sábado, 30 de abril de 2011

O Brasil envelhece, de acordo com o Censo 2010

Transcrito do Estado de São Paulo de hoje

RIO - O resultado do Censo 2010, divulgado nesta sexta-feira, 29, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), comprova que o Brasil é um País que caminha rapidamente para o envelhecimento populacional. Em relação a 2000, diminuiu a representatividade dos grupos etários para todas as faixas com idade até 25 anos, ao passo que os demais grupos etários aumentaram suas participações na última década.
O grupo de crianças de zero a quatro anos do sexo masculino, por exemplo, representava 5,7% da população total em 1991, enquanto o feminino representava 5,5%. Em 2000, estes porcentuais caíram para 4,9% e 4,7%, e continuaram em declínio em 2010, chegando a 3,7% e 3,6%.
Simultaneamente, o alargamento do topo da pirâmide etária pode ser observado pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010.

Os grupos etários de menores de 20 anos já apresentam uma diminuição absoluta no seu contingente. O crescimento absoluto da população do Brasil nestes últimos dez anos se deu principalmente em função do crescimento da população adulta, com destaque também para o aumento da participação da população idosa.
A região Norte, apesar do contínuo envelhecimento observado nas duas últimas décadas, ainda apresenta uma estrutura bastante jovem, devido aos altos níveis de fecundidade no passado. Nessa região, a população de crianças menores de 5 anos, que era de 14,3% em 1991, caiu para 12,7% em 2000, chegando a 9,8% em 2010. Já a proporção de idosos de 65 anos ou mais passou de 3,0% em 1991 e 3,6% em 2000 para 4,6% em 2010.
A região Nordeste ainda tem, igualmente, características de uma população jovem. As crianças menores de 5 anos em 1991 correspondiam a 12,8% da população; em 2000 esse valor caiu para 10,6%, chegando a 8,0% em 2010. Já a proporção de idosos passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000 e 7,2% em 2010.
Sudeste e Sul apresentam evolução semelhante da estrutura etária, mantendo-se como as duas regiões mais envelhecidas do País. As duas tinham em 2010 8,1% da população formada por idosos com 65 anos ou mais, enquanto a proporção de crianças menores de 5 anos era, respectivamente, de 6,5% e 6,4%.
A região Centro-Oeste apresenta uma estrutura etária e uma evolução semelhantes às do conjunto da população do Brasil. O porcentual de crianças menores de 5 anos em 2010 chegou a 7,6%, valor que era de 11,5% em 1991 e 9,8% em 2000. A população de idosos teve um crescimento, passando de 3,3% em 1991, para 4,3% em 2000 e 5,8% em 2010.

Brasil tem quase 14 milhões de analfabetos

Transcrito d´O Globo de hoje

RIO - Em dez anos, o analfabetismo no país caiu só quatro pontos percentuais. Hoje, há ainda 13,9 milhões de brasileiros, com 15 anos ou mais, analfabetos, diz o Censo de 2010 divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE. É o equivalente a 9,63% da população nessa faixa etária - no Censo de 2000, esse percentual era de 13,64%. Apesar de ser uma das áreas do país com maior crescimento econômico e aumento de mercado consumidor, o Nordeste continua sendo a região com maior número de analfabetos.
Para pesquisadores, a queda na taxa de analfabetismo tem sido lenta. O próprio presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, afirma que essa taxa "não cai tão rápido". O principal motivo para isso, diz Nunes, é a dificuldade da alfabetização de pessoas mais velhas. Isso é apontado pelo fato de que, à medida que se avança na faixa etária, maior é o percentual de analfabetos. Na faixa de 60 anos ou mais, são 26,5% de analfabetos.
 
'A queda no analfabetismo não faz curva, é quase uma reta'
A diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, Celi Taffarel, diz que a queda da taxa de analfabetismo devia ter sido de, no mínimo, oito pontos percentuais.
- O Brasil, assim, não alcança a meta prevista pela Unesco, de até 6,7% de analfabetos em 2015 - afirma Mozart Neves Ramos, do movimento Todos Pela Educação. - O problema está no Norte e no Nordeste, com população rural mais velha e analfabeta. A evasão na Educação de Jovens e Adultos é alta.
Professor titular aposentado de educação da UFRGS e consultor da Capes e do CNPq, Alceu Ferraro avalia que a queda de 2010 segue a tendência - lenta - dos Censos nas últimas décadas:
- A queda não faz curva, é quase uma reta. O Brasil tem, até hoje, uma estrutura de latifúndio, que inibe o avanço cultural. Mesmo após ter se tornado urbano, o país manteve essa estrutura porque, nas cidades, manteve a concentração de riqueza, que não deixa o nível escolar e cultural avançar.
O Nordeste está em pior situação. Enquanto no Sudeste os analfabetos são 5,5% e no Sul, 5,1%, no Centro-Oeste são 7,2%; no Norte, 11,2%; e no Nordeste, 19,1% - pior do que o pior percentual de analfabetismo no Sul, aquele das pessoas com 60 anos ou mais (16,6%). De cada dois nordestinos com 60 anos ou mais, um é analfabeto.
O pernambucano Edson Cartaxo, 44 anos, cresceu na Zona da Mata. A avó que o criou achava que para trabalhar na enxada não era preciso leitura. Resultado: Edson nunca sentou num banco escolar e não sabe nem assinar o nome. Até hoje não teve carteira assinada. Todo dia, anda com sua carroça de materiais reciclados em Recife:
- Das 6h até a hora que sabe Deus quando.
- O analfabetismo começa a aparecer como uma questão nordestina no Censo de 1920 - diz Alceu Ferraro. - Isso foi fruto da perda da importância política e econômica do Nordeste. A volta de seu crescimento econômico pode melhorar seu nível de alfabetização, mas o efeito não será tão imediato.

Censo 2010: população do Brasil deixa de ser predominantemente branca

Transcrito da edição de hoje de O Globo

RIO - Pela primeira vez na História do Censo, a população do Brasil deixa de ser predominantemente branca. Pelos dados de 2010, as pessoas que se declararam brancas são 47,73% da população, enquanto em 2000 eram 53,74%. Nos outros Censos, até agora, os brancos sempre tinham sido mais que 50%.
Em 2010, do total de 190.749.191 brasileiros, 91.051.646 se declararam brancos - o que faz com que, apesar de continuar sendo o grupo com maior número de pessoas em termos absolutos, a população branca tenha percentual menor do que a soma de pretos, pardos, amarelos e indígenas.A população negra aumentou em quatro milhões, indo de 10.554.336 em 2000 para 14.517.961. Já a parda aumentou em 16,9 milhões: foi de 65.318.092 para 82.277.333. A parcela de indígenas cresceu de 734.127 para 817.963, e a amarela, de 761.583 para 2.084.288. A população branca foi, assim, a única que diminuiu. Paula Miranda-Ribeiro, professora de demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG, sublinha essa mudança cultural.
- O Brasil está mais preto, algo mais próximo da realidade - diz Paula, para quem a principal razão é a maior identificação de pretos e pardos com sua cor. - É a chamada desejabilidade social. Historicamente, pretos e pardos eram desvalorizados socialmente, o que fazia com que pretos desejassem ser pardos, e pardos, brancos. Agora, pretos e pardos quiseram se identificar assim. Isso pode ter a ver, ainda, com a afirmação dessa população como forte consumidor atualmente, que se refletiu em afirmação de identidade. Outra razão desse aumento de pretos e pardos é também o maior número de casamentos interraciais.
- O Censo confirma o que já vinha sendo indicado nas PNADs. Entre 1995 e 2008, houve queda de seis pontos percentuais do número de pessoas brancas - diz Marcelo Paixão, coordenador do Laboratório de Análises das Relações Raciais da UFRJ. - É fruto de um processo de valorização étnica, que vem de visibilidade maior tanto de atores e personalidades negros quanto de temas como cotas. Como o aumento de pretos e pardos foi também nas faixas etárias intermediárias, não só dos que nascem, por exemplo, podemos ver, sim, mudança comportamental.
Moradora de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, a vendedora Gisela Zerlotine fez questão de se declarar parda no Censo de 2010:
- Apesar de não ter pele tão escura, eu me sinto mais próxima de pardos e negros, minha família tem muitos negros - diz Gisela, casada há sete anos com Luiz Carlos de Oliveira, negro. - A gente tem dois filhos. Um é meu de uma relação anterior, Pedro, de 8 anos, branco mesmo, o pai era bem branco. E a outra é a Milena, de 2, filha minha com o Luiz Carlos. Ela já é caramelo. É bem misturada.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

DO FUNDO DA MEMÓRIA (final)

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Título:  Quem realmente mandava

Quarenta anos e sete  nos separam de 1964, não propriamente o ano em que o Brasil se dividiu, porque dividido já estava, mas o ano da ruptura explícita do país  em duas metades.  O diabo é que duas metades artificiais,  falsas,  levadas ao confronto desnecessário por força das circunstâncias e, mais do que delas, por maliciosa manobra das elites econômico-financeiras  nacionais e internacionais.

Porque até hoje vende-se a impressão de que  a partir de 1964 o Brasil  rachou  entre civis e militares, estes usurpando o poder e impondo a ditadura, aqueles vilipendiados,  afastados de cena e condenados, primeiro, ao marasmo, depois   à discordância, e,  desta  à resistência e à vitória,  21 anos depois, com o afastamento das Forças Armadas da cena política.

Na verdade,  não foi nada disso, ou isso expressou apenas a casca enganadora de um conteúdo muito diferente.

