sábado, 31 de janeiro de 2015

Tiranete

Eu quero que o tiranete caia, já devia ter caído e uma hora dessas ele cairá ... mas o que será quando finalmente cair?
Todas as instituições, todas, estão aparelhadas. As Forças Armadas estão tomadas por militares fanatizados; a polícia, as milícias, os organismos de segurança, todos são fieis seguidores de Chavez e estão de armas na mão. 
O Estado engoliu o país, estatizou o que podia e o que não devia, não deixou nenhum espaço para um novo começo.
Os juízes, os procuradores, as cortes mais supremas, todos togados enxergam o mundo em tons avermelhados.
O povo, o povinho e o povão, esses não têm pena do futuro e apoiam quem melhor finge os apoiar aqui e agora. 
O que será no dia seguinte?
Não há muro para cair, mas uma tirania para derrubar.
Os que hoje governam amanhã governarão novamente. Ou alguém acha que isso só existe no Brasil?
Só tem uma saída: é a sociedade se mobilizar, ir para as ruas, protestar. Essa é a luz no fim do túnel.
Só que o tiranete liberou as balas de borracha e as de chumbo. Sua polícia e seu exército podem sentar o dedo no gatilho para massacrar qualquer oposição.
No túnel, a luz que vem é a de um trem desgovernado, pronto para passar por cima em quem se atrever a reclamar.
Pobres vizinhos. Conseguirão derrubar sozinhos esse monstro que os devora?

sábado, 17 de janeiro de 2015

O murro do papa

Ops, calma aí, turma.
O sujeito que falou em dar um murro em quem xingasse sua mãe é o mesmo que aparece na foto segurando sorridente uma camisa de seu time do coração. É o bonaerense Jorge Bergoglio, um homem que erra e também acerta.
Tá bom, tá bom. Ele é o papa; e papa e porrada não cabem bem numa frase. Também acho, mas daí, convenhamos, é muita forçação de barra querer  extrapolar o sentido de dois homens do mesmo tamanho trocando socos, um revidando a ofensa recebida do outro, para uma absurda  justificativa da ação de terroristas fuzilando gente desarmada.
Essa história de "somos charlie" tem dado pano pra manga. Até o Danilo Gentilli, aquele que disse que comia a Wanessa Camargo grávida e o feto junto, se achou no direito de reclamar. Não gostou de ser processado pela bobagem que soltou no seu programa. 
No futebol, dizem que "escreveu, não leu, o pau comeu". E foi mais ou menos assim com o humorista brasileiro. Acabou processado e condenado a pagar a besteira que disse. Mas ele pagou em reais. Bem melhor que os cartunistas, que pagaram com a vida.
Nem a liberdade de expressão é franquia de impunidade, nem há qualquer justificativa para matar qualquer um que lhe ofenda e nem o papa é infalível.
Por falar nisso, não costumo ler o Diário Oficial do Vaticano e pensei que já tinham publicado a revogação do dogma da infabilidade papal. Consultei o oráculo e descobri que não, não revogaram o dogma. Não ainda. Nem eu e, acho, que nem Chico nem Bento acreditam mais nisso, mas, em todo caso, não foi  bem o Francisco que soltou a gracinha indevida do murro. A culpa é do Jorge. 
O Jorge que não deixou de ser argentino, que torce pelo San Lourenzo e que xinga a mãe do juiz de futebol.
Tá bem. Quem reclama do papa também tem seus motivos. Afinal, alguém já soube de alguma piada sem graça dita pela rainha inglesa Elizabeth II? Não? Nem eu. Ela não deve saber contar piadas e sabe que não pega bem uma rainha falando bobagens. Se isso vale para ela, vale também para o papa, que deveria, sim, ser mais Francisco e menos o Jorge, principalmente perto de jornalistas. 
O papa cometeu, sim, um gol contra, mas foi só um golzinho. Tem muito jogo pela frente.  O Jorge pode ser um perna de pau, mas o Francisco faz mais gols que o Messi no ataque. 

O ovo da serpente

O estabelecimento da União Europeia, diminuindo o nacionalismo como valor da sociedade na Europa Ocidental, e a baixa identificação dos jovens de origem muçulmana com o país em que nasceram e vivem, são dois fatores que favorecem seu aliciamento a organizações extremistas islâmicas.

Bicho homem

O bicho homem é mesmo um fenômeno.
É o único que mata e morre por um ideal.

