileiro que nem sempre é representado de forma digna,
até porque a lógica natural aponta para a adesão e alianças direcionadas
ao combate à criminalidade, em lugar do corpotarivismo. Enquanto nos
Estados Unidos, por exemplo, são 17 diferentes agências responsáveis
pela investigação criminal; aqui no Brasil os delegados pretendiam ficar
exclusivamente só e somente só eles com essa tarefa. Trata-se de fato
enigmático, até porque não queriam obter um direito, até porque esse
mesmo direito sempre lhes pertenceu, o que eles buscavam era eliminar
todos os concorrentes desse direito. Há quem diga que por trás dessa
pretensão havia intenções tenebrosas.
Puro egoísmo, os delegados
baniram os ensinamentos básicos provenientes da sabedoria popular: "a
união faz a força"; "uma andorinha só não faz verão"; "juntos
venceremos", para lutarem por um incompreensível exclusivismo, sem
consideração aos interesses da sociedade. Portanto, em lugar de buscarem
a união com os demais órgãos responsáveis pela persecução penal, a fim
de aprimorar a eficiência no combate à criminalidade e melhorar o nosso
País, eles, os delegados, passaram a hostilizar principalmente o
Ministério Público e divulgar enganosas afirmações para confundir a
sociedade. As associações e sindicatos de delegados de todo o país e
seus asseclas uniram-se para convencer à população sobre os "benefícios"
da PEC 37, tamanha era a ânsia que as suas argumentações passaram a
fugir dos parâmetros da civilidade e urbanidade, culminando com a
publicação de uma charge, divulgada pela Associação dos Delegados de
Polícia Federal (ADPF), em que ridiculariza a figura do Ministério
Público associando-a ao próprio demônio. Essa charge, denegrindo de
forma maliciosa e irresponsável tão respeitável entidade, repercute como
insanidade dos dirigentes da ADPF. Também entraram na mira dos
delegados de Polícia Federal os agentes, escrivães e papiloscopistas da
Polícia Federal, os reconhecidos Agentes Federais, apenas por
posicionarem-se contrários à PEC 37, a quem a ADPF insidiosamente acusou
de "querer ser delegado sem concurso". Maldade plena.
Na verdade,
os Agentes Federais têm lutado pela modificação da sistemática de
ingresso na Polícia Federal e pelo primor na estrutura do Órgão que
necessita de inúmeras correções, portanto não poderiam apoiar a
insensata proposta dos delegados que penalizaria a sociedade. Nos
elementos constitutivos da Polícia Federal existem claros erros que
comprometem a eficiência e produtividade da corporação. Vejamos um
deles, uma clara deformação no arcabouço da polícia brasileira: os
delegados, ao iniciarem em suas atividades profissionais, imediatamente
depois do curso de formação, entram na instituição na condição de chefe
de experientes policiais, isto é, trata-se de delegados com experiência
zero, por conseguinte sem os necessários conhecimentos e habilidades
adquiridos em função da prática policial, os quais são designados para
dirigir e comandar experimentados policiais, em óbvia inversão de
valores e agressão aos princípios da razoabilidade e da experimentação
profissional. De cara já se vê algo errado, até porque, no caso da
Polícia Federal, todos os policiais têm formação de nível superior com
diplomas de renomadas universidades e treinamento profissionalizante.
Esse disparate fica bem evidenciado ao compararmos a nossa polícia com
as polícias da Europa e Estados Unidos, onde o ingresso na corporação
ocorre na classe inicial, sobrevindo uma gradativa evolução, em razão do
tempo de serviço, do mérito pessoal e da aptidão profissional, na qual
qualquer integrante pode galgar o topo da hierarquia. Portanto, nesses
países, os chefes de polícia efetivamente têm experiência policial
porque exerceram todas as etapas e segmentos funcionais, adquirindo
assim habilidade prática no exercício do ofício policial, ao contrário
do que aqui ocorre. Eis uma das razões da ineficácia da polícia
brasileira onde menos de oito por cento dos assassinatos são
esclarecidos, ou seja, mais de noventa e dois por cento (92%) dos
homicídios ficam impunes e os assassinos sequer são identificados. É uma
estatística assustadora. Essa estatística está associada à estrutura
policial em que não prestigia a motivação profissional, isto é, as
forças propulsoras da ação. Ao desconsiderar o mérito individual do
policial, joga-se no lixo os princípios da motivação que é o fator
determinante para que as pessoas ofereçam o melhor de si. Quem perde é o
povo que assiste o aumento da criminalidade e não sabe o porquê.
Quanto à PEC 37, a principal argumentação dos delegados repousa na
suposta legalidade, mas há fortes controvérsias e teses convincentes,
oriundas de grandes juristas, contrárias a citada argumentação. Contudo,
independentemente dessa questão, a lei suprema de uma nação deve conter
as diretrizes segundo as quais a sociedade deva ter uma vida digna e
justa, portanto ao reformá-la, espera-se que essa modificação evolua
para diretrizes que propicie uma qualidade de vida melhor, em lugar de
retroagir, na contra-mão dessa premissa, tal qual a PEC 37 onde o que já
era ruim ficaria péssimo.
Como vimos, os delegados de polícia,
ao longo desses anos, têm-se organizado para alcançar os seus objetivos
corporativistas. Para isso adotam expedientes dos mais variados, um
deles é a mencionada candidatura a cargos eletivos para o Congresso
Nacional onde, como foi dito, existem vários delegados exercendo mandato
de deputado federal, um deles é o deputado-delegado Alexandre Silveira
de Oliveira (PPS/MG), autor de outra Proposta de Emenda Constitucional
não menos disparatada e em causa própria, trata-se da PEC 293 que
pleiteia para os delegados de polícia, afora uma carreira de natureza
jurídica, inamovibilidade e vitaliciedade, ou seja, as garantias de
juízes. Essa proposição é um absurdo contrário à razão e ao bom senso.
Se análogo dispositivo for inserido em nossa Carta Magna, a
administração da polícia tornar-se-á inviável, impedindo que chefes de
polícia, secretários de segurança públicas e gestores de polícia
procedam o remanejamento de delegados para atender claros de lotação ou
necessidade sociais específicas. Por outro lado, mesmo não tendo as
garantias inerentes aos juízes, não são raros os abusos de poder por
parte dos delegados, entretanto se essas garantias lhes for outorgada
certamente esses abusos serão incontroláveis. Juízes e membros do
Ministério Públicos, estes sim os verdadeiros juristas, são
constitucionalmente impedidos de exercer atividade político-partidária,
os delegados não.
