sábado, 11 de agosto de 2012

IME

Trinta anos atrás, fiz o concurso do IME e foi uma dureza. Frequantava um bom colégio, estudava muito e meu objetivo era passar na UnB. A prova do IME era apenas uma etapa de minha preparação. Obviamente, não deu certo. Entrar no IME requeria muito mais do que ser um bom estudante.

Anos depois, pelas voltas da vida, acabei ingressando no IME e, durante cinco anos, me matei de estudar. Naquele instituto, basta a reprovação numa única matéria para o aluno ser sumariamente desligado do curso. Ali, não há  repetência, aproveitamento de crédito, repescagem, piedade ou misericórdia. Via de regra, as provas são difíceis e exigem muita dedicação.
O aluno aprende, mas tem que ralar. Ele precisa dedicar-se, mas só conseguirá concluir o curso se tiver uma boa base.
No primeiro ano do básico, havia um garoto alto, magrinho,  espinhento, com dezesseis anos de idade. Ele era pobre, negro, morava em Nilópolis e dava um duro danado para chegar no horário das aulas. Aquele nerdezinho simplesmente foi, durante boa parte daquele ano, o primeiro aluno da turma.
O geniozinho negro e pobre não se beneficiou de nenhuma cota, mas de sua dedicação e talento. Evidentemente, ele não veio do zero absoluto, mas ninguém poderia duvidar de seus méritos. Todos nós, mesmo os oficiais mais velhos, o respeitávamos.
Para falar a verdade, a maioria de meus colegas do IME morava mesmo era no subúrbio do Rio. Eram adolescentes que não tinham grana em casa, mas muita garra para vencer na vida.
Hoje, o IME tem alunos e alunas, mas o estrato social é o mesmo, com a diferença que há mais gente de fora do Rio de Janeiro, com um destaque para os cearenses.
Essa turma se mexe para se manter e conseguir concluir o curso. Realizam uma trajetória igual à dos antigos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, que funcionava onde hoje se situa a Praça General Tibúrcio, cento e tantos anos atrás. O IME segue as tradições do Exército.
Ninguém veio da cota; as provas valem de zero a dez; quem tem nota boa passa; quem não tem vai embora.
Conto essa história para adicionar meu argumento na questão das cotas. A reserva de vagas nas universidades federais para alunos oriundos da escolas públicas pode ser uma medida muito correta, mas sozinha não resolverá nada. O grande perigo dessa medida é que ela derrube a qualidade da universidade pública.
Muitos apontam a contradição no Brasil dos alunos ricos ingressarem nas universidades públicas, restando aos mais pobres os encargos de pagar caro pela sua educação em instituições privadas. Eu digo que não é bem assim. As greves nas universidades federais já levam aos estudantes de maior posse a preferirem as boas faculdades particulares, onde têm maiores garantias de concluir seu curso com um bom ensino e no prazo previsto.
É muito importante fazer um bom curso de graduação. Isso depende do nível de ensino e de exigência das universidades, mas muito mais da dedicação e talento dos alunos.
Costumo dizer que é o aluno quem faz a universidade.
Assim como meus colegas do subúrbio, os aspirantes a uma boa formação acadêmica têm que estudar muito, mas também precisam de apoio e seriedade. Sem isso, não há chance de sucesso.

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