Porque tanto a sociedade civil quanto a militar tinham e tem a mesma origem e o mesmo destino. Formam uma só unidade.    Pensam igual e possuem objetivos idênticos.   No caso, a preservação da nação,  de nossa  soberania e de nosso   território.   A presença do Estado como agente regulador das relações econômicas e sociais, fator  maior da distribuição da igualdade entre a população. Mais ainda, a  construção de uma realidade mais  equânime e projetada para o futuro. A distribuição da riqueza nacional em termos solidários.

Era  isso o que pretendiam  os civis  depostos pelos  militares, como foi isso o que perseguiram  os militares que depuseram os civis.

Fala-se do povo. Porque foram as  elites as responsáveis pela ilusória e trágica  divisão cultivada até hoje, inflada  pela truculência com que os militares se comportaram, tanto quanto  pela irresponsabilidade anterior ou a reação posterior,  muitas vezes desmedida,  com que certas parcelas do poder civil reagiram.  O que  menos importa, hoje, é saber quem nasceu  primeiro,  se o ovo ou a galinha.

Na verdade, era e é outra,  a verdadeira  divisão que as referidas elites buscaram e buscam ocultar.   Utilizaram os militares, quarenta anos atrás,  como as mãos do gato,  para tirar as castanhas do fogo.  Hoje,  utilizam a  sociedade civil, que rotulam de  libertária,  para obter os mesmos fins. Quais? A satisfação de seus interesses, a preservação de seus privilégios  e a concentração de  renda cada vez maior,  em suas mãos. A prevalência de uma casta de ricos cada vez mais  ricos e de uma massa sempre maior de descartáveis premidos pela indigência, o desemprego, a fome e  a miséria.  Civis e militares.

Por ironia, foram os militares que, no poder,  ainda conseguiram preservar as linhas mestras de nossa existência   como nação. Como  foram os civis que, ultrapassando  a ditadura, viram-se  enganados e ludibriados, obrigados a aceitar   o  modelo cruel que nos assola cada vez mais, neoliberal, globalizante ou o que seja, responsável pela nossa débacle como   sociedade independente e   organizada.

Tremerão as elites no  dia em que o Brasil  conseguir quebrar a casca desse confronto anterior,  real e justificável pela  argumentação dos dois lados.   Estará desfeito o muro que nos separa, artificialmente mantido como forma de alimentar a ambição e os privilégios das minorias responsáveis pelo aumento da indigência, do desemprego, da fome e da miséria.

Eleito pela indignação diante de tamanha  farsa, assim como o governo Lula, também o governo Dilma Rousseff encontra-se iludido por essas  mesmas elites,   responsáveis pela preservação do modelo que há anos nos assola, feito de falsas verdades absolutas como a de que não  poderia ser diferente,  já que a inflação alcançaria patamares insustentáveis, o dólar chegaria à estratosfera, o risco-Brasil nos sufocaria e os investimentos externos desapareceriam – levando-nos à desagregação.  É mentira. A desagregação está aí  mesmo, expressa  no objetivo oculto que nos vem sendo imposto.     A quebra da soberania,   a alienação do  patrimônio público, a transformação do trabalhador em apêndice desimportante do processo econômico, a perda sistemática do poder aquisitivo dos salários, a supressão dos direitos sociais, a prevalência do setor  especulativo sobre o setor produtivo, a avidez do capital-motel que chega de tarde, passa a noite a vai embora de manhã, depois de haver estuprado um pouco  mais nossa economia, a transformação do Brasil em mero exportador de riqueza,  mais do que  necessária ao nosso desenvolvimento, a submissão aos ucasses internacionais – tudo isso e muito mais continuam  alimentados pelos esqueletos do passado.

Mudará tudo no  dia em que civis e militares se conscientizarem de estar sendo enganados e vilipendiados pela quadrilha neoliberal e dita globalizante, mesmo ao  preço da cicatrização de feridas anteriores.

Haverá que encerrar estas desimportantes considerações sobre a eclosão do movimento militar.   Provavelmente  surgirão condenações dos dois lados. Dos militares, julgando-se ofendidos pelo reconhecimento dos excessos que seus antecessores  praticaram. Dos civis,  que sofreram e sentem-se no direito de cobrar reparações até o fim dos tempos.   Paciência, o passado  não se deu ao trabalho de passar para ser esquecido. Não  nos dirá o que  fazer,  mas precisamente o contrário.   Sempre  mostra, o  passado, aquilo  que devemos evitar.   Coisa  que até agora não conseguimos, por força de quantos pretendem impedir o futuro. (final)

DO FUNDO DA MEMÓRIA (7)

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Título:  Fingiram o que não eram

Durante alguns anos, depois de deixar o poder, se não passou incólume, o general Ernesto Geisel parecia destinado a inscrever-se na crônica como um presidente da República que acertou mais do que errou. Afinal, tanto faz os motivos que o inspiraram, mas levantou a censura na imprensa escrita. Iniciou o processo de abertura política e, até mesmo, nos últimos três meses de seu governo, revogou o Ato Institucional número 5. Na coluna do “haver”, também pesam em seu crédito a sustentação da soberania nacional, quando bateu de frente com os Estados Unidos. A tentativa de inscrever o Brasil no clube nuclear. Uma política energética nacionalista.

E mais a tomada pública de posição contra a tortura institucionalizada, depois do assassinato do jornalista Wladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho nos porões do II Exército, em São Paulo. Um general de quatro estrelas foi demitido, tivesse ou não conhecimento dos horrores praticados à sua sombra. De quebra, Geisel livrou o movimento militar do general Silvio Frota, que despontava como presidenciávil e era a encarnação do ditador irascível e truculento. O então ministro do Exército foi demitido numa verdadeira operação de guerra.

É claro que na coluna do “deve” muita coisa pesou. Censura à imprensa nos dois primeiros anos de seu governo, cassações de mandatos, decretação do recesso do Congresso, “pacote de abril”, com abomináveis casuísmos políticos destinados à preservação do poder em mãos de um regime que já fazia água. Sem falar na imposição do sucessor, general João Figueiredo, sem consulta a ninguém, nem mesmo ao Alto Comando do Exército. Até hoje há quem duvide de Ter sido coincidência a morte, num espaço de nove meses, dos três principais adversários em condições de derrotar nas urnas futuras o sistema militar: Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda.

O diabo, para  Geisel é que depois de sua morte surgiu a denúncia do jornalista Elio Gaspari, aliás, seu amigo pessoal, através da divulgação, em livro, de uma degravação. Nela, em conversa como o general Dale Coutinho, o presidente da abertura defendia a eliminação física de adversários do governo, por agentes do governo. Quer dizer, justificou assassinato puro e simples daqueles que tentavam derrubar o regime, seja lá porque métodos fosse.

O ídolo foi mostrado com os pés de barro. Se não  surgirem, como não surgiram até agora, contraditórios ou desmentidos eficazes, vai para o espaço a imagem do penúltimo general-presidente.

João Figueiredo, o último, foi uma espécie de macunaíma do sistema militar. Espertíssimo, tanto que serviu a todos os antecessores, inimigos entre si. Coronel chefe da Agência Central do SNI no governo Castelo Branco, general chefe do Estado-Maior de Garrastazu Médici no comando do III Exército, no governo Costa e Silva, chefe do Gabinete Militar do presidente Médici, chefe do SNI do presidente Geisel, o último general-presidente era competente. Tríplice coroado, quer dizer, primeiro aluno em todos os cursos castrenses de que participou, buscava transmitir uma imagem anti-intelectual, antes e depois de assumir o poder. Preferia cheiro de cavalo a cheiro de povo. Fingia-se de grosso, adepto dos palavrões.

Mas logo que instalado no palácio do Planalto, levantou a censura no rádio, na televisão e nas publicações que faltavam. Mandou ao Congresso projeto de anistia aos cassados e estimulou a volta de todos os exilados. “Lugar de brasileiro é no Brasil”, afirmou ao assistir pela televisão o retorno de Leonel Brizola, Luis Carlos Prestes, Miguel Arraes e mais um monte de exilados, dos que se opunham retóricamente e dos que pegaram em armas mudar as instituições.

Ia tudo dando certo quando a direita mostrou outra vez a pata. Atentados a bancas de jornal e a livrarias que passaram a vender literatura de esquerda; bombas em automóveis e residências de líderes da oposição; cartas-bomba enviadas à Ordem dos Advogados do Brasil. À Associação Brasileira de Imprensa e à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Finalmente, a tentativa de explosão do Riocentro, durante a realização de um show de música popular organizado por artistas de nítida postura oposicionista. Teria sido um massacre de centenas de jovens, não fosse a certeza de que Deus é mesmo brasileiro. Um dos petardos explodiu por antecipação, no colo de um capitão e de um sargento do Exército, no carro em que tentavam armá-lo. Um morreu, outro sobreviveu, ambos integrantes do famigerado CIEX, núcleo do terrorismo de estado.

Foi o divisor de àguas, responsável até pela demissão, a pedido, do general Golbery do Couto e Silva, chefe do gabinete Civil, que exigia a apuração e a punição dos responsáveis, do capitão aos generais. Figueiredo hesitou e cedeu. Como expor seus companheiros,  que governavam com ele? De que maneira arriscar-se a punir seus ministros, porque a linha de apuração dos fatos chegaria até eles? Engendrou-se uma farsa, atribuindo-se aos comunistas aquilo que o sistema fazia. Agora, com a conivência do chefe...

