O ingresso da Palestina como Estado-Membro da ONU dependerá da aprovação do Conselho de Segurança, um órgão anacrônico, formalmente criado para zelar pela paz e segurança internacionais, mas que, na prática, mantém a mesma conformação de poder do final da Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, não há sentido no poder de veto da França e da Inglaterra, duas ex-potências mundiais que, no Sistema Internacional, têm menor relevância que a Alemanha e o Japão, por exemplo.
Em todo caso, a criação do Estado Palestino alinha-se ao princípio da autodeterminação dos povos, defendido pela ONU e que motivou os movimentos de descolonização a partir de meados do século passado.
A resistência de Israel à criação do estado palestino dá margem a várias ilações. Uma delas seria o receio de sua condenação pelos órgãos de defesa dos direitos humanos da ONU.
Há uma quase certeza de que os Estados Unidos usarão o seu poder de veto para impedir a criação do estado palestino. Tal fato leva a algumas indagações. Afinal, é curiosa essa interligação dos Estados Unidos com Israel.
O estado judeu é um enclave no oriente médio. Um país artificialmente criado pouco após a Segunda Guerra Mundial e admitido pelo sentimento de culpa coletiva da comunidade internacional após a revelação do abominável genocídio dos campos de concentração.
Israel é um país que destoa na região onde se situa. Para começar, é uma democracia e abriga uma sociedade sofisticada, com alta qualidade de vida. Depois, conseguiu consolidar sua existência num ambiente fortemente hostil, domando as pouco generosas condicionantes geográficas e a intolerância de seus inimigos. Por fim, construiu uma economia diversificada e dinâmica.
Durante muito tempo, os países árabes exigiram a extinção de Israel. Com a consolidação do Estado Judeu, suas reivindicações se deslocaram para a viabilidade do Estado Palestino.
Os Estados Unidos são um país hegemônico, a única superpotência do mundo. Essa condição lhe permite muita liberdade de ação para impor seus interesses, mas também lhe traz responsabilidades. Felizmente, trata-se de uma nação construída sobre valores positivos, como o respeito pela liberdade, pela democracia e pelos direitos humanos.
O povo americano sabe que sua prosperidade e bem-estar se condicionam à incorporação de seus valores pelos outros países. De certo modo, seu apoio irrestrito a Israel dificulta a pacificação do oriente médio.
Com o veto dos Estados Unidos, os jovens palestinos queimarão mais e mais bandeiras norte-americanas e jogarão ainda mais pedras nos policiais israelenses.
Muitos já morreram nessa guerra e, num mundo tão diferente do de sessenta anos atrás, parece que a cristalização das posições no Oriente Médio é tão anacrônico como o Conselho de Segurança da ONU.
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