Não bastasse a infiltração de delegados no
Congresso Nacional, o Departamento de Polícia Federal dispõe uma divisão
chamada "Assistência Parlamentar", a famigerada ASPAR, ligada
diretamente à direção-geral do órgão, ou seja, trata-se de pelo menos um
delegado que exerce as suas atividades tão-somente no Congresso
Nacional. Mas qual a tarefa desse delegado? Ninguém sabe, ao menos não
há uma descrição detalhada de suas atribuições no organograma da
instituição, tratando-se, essa omissão, de infração à nossa CF em seu
art.37. Há quem diga que as suas rotinas são gerir "inquéritos
auriculares" perante os congressistas. Na verdade é incompreensível o
fato da Polícia Federal designar um delegado para estabelecer-se no CN
sob a égide da estrutura do DPF. Por mais imaginação que tenhamos, é
muito difícil, senão impossível, associar as atividades de polícia às
funções puramente legislativa exercidas por deputados e senadores. Há
bem pouco tempo, o assessor parlamentar do DPF era nada menos do que o
presidente da Associação dos Delegados de Polícia Federal, dando margem à
conclusão segundo a qual a ASPAR/DPF tem finalidade corporativista.
Portanto, além da função do delegado se sobrepor à de intermediário da
investigação policial, acontecimento que extrapola os limites da
coerência, os atos dessa categoria em proveito próprio não são nada
republicanos e, efetivamente, ameaçam a persecução penal.
Segundo o lexicógrafo Aurélio, delegado é aquele que é autorizado por outrem a representá-lo, ou seja, é a pessoa que recebeu uma delegação cujas funções e atribuições não lhe são próprias. Comparável significação encontramos no direito romano onde a investigação foi estruturada em um processo chamado "inquisitio", isto é, trabalhos investigatórios para se apurar as circunstâncias do crime e localizar o criminoso. Tratava-se de uma delegação de poderes feita pelo magistrado à própria vítima ou parentes, que se transformavam em investigantes e acusadores. Nascia, assim, a figura do delegado de polícia. Portanto, o atual vocábulo "delegado" guarda sentido absolutamente análogo aos procedimentos adotado pelos antigos romanos, entretanto o ente designado pela citada palavra sofreu uma significativa transformação.
Fazendo-se uma análise acurada do trabalho executado pelo delegado de polícia, torna-se evidente tratar-se de um simples intermediário da investigação penal em razão de ele próprio, o delegado, jamais participar diretamente das citadas investigações, salvo raríssimas exceções, posto que as suas tarefas prendem-se tão-somente à compilação de provas ou indícios perquiridos por outros policiais. Dessa forma, a maioria dos delegados de polícia não sai de seu gabinete para buscar elementos elucidativos do fato ilícito a ser investigado ou para capturar o criminoso, portanto trata-se de um policial atípico que trabalha estritamente entre quatro paredes, fato gerador de grande perplexidade em policiais estrangeiros, haja vista ser inconciliável a investigação, que requer buscas incessantes por evidências do acontecimento ilegítimo, com as atividades puramente burocráticas e sedentárias exercidas pelo delegado.
Como se vê, é desnecessário ser especialista para se reconhecer um verdadeiro paradoxo nas atribuições do delegado de polícia. Mas o contra-senso não para por ai, isto é, sabendo-se que realmente a investigação não é realizada pelo delegado e sim pelos policiais que vão a campo efetuar a investigação, os treinamentos e especializações deveriam ser direcionados a esses policiais que realmente investigam, mas não é isso que acontece, no instante no qual surge a oportunidade de realização de aprimoramento através de cursos, na maioria das vezes quem vai fazê-lo é o delegado que nunca coloca em prática o que aprendeu, incrementando a ineficácia policial com o consequente dano à sociedade.
Ao que parece, os delegados sempre aspiraram exercer a tão sonhada "atividade jurista", mas policial-jurista faz sentido? Isso soa como um desvario. Afinal, não é o policial quem deve esclarecer uma infração penal? Por outro lado, juristas não são os profissionais que lidam com a ciência jurídica, cujas tarefas associam-se à sistematização do ordenamento jurídico? Realmente, não tem cabimento essa distorcida concepção jurista para a polícia, o policial deveria ter o foco centrado nas técnicas de investigação e prevenção ao crime, em lugar de divagar no exercício de seu trabalho. A pretensão de ser policial-jurista é uma clara ofensa à lógica, mas os delegados nunca desistiram dessa quimera, concentrando as suas forças no Poder Legislativo a fim de modificar a norma legal em proveito próprio. Já na Constituição Federal de 1988 foi inserido o termo "polícia judiciária", inexistente na CF de 1967, nessa expressão o verbete “judiciária” é impróprio para designar atividades policiais. Vejamos a definição de De Plácido e Silva, para a palavra JUDICIÁRIO, em seu Vocabulário Jurídico, Ed. Forense 11a Edição:
“Derivado do latim 'judiciarius', adjetivamente é empregado o vocábulo, na linguagem forense, para designar tudo que se refere à justiça ou ao juiz. Substantivamente, é usado para designar um dos poderes públicos, a que se comete autoridade para administrar a justiça.” Portanto, as autoridades policiais conseguiram inserir esse termo inepto na nossa Constituição Federal. Assim, a utopia permeia os devaneios da categoria que sempre lutou com persistência a fim de atingir as suas cobiças corporativistas. Para isso, o caminho mais curto, segundo eles próprios, é através do parlamento, dessa forma, hoje no Congresso Nacional há vários parlamentares-delegados (ou delegados-parlamentares) que tentam legislar em benefício da própria categoria ou procuram convencer os demais congressistas a apoiarem as suas idéias. Dentre esses intentos está o recente Projeto de Lei da Câmara (PLC) 132 que tramitou rapidamente no CN e teve várias manifestações contrárias, uma delas é originária do mestre Wendell Beetoven Ribeiro Agra, promotor de Justiça (MPRN), especialista em Direito Processual Civil e mestrando em Segurança Pública, vejamos suas razões: "O PLC 132, como um todo, representa um retrocesso, na medida em que consolida um instrumento obsoleto como o inquérito policial como o principal meio de investigação policial, favorecendo ainda o bacharelismo ao privilegiar uma classe de policiais civis (os delegados) em detrimento das demais (agentes, escrivães peritos e papiloscopistas), criando uma espécie de "magistratura policial". Nesse contexto, o indiciamento é mais uma burocracia inútil que, agora, ganha o potencial de repercutir negativamente na persecução penal, sem trazer, em contrapartida, qualquer garantia adicional ao investigado." Apesar dos significativos apelos de autoridade especialistas no assunto, contrários a esse disparate, em 20 de junho de 2012 o PLC 132 transformou-se na Lei 12.830.
