Anteontem, me submeti a uma operação daquelas com direito a sala de cirurgia, equipe médica, incisôes no abdômem e anestesia geral. Nunca havia sofrido algo parecido, uma experiência inédita que me faz repensar no sentido de tudo isso.
Foi ali, deitado na maca, no ar gelado da sala muito clara, que me anestesiaram e, pela primeira vez na vida, apaguei completamente.
Sei que apaguei por mais de uma hora. Dormi sem sonhos por todo esse tempo, de repente, voltei a sonhar e acordei. A cirugia havia terminado e quinze segundos depois, uma dor aguda nas costas me fez lembrar onde estava. A recuperação foi meio barra pesada, mas hoje estou bem melhor.
Os minutos apagado, aqueles em que não existi, me levam ao pensamento da morte. Já havia desmaiado antes na vida, não apenas uma, mas duas vezes. A primeira, aos treze anos, quando escorreguei na beira de uma piscina, bati a nuca no chão e acordei desorientado no banheiro do clube, com meu pai muito incomodado pelas besteiras que havia falado enquanto desacordado.
A segunda vez foi numa formatura. Horas a fio em pé, esperando a passagem do general comandante que revistava a tropa antes da manobra, tudo isso aliado a um café da manhã apressado, me fizeram primeiro a sentir uma sensação de enjoo, daí foi um pequeno passo para a tontura e, finalmente, o desmaio em grande estilo, desabando tal qual uma tábua rebatendo da vertical para o chão duro que teria arrebentado nariz, dentes e queixo, não fosse o providencial capacete que me salvou do pior.
Nessas duas ocasiões, a da piscina e a do capacete, desacordei, sim, mas o tempo todo eu estava ali, em mim mesmo, havia um rastro de sensação, um torpor, algo que me lembrava que vivia. Diferente, bem diferente da anestesia, em que nada senti, nada percebi, nada existi.
Será essa, afinal, a verdadeira sensação da morte?
Pensei nisso tão logo as dores nas costas começaram, ali mesmo na maca, recém acordado. Estava um pouco assustado com aquilo tudo, mas logo me salvei. Um "que dor filha da puta é essa?" passou pela minha mente e o "puta que o pariu" saiu da minha boca pouca educada.
Estava vivo! Que bom!
quarta-feira, 31 de maio de 2017
Vivo, graças a Deus
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