quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Carta para Isabela



Isabela,
fiquei surpreso quando li, na mensagem do celular, o pedido de sua mãe para que eu lhe escrevesse uma carta. Logo percebi que, para cumprir a tarefa, teria que refletir um pouco sobre o tempo. Então, me espantei de novo, dessa vez com o rumo dos meus pensamentos. 

Eu me dei conta que o conceito de tempo não se explica somente pelas leis da física, pela mecânica que rege o universo ou pelo relativismo do movimento dos objetos.

Certamente, o tempo é mais do que a simples contagem dos segundos, dias ou horas e mesmo as mais complicadas fórmulas matemáticas não alcançam toda a sua complexidade.

É espantoso que o tempo, que é tão complexo, possa ter outra definição, bem mais simples, mas também profunda. O tempo que realmente importa é apenas a coleção das marcas que a vida deixa quando passa.

Depois de pensar nisso, é que comecei  a escrever a carta. Então, a minha sobrinha Isabela, que já é uma moça, vai para um encontro de jovens neste fim de semana.

Mas como isso é possível se eu, outro dia mesmo, também fui a um  encontro igualzinho a esse? Peraí. Quando foi que isso aconteceu mesmo? Ah, foi em 1982.

Trinta anos atrás, eu, que era jovem, fui a um encontro com outros jovens. Arrisco a dizer que eramos gente quase igual aos amigos de minha sobrinha.

Mas porque falo disso tudo? Para que tanta lenga-lenga sobre tempo e jovens?

Talvez seja porque, para o jovem, o tempo que se tem pela frente é tão longo que parece infinito.
O jovem é impaciente e, de tanto ouvir que é preciso ter calma, que ele tem todo o tempo do mundo pela frente, acaba se convencendo de que é imortal e indestrutível.

Não, nada é eterno, nem mesmo o jovem. A juventude também acaba, mas é insubstituível.

Gosto de lembrar de como eu era nos meus dias de jovem. É bom recordar o espírito solto e ansioso por ter diante de mim tantas e tantas possibilidades. Sei  que não sou mais o que fui, mas aquilo em que me tornei.

Pelo tempo das minhas lembranças, aquele encontro de trinta anos atrás foi tão bom que parece que aconteceu ontem.  

Então, Isabela, tomara que você aproveite esse seu encontro de jovens tanto quanto eu aproveitei o meu. Quem sabe se algum dia ele não vai lhe inspirar também a filosofar um pouco sobre a vida e o tempo?  

Beijos do seu tio Clóvis.

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