Do Riocentro ao final do seu mandato, atingido por grave enfarte e mil outras somatizações da impotência política, João Figueiredo transformou-se na sombra daquilo que uma vez pretendeu ser e quase conseguiu: o general-presidente responsável pela devolução da democracia do Brasil. Com a eleição de Tancredo Neves e a posse de José Sarney, encerrava-se o ciclo militar iniciado há quarenta anos. (termina amanhã)

DO FUNDO DA MEMÓRIA (6)

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Título:    Usurpadores em profusão

Neste   registro ligeiro  do movimento militar iniciado há  quarenta e sete  anos,  que durou 21, importa ir completando  a crônica daqueles idos.

Impossibilitado de governar em função de uma trombose cerebral, o segundo general-presidente, Costa e Silva, não foi substituído pelo vice-presidente Pedro Aleixo. Uma Junta usurpou o poder, constituída pelos  ministros do Exército, Lyra Tavares, da Marinha, Augusto Rademaker, e da Aeronáutica, Marcio Mello. Foi o patamar institucional  mais baixo que vivemos. Começaram prendendo o vice-presidente, para que não assumisse.  Desvirtuaram o objetivo maior de Costa e Silva, que era revogar o Ato Institucional número 5, que ainda iria durar dez anos.

Cada general indagava “por que eles e não eu?”  Estabeleceu-se  o caos.  Para completar, as esquerdas radicais fizeram o que ninguém  fazia desde 1648, quando da assinatura do Tratado de Vestfália: sequestraram um embaixador, e logo dos Estados Unidos.  Ninguém sabia o que fazer, nem mesmo o governo de Washington, que sem know-how de sequestros de embaixadores, pressionou a Junta Militar para cumprir todas as exigências dos sequestradores e salvar a vida de mr. Charles Burke Elbrick.  Presos políticos foram tirados  das masmorras e mandados para o México. Entre eles o  líder estudantil José  Dirceu. Caminhões do Exército distribuíram gêneros alimentícios pelas favelas cariocas. E o Jornal Nacional divulgou na íntegra  manifesto onde os militares eram chamados de ditadores, torturadores,  subservientes aos interesses americanos e vendidos ao capital internacional.

A crise gerou mais repressão, censura e congêneres,  mas  teve sua solução   na imediata eleição de um novo general-presidente. Eleição direta, por sinal, mas com  uma peculiaridade: só votaram os generais, almirantes e brigadeiros do serviço ativo. Para evitar a escolha do general Afonso Albuquerque Lima, de linha nacionalista, o processo foi garfado e,  no final,  surgiu o nome do general Garrastazú Médici, o  mais apagado de todos.

Na posse,  em cadeia nacional de rádio e televisão, ele prometeu  que ao final de seu  mandato deixaria a democracia definitivamente  restabelecida no Brasil.  Não deixou, porque apenas havia  lido um discurso que não escrevera. O autor foi o então coronel  Octávio Costa.

Em termos institucionais, o governo Médici não avançou, mas retroagiu, registrando-se que pelo menos não cassou um só  mandato  parlamentar.  Não precisava. O Congresso vivia tempos de completo sabujismo e acomodação, apesar de o único partido de oposição, o MDB, começar a dar sinais de reação.

Nunca a censura foi tão abjeta quanto  naqueles quatro anos de  mandato do antigo chefe do SNI. Tudo era proibido, do surto de meningite que  matou muita gente a críticas à política econômica e a referências à próxima sucessão presidencial. Avolumaram-se os sequestros, os assaltos a bancos e os atentados a quartéis, promovida que estava a guerrilha urbana   pela esquerda irresponsável e burra, pois apenas dava pretexto á direita para manter a pata  sobre a nação. Mais prisões, torturas e violência institucionalizada. Foi quando  se ampliou  a concepção de que vivíamos uma guerra interna, a guerra revolucionária.

No plano  material, no entanto, era um sucesso. O Brasil chegou a crescer 11% em cada um daqueles  anos, com desemprego zero.  O presidente Nixon, dos Estados Unidos, chegou a declarar que para onde o Brasil se virasse, iria toda a América Latina.

O ministro da Fazenda, Delfim Neto,  viu-se  chamado de “o mago das finanças”. Quem se dedicasse a qualquer atividade produtiva ganhava dinheiro e aumentava a riqueza nacional. Era o período do “milagre brasileiro”, meio falso mas muito bem marqueteado. A maciça propaganda governamental chegava a cobrir o país com out-doors onde se lia “Brasil, ame-o ou deixe-o”, referência aos montes de adversários que ganhavam o exterior para não ser presos,  torturados ou mortos.  Sempre havia um gaiato para escrever a carvão, em baixo: “o último a sair apague a luz do aeroporto...”

Por ironia, no ano de 1970 o selecionado  nacional de futebol  tornou-se tricampeão do  mundo. Para amargura de quantos se multiplicavam na oposição ao regime, o presidente Médici acertou, na véspera, o resultado da partida  final com a Itália: 4 x 1. Foi a consagração do ditador, que passou a ter seu nome anunciado quando chegava aos estádios para assistir jogos de campeonato. Durante alguns meses,  cem  mil pessoas o aplaudiram de pé,  sempre que entrava no Maracanã, no Morumbi e no Beira Rio.

Depois, as coisas voltaram ao leito  natural, já que a repressão só aumentava. Faça-se justiça, o terceiro general-presidente também recusou a proposta dos áulicos, de reeleição.

O general Ernesto Geisel, então presidente  da Petrobrás, ex-chefe do Gabinete Militar de Castelo Branco, dispôs de diversos fatores para tornar-se o sucessor.  Seu irmão, Orlando Geisel, era o ministro do Exército. Costurando sua candidatura estava o general Golbery do Couto e Silva. Tinha fama de bom administrador e apoio no Alto Comando do Exército, conhecido como duro e inflexível, tanto que jamais concedera um único  habeas-corpus para presos políticos, enquanto ministro do Superior Tribunal Militar. E  contava com a indiferença de   Garrastazú Médici.

Os tempos, porém, começavam a ser outros.  A crise econômica já dava sinais inequívocos, pelo vultoso aumento dos preços do barril de petróleo exportado pelos árabes. Nossa dívida externa crescera vertiginosamente. As cobranças começavam e era necessário trazer a população  para a realidade. Como permanecer transmitindo  a impressão de que tudo ia bem quando a inflação crescia, o desemprego aparecia e as falências se multiplicavam?  Por isso,  o presidente Ernesto Geisel começou  a retirar os censores das redações. Mas sempre sob a ameaça de voltarem,  caso a imprensa não se comportasse.   Quanto ao rádio e à televisão, nem pensar.  Num país de analfabetos, dava dividendos conceder liberdade  vigiada à imprensa escrita, mas tornava-se necessidade  continuar arrochando  vídeos e microfones. (continua amanhã)

DO FUNDO DA MEMÓRIA (5)

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Título:   O melhor porque outros foram piores

Não houve, nos artigos anteriores sobre  os mais  de  quarenta anos do movimento militar de 1964, qualquer intuito megalômano de fazer história. Outro autor bem mais competente, além de mil vezes duplicado o espaço aqui perdido, talvez venha a suprir as necessidades de uma tarefa que apenas o futuro promoverá com isenção. Sem as paixões e os condicionamentos daqueles que viveram a deflagração e o desenrolar de um regime ates de tudo ditatorial, truculento e cruel.

Mas um regime não apenas marcado por essas características. Foi, também, um período em que o Brasil conseguiu garantir sua soberania, garantir a maior parte de seus interesses, crescer, afirmar-se como nação e resistir ao assalto infelizmente responsável, hoje, por nossa transformação em apêndice desimportante da quadrilha neoliberal que nos domina.

Existiu um propósito encoberto neste despretensioso mergulho no passado: a apresentação dos contrários quem sabe contribuirá para a óbvia conclusão de que o Brasil só sairá do sufoco através da superação de seus ressentimentos internou.

Ninguém foi, como ninguém é, completamente mocinho. Nem bandido. Durante os 21 anos em que governaram, os militares erraram e acertaram. Imaginaram-se detentores das verdades absolutas, substituindo o povo quando se tratou de promover as sucessivas trocas de guarda. Mesmo assim, importa registrar que nem eles, podendo tudo, tiveram coragem de impor a reeleição. Muito menos de entregar o patrimônio nacional aos estrangeiros ou de escancarar nossas nossas portas à especulação financeira predatória.

Castelo Branco aceitou a prorrogação de seu mandato por um ano, mas fez questão de acrescentar à mão, no texto de um dos atos institucionais, que ficava inelegível para o próximo mandato. Hoje, é unanimemente referido como o mais democrata dos generais-presidentes. Talvez tenha sido o menos ditatorial, na medida em que mandou investigar denuncias de tortura, aliás mal investigadas, e não admitiu a censura à imprensa. Esta, é claro, auto-censurou-se.

O presidente recebia jornalistas, para conversar informalmente. Abordava todos os temas, exceção de uma tarde de Sábado, quando, no Rio, convocou os repórteres políticos dos principais jornais. O Secretário de Imprensa avisou que aquele encontro seria diferente. O presidente estava constrangido e tinha um único assunto a esclarecer. Ele desceu as escadas do segundo andar do palácio Laranjeiras de cenho carregado. E nos pediu que encontrássemos uma forma de divulgar, quem sabe nas colunas sociais, não no noticiário político, que o casamento era uma página virada em sua vida. Viúvo, venerando e adornado a lembrança da mulher falecida há pouco, não pensava em outra união. Conseguimos esclarecer as coisas: Castelo ressentia-se de notas publicadas nas colunas sociais a respeito de seu possível casamento com Sandra Cavalcanti, deputada e então presidente do Banco Nacional de Habitação. Não queria magoar a colaboradora, que admirava muito e jamais foi responsável por aquela fofoca.

