O paradoxo dos nossos dias é que a grandeza da nossa
civilização provocará a sua ruína.
Recentemente, li "Os Centuriões", de Jean
Lartéguy, um livro publicado há cinquenta anos. Num de seus trechos, um chefe
vietnamita comentou que a derrota da França seria inevitável, pois seus soldados não podiam ultrapassar os
limites das regras de conduta que a sociedade francesa lhes impusera, enquanto
seus adversários dispunham de plena liberdade de ação para as piores
atrocidades.
Não tenho dúvidas que isso foi especialmente determinante
para a derrota da França na guerra na
Indochina e para a posterior perda de suas colônias na África.
Poucos anos depois, o poder militar avassalador dos EUA não
foi suficiente para garantir a vitória contra aqueles mesmos vietnamitas, pois
a opinião pública norte-americana não mais tolerava a continuação da guerra no
Vietnã.
As limitações que França e EUA impuseram a seus soldados nas
guerras que travaram décadas atrás, também se manifestam contemporaneamente no
plano interno das nações.
Nos últimos anos, as democracias mais sofisticadas do mundo têm
incorporaram ao seu arcabouço legal normas visando proteger suas minorias sociais
da possível opressão imposta pelos mais
numerosos.
O que seria uma
medida de promoção da tolerância e de proteção contra os abusos dos mais fortes
tem, muitas vezes, provocado um efeito perverso, permitindo o que se poderia
chamar de tirania das minorias.
Dentre diversos casos, há, no Brasil, o exemplo dos Black
Blocs, que atacam instituições e atingem a democracia, valendo-se de franquias
democráticas, tais como os da liberdade de expressão e da presunção de
inocência.
Buscando um cenário mais amplo, há atores internacionais que
agem como Black Blocs em escala global, seja
espalhando em diversos países o terror dos atentados a bomba, ou,
internamente, empregando o poder militar para massacrar seu próprio povo.
No caso da grande potência mundial, sua capacidade em
impedir tais atrocidades encontra limitações impostas por sua própria
sociedade, o que reduz a disposição de seu governo em empregar seus meios
militares, mesmo quando moralmente justificável.
O povo norte-americano, cansado de guerra, não se vê
impelido na busca de outros conflitos.
Em resumo, as sofisticadas democracias ocidentais acomodam
suas tensões internas por meio de transferência de poder político a grupos minoritários,
mas influentes; toleram abusos cada vez mais frequentes às normas democráticas;
e restringem sua própria capacidade de agir contra terroristas e ditadores.
Eis, então, que a grandeza da nossa civilização nos
arruinará
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