Suprema Verdade

Muita gente se esqueceu ou nem sabe, mas há vinte anos houve um atentado no metrô de Tóquio com emprego de arma química.
Os terroristas pertenciam a uma seita religiosa chamada Suprema Verdade, que tinha uma base doutrinária frágil e confusa. Dentre seus adeptos, havia jovens universitários e cientistas em início de carreira.
Eram jovens japoneses, com promissoras perspectivas profissionais, bom conhecimento científico e, mesmo assim, se juntaram a um grupo de lunáticos. Porque?
Para mim, o porquê se resolve ao reconhecer a necessidade da juventude em encontrar sentido para sua vida. 
Os jovens que se juntam ao Estado Islâmico e à Al Qaeda o fazem pela busca de um ideal, por pior que e ele seja.
Quem leu o 1984 se lembra do personagem O' Brian e de como ele transformava o pensamento de suas vítimas, empregando a dor extrema e a manipulação da mente humana.  Na Europa, os jovens radicais islâmicos nem precisam dos métodos de convencimento do O' Brian. Eles querem  apenas um motivo ou mesmo só um pretexto para largarem tudo em busca de um ideal, ainda que isso os leve a viver a sua vida matando gente.

Juventude transviada

Os jovens belgas, tanto os de origem muçulmana como os outros, atraídos para os grupos radicais islâmicos,  sofrem dos mesmos males das prósperas sociedades ocidentais. Inseridos em países de alto poder econômico, com baixa desigualdade e ao mesmo tempo baixa mobilidade social, esses jovens não encontram grandes estímulos em suas vidas.
Lembram-se das explicações para as altas taxas de suicídio entre os jovens suecos? Sem desafios a vencer, a vida para eles torna-se insuportavelmente monótona. Para os belgas, juntar-se ao Estado Islâmico é mais do que uma aventura, é a chance de um novo sentido para a vida. Viver por um ideal, mesmo um ideal assassino.
Gabeira escreveu um artigo em que achava difícil imaginar os irmãos Kouachi inseridos na economia francesa, trabalhando como caixas de supermercado. Essa é a realidade de grande parcela da juventude europeia. O problema não é a pobreza, é a qualidade de uma vida sem grandes perspectivas.
A juventude é idealista e precisa sonhar. A seu modo, os jovens radicais belgas querem mudar o seu mundo, nem que para isso destruam o nosso.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Desigualdade e pobreza

Acabo de ler um artigo de Joel Pinheiro da Fonseca, que acessei pelo Blog do Orlando Tambosi e trata da desigualdade e da pobreza. O texto me fez refletir sobre o radicalismo islâmico. 
Seria fácil culpar a pobreza pelo extremismo na Palestina; ou a desigualdade pelos radicais sauditas. Mas, e os belgas?
Os imigrantes belgas vivem num país rico e de baixa desigualdade. Então, o que leva a Bélgica a ser, em números relativos, o maior exportador europeu de combatentes para o Estado Islâmico?
O exemplo belga se repete no Reino Unido e na França, duas outras fortes economias.
Achi que o extremismo tem explicações que a intelectualidade socialista desconhece.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Lado errado

      Desde a semana passada, há um intenso debate sobre liberdade de expressão, devido ao atentado ao Charlie Hebdo.
      Pode ser que estejamos todos olhando para o lado errado.
      Evidentemente, o massacre do dia 7 visou castigar os cartunistas pelas suas sátiras, especialmente aquelas que retratavam o profeta Maomé.
      Contudo, aquele ato cruel não foi um movimento isolado.
      O Estadão de 24 de dezembro já anunciava que o governo francês aumentara o alerta de terror após atropelamentos e esfaqueamentos causados por radicais islâmicos.
      Dois dias depois, o Globo publicou um artigo sobre o aumento da islamofobia alemã.
      Hoje, tomamos conhecimento do desbaratamento de uma célula terrorista na Bélgica.
      Na análise dos fatos, temos que levar em conta a ascensão do Estado Islâmico e os esforços dos governos locais e da coalizão internacional para contê-los.
      Parece que os atos terroristas seriam uma retaliação aos ataques sofridos pelo EI. Em linhas gerais, o terrorismo procura o máximo de efeito em seus ataques, mas, antes de tudo, as ações devem ter boa chance de sucesso.
      É provável que os cartunistas tenham sido mortos pela fragilidade de sua proteção policial. Eram um alvo fácil, mas talvez não preferencial.
      Tudo isso é preocupante, pois essa guerra está longe de acabar.