Durante seu período de governo mandatos foram cassados, prisões ilegais consumadas e torturas praticadas. Até direitos sociais se viram suprimidos, como a estabilidade no emprego. O Congresso ficou fechado alguns dias, depois da invasão armada da Câmara dos Deputados, com direito a tanques, metralhadoras e tudo o mais.

No reverso da medalha, Castelo Branco refez estruturas econômicas arcaicas, atacou como ninguém a corrupção, propôs ao Congresso o voto do analfabeto e uma reforma agrária que, caso executada, não existiria hoje o MST.

Costa e Silva passaria à crônica política como o mais injustiçado dos presidentes militares, autor do Ato Institucional número 5, o pior de todos, não fosse a revelação de haver empenhado a saúde e a vida na tentativa de dar a volta por cima e acabar com aquele instrumento de opróbio. Castelo não o queria como sucessor, fez tudo para evitá-lo, mas Costa e Silva, ministro do Exército, tinha mais tanques e soldados.

Empossado, tentou governar com a nova Constituição, sem a legislação excepcional então revogada. Não conseguiu, pressionado pelos generais radicais que o cercavam e não admitiam estudantes e povo na rua protestando contra a ditadura. Cedeu, menos de dois anos depois de feito presidente, quando resistir à truculência institucional. Cada general, cada coronel, cada  cabo corneteiro julgava-se detentor do poder revolucionário, podendo praticar as arbitrariedades que bem entendesse. Prisões em massa, tortura e censura à imprensa aconteciam por iniciativa de certos chefes militares. Mas era ele o responsável.

Ajudado pelo vice-presidente Pedro Aleixo, Costa e Silva preparou a revogação do AI-5. Faltava uma semana para a solenidade, que também reabriria o Congresso, quando se viu acometido pela trombose cerebral. Ainda tentou, sem voz e sem movimentos do lado esquerdo do corpo, assinar com a mão direita o fim da exceção. O comando do cérebro já não chegava à caneta. Entrou em choro convulsivo e saiu da História.

Foi durante seu governo que o país começou a crescer. Não havia dívida externa impagável, nem crise do petróleo, nem desemprego. Investimentos maciços se fizeram em telecomunicações, petroquímica, industria naval e obras de infra-estrutura, entre elas a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói e os metrôs do Rio e São Paulo. (continua amanhã)

Do Fundo da Memória (4)

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Resistência não houve ao movimento de 1964, logo depois  de sua eclosão. O governo deposto e seus aliados buscaram refúgio no exterior,  no anonimato e no silêncio,  quando não em traições    e falsas adesões.  Só  mais tarde, aos poucos, sobreveio a inexorável  reação nacional  ao arbítrio e à truculência.

João Goulart exilou-se  no Uruguai, seguido quinze dias depois por Leonel Brizola, frustrado pela impossibilidade de repetir 1961.  Ministros pedindo asilo em embaixadas, líderes políticos,  sindicais e estudantis perseguidos,  intelectuais  obrigados à clandestinidade. Do outro  lado,  desenfreada euforia nas elites, celebrações na maior parte da  classe média, passeatas monumentais de dondocas de salto alto,  marchas “da Família com Deus e pela Liberdade”.  E o  telegrama de congratulações  passado pelo presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson.

Não faltou   a frenética busca de heróis para exaltar,  por parte de  uma imprensa há muito posta a serviço do golpe. Foi um golpe,   aliás, para a mídia  pressurosa em bajular os novos donos do poder,   quando o general Mourão Filho resolveu conceder uma entrevista.  Triste por haver sido  marginalizado com sua nomeação para  presidente da  Petrobrás,  ele surpreendeu os jornalistas definindo-se como “uma vaca fardada”.

Os generais  tomaram a chefia do movimento,   isolando   políticos espertos que  imaginavam  ocupar o palácio do Planalto através do eterno substituto,  Raniéri Mazzilli, presidente da Câmara. No Rio, formou-se uma Junta Militar, denominada Comando Supremo da Revolução, com o general Costa e Silva, o almirante Augusto Rademaker e brigadeiro Francisco de Assis Correia de Mello. Frustrou-se a tentativa deles  permanecerem  indefinidamente no comando da nação, mesmo depois que buscaram  legitimar-se através de um instrumento de exceção, o Ato Institucional que não tinha número, pois se presumia fosse único. O autor? O mesmo da Constituição fascista de 1937, o jurista Francisco Campos, aliás, “Chico Ciência”.

O sentimento então   predominante  nas Forças Armadas, impulsionado pelas  críticas generalizadas do   mundo democrático, acabou  levando um Congresso desmoralizado, sem representatividade por conta de dezenas de cassações,  a  eleger o marechal Castello Branco para completar o  malfadado   mandato antes pertencente a Jânio Quadros e depois a João Goulart.

Quarenta anos depois, importa reunir os argumentos e o sentimento  verificados   entre os  militares de hoje,   a respeito da intervenção de seus antecessores.      A versão deles,  os  atuais e os que restaram daqueles  idos, beira também a cobrança e insurge-se contra a interpretação    feita  pelos adversários.

Em primeiro lugar, dizem, só saíram dos quartéis quando estimulados pela opinião pública. Poderia ter sido   a opinião publicada,  mas tanto  faz. Caso João Goulart não fosse levado à ilusão de quebrar a hierarquia castrense, é possível que permanecessem apenas na resistência ao que imaginavam a  tentativa de decretação da República Sindicalista do Brasil.  O planeta encontrava-se dividido em duas ideologias distintas e, sem a menor dúvida,  por formação e indução, as Forças Armadas integravam o bloco liderado pelos Estados Unidos. Era inadmissível para eles cair nos braços da outra superpotência, a União Soviética.

Não dispunham de plano ou programa de governo. O poder   caiu-lhes   nos ombros sem  estar preparados para ele.  Concordam, os de hoje, com o diagnóstico feito na época pelo então deputado Pedro Aleixo: não se tratava de uma revolução, mas de uma contra-revolução.

Os generais de agora  eram aspirantes ou tenentes, em 1964. Cumpriam ordens, tomavam conhecimento dos fatos pelos jornais,  mas mantém lealdade e respeito diante da ação dos antecessores. Apesar disso, reconhecem  o erro que foi não ter sido  devolvido o poder aos civis, depois de Castello Branco.

Recusam  o rótulo de torturadores para os chefes de antanho,  ainda que não  neguem  as torturas praticadas. Era uma guerra, acentuam, com o outro lado assaltando, matando, sequestrando e intranquilizando – o que é verdade. Muitos militares  foram sacrificados naquela absurda luta  entre brasileiros. Discordam, é evidente,  dos  métodos ainda recentemente expostos em livro pelo jornalista Elio Gaspari, autor da triste revelação de que o general Ernesto Geisel concordava com a eliminação física de guerrilheiros e terroristas.

Sustentam os militares de hoje que apesar da ojeriza às esquerdas e ao comunismo,  mesmo sendo  mais  generais do que presidentes, os cinco generais-presidentes souberam manter firmes as estruturas da soberania nacional e a presença do Estado nas atividades fundamentais da nação. Não   passou pela cabeça de nenhum deles    privatizar a Petrobrás, a Vale do Rio Doce, a siderurgia, a navegação de cabotagem,  o sistema de geração de energia elétrica e, em especial, o sistema de telecomunicações, que implantaram. Antes dos governos militares, o Brasil se comunicava com o Brasil pelas linhas telefônicas e por um precário sistema de rádio.   A rede de  micro-ondas havia sido iniciada por Juscelino Kubitschek, mas foi a partir de 1964 que passou  a integrar nossas  diversas regiões, depois interligadas pelos satélites, nos quais  se  investiu  para valer.  Nosso ingresso na energia nuclear também  aconteceu   naquele período, enquanto se construíram usinas hidrelétricas do porte de Itaipu.  Até a industria bélica se afirmou, com a produção de tanques, carros de combate e armamento sofisticado, que exportamos por vários anos, antes de sua destruição por obra de manobras estrangeiras.  Para não citar a indústria aeronáutica,  sobrevivendo até agora.

A defesa da Amazônia tornou-se uma obsessão através do  mote “integrar para não entregar”. Chegamos a romper o acordo militar com os Estados Unidos.

Uma constatação também  feita pelos  militares de hoje é de que durante a vigência do regime de 1964 a política econômica,  mesmo alinhada ao mundo  ocidental, jamais favoreceu a especulação financeira desmedida ou  serviu para sufocar a indústria nacional. Muito menos a dívida externa tornou-se impagável.   Nem o desemprego, a indigência, a fome,  a miséria e a violência urbana nos assolavam tanto quanto  neste início de novo século.  Se havia inflação, havia   reposição salarial.

Em suma, quarenta anos depois, os militares continuam   rejeitando a análise  de que  o  movimento de 1964 se resume aos   excessos praticados, que reconhecem.  (continua amanhã)

Do Fundo da Memória (3)

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Título: Dos Juristas aos Jurilas

Quarenta e sete  anos depois,  sobrou o quê, do movimento militar de 1964? Para começo de conversa, cobranças,  mesmo com o tempo fazendo a  poeira  assentar.  Cobranças de parte a parte.

De um lado, existem os que  continuam criticando, protestando e apresentando a  conta.   São os que,  de uma forma ou de outra,   viram-se   atingidos pela truculência do regime.  Não apenas os torturados, exilados, censurados, demitidos e marginalizados. Ou seus familiares, se eles  não estão mais entre nós.