Consagrando o bacharelismo, o relator do citado PLC 132 foi o senador Humberto Costa (PT/PE) cujo Assessor é o delegado de Polícia Federal Adilson Batista Bezerra, portanto, não por acaso encontra-se inserido no aludido "parecer" as premissas corporativistas defendidas por delegados e suas associações, segundo as quais "o inquérito policial é uma garantia do cidadão". Evidentemente, essa assertiva é um sofisma, trata-se de argumento falso para induzir a erro, até porque o instituto do indiciamento é uma inculpação travestida de relatório, com repercussão social equivalente a uma punição em razão de a sociedade passar a rejeitar o "indiciado", considerando-o culpado das imputações antes mesmo do julgamento. Lembramos a notícia publicada pela mídia em 24/05/2007 onde o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, acusa a Polícia Federal de "canalhice". A reação do Ministro foi motivada pela informação, vazada de inquérito que corria na Polícia Federal, segundo a qual o seu nome teria aparecido em uma suposta lista da PF entre os acusados de receber "benefícios" da empresa Gautama - apontada como a coordenadora do esquema de fraudes em licitações públicas desmontado pela Operação Navalha. Depois esclareceu-se que o "Gilmar Mendes" mencionado na suposta lista é um homônimo do ministro - que se chama Gilmar de Melo Mendes e seria engenheiro civil em Sergipe. Mas a moral do Ministro já estava abalada. Desse modo, fica evidente que o delegado da Polícia Federal não respeitou sequer as garantias do Ministro do Supremo Tribunal Federal, conclui-se portanto, que muito menos respeitará as garantias do cidadão comum. Fatos como esse se vê constantemente no "Jornal Nacional" e outras mídias, onde trechos de monitoramento telefônico efetuados pelas Polícias Federal e Civis são publicados antes mesmos de confirmada ou analisada a culpabilidade dos envolvidos. Assim sendo, um sem números cidadãos são expostos pela polícia à execração popular e depois declarados inocentes pela justiça. Portanto, o inquérito policial é o avesso da garantia individual pelo fato de propiciar o abuso da autoridade policial.
Ao que parece, os delegados de polícia têm um desejo desmesurável pelo poder, desse modo, prevalecendo-se da grande corrupção e ilicitudes que pairam no meio político, cujo maior repressor tem sido o Ministério Público, razão pela qual muitos parlamentares são adversos ou inimigos do MP, as "autoridades policiais" apresentaram a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, através do deputado-delegado Lourival Mendes (PT do B-MA), que propunha exclusividade na investigação criminal para eles próprios, ou seja, o propósito dos delegados é eliminar a possibilidade de que quaisquer outros órgãos possam ter as prerrogativas de efetuarem investigação criminal, tornando essa tarefa privativa de delegados de polícia. O conteúdo da PEC 37 é bastante agradável para muitos parlamentares que passaram a apoiar de pronto essa emenda constitucional porque estavam diante da efetiva possibilidade de redenção criminal para os políticos corruptos, isto é, iria prevalecer a impunidade em razão do fácil e grande poder de controle das polícias exercidos pelos governadores, ministro da justiça e até por políticos do "baixo clero". Dessa forma poder-se-ia infligir um tapa-boca no Ministério Público contra a sua brilhante luta em desfavor da devassidão política. De fato, alguns dias antes do projeto ir à votação, as pesquisas indicavam a sua aprovação iminente e por ampla maioria. Entretanto, inesperadamente, conforme palavras do delegado-deputado Lourival Mendes, autor da PEC 37, "aconteceu um acidente de percurso", isto é, eclodiram intensas manifestações populares de descontentamento de norte a sul do País, como não se via há anos no Brasil. O povo estava indignado com uma sucessão de patifaria política. Uma das reivindicações das ruas exigia a extinção da PEC 37, a rotulada "PEC DA IMPUNIDADE". Ainda houve uma manobra do presidente da Câmara do Deputados, Henrique Alves, na tentativa de iludir o povo, tirando a mencionada PEC da pauta de votação sob as alegações de que queria ouvir as bases, mas pressionado pelas fortes manifestações de ruas, retrocedeu. Assim, a Câmara dos Deputados derrubou essa malfadada PEC 37, por 430 votos a 9 (e 2 abstenções). Venceu o povo brasileiro que nem sempre é representado de forma digna, até porque a lógica natural aponta para a adesão e alianças direcionadas ao combate à criminalidade, em lugar do corpotarivismo. Enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, são 17 diferentes agências responsáveis pela investigação criminal; aqui no Brasil os delegados pretendiam ficar exclusivamente só e somente só eles com essa tarefa. Trata-se de fato enigmático, até porque não queriam obter um direito, até porque esse mesmo direito sempre lhes pertenceu, o que eles buscavam era eliminar todos os concorrentes desse direito. Há quem diga que por trás dessa pretensão havia intenções tenebrosas.
Puro egoísmo, os delegados baniram os ensinamentos básicos provenientes da sabedoria popular: "a união faz a força"; "uma andorinha só não faz verão"; "juntos venceremos", para lutarem por um incompreensível exclusivismo, sem consideração aos interesses da sociedade. Portanto, em lugar de buscarem a união com os demais órgãos responsáveis pela persecução penal, a fim de aprimorar a eficiência no combate à criminalidade e melhorar o nosso País, eles, os delegados, passaram a hostilizar principalmente o Ministério Público e divulgar enganosas afirmações para confundir a sociedade. As associações e sindicatos de delegados de todo o país e seus asseclas uniram-se para convencer à população sobre os "benefícios" da PEC 37, tamanha era a ânsia que as suas argumentações passaram a fugir dos parâmetros da civilidade e urbanidade, culminando com a publicação de uma charge, divulgada pela Associação dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), em que ridiculariza a figura do Ministério Público associando-a ao próprio demônio. Essa charge, denegrindo de forma maliciosa e irresponsável tão respeitável entidade, repercute como insanidade dos dirigentes da ADPF. Também entraram na mira dos delegados de Polícia Federal os agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal, os reconhecidos Agentes Federais, apenas por posicionarem-se contrários à PEC 37, a quem a ADPF insidiosamente acusou de "querer ser delegado sem concurso". Maldade plena.
