Isabela,
fiquei
surpreso quando li, na mensagem do celular, o pedido de sua mãe para que eu lhe
escrevesse uma carta. Logo percebi que, para cumprir a tarefa, teria que refletir
um pouco sobre o tempo. Então, me espantei de novo, dessa vez com o rumo dos meus
pensamentos.
Eu me dei
conta que o conceito de tempo não se explica somente pelas leis da física, pela
mecânica que rege o universo ou pelo relativismo do movimento dos objetos.
Certamente,
o tempo é mais do que a simples contagem dos segundos, dias ou horas e mesmo as
mais complicadas fórmulas matemáticas não alcançam toda a sua complexidade.
É espantoso
que o tempo, que é tão complexo, possa ter outra definição, bem mais simples,
mas também profunda. O tempo que realmente importa é apenas a coleção das marcas
que a vida deixa quando passa.
Depois de
pensar nisso, é que comecei a escrever a
carta. Então, a minha sobrinha Isabela, que já é uma moça, vai para um encontro
de jovens neste fim de semana.
Mas como isso
é possível se eu, outro dia mesmo, também fui a um encontro igualzinho a esse? Peraí. Quando foi que
isso aconteceu mesmo? Ah, foi em 1982.
Trinta anos
atrás, eu, que era jovem, fui a um encontro com outros jovens. Arrisco a dizer
que eramos gente quase igual aos amigos de minha sobrinha.
Mas porque
falo disso tudo? Para que tanta lenga-lenga sobre tempo e jovens?
Talvez seja
porque, para o jovem, o tempo que se tem pela frente é tão longo que parece
infinito.
O jovem é
impaciente e, de tanto ouvir que é preciso ter calma, que ele tem todo o tempo
do mundo pela frente, acaba se convencendo de que é imortal e indestrutível.
Não, nada é
eterno, nem mesmo o jovem. A juventude também acaba, mas é insubstituível.
Gosto de lembrar
de como eu era nos meus dias de jovem. É bom recordar o espírito solto e
ansioso por ter diante de mim tantas e tantas possibilidades. Sei que não sou mais o que fui, mas aquilo em que
me tornei.
Pelo tempo
das minhas lembranças, aquele encontro de trinta anos atrás foi tão bom que
parece que aconteceu ontem.
Então,
Isabela, tomara que você aproveite esse seu encontro de jovens tanto quanto eu
aproveitei o meu. Quem sabe se algum dia ele não vai lhe inspirar também a
filosofar um pouco sobre a vida e o tempo?
Beijos do
seu tio Clóvis.
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