O francês

Anos atrás, tive um professor estrangeiro. Para mim, ele era francês, falava francês, era exigente e antipático como francês. A turma acabou gostando dele. Um outro professor o havia conhecido durante seu doutorado no exterior e o convenceu a tentar a sorte no Brasil. O francês topou a parada.
Só depois é que soube que o francês não era francês. Numa viagem ao exterior, comentei sobre ele e disse seu nome e sobrenome e soube que ele era argelino.
Para outros franceses, aquele meu professor, que para mim representava a França, não era francês. Era argelino, um imigrante da colônia.
Parte dos problemas na Europa com os imigrantes é resultado da sua resistência em integrar-se. Eles não vão à Igreja, vestem-se diferente, falam outro idioma, etc.
Agora, outra boa parte do problema é de quem resiste em aceitar o imigrante.
Para mim, o nome e sobrenome do meu professor eram franceses; mas na França, onde ele nasceu, foi criado e conquistou seus títulos acadêmicos, ele não era francês. Era argelino.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ele não veio

Será que a tragédia de Paris pode mesmo ser uma chance de mudança na atitude global?

Lembro do onze de setembro, uma sequência de atentados muito mais espetacular que os da semana passada. Daquela vez, o impacto foi fulminante e suas repercussões refletiram a magnitude do golpe sofrido

Na ocasião, os palestinos saíram à rua para comemorar o sofrimento norte-americano.

Desta vez, desconheço que tenha havido alguma comemoração na Palestina. 

Ontem, Mahmoud Abbas desfilou  Paris, na marcha em homenagem aos cartunistas mortos.

Netanyahu também estava, outras dezenas de líderes também estavam, mas Obama, o chefe da nação mais poderosa do mundo, ele não estava.

Li no Wikipedia que o Abbas tem um doutorado em História. Ele o obteve na Universidade de Moscou, na época da Guerra Fria. É provável que tenha elaborado cuidadosamente sua tese, ajustando seus argumentos com as ideias da casa, mas, de qualquer modo, Abbas, o doutor em História, mostrou ter algum senso histórico.

Parece que o mundo de 2015 é um tantinho diferente daquele de 2001. Se a derrubada das torres mudou a história, quem sabe se agora não seria a vez de se mudar o mundo?

Ah, mas vamos com calma nesse andor. O santo é de barro e viu que faltou alguém na marcha de ontem. 

Para mudar o mundo é preciso muita, mas muita vontade política.
Despertar essa vontade requer mais do que o repúdio ao terrorismo; requer a percepção de que a humanidade precisa mesmo viver em paz.

Ontem, os líderes de vários países e até mesmo os da Palestina e de Israel marcharam juntos pela paz em Paris; o dos EUA não veio. 

Não precisava ser Charlie nem referendar as grosserias dos cartunistas, mas Barack Hussein podia ter comparecido à marcha. A presença do homem mais poderoso do mundo. ontem em Paris, poderia prestigiar, quem sabe, a ideia de união dos povos contra o terror e a da harmonia entre as nações. 

Acho que Oslo poderia repensar aquele prêmio concedido ao Obama.  É que fica meio mal quando um Nobel da Paz perde uma chance de mudar o mundo, nem que seja um pouquinho só.

É ruim, heim?

O que fazer com a África?
Eis uma pergunta difícil e cretina.
O conceito da autodeterminação dos povos dá abrigo ao pior da espécie humana. Atos os mais cruéis são tão comuns que nem chocam mais. Não há punição, nem barreiras morais aos criminosos e quando a França intervém no Mali, justamente para impedir o crescimento da Jihad islâmica, os intelectuais e jornalistas franceses acusam seu governo de imperialista.
Para piorar o cenário, os EUA, até outro dia os líderes da civilização ocidental, resolveram sair de cena e deixar a turba se matar sozinha.
É difícil perguntar o que fazer diante de um massacre na Nigéria, pois não há resposta isenta de críticas. 
Intervir significa ser imperialista; não fazer nada é deixar que o mal se perpetue impunemente.
É errado se meter na vida alheia, mas é pior ser omisso.
O lógico nesses casos seria fazer o menos errado.
Mas, daí vem a cretinice. Fazer o menos errado é gastar dinheiro do povo para resolver o problema dos outros. O estimado público eleitor quer pão e circo, mas reclama do preço do ingresso.
Enquanto os leões comerem os cristãos na arena, tudo bem; mas sempre há o risco de um animal desses pular para a arquibancada.
Na semana passada, o bicho feio e cruel do terrorismo resolveu dar um passeio em Paris. Depois disso, demos um pouco mais de atenção aos nigerianos devorados na arena. 
Mas, como diria o filósofo Bambam: "faz parte!"
Sendo otimista, digo a mim mesmo que a tragédia pode ter um lado bom se a política  aceitar o desafio de responder mesmo as mais difíceis e cretinas perguntas.
Mas aí, me estabanco na realidade e cito outro filósofo: "é ruim, heim?"

