quinta-feira, 26 de junho de 2014

Meu quase único leitor

Plena quinta-feira e eu em casa, dormindo até mais tarde, até o corpo doer na cama, até enjoar de tanto dormir. Tem jogo da Copa em Brasília e nos dispensaram, funcionários públicos e militares, de comparecer ao trabalho. Há muito o que fazer no quartel, mas a partida impõe o bloqueio do trânsito e, numa cidade carente de transporte público, não se chega a nenhum canto sem um automóvel. Bem, o governo decretou a dispensa, eu cumpro ordens e não trabalho. Venhamos e convenhamos: que bom!
Quinta-feira, eu em casa, já quase meio dia. Agorinha mesmo, liguei o computador, o velho, porque o outro, novo de três anos é pior que este, de sete. Vim digitar algo por aqui.
Daí, lembrei do McGee do NCIS, aquele que escreve livros em sua velha máquina de escrever. No seriado, seus colegas zombam do trambolho, mas ele segue firme. Se fosse comigo, simples e acomodado mortal, nem precisariam zoar duas vezes. Faço no velho Notebook o que jamais faria em qualquer máquina de escrever.
Quase sempre, quem gosta de escrever lê muito. Baixei uns três ou quatro livros do Machado de Assis no meu iPhone. Aquele escritor carioca do século XIX é o meu preferido. Seus romances são bons de história, mas ele é notável mesmo quando emprega os recursos do idioma, elegante em seus pronomes, substantivos e  verbos. Diferente dos blogs de hoje em dia, sua obra não combina com leituras dinâmicas, mas requer idas e voltas, círculos e retas, diagonais, aclives e declives, contemplação e reflexão
Capítulos curtos, parágrafos mais ainda. Não é economia, mas pouco desperdício. Afinal, para que tantas palavras se menos já bastam? Machado corta os excessos e, mesmo quando pouco sobra, nada falta.
Ele não usava máquina, escrevia mesmo à mão, com pena, tinteiro e mata-borrão, gastando folhas e folhas, riscadas e rasgadas, sujando seus dedos e unhas, castigando os artelhos. E se tanto fez assim, o que faria se vivesse hoje, com teclado, mouse e tela plana?
Tão cômodo escrever nos  notebooks e porque será que não surgem outros escritores como ele? Bem sei a resposta. Estamos mal acostumados com o conforto, que é parceiro da preguiça. A ansiedade em escrever rápido nos desculpa por escrever mal.
Enfim, milhares e milhares leram e continuarão lendo Machado de Assis; e eu, que mal crio um simples texto, bem mereço ser meu quase único leitor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário