As greves de policiais militares têm servido para evidenciar a precária situação salarial de diversas categorias profissionais no Brasil. Pior que receber uma remuneração insuficiente é verificar a generosidade do governo em atender aos pleitos de outros grupos com maior força de barganha, nem sempre atendendo ao critério do mérito.
Os militares constituem um grupo relativamente numeroso. Considerando apenas os membros das Forças Armadas, na ativa ou na inatividade, bem como pensionistas, seu contingente alcança aos 750 mil integrantes. Esse número, embora expressivo, esconde o fato de que esse grupo está disperso territorialmente, o que diminui sua força política.
Contudo, nós, militares, pensamos e nos comportamos de um modo relativamente igual. Além disso, nosso grupo representa bem os diferentes extratos sociais de nosso país. Desde meados do século XIX, quando o Brigadeiro Manoel Felizardo adotou o critério do merecimento para o ingresso e progressão na carreira militar, que a maioria de nossos oficiais passou a ser menos de “filhos de” e mais de “filhos da”. Ou seja, as Forças Armadas tornaram-se reduto da classe média brasileira.
O resultado disso é que somos majoritariamente conservadores, no sentido de que apreciamos a ordem, respeitamos as normas jurídicas e valorizamos a família e a vida em sociedade. Não somos individualistas, mas valorizamos o mérito individual. Este último aspecto é pouco percebido pelos governantes.
Em resumo, o que mais nos dói não é propriamente a remuneração insuficiente, mas a generosidade do governo em conceder altos salários para quem merece menos que aqueles que realmente se sacrificam pelo país.
É um descalabro verificar que o mesmo governo que nega um salário digno para seus soldados escancara seus cofres para certos magistrados que percebem valores realmente astronômicos. Há relatos de juízes recebendo mais de 400 mil reais por mês, isso a despeito de todas as normas legais proibindo que se receba no serviço público mais que os ministros do STF.
Nós, militares somos disciplinados e obedientes, mas nossa paciência tem limites e, por formação, não podemos continuar tolerando tantas injustiças. Na ativa, somos impedidos de nos manifestar sobre assuntos políticos e militares. Esse impedimento, embora muito sábio, nos restringe a capacidade de defender nossos interesses. Por sermos uma carreira de Estado, é inegável que cabe aos governantes zelar pelo bem estar dos soldados.
Infelizmente, não é isso o que se percebe. Para modificar essa situação, temos que agir coordenadamente, numa estratégia que atenda inflexivelmente às condicionantes do respeito à lei e à ordem. A força do militar está justamente na sua disciplina e amor à Pátria. Sem isso, não seremos diferentes dos oportunistas que se alimentam da corrupção e da mentira.
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