Nesses tempos de Mubarak, Kadafi, tsunamis e Fukushimas, ninguém se lembrou dos vinte anos da Primeira Guerra do Golfo, um conflito que revolucionou os conceitos da arte militar. A palavra revolução tem um sentido de ruptura; e foi exatamente isso o que aconteceu.
Fui inspetor de armas químicas da ONU e estive no país de Sadam Hussein em 1998, sete anos depois que as tropas iraquianas foram fragorosamente vencidas pelos Estados-Unidos e seus aliados. Desde aquela derrota, o Iraque esteve submetido a inúmeras restrições. Naquele país, faltava de tudo, desde peças sobressalentes a até alimentos. Havia fome nas ruas, onde caminhava uma multidão de pessoas mal nutridas.
Quando cheguei ao Iraque, meu avião aterrissou num aeroporto militar nos arredores de Bagdá. Ali, surpreendi-me com as montanhas de peças retorcidas de aeronaves abatidas na guerra, bem como com a imensa quantidade de aviões modernos ainda existentes. As aeronaves ainda operacionais estavam enterradas em valas de uns três metros de profundidade, num esforço para serem poupadas dos ataques aéreos frequentemente lançados pelos Estados Unidos, em retaliação às políticas do ditador iraquiano.
Nas inspeções que participei, pude verificar o grande estoque de armas e munições nos armazéns militares. Certa feita, ao retornar de uma missão fora de Bagdá, passei duas horas cruzando com imensos cegonhões que conduziam carros e mais carros de combate da Guarda Republicana.
Em 1998, sete anos após o fim da Primeira Guerra do Golfo, o Iraque ainda dispunha de forças armadas numerosas e bem equipadas.
No final de 1990, muitos apostavam que o poderoso Exército Iraquiano conseguiria deter as forças da coalizão montada pelo George Bush Pai. Pois não conseguiu. Eis, portanto, a ruptura de que tratei no início deste artigo.
Os norte-americanos esmagaram facilmente todas resistências que encontraram. Ficou evidente a superioridade de suas armas e equipamentos. Esse fato rompeu as ilusões de que a aplicação dos princípios da massa, fogo e movimento poderiam deter a supremacia tecnológica. Não puderam. Não nas condições operacionais oferecidas por aquele Teatro de Guerra.
A guerra ensinou muitas lições a todos os exércitos do mundo. Os militares alteraram suas próprias percepções sobre as capacidades de seus exércitos em se defender da Potência Hegemônica.
Infelizmente, o povo brasileiro e os políticos ainda não se aperceberam dos riscos em se estar só e fraco diante uma matilha de lobos.
Para os bons entendedores, a frase acima basta.
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