Na verdade, os Agentes Federais têm lutado pela modificação da sistemática de ingresso na Polícia Federal e pelo primor na estrutura do Órgão que necessita de inúmeras correções, portanto não poderiam apoiar a insensata proposta dos delegados que penalizaria a sociedade. Nos elementos constitutivos da Polícia Federal existem claros erros que comprometem a eficiência e produtividade da corporação. Vejamos um deles, uma clara deformação no arcabouço da polícia brasileira: os delegados, ao iniciarem em suas atividades profissionais, imediatamente depois do curso de formação, entram na instituição na condição de chefe de experientes policiais, isto é, trata-se de delegados com experiência zero, por conseguinte sem os necessários conhecimentos e habilidades adquiridos em função da prática policial, os quais são designados para dirigir e comandar experimentados policiais, em óbvia inversão de valores e agressão aos princípios da razoabilidade e da experimentação profissional. De cara já se vê algo errado, até porque, no caso da Polícia Federal, todos os policiais têm formação de nível superior com diplomas de renomadas universidades e treinamento profissionalizante. Esse disparate fica bem evidenciado ao compararmos a nossa polícia com as polícias da Europa e Estados Unidos, onde o ingresso na corporação ocorre na classe inicial, sobrevindo uma gradativa evolução, em razão do tempo de serviço, do mérito pessoal e da aptidão profissional, na qual qualquer integrante pode galgar o topo da hierarquia. Portanto, nesses países, os chefes de polícia efetivamente têm experiência policial porque exerceram todas as etapas e segmentos funcionais, adquirindo assim habilidade prática no exercício do ofício policial, ao contrário do que aqui ocorre. Eis uma das razões da ineficácia da polícia brasileira onde menos de oito por cento dos assassinatos são esclarecidos, ou seja, mais de noventa e dois por cento (92%) dos homicídios ficam impunes e os assassinos sequer são identificados. É uma estatística assustadora. Essa estatística está associada à estrutura policial em que não prestigia a motivação profissional, isto é, as forças propulsoras da ação. Ao desconsiderar o mérito individual do policial, joga-se no lixo os princípios da motivação que é o fator determinante para que as pessoas ofereçam o melhor de si. Quem perde é o povo que assiste o aumento da criminalidade e não sabe o porquê.
Quanto à PEC 37, a principal argumentação dos delegados repousa na suposta legalidade, mas há fortes controvérsias e teses convincentes, oriundas de grandes juristas, contrárias a citada argumentação. Contudo, independentemente dessa questão, a lei suprema de uma nação deve conter as diretrizes segundo as quais a sociedade deva ter uma vida digna e justa, portanto ao reformá-la, espera-se que essa modificação evolua para diretrizes que propicie uma qualidade de vida melhor, em lugar de retroagir, na contra-mão dessa premissa, tal qual a PEC 37 onde o que já era ruim ficaria péssimo.
Como vimos, os delegados de polícia, ao longo desses anos, têm-se organizado para alcançar os seus objetivos corporativistas. Para isso adotam expedientes dos mais variados, um deles é a mencionada candidatura a cargos eletivos para o Congresso Nacional onde, como foi dito, existem vários delegados exercendo mandato de deputado federal, um deles é o deputado-delegado Alexandre Silveira de Oliveira (PPS/MG), autor de outra Proposta de Emenda Constitucional não menos disparatada e em causa própria, trata-se da PEC 293 que pleiteia para os delegados de polícia, afora uma carreira de natureza jurídica, inamovibilidade e vitaliciedade, ou seja, as garantias de juízes. Essa proposição é um absurdo contrário à razão e ao bom senso. Se análogo dispositivo for inserido em nossa Carta Magna, a administração da polícia tornar-se-á inviável, impedindo que chefes de polícia, secretários de segurança públicas e gestores de polícia procedam o remanejamento de delegados para atender claros de lotação ou necessidade sociais específicas. Por outro lado, mesmo não tendo as garantias inerentes aos juízes, não são raros os abusos de poder por parte dos delegados, entretanto se essas garantias lhes for outorgada certamente esses abusos serão incontroláveis. Juízes e membros do Ministério Públicos, estes sim os verdadeiros juristas, são constitucionalmente impedidos de exercer atividade político-partidária, os delegados não.
Não bastasse a infiltração de delegados no Congresso Nacional, o Departamento de Polícia Federal dispõe uma divisão chamada "Assistência Parlamentar", a famigerada ASPAR, ligada diretamente à direção-geral do órgão, ou seja, trata-se de pelo menos um delegado que exerce as suas atividades tão-somente no Congresso Nacional. Mas qual a tarefa desse delegado? Ninguém sabe, ao menos não há uma descrição detalhada de suas atribuições no organograma da instituição, tratando-se, essa omissão, de infração à nossa CF em seu art.37. Há quem diga que as suas rotinas são gerir "inquéritos auriculares" perante os congressistas. Na verdade é incompreensível o fato da Polícia Federal designar um delegado para estabelecer-se no CN sob a égide da estrutura do DPF. Por mais imaginação que tenhamos, é muito difícil, senão impossível, associar as atividades de polícia às funções puramente legislativa exercidas por deputados e senadores. Há bem pouco tempo, o assessor parlamentar do DPF era nada menos do que o presidente da Associação dos Delegados de Polícia Federal, dando margem à conclusão segundo a qual a ASPAR/DPF tem finalidade corporativista.
Portanto, além da função do delegado se sobrepor à de intermediário da investigação policial, acontecimento que extrapola os limites da coerência, os atos dessa categoria em proveito próprio não são nada republicanos e, efetivamente, ameaçam a persecução penal.
Mirage da FAB para de voar em dezembro - de Roberto Godoy, Estado de São Paulo
Acabou. A capacidade dos Mirage-2000 em defender o Brasil acabou antes da nossa paciência e mais de dez anos não foram suficientes para o governo decidir-se pelo caça FX2. O que se decidiu mesmo é que defesa não é prioridade.
A Força Aérea vai desativar a sua frota de caças de interceptação, os Mirage-2000 C/B, à meia-noite de 31 de dezembro. O lote, que equipa o 1.º Grupo de Defesa Aérea, da Base de Anápolis, a 140 km de Brasília, chegou ao fim de sua capacidade de operação. A vida útil do grupo, a rigor, foi alongada em dois anos por meio de um programa logístico que superou o limite previsto inicialmente até 2011 pelo fabricante, a Dassault Aviation. O esgotamento é total. As aeronaves não apresentam condições sequer para serem negociadas no mercado internacional.
A FAB não tem um plano fechado para evitar que a unidade de defesa da capital federal e de mais 1,5 milhão de quilômetros quadrados do território nacional continue ativa. A solução mais viável é a de promover o deslocamento de 6 a 12 caças F-5M, rejuvenescidos pela Embraer, e que compõem a espinha dorsal da aviação de combate. A Força utiliza 46 deles e encomendou a revitalização de outros 11, adquiridos, usados, na Jordânia. Todos foram fabricados há 35 anos em média, pela americana Northrop Corporation. Outra possibilidade que, todavia, não agrada o Alto Comando, é a incorporação de outros aviões de segunda mão, o caso do conjunto descontinuado.
Os Mirage foram comprados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005 por US$ 80 milhões, na França. Usados, deveriam servir de recurso provisório, até a chegada das aeronaves avançadas previstas na escolha F-X2, destinada ao reequipamento da aviação de combate. Todavia, o processo, que dura 17 anos e está na segunda geração, ainda não foi resolvido.
O valor do contrato do F-X2, para a compra de 36 supersônicos, suprimentos, simuladores, e sobretudo de amplo pacote de transferência de tecnologia, deve ficar entre US$ 4,5 bilhões e US$ 6,4 bilhões financiados. Há três finalistas: o Gripen NG, sueco, da Saab; o Rafale, francês, da Dassault; e o Super Hornet F-18, da americana Boeing.
A deliberação foi transferida, em 2002, de Fernando Henrique Cardoso para Lula que, em 2010, repassou a tarefa para Dilma Rousseff. A presidente adiou o anúncio por duas vezes. Celso Amorim, ministro da Defesa, tem dito que a opção será conhecida até dezembro. Em épocas diferentes, os três concorrentes foram cotados como eventuais favoritos.
Missão. Em Anápolis, a missão do seleto time de oficiais, cujo treinamento custa ao final cerca de US$ 3 milhões, exige pronta resposta. A sirene dispara e em cinco minutos um piloto acelera pela pista de 3 mil metros a bordo do caça cinzento. O caçador a bordo só recebe os dados da missão quando voando, com a turbina Snecma trovejando sobre o planalto goiano. Localizado e identificado o alvo, um avião desconhecido sem rota registrada, o militar volta à base em pouco mais de 20 minutos. O clima na reservada instalação é o de tempo de guerra. A missão é defender o centro do poder, Brasília. No abrigo do alerta, um ou dois Jaguares F-2000, o nome de código dos Mirage-2000, estão sempre armados e abastecidos. As construções ficam próximas da pista, para permitir decolagem rápida e o suficiente espaçadas para escapar das bombas de um ataque.
Não há portas. O avião deve sair sem dificuldades. A missão é sempre de urgência. Com dois mísseis e os canhões Defa de 30mm, ele voa a 2,2 mil km por hora e cobre 1,4 mil quilômetros. São feitas até 8 decolagens por dia. Quase sempre operações dedicadas ao treinamento dos cerca dos 30 combatentes titulares dos quadros do GDA. Mas há lançamentos reais, de identificação de aeronave clandestina, sem plano de voo e em atitude hostil.
sábado, 3 de agosto de 2013
Iraque
No início dos anos 80, havia um grande contingente de brasileiros no Iraque. Destacavam-se empresas como a Avibras e a Engesa, que vendiam armamentos, a Volkswagen do Brasil exportava para aquele país milhares de carros, e a centenhas de brasileiros viviam num acampamento da construtora Mendes Júnior próximo à região de conflito entre o Iraque e o Irã.
Eu mesmo estive no Iraque em 1998 e pude constatar a excelência de suas rodovias e repartir as ruas de Bagdá repletas de Passat com seus parabrisas traseiros estampando um adesivo escrito "Made in Brazil".
A estreita ligação do Brasil com o Iraque derivou do choque do petróleo de 1973. Nossa economia foi fortemente abalada com as sucessivas altas daquele produto, forçadas pela OPEP como forma de castigar o ocidente pelo apoio a Israel.
Nossa diplomacia era mais destemida naquela época e estreitamos os laços com o Iraque. Havia um embargo contra aquele país, que nacionalizara a exploração de seu petróleo.
Saddam Hussein queria desenvolver rapidamente seu país e projetar-se como grande líder no Oriente Médio. Para isso, associou-se ao Brasil, que precisava aliviar o imenso déficit na sua balança comercial devido à importação do petróleo. No final dos anos 70, o Brasil , tinha capacidade técnica para conduzir as obras de infraestrutura que o Iraque necessitava; possuía uma indústria de material bélico com produtos de boa qualidade; e, de quebra, conduzia um programa de desenvolvimento da tecnologia nuclear.
Esse último aspecto foi o principal motivador da espionagem de americanos e israelenses em nosso país.
De uma forma ou de outra, nosso pais continuou vinculado ao Irã e Iraque.
Em 2002, o diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas, o embaixador brasileiro José Bustani, sofreu um forte ataque dos EUA por causa de suas ações que buscavam convencer o Iraque a aderir àquela organização. Caso os iraquianos concordassem em receber inspetores daquela organização internacional, os americanos perderiam o principal argumento para a invasão daquele país no ano seguinte.
O brasileiro José Bustani havia sido reeleito para o cargo em 2000, com apoio dos EUA. Dois anos depois, os americanos o retiraram do cargo sob alegação de incapacidade administrativa.
Continuando a história, no final da década passada o presidente do Brasil, Lula, surpreendeu o mundo ao tentar, com seu congênere turco, uma solução para o problema do programa nuclear iraniano. A ação brasileira também sofreu forte ataque de americanos e israelenses.
O recente vazamento de informações de Edward Snowden mostra que, naquela ocasião, os EUA também espionaram o Brasil em busca de informações que fundamentassem a ação da diplomacia americana para impor sanções ao Irã.
Esses fatos devem ser divulgados para que nós brasileiros saibamos que não estamos tão distantes como julgamos estar dos principais conflitos internacionais, nem imunes a ações hostis de outros países.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/122117-alvo-antigo.shtml
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Padre Beto, o diabo é vermelho!
quarta-feira, 31 de julho de 2013
Soldados invisíveis
Curiosamente, o artigo foi publicado no mesmo dia em que se anuncia mais um expressivo corte do orçamento da Defesa. Esse fato reforça a percepção da insuficiência de recursos das Forças, que, por isso, não conseguiriam cumprir suas missões a contento. Contudo, o trecho que mais incomoda é o que associa a confiança da população nas Forças Armadas a uma suposta incapacidade de aferir a eficiência de seu funcionamento.
Será que isso é mesmo verdade? Acho que não.
Começo meu argumento pela porta de entrada das instituições militares, ou seja, trato primeiro da educação. Os alunos das escolas militares destacam-se pelo seu desempenho acadêmico. É verdade que o Estado investe valiosos recursos financeiros na formação e aperfeiçoamento do pessoal militar, mas o dinheiro não é, nem de longe, o principal componente dessa equação.