Muitas   instituições também tem o que cobrar.  A imprensa, por exemplo, obrigada a omitir tudo o que prejudicava os donos do poder.   Sem esquecer que a maior    parte dos veículos de comunicação da época   esmerava-se  em divulgar aquilo que agradava os poderosos. Temendo represálias ou programando  benesses, acomodaram-se quase todos os barões da mídia  e muitos de seus acólitos.   Seria menos ridículo    que,  hoje,   certos  falsos heróis de uma  resistência inexistente  ficassem calados ao invés de tentarem  faturar aquilo que não praticaram.

De um   modo geral,   porém, a imprensa sofreu e involuiu. Jamais as tiragens dos jornais ficaram tão reduzidas,  proporcionalmente ao número de leitores. “Comprar jornal  para quê?” – insurgia-se o cidadão  comum, se era para ler  elogios ao falso milagre brasileiro ou, em contrapartida, versos de Camões ou receitas culinárias.  Com a  televisão e o rádio,  perseguidos até no roteiro de suas novelas, pior ainda. Transmitiam a impressão de vivermos num outro mundo.

Massacrados da mesma forma foram os advogados. O regime confundia o sagrado dever de defender o semelhante com a integração  obrigatória  do defensor nas práticas do  réu. Um monumento deveria ser erigido ao Advogado Desconhecido, mesmo a gente conhecendo o nome da maioria desses abnegados  bacharéis que honraram a profissão. E sofreram por isso.

Sofreu também  o Poder Judiciário, atingido em seus tradicionais predicamentos constitucionais  de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. Ministros dos tribunais superiores e simples juizes de primeira instância, intimidados, acomodados  ou dispostos à resistência,  assistiram desmanchar-se   a estrutura fundamental da democracia, erodida por absurdos como o de que os atos revolucionários seriam insusceptíveis de apreciação judiciária. É claro que também pontificaram os  “jurilas” de todas as ditaduras, misto de juristas e de gorilas tão a gosto do regime.   Reconheça-se o papel altivo do Superior Tribunal Militar, que num sem-número de ocasiões desfazia aquilo que nas instâncias inferiores  a voracidade da exceção buscava transformar em regra.

Os políticos, da mesma forma, perderam o que lhes restava de credibilidade junto à  opinião pública. A sombra das cassações de mandatos e das  suspensões de direitos políticos só não agredia tanto  a prática parlamentar quanto os ucasses que transformaram o Congresso em apêndice desimportante do Executivo. Atos institucionais, atos   complementares,  decretos-leis, casuísmos, fechamentos  e recessos parlamentares fizeram com que a atividade  política e eleitoral  se transformasse em  objeto de chacota nacional.  Num determinado momento, para sepultar laivos de independência,    os militares dissolveram os partidos,  criando o bipartidarismo obrigatório. Para continuar na política seria  pertencer ao  partido do “sim”, a Arena, ou ao  partido do “sim senhor”, o MDB, mais tarde inflado pela indignação, transformando-se  num dos  principais  aríetes responsáveis pelo fim da ditadura.  Para cada dr. Ulysses ou para cada “autentico” que se insurgia, centenas de desfigurados  marionetes candidatavam-se a se   ajoelhar  no altar da exceção.

O movimento sindical implodiu nos primeiros dias do novo regime. Perseguidos como inimigos públicos,  os tradicionais líderes trabalhistas desapareceram nas masmorras,  no exílio ou no esquecimento.   Terá sido este um dos erros fundamentais da ditadura, porque, conforme a natureza das coisas, em política não existem espaços vazios. Foram-se os dirigentes em grande parte  viciados pelo sabujismo ao ministério do Trabalho, mas emergiram líderes operários  autênticos.  Vem daí as origens do Lula e de muitos outros.

O mesmo aconteceu no movimento estudantil. Perseguidos,  eclipsaram-se os estudantes profissionais que dominavam as organizações de classe,  boa   parte atrelada ao ministério da Educação.   Ganharam o exílio aqueles que tentavam renovar as estruturas viciadas vindas do Estado Novo, como José Serra, o último presidente da União Nacional dos Estudantes, obrigado a refugiar-se no Chile.  O fenômeno foi o mesmo dos sindicalistas:   surgiram dirigentes de verdade, oriundos dos bancos escolares. José  Dirceu, Wladimir Palmeira, Jean Marc, Alfredo Sirkis, Honestino Guimarães, Franklin Martins e quantos mais?  Identificados, após ações de toda espécie, até tresloucadas e  radicais, acabaram detidos, alguns desaparecidos até hoje,  mas plantaram a semente.  Ainda agora  o movimento estudantil pertence aos estudantes.

A cultura vergou mas não  quebrou. Das músicas de protesto ao teatro de arena e de vanguarda, das entrelinhas do “Pasquim” à poesia de combate e ao cinema novo,   os intelectuais resistiram. Tornaram-se figuras de expressão nas passeatas, nos manifestos e na arte de estrilar.   Apanharam, foram presos e muitos se exilaram. Imagina-se o que teriam produzido em regime de liberdade plena. Talvez bem menos do que produziram sob pressão.

Esse tipo de  cobrança estende-se até  nossos dias, ainda que cada vez mais  esmaecido pelo tempo, com as exceções de sempre. Intelectuais, estudantes,  operários, políticos, magistrados, advogados e jornalistas, em  maioria, não esqueceram.  Talvez nem tenham perdoado, ainda que lentamente varridos  pelos ventos da renovação. (continua amanhã)

Do Fundo da Memória (2)

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Título: A legalidade das elites

Hoje, dois terços da população falam por ouvir falar. Quando falam. Os que tinham idade suficiente para entender e até para viver aqueles idos de 1964 continuam divididos.

Para uns, tratou-se de um golpe cruel vibrado nas instituições democráticas, ao qual seguiram-se 21 anos de ditadura, tortura, censura à imprensa, supressão dos direitos humanos e prevalência do poder econômico sobre os anseios das massas.

Para outros, foi um basta à subversão e à corrupção, uma interrupção no processo de anarquia e de desagregação da sociedade ameaçada pelo perigo comunista expresso pelo próprio governo.

Contradiz-se também a farta literatura produzida de lá para cá a respeito do movimento dito militar. Tanto tempo depois, será preciso atentar para a importância de não dividir o Brasil de quarenta anos atrás entre mocinhos e bandidos, tanto faz a posição de onde se observam aqueles acontecimentos.

Nem as Forças Armadas foram as únicas responsáveis pela truculência verificada nas duas décadas seguintes, nem poderão apenas ser tidas como as mãos do gato, utilizadas pelas elites para retirar as castanhas do fogo. Tiveram sua responsabilidade explícita, exposta através dos governos de cinco generais-presidentes e de duas juntas militares, mas, no reverso da medalha, evitaram o quanto foi possível a transformação do Estado brasileiro em apêndice desimportante dos interesses políticos, econômico-financeiros e até culturais do conglomerado internacional que hoje nos domina, e ao planeta também.

Indaga-se como foi possível cair feito fruta madura um governo democrático, forjado na luta e na resistência de três anos antes em favor do cumprimento da Constituição e da posse do vice-presidente, após o histriônico episódio da renúncia do presidente Jânio Quadros.

João Goulart terá sido derrubado mais pelas suas virtudes do que por seus defeitos, mas estes foram imensos. Ingenuidade, em primeiro lugar, se imaginou que reformas sociais profundas poderiam ser conquistadas no grito, de uma só vez, com as elites conformando-se em abrir mão de seus privilégios sem organizar-se nem resistir. Depois, ilusão de que as massas dispunham-se a respaldá-lo acima e além dos comícios e da retórica fácil. Acrescente-se a frágil concepção de que, por estar exercendo legitimamente o poder, contaria com a anuência das estruturas que buscava modificar e reformar. A favor delas, deixando as coisas como estavam, obteria sucesso, o que seria uma incongruência para quem pretendia passar à História como um reformador igual ao seu mestre, Getúlio Vargas.

Demonstrou-se, nos eventos de 31 de março e de 1o de abril, a precariedade do poder formal. O "esquema militar monolítico" que defenderia a legalidade só existia na cabeça dos áulicos palacianos. Quando precisou das Forças Armadas para garantir-lhe o direito de continuar governando, João Goulart percebeu have-las perdido por inteiro. Parte foi porque admitiu "reformá-las", prestigiando tentativas de quebra de hierarquia. Parte por conta da formidável movimentação das elites econômico-financeiras infensas a perder privilégios. Nesse aspecto, a mídia exerceu papel fundamental, inoculando na opinião civil e militar o germe da insegurança.

Organizada, com fartura de dólares e de pensadores, a direita dispunha de um objetivo claro: impedir quaisquer reformas capazes de arranhar-lhe os benefícios, mesmo que para isso se tornasse necessário desestabilizar, primeiro, e depor, em última instância, um governo constituído.

Já as esquerdas... As esquerdas dividiam-se entre a euforia inconsequente da suposição de que já tinham conquistado o poder e alterado estruturas ainda imutáveis, de um lado, e, de outro, as eternas desavenças entre seus diversos grupos inconciliáveis. No meio delas, mesmo percebendo que a reação se avolumava, achava-se um presidente cuja única saída acabou sendo a fuga para a frente. O diabo é que diante dele não se descortinava a avenida das reformas sociais, mas o precipício do retrocesso e do cáos institucional.

