quarta-feira, 31 de julho de 2013

Soldados invisíveis

Hoje, o Valor Econômico traz um artigo de Cláudio Gonçalves Couto que trata sobre a qualidade do Estado. Após informar que índice de confiança das Forças Armadas atingia a 71%, o articulista comenta que de nada adiante confiar em instituições desaparelhadas, sucateadas e que não conseguem cumprir a contento as suas tarefas. Para ele, a população apenas confia nas Forças Armadas porque não tem instrumentos para aferir cotidianamente o seu mal funcionamento, da mesma forma como consegue fazer com o transporte, a saúde, a educação, a polícia ou a conduta dos políticos.
Curiosamente, o artigo foi publicado no mesmo dia em que se anuncia mais um expressivo corte do orçamento da Defesa.  Esse fato reforça a percepção da insuficiência de recursos das Forças, que, por isso, não conseguiriam cumprir suas missões a contento. Contudo, o trecho que mais incomoda é o que associa a confiança da população nas Forças Armadas a uma suposta incapacidade de aferir a eficiência de seu funcionamento. 
Será que isso é mesmo verdade? Acho que não.
Começo meu argumento pela porta de entrada das instituições militares, ou seja, trato primeiro da educação. Os alunos das escolas militares destacam-se pelo seu desempenho acadêmico. É verdade que o Estado investe valiosos recursos financeiros na formação e aperfeiçoamento do pessoal militar, mas o dinheiro não é, nem de longe, o principal componente dessa equação. 
O principal motivo para a boa educação militar é a seriedade em que esse assunto é tratado. Não há greves nas escolas militares, os alunos se esforçam para atingir os parâmetros estabelecidos porque sabem que seu futuro profissional depende de seu desempenho escolar. 
Depois de passar pela porta de entrada das Forças Armadas, entro nos quartéis. Espalhados por todo o Brasil, a caserna é, invariavelmente, um lugar bem cuidado, onde cada real tem que ser muito bem aplicado, porque sobram problemas a resolver e faltam recursos para isso. Os comandantes são, antes de tudo, gestores de suas unidades, preocupados com todos os aspectos que envolvem seus subordinados. 
O homem é o centro das preocupações. A cada ano, milhares de famílias brasileiras emprestam seus filhos ao Estado, para o cumprimento da obrigação do serviço militar. Por imposição legal, há restrições quanto aos tamanhos das Forças, que há várias décadas permanecem com o mesmo efetivo. Por isso, apenas um em cada dez jovens alistados cumprirá o serviço militar, que na prática deixou de ser obrigatório, pois são quase todos voluntários.
Quem disse que a população não tem capacidade de aferir o funcionamento das Forças?
Pois bem, os jovens recrutas jovens assistem a tudo o que se passa dentro dos quartéis. Lembro que a juventude é muito crítica e os soldados contam para sua família as suas impressões pessoais, principalmente quanto ao comportamento de seus superiores. 
Esse é o principal termômetro do funcionamento das instituições militares.
Sigo meu passeio e chego aos órgãos de direção das Forças Armadas, encarregados de planejar e manter o bom funcionamento das Instituições, ao mesmo tempo em que buscam o aperfeiçoamento constante de materiais e métodos. Para isso, aplicam eficientes técnicas de gestão, tratam todos os assuntos com seriedade, preocupam-se com metas e prazos, buscam soluções para todos os desafios que se apresentam.
Mesmo com todas as dificuldades, discordo do articulista quando ele diz que as missões não são cumpridas a contento. O que tenho vivenciado é justamente o contrário e,  pelo que se constata, compartilho a mesma percepção que a da maioria dos brasileiros. 
Saio das Forças e entro no reino das percepções. Nele, constato que a confiança da população nas Forças Armadas se deve ao comportamento sério, fundamentado em bons princípios, por gente comprometida com a bandeira do Brasil que leva grudada na manga do uniforme que veste.
Isso é mais do que nacionalismo. É a ética militar.
Diferente de outras profissões, o militar chega na porta da caserna vindo de todos os segmentos da sociedade, principalmente dos extratos menos favorecidos economicamente. Acrescento que expressiva parcela dos oficiais é composta por  filhos de sargentos. Acredito que o articulista não saiba quanto ganha um oficial e, muito menos, um sargento. Quem vem de baixo sabe que é preciso ser realista para construir o edifício do progresso.
Por isso, afirmo que a população sabe, sim, discernir que as Forças merecem sua confiança. Os brasileiros confiam nos militares porque percebem que eles sempre agem quando preciso,  não fogem à luta, por mais difícil que seja, fundamentam suas ações em sólidos princípios morais e se afastam das ilusões do populismo fácil e vazio. 
O articulista foi injusto na sua análise e me parece que não consegue enxergar o trabalho dos militares. Talvez seja isso mesmo, pois, como acontece no combate moderno, nossos soldados vestem o camuflado para agirem invisíveis em todos os campos de batalha.

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