O principal motivo para a boa educação militar é a seriedade em que esse assunto é tratado. Não há greves nas escolas militares, os alunos se esforçam para atingir os parâmetros estabelecidos porque sabem que seu futuro profissional depende de seu desempenho escolar.
Depois de passar pela porta de entrada das Forças Armadas, entro nos quartéis. Espalhados por todo o Brasil, a caserna é, invariavelmente, um lugar bem cuidado, onde cada real tem que ser muito bem aplicado, porque sobram problemas a resolver e faltam recursos para isso. Os comandantes são, antes de tudo, gestores de suas unidades, preocupados com todos os aspectos que envolvem seus subordinados.
O homem é o centro das preocupações. A cada ano, milhares de famílias brasileiras emprestam seus filhos ao Estado, para o cumprimento da obrigação do serviço militar. Por imposição legal, há restrições quanto aos tamanhos das Forças, que há várias décadas permanecem com o mesmo efetivo. Por isso, apenas um em cada dez jovens alistados cumprirá o serviço militar, que na prática deixou de ser obrigatório, pois são quase todos voluntários.
Quem disse que a população não tem capacidade de aferir o funcionamento das Forças?
Pois bem, os jovens recrutas jovens assistem a tudo o que se passa dentro dos quartéis. Lembro que a juventude é muito crítica e os soldados contam para sua família as suas impressões pessoais, principalmente quanto ao comportamento de seus superiores.
Esse é o principal termômetro do funcionamento das instituições militares.
Sigo meu passeio e chego aos órgãos de direção das Forças Armadas, encarregados de planejar e manter o bom funcionamento das Instituições, ao mesmo tempo em que buscam o aperfeiçoamento constante de materiais e métodos. Para isso, aplicam eficientes técnicas de gestão, tratam todos os assuntos com seriedade, preocupam-se com metas e prazos, buscam soluções para todos os desafios que se apresentam.
Mesmo com todas as dificuldades, discordo do articulista quando ele diz que as missões não são cumpridas a contento. O que tenho vivenciado é justamente o contrário e, pelo que se constata, compartilho a mesma percepção que a da maioria dos brasileiros.
Saio das Forças e entro no reino das percepções. Nele, constato que a confiança da população nas Forças Armadas se deve ao comportamento sério, fundamentado em bons princípios, por gente comprometida com a bandeira do Brasil que leva grudada na manga do uniforme que veste.
Isso é mais do que nacionalismo. É a ética militar.
Diferente de outras profissões, o militar chega na porta da caserna vindo de todos os segmentos da sociedade, principalmente dos extratos menos favorecidos economicamente. Acrescento que expressiva parcela dos oficiais é composta por filhos de sargentos. Acredito que o articulista não saiba quanto ganha um oficial e, muito menos, um sargento. Quem vem de baixo sabe que é preciso ser realista para construir o edifício do progresso.
Por isso, afirmo que a população sabe, sim, discernir que as Forças merecem sua confiança. Os brasileiros confiam nos militares porque percebem que eles sempre agem quando preciso, não fogem à luta, por mais difícil que seja, fundamentam suas ações em sólidos princípios morais e se afastam das ilusões do populismo fácil e vazio.
O articulista foi injusto na sua análise e me parece que não consegue enxergar o trabalho dos militares. Talvez seja isso mesmo, pois, como acontece no combate moderno, nossos soldados vestem o camuflado para agirem invisíveis em todos os campos de batalha.
Joselito Müller
terça-feira, 30 de julho de 2013
O que querem os índios - Revista Veja, Edição 2295, de nov 2012
A reportagem mostra que a atuação dos marxistas do CIMI consegue desvirtuar a realidade indígena, criando uma mentira para dividir nossa sociedade. Essa atitude faz parte da estratégia gramciana para a tomada do poder.
O que querem os índios
Sociedade
A mais completa pesquisa de opinião já realizada nas aldeias brasileiras revela como os índios vivem e o que eles esperam do futuro. A maioria quer progredir socialmente, mas ainda depende do governo para sobreviver
Leonardo Coutinho
Uma das principais reclamações dos índios é a de não serem ouvidos. De tempos em tempos, eles tingem o corpo de vermelho e negro em sinal de guerra e saem a brandir suas bordunas, arcos e flechas em frente a representantes do governo para chamar atenção para suas reivindicações. Na maioria das vezes, a sociedade brasileira só fica sabendo de suas demandas por meio de intermediários - padres marxistas ou ongueiros que fazem com que os moradores das cidades acreditem que os problemas indígenas consistem em falta de terras e em obras de infraestrutura nocivas ao ambiente. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pôs fim a essa lacuna. É o mais completo levantamento das opiniões dos índios brasileiros já realizado. Durante 55 dias, os pesquisadores visitaram 32 aldeias em todas as regiões do país e entrevistaram 1222 índios de vinte etnias. Trata-se de uma amostra robusta maior, proporcionalmente, do que a que costuma ser usada nas sondagens eleitorais. As respostas revelam que os índios têm aspirações semelhantes às da nova classe média nacional, ou seja, querem progredir socialmente por meio do trabalho e dos estudos. Eles sonham com os mesmos bens de consumo e confortos da vida moderna, sem deixar de valorizar sua cultura. Muito do que é apresentado pelos intermediários da causa indígena como prioridade nem sequer aparece na lista das preocupações cotidianas dos entrevistados. "A pesquisa libertará os índios da sua falsa imagem de anacronismo", diz a presidente da CNA, a senadora Kátia Abreu (PSD/TO). Nove em cada dez índios acham melhor morar em casa de alvenaria do que numa maloca. Oito em cada dez consideram muito importante ter um banheiro sob o teto em que vivem, um conforto desfrutado por uma minoria. Quase metade dos indígenas adoraria tomar uma ducha quentinha todos os dias. O grupo de índios donos de automóveis é seis vezes a média dos brasileiros de classes C e D. "Ninguém deixa de ser índio por querer viver bem. É inaceitável que as regras de como devemos ser continuem sendo ditadas de cima para baixo sem levar em consideração a nossa vontade", diz Antonio Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, que representa 160 etnias. Segundo Apurinã, por causa da falta de condições adequadas nas áreas demarcadas, muitas aldeias passam por um êxodo sem precedentes. Há quatro anos, 12500 índios viviam na periferia de Manaus. Hoje, estima-se que mais de 30000 vivam apinhados em construções precárias na cidade. Se a criação de reservas é alardeada como a demanda mais urgente dos povos indígenas, por que eles as estão abandonando para viver em