quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O que se quer

Às vezes é preciso ter cuidado com o que se quer. Eu conheço uma boa história a respeito disso. Soube dela quando dirigi o Arsenal de Guerra General Câmara.
A cidade de General Câmara situa-se na confluência dos rios Taquari e Jacuí, no Rio Grande do Sul. Ela hoje é bem pequena, mas já foi maior. Até meados da década de 1990, sua população chegava a quase vinte mil habitantes, que dependiam do transporte de balsa para acessar a rodovia que os ligaria a Porto Alegre. A balsa demorava, demorava. Um transtorno para todos. É verdade que havia um outro percurso rodoviário, mas a viagem durava bem umas quatro horas de carro.
Os camarenses sempre viveram em torno do Arsenal, o maior empregador da região. Seus funcionários se abasteciam nos armazéns do Exército, moram em casas do governo e não geravam tanta renda assim para a Prefeitura. Daí, o discurso favorito dos políticos da região demonizava o quartel, a quem atribuíam todos os males do município. Eles diziam que a solução de General Câmara seria expulsar dali o Arsenal, doar para a Prefeitura os seus prédios e as casas dos operários. Gritavam nos comícios: fora cambada!
Expulsar o Arsenal era só metade da solução. O bom mesmo era o governo construir uma ponte sobre o rio Jacuí, o que reduziria a viagem de carro a Porto Alegre para uma hora; uma hora e meia de percurso.
A ponte era um anseio de vários e vários anos da comunidade camarense, que viam a obra como a chance de desenvolver seu município. Não houve como transferir o Arsenal de Guerra para outro lugar, mas, depois de muita pressão, o governo resolveu construir a ponte. E que ponte !
Que obra monumental, magnífica, portentosa! Custou uma fortuna, mas quem passa por ali pelas seis da manhã assiste ao lindo alvorecer sobre as águas do Jacuí. Muitos se deliciam com a visão do nascer do sol sobre a ponte, mas muitos mais a usaram mesmo foi para escapar de General Câmara, fugindo em busca de um mundo melhor.
Em resumo, General Câmara reclamou e reclamou uma ponte. Ela foi construída e, de um dia para outro, metade de sua população foi embora por ela. Dizem que as damas do Nova Roma, o bordel local, foram as primeiras a escapar. Quando servi ali, cansei de correr diante das ruínas nova-romanas e nunca vi uma dama sequer. Elas fugiram mesmo dali!
Os mesmos políticos que antes se elegiam com sua plataforma de construir a tal ponte, agora se elegem reclamando da obra construída. Felizmente, o Arsenal continua por lá, e por isso ainda há uma General Câmara para reclamar da vida.
Essa historinha ilustra que se deve ter cuidado com o que se pede. Ela se parece com a daquele casal, que ia se casar mas que queria porque queria morar numa casa maravilhosa, que eles mesmos resolveram construir. Adiaram o casamento até que a casa ficasse pronta. Foram construindo, construindo, mas sempre faltava um azulejo, um lustre, um piso. No dia que não faltava mais nada, eles viram que faltava amor. Venderam a casa a preço de banana e desmancharam o noivado.
Fica a lição: melhor que querer, é merecer!

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