Meus amigos, a vida aqui no Chile é difícil.
Evidentemente que minha crítica não se refere a alguma falta de mercadorias no supermercado, ônibus velhos e superlotados ou a ausência de condições de vida.
Não, muito pelo contrário. Um terço da população do Chile vive em Santiago que é uma cidade moderna, bonita, organizada e muito limpa. O metrô daqui é uma coisa de primeiríssimo mundo e o pessoal costuma respeitar regras por aqui.
Os chilenos são respeitosos e, além disso, são boa gente.
Sim, os chilenos são muito gente boa, mas são complicados. Ou em português castiço, bitolados. Dizem que são assim porque são gente da montanha, acostumados a viver regradamente. Isso pode ser bom, mas também irrita.
Acabo de desligar o telefone depois de vinte minutos de conversa irritante e inútil. É que tentei pedir a entrega de água mineral em minha casa.
Em Brasília, esse é o tipo de operação que não dura mais do que um minuto. A gente liga, pede e em dez minutos um motoqueiro aparece no seu portão com os botijões.
Bem, em Santiago, a coisa é diferente.
Nos vinte minutos de ligação, o máximo que consegui foi pedir para me enviarem um formulário de inscrição na empresa.
Primeiro, terei de me inscrever para depois pedir a água. A empresa levará dois ou três dias para entregar os botijões na minha casa.
Haja paciência!
A historinha da água repete um padrão.
Levaram um mês para colocar o visto no meu passaporte e há mais de dois meses que aguardo a chegada da minha mudança.
A companhia de mudança daqui me exigiu uma série de documentos. Todos autenticados, naturalmente. Fui ao cartório para reconhecer minha firma e não o fizeram porque apresentei o documento de identidade e exigiram a apresentação do passaporte. Tive de ir em casa pegá-lo.
Ah, além de reconhecer a assinatura, tive de botar as minhas digitais no documento.
Depois de uma gincana nos cartórios, consegui reunir toda papelada. Agora, espero há mais de três semanas pelas minhas seis caixas, que totalizam míseros três metros cúbicos e contém brinquedos da minha filha e sapatos e roupas de frio da minha esposa. Ah, para constar, nesse tempo de espera, o inverno acabou e já estamos na primavera.
As duas chegaram há um mês e se viram com as roupas que couberam em duas malinhas.
Tudo por aqui é controlado demais. Controles irritantes e, convenhamos, inúteis.
É por isso que a vida é tão difícil por aqui.
Nesse aspecto, o brasileiro é imensamente mais flexível e prático.
Por fim, quem visitar Santiago deverá beber é água da torneira. Pelo menos para isso não precisará preencher formulários e mais formulários ou apresentar documentos originais devidamente acompanhados das digitais.
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