É claro que as teorias cedem sempre, quando surgem os fatos. A dúvida dominava os dois lados. Os conspiradores ignoravam a facilidade com que o governo se dissolveria. Estavam preparados para a guerra civil, capaz de levar meses. Por isso, não se animavam ao primeiro gesto ostensivo. Precisou um general meio doido botar precipitamente suas tropas na rua, em Juiz de Fora, mesmo sem saber se seria esmagado em poucas horas. Do Rio, os principais chefes da conspiração tentaram demovê-lo, exigindo que voltasse com os poucos tanques e canhões postos na estrada União e Indústria. Mourão Filho reagiu, não faltando em sua negativa as quixotescas afirmações que ali estava para "vencer ou morrer". Não morreu, senão anos depois, de doença e de desânimo, porque quem venceu foram os outros. Numa questão de horas mudaram de lado as tropas ditas legalistas que subiram a Serra de Petrópolis para barrar a progressão dos revoltosos mineiros. Em São Paulo, no Nordeste, no resto do país, a mesma coisa.

João Goulart estava no Rio, negou-se a autorizar que uns poucos aviões da FAB ainda sob as ordens de seu ministro da Aeronáutica bombardeassem as tropas do general Mourão com napaln. "Vai matar muita gente, isso eu não permito!"

Para não ser preso, voou até Brasília, mas, na capital, sua segurança revelou-se ainda mais precária. Buscou resistir no Rio Grande do Sul, imaginando a repetição dos episódios de 1961. Esqueceu-se de que a História só se repete como farsa. Lá, o governador não era mais Brizola, porém Ildo Meneghetti, golpista. O general que ainda lhe era fiel, Ladário Pereira Telles, garantiu-lhe apenas por uma hora condições para conduzi-lo ao aeroporto e tomar o rumo do Uruguai. Aceitou. Ladário indagou de Leonel Brizola, também presente, se viajaria junto. Resposta: "Eu não me chamo João Goulart! Vou resistir!" (continua amanhã)

Do Fundo da Memória (1)

Do Fundo da Memória (1) 

Transcrito do Blog do Cláudio Humberto

Por Carlos Chagas
Título: A Conspiração das Elites

De vez em quando é bom  mergulhar no passado, quando nada para  não  repetir erros, porque se não nos  diz o que fazer, o passado sempre nos dirá o que evitar.

Há mais de  quarenta anos vivia o Brasil uma situação de crise iminente. Depois da entusiástica reação  nacional ao golpe, em 1961,  liderada por Leonel Brizola, entramos em 1964 sob a égide da conflagração.  O então presidente João Goulart tivera assegurada sua posse e governava,   por força da resistência do cunhado,  governador do Rio Grande do Sul e  logo depois  o deputado federal mais votado da história do país, eleito pela Guanabara.     O problema estava na permanência ativa  das  forças que tentaram rasgar a Constituição e permaneciam no mesmo objetivo.  Uns pela  humilhação da derrota, outros  por interesse,  estes ingênuos, aqueles infensos a quaisquer reformas sociais – todos se vinham fortalecendo sob a perigosa tolerância de Goulart.  Conspirações germinavam em variados setores sob a batuta de um organismo central, o IPES, singelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais,  mas, na verdade, um  milionário centro de desestabilização do governo trabalhista,  erigido em cima de milhões de dólares.  Sua chefia era exercida pelo general Golbery do Couto e Silva, na reserva, arregimentando políticos, governadores, prefeitos, militares das três armas,  fazendeiros, empresários aos montes, classe média  e até operários e estudantes. O polvo tinha diversos tentáculos, como o CCC (Comando de Caça aos Comunistas), MAC (Movimento Anticomunista), CAMDE (Campanha da Mulher pelas Democracia), IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e outros, muito bem subsidiados,  que se encarregavam de agir nas ruas.

Claro que a maioria da imprensa dava ampla cobertura a essas  diversas  atividades, sempre escondidas sob a fantasia da defesa da democracia “ameaçada pelas reformas de base pretendidas pelo governo comunista de João Goulart”. Publicidade e dinheiro vivo era o que não faltava, além, é claro, das inclinações pessoais dos barões da mídia.

Do outro lado, organizavam-se as forças que imaginavam estar  o Brasil marchando  para o socialismo. O CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), a Frente Nacionalista, o Grupo dos Onze, as Ligas Camponesas  e outros.

Depois da ridícula experiência parlamentarista o presidente retomara, através de um plebiscito, a plenitude de seus poderes. Diante da  resistência do Congresso em votar  as reformas, Jango decidiu promovê-las “na marra”. Abria perigosamente o leque, ao invés de realizá-las de per si, uma por uma. Ao mesmo tempo, pregava a reforma agrária, pela desapropriação de terras por títulos da dívida pública;  a reforma bancária, com a estatização do sistema financeiro;  a reforma educacional, com o fim do ensino privado;  a reforma urbana, através da proibição de os proprietários manterem casas e apartamentos fechados, sem alugar;  a reforma na saúde, pela criação de um laboratório estatal capaz de produzir remédios a preços baratos; a reforma da remessa de lucros, limitando o fluxo de dólares que as multinacionais enviavam às suas matrizes; a reforma das empresas, impondo a participação dos empregados no lucro  dos patrões e a co-gestão;  a reforma eleitoral, concedendo o direito de voto aos analfabetos, aos soldados  e cabos.  Entre outras.

Contava-se, como piada, haver um túnel secreto ligando as instalações do IPES à embaixada dos Estados Unidos, no Rio. Verdade ou mentira,  os americanos estavam enfiados até o pescoço  na conspiração,  por meio do embaixador Lincoln Gordon e do adido militar, coronel Wernon Walters, antigo oficial de ligação do Exército americano com  a Força Expedicionária Brasileira, na Itália.  Linguista exímio, sabendo falar até mesmo o português do Brasil e o de Portugal, em separado, tornara-se amigo dos majores e coronéis que lutaram na Itália,  agora  generais importantes. E em grande parte,  conspiradores.

A estratégia inicial  era   impedir as reformas de base  e deixar o governo Goulart exaurir-se, desmoralizado, até o final do mandato.   Tudo  mudou quando o presidente se deixou envolver por outra reforma, a militar. Partindo de um inexplicável  artigo da Constituição que limitava a possibilidade de os sargentos se candidatarem a postos eletivos, bem como das dificuldades antepostas pela Marinha para a organização sindical dos subalternos, tudo transbordou. Pregava-se a quebra da hierarquia entre os militares.  Acusada de estar criando um soviete,  a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros rebelou-se, instalando-se na sede do sindicato dos Metalúrgicos. Mais de mil marinheiros e fuzileiros recusaram-se a voltar aos seus navios e quartéis, tendo o governo preferido a conciliação em vez da punição. A ironia estava em que o chefe da revolta, o cabo Anselmo, o  mais inflamado dos insurrectos, era um agente provocador a serviço do golpe. Quanto mais gasolina no fogo,  melhor.

Juntava-se a isso a decisão de Goulart de realizar monumentais comícios populares, onde assinaria, por decreto, as reformas negadas pelos  deputados e senadores.  Só fez um, a 13 de março, sexta-feira, no Rio, quando desapropriou terras ao longo das rodovias e ferrovias federais,  encampando também  as refinarias particulares de petróleo. Naquela noite, na Central do Brasil, e ironicamente diante do prédio do ministério da Guerra, discursaram revolucionáriamente os principais líderes  de esquerda: José Serra, presidente da União Nacional dos Estudantes, Dante Pelacani, dirigente  do CGT, Miguel Arraes, governador de Pernambuco, Leonel Brizola, deputado federal, e outros. Cada orador sentia  a necessidade de ir além do que pregara o antecessor. Quando chegou a vez do presidente Goulart, não lhe restou alternativa senão superar os companheiros.   Fez um discurso que os historiadores precisam resgatar. Uma espécie de grito de revolta diante das elites, a pregação da independência para os   humildes e os explorados. O desfecho estava próximo, demonstrando que,  do lado de cá do planeta,  enquanto a esquerda faz barulho, a direita age.  (continua amanhã)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Transporte público

Aqui em Brasília, o transporte público deixa muito a desejar. Acrescente a isto o fato de que a média do nível salarial na capital federal é maior que nos outros estados. A ssim, uma parcela maior dos brasilienses consegue comprar um carro. Contudo, o normal é que os compradores submetam-se ao financiamento dos bancos privados e adquiram seus veículos em quase uma centena de prestações. 
 
No frigir dos ovos, o comprador paga um duas ou mais vezes o valor do carro adquirido.

Quem ganha dinheiro com isso? Em primeiro lugar, as montadoras; e, em segundo, os bancos. Note que estes muitas vezes pertencem aos próprios fabricantes, como é o caso dos Bancos Fiat, GM, etc.

O sujeito, então, compra um carro por um preço muito acima daquele que pagaria a vista, passa anos pagando um financiamento caro e passa a enxergar os engarrafamentos sob um novo ponto de vista. Ele não ficará mais em pé, espremido num coletivo por horas a fio, mas agora estará em outra posição, parado em seu próprio veículo. Pelo menos, dessa vez ele estará sentado, defronte o parabrisa, com vista privilegiada da traseira do carro em frente. Que coisa boa.

Nessa história toda, ganham as montadoras e ganham os bancos. Até as empresas de ônibus ganham com isso, pois o sujeito que comprou o carro deixa de encher o saco do Governo para melhorar a qualidade dos coletivos.

E o Zé Povinho também ganha. Ganha, sim, mas somente a ilusão de que se deu bem e que só faltam noventa e quatro prestações para o possante ser somente dele.

E vamos assim… de carro, parados no engarrafamento, felizes e contentes.

