sexta-feira, 8 de junho de 2012

Cylons e mais cylons

Faz tempo que não escrevo nada por aqui. Parte do problema é por causa do trabalho, que resolveu me entupir de relatórios e mais relatórios; outra parte da culpa é minha mesmo. Resolvi assistir todos os setenta e sete episódios do Battlestar Galactica e isso tomou um tempão. Mas valeu a pena. 

Hoje, assisti o fim da saga e os humanos conseguiram chegar na Terra.  Os cylons se dividiram em bonzinhos e malvados; o bem triunfou sobre o mal e, tirando algumas inconsistências, a história convenceu.

Depois de meses escravizado pelas batalhas galáticas, volto a escrever por aqui. E já reclamando do salário. Deixa explicar. Tenho quase trinta anos de serviço e cheguei no último posto da carreira. Acima de mim, só os generais. O mal é crônico até para nossos chefes: todos ganhamos mal.

Sei que não deveria dizer isso, mas é inevitável. Ganhar mal incomoda e faz mal à saúde.

Fui a um cardiologista paisano e o doutor resolveu que minha pressão alta precisa  de um novo remédio; me ofereceu duas opções: a primeira era excelente, com uma molécula moderníssima, mas cara; a segunda era meia boca, não resolveria tão bem o meu problema, mas era menos caro.

Daí, o médico me perguntou qual remédio deveria me receitar. 
Antes disso, quis saber da minha profissão; militar, rebati; e ele prosseguiu: "qual é o seu posto?"

Daí, meio envergonhado, não respondi à pergunta e já emendei: "me receita o remédio menos caro que é o que eu posso pagar". 

Infelizmente, minha amada profissão não me permite viver com o melhor que vida pode dar. Isso é frustrante, mas, pelo menos, ainda dá para pagar o remédio menos caro. O fato é que trinta anos vestindo a farda, tenho que fazer as contas para não ficar devendo no final do mês.

Acho que esse problema é universal, muita gente boa passa por isso. O que mais doi é comprovar que o meu patrão, o Governo, privilegia algumas carreiras e pouco se importa com outras. Entendo que isso nada mais é que a aplicação do velho ditado: "quem não chora não mama". Vou além: quem berra mais alto, mama mais. Como o militar não pode e nem deve chorar, a conclusão é óbvia.

Numa perspectiva menos egoísta, pior que ganhar mal é ver nossas Forças Armadas mal equipadas. Durante muito tempo vi o dinheiro faltando no quartel, as viaturas paradas na garagem, as armas guardadas nos depósito sem nunca atirar, mas sempre limpas e lubrificadas.

Pelo menos nesse aspecto, as coisas estão mudando. Prova disso são os quinhentos mil relatórios que tenho feito diariamente, as duas mil reuniões mensais para tratar de projetos estratégicos, a corrida maluca para me manter informado de tudo, as providências e mais providências urgentes e urgentíssimas. Eu trabalho para um Exército que quer e vai se transformar.

Um Exército moderno certamente implicará em soldados valorizados.

Voltando à Galactica, concluo que ganhar mal não é um privilégio dos coroneis brasileiros. O Comandante Adama também tinha seus problemas de salário e chegou a cogitar em mudar de profissão. Ele até tentou, mas não deu. Amava demais a carreira militar e preferiu encerrar seus quarenta e cinco anos de serviço na astronave mais velha e capenga da frota estelar. Daí, veio o ataque dos cylons, a destruição da humanidade e só sobrou a Galactica, justamente ela, para conduzir os poucos sobreviventes a um novo destino.


Sorte dos humanos e azar dos cylons que Adama estivesse no Comando. Prova que a qualidade do homem importa mais que o poder da máquina.

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