sábado, 23 de junho de 2012

Tempestade


Houve quase uma unanimidade do legislativo paraguaio em sua decisão de impeachment do presidente Lugo e, até onde sei, todos os congressistas também foram eleitos pelo mesmo povo que elegeu o ex-presidente. Esse fato tem sido pouco destacado pela mídia e pelos doutos analistas políticos que colocam suas caras enfeitadas sob os holofotes da grande imprensa.
Geográfica e historicamente, Brasil e Paraguai compartilham muitos aspectos comuns. Claro que há diferenças de perspectivas, inclusive as relacionadas à guerra que travamos no século XIX, mas posso dizer que pertencemos à civilização ocidental e temos cromossomos comuns pela nossa mesma origem ibérica. 
Em resumo, nosso vizinho é outro país, mas um país bem parecido com o nosso. Concluo que podemos, então, ter um bom entendimento do que se passa por ali. Digo isso porque vale a pena acessar os periódicos paraguaios e verificar os comentários que seus leitores postaram. Busquei as publicações de ontem e não encontrei muitos textos defendendo o ex-presidente. O que percebi de minha leitura foi que muitos paraguaios estão indignados com a intromissão das líderes dos países vizinhos em seus assuntos internos. Lá, como aqui, muitos se indignam com a maneira de se tratar o certo e o errado.
O que percebo disso tudo é que há setores ideológicos que pensam ser os arautos da pureza. Não titubeiam em chamar-se a si mesmos de progressistas e aos outros de retrógrados. Para eles, houve uma usurpação; um golpe da direita reacionária.   Os ditos progressistas não levam em conta os leitores dos jornais, os que se manifestam nas colunas, os que reclamam contra seus métodos desastrados e autoritários
Já disse antes por aqui que os governantes devem irradiar generosidade e transbordar honestidade, porque política não é guerra, mas a arte da confrontação.
Os que nos governam, governam a todos nós, tanto aos que votaram, como aos que não votaram em seus partidos. Política não é propriamente acomodação, mas, sobretudo, respeito aos contrários e compromisso com as instituições. Assim, não pode haver espaço para um governante que insiste em governar sozinho, desconsiderando as opiniões contrárias, ainda mais quando ele não tem maioria no Congresso. Ontem, houve um rompimento. Talvez seu o maior pecado desse processo tenha sido sua rapidez, mas tenho minhas dúvidas.  
É que nós e os paraguaios somos vizinhos, temos muito em comum, mas sabemos pouco do que ocorre no outro lado da fronteira. Talvez a ruptura que tanto nos assustou seja o resultado de uma crise que já vinha se acumulando há muito tempo. Daí, porque não vimos as nuvens negras no céu, acabamos nos assustando com a violência da tempestade que chegou. 

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