Artigo Isto É Dinheiro

Volta às armas

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/54949_VOLTA+AS+ARMAS 


terça-feira, 26 de abril de 2011

Os jornalistas e a verdade

Hoje, o blog do Sakamoto trata da impossibilidade do jornalista em ser totalmente imparcial. Na verdade, os jornalista também é movido por suas próprias paixões e não exatamente os fatos que ocorreram, mas sua versão do acontecimento. Essa versão, assim, depende da predisposição do escritor em valorizar mais a um ou a outro lado da história.

Diferente do que o blogueiro diz, acredito que o relacionamento de quem escreve não é com os vencedores ou com as classes dominantes, que teriam a primazia em contar a história. As versões do jornalista são diretamente influenciadas com o lado com o qual ele tem maior empatia.

Para comprovar minha tese, recorro a um exemplo da época da Guerra do Paraguai. O Tenente-Coronel George Thompson, um inglês que foi chefe da engenharia militar dos paraguaios, publicou sua própria versão daquela guerra, em Londres, poucos meses após ter se rendido ao Exército Brasileiro.

Em sua obra, Thompson foi francamente hostil ao Brasil. A versão em espanhol surgiu pouco depois, publicada na Argentina, e continha anotações inexistentes no original em inglês. Nelas, os tradutores argentinos glorificavam o exército de seu país e detratavam os brasileiros.

A história contada por Thompson foi muito diferente daquela contada por autores brasileiros. Mais ainda, as versões brasileiras sobre um mesmo evento variaram conforme o momento em que foram contadas.

Mas, voltemos aos jornalistas.

Sakamoto admite que é inútil esperar imparcialidade de um jornalista. Eu também acho, mas acredito que esse profissional tem um compromisso com os fatos, que é maior até do que com as tentativas de explicar suas causas ou efeitos.

O jornalista é, sobretudo, um narrador. Buscando o máximo de honestidade nessa faina, ele pode, por exemplo afirmar que, conforme depoimentos de Fulano e Sicrano, o evento teria ocorrido dessa ou daquela forma.

Contudo, é certo que dificilmente o observador conseguirá despir-se de suas ideologias e preconceitos. Por isso, o leitor deve ficar atento ao que lê, sabendo que o fato narrado é uma versão dos acontecimentos e representa apenas um lado da verdade.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Biocombustíveis

Eu não gosto dos SUV, aqueles utilitários enormes que consomem uma barbaridade de combustível, ocupam um imenso espaço nas ruas e nos estacionamentos. Não gosto mesmo daqueles veículos, mas reconheço que seus proprietários pagam um preço elevado para possuí-los. Eles são muito caros, os impostos elevados e também consomem muito combustível.

Provavelmente já é assim, mas acho correto que o IPVA desse tipo de veículo seja muito mais caro que o dos demais carros.

É bom que esses carros utilizem biodiesel. Eu acredito que os biocombustíveis são uma solução que atende à necessidade de energia e que apresenta reflexos favoráveis na proteção ao meio ambiente.

Por coincidência, o Sérgio Abranges, comentarista da CBN, tratou justamente desse tema em seu programa de hoje. Ele citou o caso da Inglaterra, que tem aproveitado os aterros sanitários em desuso para o plantio de capim elefante. Esse tipo de capim tem alta taxa de crescimento, fase em que sequestra o CO2 do meio ambiente. Suas raízes são fartas, o que acaba enriquecendo o solo com carbono. Os ingleses estão empregando o capim elefante para a produção de biocombustíveis.

Recentemente, um grupo de cientistas europeus lançou um manifesto repudiando os biocombustíveis, sob a alegação de que eles desviariam terras e recursos que poderiam ser empregados na produção de alimentos. 

Eu não concordo com essa afirmação, que considero demagógica.

Para mim, muitas vezes os europeus têm um discurso bem diferente de sua prática. Além disso, são vários os casos em que eles defendem seus interesses de modo pouco ético, pois, para atingir seus objetivos, não hesitam em dificultar as ações dos outros.

Eu considero a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar como uma grande solução. Sugiro que o Brasil realize acordos de transferência de tecnologia com determinados países africanos para que eles possam produzir etanol nas savanas. Isso traria vantagens na regulação do abastecimento tanto do mercado brasileiro como ampliaria a oferta do etanol para outros países.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-feira Santa

Hoje é sexta-feira santa e, por isso, é feriado.
Feriado quer dizer descanso, sair da rotina, relaxar.
Mas hoje só é feriado porque é sexta-feira santa.

É de manhã, faz sol e o dia é para uma cerveja gelada, quem sabe até um churrasco?

O dia passa e a noite chega. Hoje foi feriado, fez sol e a praia estava cheia.

Muitas igrejas também estavam lotadas de fieis, mas teve passeio ciclístico, teve show, pagode, bebida.

Muitos comeram peixe. É que o costume diz que não convém comer carne na sexta-feira santa. A tradição mudou. Não faz muito tempo, este era um dia de jejum e orações. A sexta-feira santa era assim. Não é mais.

Para mim, pouco importa comer carne ou deixar de comê-la; o jejum ou até mesmo as orações. Muito mais importante seria praticar o que Jesus nos ensinou.

Neste feriado, uns sequer se lembraram da morte de Cristo; muitos se esqueceram de perdoar a quem lhes ofendera; e, sejamos sinceros, quem de nós dedicou um pouco mais de atenção ao próximo?

Há os que afirmam enfaticamente que o Estado é laico e que têm todo o direito de não dar importância a esta data. Pode ser verdade, mas, mesmo assim, até os que não acreditam em Deus aproveitaram o feriado.  E só foi feriado porque foi sexta-feira santa.

Não adianta culpar a imprensa que destacou as condições das estradas para os que viajaram nesse feriado prolongado. Não foi a TV e nem foi o jornal quem endureceu nosso coração. Não houve campanhas contra a igreja, contra ir à missa ou acompanhar as procissões. Os que quiseram rezar, rezaram; os que preferiram jejuar, jejuaram. Muitos capricharam no peixe e outros só pensaram na praia, no passeio e no descanso. 

E talvez não fosse mesmo um dia para se lembrar das dores do Cristo crucificado. Afinal, como lembrar das chagas e do sofrimento de Jesus num dia de sol, de praia cheia e até de passeio ciclístico? Que pena que não teve futebol!

Mas algo me incomoda. É que hoje só foi feriado porque é sexta-feira santa.

Já é tarde da noite e estamos bem perto do sábado. Não falta muito, e será domingo de páscoa.

E domingo não será o dia da ressurreição de Cristo, mas somente o dia dos ovos de chocolate.

É, hoje Cristo morreu mais um pouquinho na cruz.


Museu da Revolução


Só para cultura geral, nada mais.

Estive em Cuba há coisa de dez anos e visitei o Museu da Revolução deles. Ali, dentre vários outros artigos, há uma grande exposição de fotografias do tempo da guerrilha. Há legendas para algumas fotos; em outras, há textos explicativos. 

Os textos procuram explicar quem foram os guerrilheiros e, em alguns casos, as condições em que faleceram. O mesmo é feito para uns poucos oficiais e sargentos do Exército Cubano do governo de Fulgêncio Batista.

Uma coisa me chamou a atenção. Os guerrilheiros que morriam nas batalhas eram descritos como “assassinados em combate”; quando um oficial do exército cubano era executado pelos guerrilheiros, ele era “justiçado”.

Só estou relatando o que vi. A exposição ainda deve estar aberta ao público e disponível para quem quiser conferir. 

Claro que há muito mais coisas para se ver naquele museu. É um bom programa para os que gostam da história sob a ótica marxista.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Nova Classe Média

O blog do Alon Feuerwerker caracteriza, hoje, alguns segmentos da chamada Nova Classe Média, cujos extratos têm aspirações e pensamentos diversos. Acho que é isso mesmo, só que até um certo ponto.

Há um outro aspecto a considerar. Os segmentos podem ter diferentes, mas não estão isolados entre si. Eles são interdependentes e há fluxo social entre eles. Como demonstrar isso? Uso o exemplo dos vários casos de famílias muito pobres em que os filhos conseguem, pelo estudo e trabalho, ascender a uma posição antes julgada inatingível.

Os que sobem na vida podem ter interesses diversos dos pais, mas mantêm seus vínculos afetivos e, pelo menos, grande parte dos valores do núcleo familiar.

Diferente de países europeus, há grande mobilidade social no Brasil. Por isso, quando se enxerga um certo extrato da Sociedade, não se pode considerar apenas uma fotografia do momento, mas uma sequência de fotos. Certamente, as fotografias dos segmento sociais, ao longo do tempo, revelarão suas próprias nuances.

Então, o que se pode tirar disso tudo?

Sou engenheiro e, por isso, minha primeira sugestão é obter logo uma fórmula, uma  equação que considere o peso de cada variável da Sociedade e que sirva de ferramenta para a elaboração de políticas sociais. 

É uma fórmula evidentemente empírica, mas acredito que factível.

Outra sugestão é, a partir da análise das fotografias, vislumbrar quais os anseios e valores de quem veio do andar de baixo. Para mim, são eles que representam a maior parte da mobilidade social e seria bom saber, por exemplo, se tendem a se apegar mais fortemente ao que conquistaram, se revelam comportamentos conservadores ou se são mais desprendidos dos valores materiais.

Essa questão deixo para quem entende melhor do assunto. Mas, daqui do meu Posto de Escuta Radiofônica, o que tenho percebido é que a Nova Classe Média apresenta-se dividida em algumas estações, mas que não há grandes diferenças na sintonia de cada uma delas.