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ovos quebrados

O atentado nos lembrou mais uma vez da ameaça do terrorismo islâmico, que se desdobra há décadas em cenários e ocasiões diferentes. 
O Brasil, situado a dez mil quilômetros do foco do problema, não tem sido alvo dos ataques. Mesmo assim, nossa vizinha Argentina recebeu um duro golpe vinte anos atrás, com as bombas na Associação Mutual Israelense Argentina (AMIA), no coração da numerosa comunidade judaica de Buenos Aires. 
O atentado na AMIA foi atribuído a um grupo iraniano; sua motivação visou claramente atingir Israel.
O massacre da última semana, por sua vez, visou castigar os cartunistas da Charlie Hebdo e reforçou a mensagem de que ninguém pode se julgar livre do terrorismo islâmico.
A questão da imigração islâmica na Europa favorece, mas não é a causa dos atentados terroristas. Os imigrantes são uma variável da equação que não pode ser suprimida. Eles não regressarão a seus países de origem e qualquer tentativa de segregá-los apenas provocará novos focos de tensão.
A política tem que estabelecer metas que favoreçam a harmonia entre as comunidades e dificultem o surgimento do radicalismo. 
O terrorismo é um fenômeno muito amplo e seu combate exige determinação política. Em resumo, será preciso buscar novas soluções e aceitar as consequências da luta. Isso pode incluir alianças com velhos adversários no âmbito político ou mesmo a adoção de métodos de investigação hoje inaceitáveis.

Novas alianças

Passamos os últimos dias discutindo os motivos e as consequências do atentado. Grupos políticos aproveitaram o acontecimento para reforçar suas posições e atacar seus adversários. Debatemos também quais os limites aceitáveis da liberdade de expressão. Alguns articulistas alinharam-se incondicionalmente ao Charlie Hebdo com o propósito de consolidar suas convicções contra quaisquer tentativas de cerceamento do trabalho jornalístico.
Em resumo, vimos o fato e o interpretamos conforme nossa visão e interesses como integrantes da civilização ocidental, aquela resultante da matriz histórica europeia e de fundamento moral judaico-cristão.
Nos esquecemos de ver como os adversários de nossa civilização nos veem. Nesta semana, fomos lembrados, mais uma vez, que há quem nos odeie.
Há fortes indícios de que o atentado da última semana tenha sido cuidadosamente planejado e executado, como parte de um amplo movimento orquestrado desde o mundo islâmico, por grupos como a Al Qaeda ou o Estado Islâmico, para citar apenas os mais evidentes.
Quando o Irã e o Hamas oferecem sua solidariedade às vítimas do atentado, novamente há os que repetem o erro  de recusar esse apoio escorados na visão e interesses puramente ocidentais.
O apoio oferecido evidencia fissuras no movimento contra o ocidente. Mais do que isso, é uma oportunidade de integração de esforços em busca de objetivos comuns, o que poderia redundar, até mesmo, na solução de alguns focos de conflito no Oriente Médio, como o palestino e israelense.
Na pior das hipóteses, a divisão dos antagonistas permite melhores condições de batê-los por partes.
Não é hora de recusar alianças. Os inimigos do ocidente ou estão ativos ou dormentes, infiltrados entre os milhões de imigrantes que buscam apenas um espaço de paz para trabalhar e prosperar. O Ocidente não os vencerá sozinho, pelo menos não sem provocar fissuras nos fundamentos de sua civilização.
O terrorismo de fundamento islâmico intensificou suas ações após o fim da guerra fria, como uma nova modalidade de antagonismo ao predomínio econômico e político do capitalismo liberal. Ele cresceu com o vácuo de poder surgido com a derrocada do nacionalismo árabe da década de sessenta. Hoje, atreve-se a desafiar as estruturas de poder no Oriente Médio e ameaça o Ocidente.
O combate a essa ameaça requer abordagens novas, mesmo que implique em alianças com velhos adversários. O que não se pode fazer é focar na tática e esquecer a estratégia. Os interesses ocidentais são mais amplos que derrotar o terrorismo; eles devem buscar sobretudo a paz e melhores condições de vida para todos.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Liberdade, mas.