favelas? Com a palavra, os índios. O problema mais citado é a precariedade dos serviços de saúde. Eles se queixam principalmente da falta de medicamentos farmacêuticos (que eles valorizam tanto quanto os remédios tradicionais) e de médicos. Em segundo lugar está a falta de emprego. "Nós não vivemos mais como nos meus tempos de infância. A nova geração compreende a vantagem de ter um emprego, uma renda. Ela quer ter roupa de homem branco, celular e essas coisas de gente jovem. Os governantes precisam aprender que nossos filhos querem ter tudo que os filhos do homem branco têm. Falar português, ir para a universidade e ser reconhecidos como brasileiros e índios", diz o cacique Megaron Txucarramãe, um dos mais respeitados líderes caiapós, de Mato Grosso. A questão fundiária é um tema marginal. Quando instados a falar sobre seus problemas individuais, os entrevistados nem sequer citaram a criação ou a ampliação de reservas. O assunto só ganhou relevância quando aplicado aos índios em geral. Nesse caso, a demarcação de áreas é o segundo problema mais mencionado, depois de saúde. Isso significa que, quando pensam nos outros índios, os entrevistados são tão influenciados pela campanha a favor da demarcação de reservas como o restante da população. Ao avaliarem sua situação pessoal, porém, apontam outras prioridades. "Quando nos fazem acreditar que precisamos de mais reservas, os problemas mais urgentes são esquecidos", diz o índio macuxi Jonas Marcolino, de Roraima, formado em matemática e estudante de direito. É claro que, quando questionados se gostariam de ter mais terras, a maioria dos índios entrevistados disse que sim. Se a pergunta fosse feita a um fazendeiro, qual seria a resposta? A mesma, evidentemente. O sociólogo Bernardo Sorj, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que, ao conviverem com o resto da sociedade, é inevitável que os povos indígenas absorvam valores e expectativas da cultura nacional e aspirem aos mesmos direitos. "Trata-se de um processo de transformação crivado de tensões que exige dos índios um esforço para aliar a tradição à modernidade. Cabem aos demais brasileiros compreensão, respeito e apoio para que eles façam essa síntese, que será sempre instável, entre a ancestralidade e a vida moderna", diz Sorj. Missionários e militantes que tentam resumir a questão indígena à expansão das reservas, anotem: o que os índios mais querem é saúde, emprego e saneamento.
O sonho da modernidade A pesquisa do Datafolha encomendada pela CNA mostra que os índios aspiram às mesmas conquistas materiais e sociais almejadas pela maioria dos brasileiros. Para eles, não há contradição entre a identidade indígena e os confortos e desafios da vida moderna, o que inclui trabalhar e estudar como qualquer outra pessoa. Eles querem cidadania plena e não desejam viver como os antepassados viviam cinco séculos atrás. Foram entrevistados 1222 moradores de 32 aldeias indígenas em todas as regiões do país.
Produção de grãos e bovinos predomina na ocupação da Amazônia
Notícia veiculada em http://www.epochtimes.com.br/producao-de-graos-e-bovinos-predomina-ocupacao-da-amazonia/
"Estudo divulgado nesta quinta-feira (21) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a maior taxa de crescimento das atividades de ocupação da Amazônia brasileira entre 1995 e 2006 foi para produção de grãos e bovinos.
O estudo teve como objetivo geral caracterizar as principais mudanças ocorridas no padrão de produção agrícola, pecuária e extrativista na região amazônica.
As médias superiores de expansão e crescimento agropecuário em relação à média nacional contextualiza a Amazônia brasileira “como uma frente de expansão das atividades agrícolas, com destaque para a produção de grãos (soja e milho)”, revela.
O estudo apontou crescimento de 50% do rebanho bovino no período de 1995 a 2006, o que resulta em aumento de 21 milhões de animais. Os grãos aumentaram 141% em relação à média nacional, com destaque para aumento de produção de soja.
Segundo o estudo, esse crescimento foi direcionado e concentrado em propriedades de larga escala, em substituição das pequenas propriedades e atividades tradicionais. “A expansão da área de pastagem e de produção de grãos em larga escala desarticula arranjos produtivos tradicionalmente constituídos por agricultores e extrativistas, seja pela expropriação territorial ou pela desarticulação das configurações produtivas”, complementa.
“As atividades que mais contribuíram para este crescimento foram: soja, que passou de 1,8 para 4,3 milhões de ha; milho, de 1,1 milhão para 1,6 milhão de ha; mandioca, de 397 mil para 881 mil ha; e algodão, de 38 mil para 414 mil ha”, evidencia o estudo. Em contraponto, a cultura de arroz apresentou uma pequena redução no período. Os estados que mais contribuíram para este crescimento foi Mato Grosso, Maranhão e Pará.
Amazônia o “estoque de terra”
O estudo aponta fatores explicativos para o aumento de atividades agropecuárias na região. Mesmo com as deficientes características da Amazônia – grandes distâncias dos centros de consumo e de exportação e deficiência de infraestrutura de transportes -, os baixos preços da terra compensam a expansão na região amazônica em relação às demais regiões produtoras do país, explica o estudo.
“A Amazônia é depositária de um grande “estoque de terra” que vem sendo ocupado por empreendimentos agropecuários nos últimos anos, potencializando o chamado agronegócio exportador”, explica. É justamente esse argumento que torna “invisível” as formas tradicionais de ocupação, favorecendo a expropriação dos territórios tradicionalmente ocupados, revela.
“O elevado valor bruto da produção destas lavouras, bem como a mobilização de poder político a elas associado, têm alterado profundamente a dinâmica econômica da região, com a criação de infraestrutura, formação de novas cidades e implantação de complexos agroindustriais. Por sua vez, ocorre um relativo enfraquecimento das formas familiares de produção, seguido de uma forte concentração e centralização dos ativos fundiários e dos bens de capital”, explica a pesquisa.
Outros fatores apontados pelo estudo para o aumento da produção de grãos e bovinos na Amazônia foi o crescimento do mercado de exportação de carne e soja, a implantação de infraestrutura de estradas e de armazenamento, o desenvolvimento de pesquisas e as políticas públicas de crédito rural.
O estudo baseou-se no Censo Agropecuário 2006 do subprojeto denominado ‘Caracterização e análise da dinâmica da produção agropecuária na Amazônia brasileira’, coordenado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em cooperação com o Ipea. Para ter acesso à pesquisa completa, clique aqui. Confira também outros estudos divulgados pelo Ipea."