Perdidos no Espaço

Hoje, o Blog do Noblat reproduz uma das crônicas do Veríssimo, em que ele comenta sobre a influência do computador sobre o hábito de escrever.

Sem dúvida, o computador simplificou a vida do escritor, mas paradoxalmente escreve-se menos hoje do que na época daquelas máquinas de escrever, com seus teclados duros, ou mesmo quando os textos era elaborados a base de caneta tinteiro.

Quando comecei a trabalhar, não havia computadores. Ou melhor, eles existiam, sim, mas em amplas salas de luzes potentes, refrigeradas ao ponto de congelar os ossos. Ali, não se entrava de manga de camisa e a máquina perfuradora de cartões era tratada com reverência quase sacrossanta.

Assim eram os computadores daquela época. Os da ficção eram mil vezes melhores. Como aquele, do Túnel do Tempo, tão poderoso que mandava os homens para o passado e para o futuro. Que máquina!

Melhor ainda era o do robô do Perdidos no Espaço. Aquele computador era o máximo. Acoplado à geringonça tão desprezada pelo Dr Smith, era tão bom que conseguia me deixar em dúvida se aquilo era mesmo um robô ou se havia um homem debaixo de toda aquela lata velha.

O Will Robinson era o moleque da turma. Um geniozinho chato para danar, que vira e mexe, safava o Dr Smith de alguma enrascada. Ele tinha uns dez anos de idade e não lembro de nenhum episódio em que aparecesse estudando. Pelo contrário, estava sempre dando duro num experimento científico qualquer.

Daí a ligação com o tema de hoje do Blog do Sakamoto. Acho que o Conselho Tutelar de Alfa Centauri preparou uma intimação para o que o Dr Robinson, pai do Will, se explique porque o garoto está fora da escola.

Acho até que foi por isso que encerraram o seriado

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Álcool africano


Recentemente, um grupo de cientistas europeus lançou um manifesto repudiando os biocombustíveis, sob a alegação de que eles desviariam terras e recursos que poderiam ser empregados na produção de alimentos.

Que grande bobagem demagógica!

A produção de álcool pode e deve ser ampliada. E mais, devemos aproveitar nossa capacidade tecnológica e incentivar que a África produza o etanol, tanto para abastecer o mercado norte-americano, como também o nosso.

Vou além. Defendo o desenvolvimento de cana-de-açúcar transgênica, capaz de adaptar-se melhor ao clima e solo africanos.

Como se diz pros lados de São Borja, quando o cavalo aparecer encilhado, monte-o.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Frentes de trabalho

Hoje, o Blog do Alon Feuerwerker trata de programas de transferência de renda.  Não sei porque, mas li o texto e me veio à mente aquelas frentes de trabalho da década de 1970, no sertão nordestino. 

Milhares e milhares de sertanejos assolados pela estiagem buscavam, na base da pá e picareta, uma pequena remuneração que lhes servissem para mitigar a fome.

E a fome era grande. No trabalho, tenho um colega que viveu aquela época. Ele perdeu dois irmãos, ainda crianças, mortos pela fome.

Então, leio sobre os programas de renda mínima e, logo depois, sobre os índices de crescimento da classe média.

Daí, minha mente que gosta tanto de divagar, se lembra das aulas de química, da tal da energia de ativação, aquela que serve de impulso para que uma reação ocorra. Um pouco de energia a mais no sistema e, pimba! A reação começa e não para mais.

Não sei porque eu lembro disso tudo. Dever ser porque as coisas guardam mesmo uma relação entre si.

Talvez seja porque um programa de renda mínima funcione mais do que uma frente de trabalho. Quem sabe? Aguardemos as próximas estatísticas.

Dia do índio

O dia do índio deve ser para a gente comemorar a matéria do link http://www.24horasnews.com.br/index.php?mat=365802

Nela, a seguinte notícia:
Etnias de Mato Grosso garantem renda com castanha e látex


Vou transcrever alguns parágrafos:

“Mauro Adopowi diz que seu negócio é influenciado pelas flutuações do dólar. Para Egídio Bahi, a chave do sucesso é agregar valor à produção local. Paulo Skirip sonha com uma assessoria contábil que reduza a burocracia no momento da venda.

Todos são índios e vivem em aldeias da etnias rikbatsa e zoró, no noroeste de Mato Grosso. O palavreado empresarial vem de quase oito anos de uma experiência que propõe gerar renda nas aldeias e proteger vastas e cobiçadas áreas de floresta na região.
Somente no ano passado, as duas etnias coletaram 130 toneladas de castanha-do-brasil e extraíram mais de 10 toneladas de látex de seus seringais e castanhais nativos.

Parte da produção é comercializada de forma independente pelas associações de cada etnia, mas uma grande fatia é destinada, via acordos de cooperação, à multinacional francesa Michelin (látex) e à Ouro Verde, uma subsidiária do grupo brasileiro Orsa (castanha-do-brasil).

Representantes das duas empresas estiveram na área dos rikbatsas na semana passada para discutir preço e falar de negócios com um total de oito etnias da região, além de grupos de pequenos agricultores e seringueiros de uma reserva extrativista.”


Para mim, o Dia do Índio deve ser o dia daqueles brasileiros que moram em suas tribos, preservam a sua cultura e tradições, mas se comunicam com o Brasil e o mundo.

Deve ser o dia em que crianças e adolescentes índios vão à escola, aprendem sobre sua história e sobre o Brasil, desenvolvem suas aptidões, têm dever de casa, estudam e ajudam sua família.

Deve ser o dia em que haja comida na mesa, saúde para todos e um futuro pela frente.

Tudo isso parece romântico e idílico, mas algumas etnias do Mato Grosso já nos mostram que essa realidade é bem possível.

Mãos a obra.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Estudo e sabedoria

Anos de estudo não significam necessariamente sabedoria.

Tem gente que enfrenta grandes dificuldades para se educar; outros, simplesmente decidem que não precisam de educação. Também há gente que supera obstáculos que outros consideram intransponíveis.

Evidentemente, um bom histórico escolar amplia as oportunidades de um indivíduo. Só que credenciais são apenas como a capa de um livro. O que vale, é o que ele conta.

Daí, vem a credibilidade. Algo muito relacionado à confiança; algo que não se compra, mas se conquista. 
 
Já trabalhei com doutores incompetentes. Também já tive chefes e auxiliares pouco instruídos, mas que faziam um excelente trabalho. Tenho um colega que os irmãos morreram de fome, ainda crianças. Com muito esforço, hoje ele é um vencedor.

Há histórias comoventes que nos demonstram que o caráter se molda pelas atitudes, não com títulos ou diplomas.

Sei que isso soa como algo piegas, mas é verdade.

Há os que culpam a vida pelos seus fracassos; e os que lutam para melhorar o mundo.

O interessante é que podemos facilmente identificar alguns que que passarão a vida apenas reclamando e ofendendo os outros. Talvez tenham aprendido a ser desse jeito, talvez tenham optado por ser assim. Quem sabe?

Mas isso tem sido desse jeito desde a construção do mundo. Como diria o filósofo Bambam, faz parte!


Direita e esquerda volver

Não fui eu quem inventei isso. Eu recebi um e-mail com o texto abaixo. Não concordo com rótulos, mas gostei do que li e por isso, eu o transcrevo.
Caso a carapuça lhe sirva, fique a vontade para escrever seu comentário reclamando. Todos saberão quem você é e o que pensa. Melhor assim, não é mesmo?


"De um jornal de Portugal


Quando um tipo de direita não gosta das armas, não as compra.
Quando um tipo de esquerda não gosta das armas, quer proibi-las.


Quando um tipo de direita é vegetariano, não come carne.
Quando um tipo de esquerda é vegetariano, quer fazer campanha contra os produtos à base de proteínas animais.


Quando um tipo de direita é homossexual, vive tranquilamente a sua vida como tal.
Quando um tipo de esquerda é homossexual, faz um chinfrim para que todos o respeitem.


Quando um tipo de direita é prejudicado no trabalho, reflecte sobre a forma de sair desta situação e age em conformidade.
Quando um tipo de esquerda é prejudicado no trabalho, levanta uma queixa contra a discriminação que foi alvo.


Quando um tipo de direita não gosta de um debate emitido por televisão, apaga a televisão ou muda de canal.
Quando um tipo de esquerda não gosta de um debate emitido por televisão, quer prosseguir em justiça contra os sacanas que dizem essas sacanices. Se for caso disso, uma pequena queixa por difamação será bem-vinda. (Ou até mesmo, se possível, estatizar a TV e proibir que este tipo de programas aconteçam).


Quando um tipo de direita é ateu, não vai à igreja, nem à sinagoga, nem à mesquita.
Quando um tipo de esquerda é ateu, quer que nenhuma alusão à Deus ou à uma religião seja feita na esfera pública, exceto para o Islã (com medo de retaliações provavelmente).


Quando um tipo de direita tem necessidade de cuidados médicos, vai ver o seu médico e seguidamente compra os medicamentos receitados.
Quando um tipo de esquerda tem necessidade de cuidados médicos, recorre à solidariedade nacional.


Quando a economia vai mal, o tipo de direita diz-se que é necessário arregaçar as mangas e trabalhar mais.
Quando a economia vai mal, o tipo de esquerda diz-se que os sacanas dos proprietários são os responsáveis e punem o país.


Teste:
Quando um tipo de direita lê esse teste, ele o repassa.
Quando um tipo de esquerda o lê, cuida de jamais repassá-lo!
Deleta-o e envia uma resposta malcriada, ignorante, cheia de chavões e até de palavrões!"