Liberdade de expressão é bonito, lindo, mas.
E quando o texto ofende? O ofendido deve calar-se para não diminuir a liberdade do ofensor?
O caluniado deve sujeitar-se à calúnia do caluniador? O injustiçado acomodar-se com a injustiça?
Que liberdade é essa que se julga infinita e absoluta?
É a liberdade do mais atrevido, do algoz, do opressor, mas.
O ofendido, caluniado e injustiçado são prisioneiros da liberdade infinita do ofensor, caluniador e do injusto.
A Lei existe e todos são iguais, mas.
Tem gente que se acha mais igual que os outros.
Os terroristas são monstros, inumanos, desprezíveis, mas.
Os cartunistas mortos desenhavam não para ridicularizar quem tinha uma visão de mundo diferente da sua.
Eles eram indefesos e foram mortos, mas.
Não eram inocentes.
Hoje, sou francês, sou ocidental, mas.
Je ne suis pas Charlie.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Charlie Hebdo

O Charlie Hebdo revoltava muita gente, como o Porta dos Fundos também revolta por aqui, desrespeitando a religião de milhões de brasileiros. 
Os cartunistas não deveriam mesmo ser assassinados. Sua morte os transformou em mártires da liberdade de expressão, quando mereciam mesmo era serem condenados a pagar indenizações aos ofendidos e a receber o desprezo do público.

Somos todos franceses?

Somos mesmo todos franceses.
Notei isso agora há pouco, quando fiz o exame para renovar a carteira de motorista e o médico puxou um papo comigo sobre os atentados em Paris. Ele disse que, não demora muito e haverá retaliação contra os muçulmanos, algum louco explodirá uma bomba numa mesquita lotada, retribuindo o terror que agora nos aflige.
Pode parecer, mas o médico não disse bobagem alguma. Há esse perigo, sim, e é exatamente isso o que os extremistas querem: uma guerra santa entre o ocidente e o oriente.
O ocidente corre o perigo de se consumir numa vingança doentia, contra gente de bem, que apenas quer paz para trabalhar e prosperar.
Nós, os ocidentais, nos chocamos com a morte de uma dezena de cartunistas em plena Paris. A tragédia consumiu as primeiras páginas dos jornais e dos sites de notícias. 
Foi mesmo algo inusitado, não a violência em si, mas pelo fato das vítimas trabalharem na imprensa e pelo local do atentado, no coração da capital francesa.
Nossa indignação vem muito da sensação de insegurança, pelo atrevimento dos terroristas em querer impor a nós, ocidentais, suas regras de conduta.
Somos, então, todos franceses, abaixo o terrorismo e viva a liberdade de expressão. 
Mas também me ocorreu que não vi em site algum a notícia que escutei agora há pouco na CBN.
Na Nigéria, o Boko Haram intensificou seus ataques contra a população local. Desde o dia 6, véspera do atentado contra o Charlie Hebdo, mais de dois mil nigerianos morreram pelas mãos dos extremistas islâmicos.
Observo que dois mil nigerianos mortos não mereceram uma vírgula nas primeiras páginas da imprensa ocidental. Não houve passeatas e ninguém apagou as luzes da Torre Eiffel.
Ah, dirão alguns, massacres na África acontecem todo dia, não são notícia. Além disso, nigerianos são muçulmanos e negros. Então, eles que se matem, não é mesmo?
Nessa hora, é mais chique sair às ruas indignado com uma plaquinha Je suis Charlie do que com um cartaz contra o Boko Haram. Até porque tem muita gente que defende o inalienável direito da autodeterminação dos povos, mesmo que seja para se exterminarem uns aos outros.
Sim, eles podem se matar a vontade, mas desde que seja longe daqui.
Vale lembrar que na própria França, nos anos setenta, houve quem prestigiasse Pol Pot e seu original Khmer Vermelho, vistos como herois socialistascna luta contra o imperialismo. Era tudo muito lindo e heroico até que estourasse a notícia dos milhões de mortos cambodjanos e das loucuras cometidas por quem apenas queria transformar o mundo eliminando seus adversários.
O fato é que não se pode mesmo tolerar o terrorismo, seja ele contra cartunistas ou simples aldeões de um remoto vilarejo africano.
Nesse sentido, fez bem a França ao intervir no Mali. O governo francês, naquele episódio, mostrou maior grandeza moral que parte dos jornalistas de sua terra.
Não cabem mais as críticas daqueles que acusam o ocidente de criar monstros para combater monstruosidade. Os massacres em Paris e em tantos locais do mundo mostram que os monstros existem, sim; nós é que somos seletivos em enxergar só as monstruosidades que nos atingem diretamente.