Rejeitar o arado empunhando a espada - por Leonan dos Santos Guimarães
PUBLICADO PELO CORREIO BRASILIENSE EM 25 DE MARÇO DE 2013
Leonam dos Santos Guimarães
Doutor em engenharia e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea)
Cinco países são reconhecidos internacionalmente como "estados dotados de armas nucleares". Possuem as armas por direito concedido pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP): EUA, Reino Unido, França, China e Rússia. Entretanto, outros Estados têm essas armas de fato, não de direto.
Três deles, não signatários do TNP, declararam formalmente e demonstraram na prática, mediante testes nucleares, possuí-las: Índia, Paquistão e Coreia do Norte. Apesar de nunca ter declarado nem demonstrado diretamente, parece não haver dúvidas de que Israel, que não é signatária do TNP, também as tem.
A África do Sul, quando ainda não tinha aderido ao TNP, as teve, mas decidiu desmontá-las voluntariamente. A Ucrânia armazenou artefatos nucleares em seu território, mas eles foram totalmente repatriados para a Rússia por meio de acordo depois do desaparecimento da URSS. Nos dias de hoje, o Irã é acusado pela comunidade internacional de estar buscando obtê-las, o que vem sendo tratado como grande ameaça à paz mundial.
Mas o que dizer dos cinco países europeus que têm no território armas nucleares de origem americana "não declaradas", incluindo Bélgica, Alemanha, Turquia, Holanda e Itália? Será que eles não constituem ameaça? A existência das armas, incluindo os procedimentos e meios operativos para seu emprego, é formalmente reconhecida pela Otan.
Os EUA têm cerca de 480 armas termonucleares B61 nos cinco "Estados não dotados de armas nucleares" e desenvolve programa de modernização delas. Sua existência é ignorada pela Aiea — organismo técnico internacional com delegação da ONU para verificar o cumprimento dos compromissos assumidos pelos países que aderiram ao TNP. Entre os cinco "estados nucleares não declarados", a Alemanha é o mais armado. A força aérea alemã tem três bases que podem armazenar até 150 armas e operar aviões alemães Tornado, capazes de lançar ogivas nucleares.
A que se destina a instalação e acumulação de armas táticas B61 nessas cinco nações? Quais seriam os potenciais alvos das armas? Dadas as características técnicas operacionais, elas somente poderiam ser empregadas contra alvos na Rússia e Leste Europeu ou no Oriente Médio e Norte da África.
O fato implica muitas contradições, casos típicos de dois pesos, uma medida. A primeira delas é que, enquanto alguns desses países acusam o Irã de buscá-las, eles próprios têm capacidade de atacá-lo com as mesmas armas. A segunda é que três dos cinco países, Alemanha, Itália e Bélgica, decidiram abandonar o uso pacífico da energia nuclear, que é a geração elétrica, sob a justificativa dos "riscos elevados", mas nenhum decidiu devolver as armas aos EUA, como fez a Ucrânia à Rússia. Será que as usinas nucleares são risco maior do que as bombas atômicas? A classe política e a sociedade parecem pensar que sim.
A Alemanha é o caso mais emblemático da contradição: não é uma potência nuclear "de direito" pelo TNP, mas estoca armas nucleares fabricadas nos EUA e sua força aérea tem capacidade própria de lançá-las. A empresa Eads, controlada pelo poderoso Grupo Daimler, é o fornecedor para a França do míssil balístico M51, capaz de lançar ogivas nucleares de submarinos. O estaleiro alemão HDW é o fornecedor para Israel de submarinos capazes de lançar mísseis com armas nucleares.
Ao mesmo tempo, a Alemanha decidiu descomissionar o seu parque de geração elétrica nuclear, na esteira do acidente de Fukushima. Isso tem implicado aumento na geração de gases efeito estufa, afetando todo o mundo, e em grandes custos para o país, a serem arcados pela sociedade. Rejeitam o arado e abraçam a espada.
Opção às hidrelétricas é 'sujar' matriz brasileira
As usinas hidrelétricas representam cerca de 70% da capacidade de geração de eletricidade no país. Quando os reservatórios estão cheios, chegam a responder por 80% da energia elétrica gerada. Com a conclusão de grandes hidrelétricas na Amazônia (Santo Antônio e Jirau, em Rondônia; Teles Pires, em Mato Grosso; e Belo Monte, no Pará), a participação da energia hidráulica deve aumentar, em termos de capacidade instalada, mas não na efetiva geração de eletricidade. E a razão é que essas usinas estão sendo construídas sem reservatórios de acumulação de água, por restrições ambientais (seria preciso inundar grandes áreas, devido à topografia amazônica), e não funcionarão à plena
potência durante vários meses.
Por isso, a contribuição das usinas térmicas convencionais (incluindo as que queimam biomassa) deve aumentar pouco a pouco. Atualmente a participação dessas usinas na geração é da ordem de 22%, em média, quase no limite de sua capacidade instalada (27% do total). As usinas eólicas também vêm aumentando a participação, mas, até o fim da década, não deverão ultrapassar, ainda, a fatia de 5%.
O próximo leilão de energia futura só deverá contar com a oferta de uma grande hidrelétrica (Sinop). Isso significa que a maior parte da geração prevista para daqui a cinco anos terá de ser preenchida por usinas térmicas convencionais, inclusive a carvão. Mesmo com todo o esforço tecnológico para tornar esse tipo de usina mais limpa, a matriz energética tende a ficar então mais "suja".
Usinas térmicas, convencionais ou nucleares, são necessárias porque, sem reservatórios de acumulação nas hidrelétricas, o Brasil passa a ser mais dependente do regime anual de chuvas. Nos anos com menos precipitação pluviométrica, como aconteceu em 2012, as térmicas são mais acionadas. Tais centrais elétricas podem também ser construídas mais próximas aos centros de consumo, assegurando, assim, maior confiabilidade ao fornecimento de eletricidade.
Portanto, usinas térmicas não se constituem em um "mal" em si. Porém, é possível manter a matriz energética do país mais equilibrada, construindo-se hidrelétricas, com reservatórios de acumulação onde for ambientalmente possível.
O que não é compreensível é a rejeição às usinas hidráulicas na Amazônia. O Rio Tapajós e seus afluentes, por exemplo, têm elevado potencial, e os projetos elaborados para essa bacia foram inovadores. As barragens ficarão em locais isolados, longe de aglomerações urbanas, e terão todos os acessos terrestres fechados quando as usinas estiverem prontas. Por isso, são comparadas a plataformas de petróleo em alto-mar, pois os futuros operadores das hidrelétricas trabalharão como se estivessem "embarcados", sem ter vizinhos por perto, nem mesmo aldeias indígenas, que estarão distantes desse trecho do rio, hoje não navegável. A oposição a elas não é racional.