Tortura

É emblemático que os atentados ocorram na França, berço do liberalismo, baluarte do socialismo, tão avançada na defesa dos direitos do homem.
A mesma França que, nas décadas e sessenta e setenta,  permitia plena liberdade para que os terroristas latino americanos planejassem e financiassem suas ações no Brasil e na Argentina. 
A maravilhosa França foi alvo do terrorismo de assassinos fanatizados por uma ideologia que nós ocidentais pouco compreendemos.
As notícias apontam que a polícia cercou os assassinos do Charlie Hebdo, que estariam fortemente armados e mantendo inocentes como reféns.
Ao mesmo tempo, outros terroristas teriam assassinado policiais e estourado bombas no mercado judeu em Paris.
O que fazer?
Dialogar?  E cabe algum diálogo com fanáticos?
A viúva do Charb reclama, com toda razão, que o governo francês mantinha os terroristas sob vigilância e, mesmo assim, não conteve os atentados.
Daí me lembro do 1984, em que George Orwell foi absolutamente claro ao afirmar a eficiência da dor física em quebrar a resistência do homem. Orwell lutou na guerra civil espanhola e entendia sobre a crueldade humana.
Mas, e daí? Algum agente público francês se atreverá em torturar um terrorista aprisionado? Duvido, mesmo se isso significar a morte de dezenas de reféns inocentes. Que morram os reféns, então.
Nem sempre o Ocidente deu tanta importância para a ética no combate ao inimigo.
Na segunda guerra, os britânicos lançaram bombas e mais bombas sobre cidades alemãs e francesas, visando destruir a estrutura de guerra inimiga. Os bombardeios atingiam fábricas e instalações militares,  mas também hospitais e residências, matando milhares de civis, idosos, mulheres e crianças, frágeis e absolutamente inocentes. Mas, como diziam então, guerra é guerra, o que justificava os tais danos colaterais.
Tudo muito eficaz. A liberdade estava sob risco, o que permitia os atos mais crueis em sua defesa.
Hoje, a chamada guerra ao terror encontra limitações em sua liberdade de ação. Não se admite abusos como a tortura, mas o fato é que os terroristas também pouco temem a punição pelos seus atos.
Quem terá a coragem de defender a tortura? Penso que ninguém. Depois do massacre, o premiê Hollande ainda pôde afirmar que doze morreram mas que dezenas de outros haviam sido salvos. Será mesmo?
Dois dias depois, a polícia francesa não prendeu ainda os assassinos do Charlie Hebdo e Paris tem sido alvo de outros ataques terroristas. Vamos ver o que acontecerá se as coisas piorarem. Talvez, então, os humanistas tenham que admitir que se quebre alguns ovos.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Trem para Tigre

Hoje é domingo e pegamos o trem pata o Tigre.
Parece que a viagem durará uma hora.
O trem é moderno, limpo e confortável, o que é um ponto a favor do governo argentino.
Preciso destacar que o transporte urbano de Buenos Aires funciona bem.
O trem cruza a região metropolitana de Buenos Aires. Passamos por uma grande favela, mas a maior parte do tempo tenho visto cidades limpas e de samente povoadas. Há muros com pichações, mas que não se estendem além disso. O mato está cirtado e as ruas livres de lixo.
O trem segue cheio, mas não lotado. Todos se portam bem, em silêncio.
Noto que boa parte dos argentinos guarda uma descendência indígena. Não apenas os mais pobres, mas muitos da classe média. 

Zoo de Palermo

O preço é absurdamente caro. Foram 130 pesos para cada adulto. As crianças não pagam, mas o ingresso é caríasimo para os adultos.

O zoo se limita com ruas residenciais, formando um contraste curiosode altos edifícios cercando jaulas de animais.

Neste sábado de sol, muitos argentinos levam suas crianças para ver os animais. Nos muros do zoo, algum idiota escreveu palavras de ordem reclamando do cativeiro dos bichos. Pelo que vi, o zoo é antigo e um tanto decadente, mas funciona bem.