quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Respeito


Sempre tive muito claro a importância de se respeitar os mais velhos. Quando era aspirante, dedicava especial deferência a dois militares de minha companhia, um primeiro-sargento e um subtenente. Pela hierarquia, eu era mais antigo que ambos, que, entretanto, eram da mesma geração de meu pai.
Não era apenas uma questão de mais ou menos anos de idade. Por serem mais experientes, eles controlavam seus impulsos e mantinham sua compostura. Eram muito corretos, dedicados e disciplinados. Por isso, eu, na época um aspirante de vinte e um anos, me espelhava em sua conduta para me corrigir nas inúmeras besteiras que cometia. Eu era impetuoso demais e sábio de menos.
A recente greve da PM da Bahia me fez lembrar daqueles dois militares. Jamais os vi reclamar de seus superiores ou cometer uma transgressão pequena que fosse. E sei que ambos viviam com muita dificuldade.
No Exército, não há quem ganhe pior que os primeiro-sargentos e os subtenentes. Em geral, eles contam com mais de vinte anos de carreira, têm filhos na universidade e uma pesada carga para o sustento de sua família. Pela sua experiência e responsabilidade, esses profissionais são muito mal remunerados.
No mesmo quartel, havia um outro primeiro-sargento que uma vez me causou um grande problema. Estávamos de serviço e ele apareceu na revista do recolher com fortes sintomas de embriaguês. Esperei a formatura terminar para admoestá-lo e recolhê-lo ao seu alojamento. Quis me enfrentar, mas me mantive firme e, como resultado do inevitável processo disciplinar, ele foi punido. Depois, soube que ele havia sido um bom militar até que problemas pessoais o levaram ao alcoolismo.
Certamente, aquela situação de meados da década de 1980 se repete vinte e tantos anos depois nos tantos quartéis deste País.  A profissão militar não é fácil e a remuneração insuficiente certamente é um fator agravante para quem não tem forças para enfrentar os problemas da vida. Diante disso, alguns recorrem ao álcool, às drogas ou simplesmente desabam.
Felizmente, quando lembro dos meus tempos de aspirante, visualizo o primeiro-sargento e o subtenente de minha companhia, homens corretos e profissionais exemplares. Até hoje, já coronel, menos impetuoso e mais sábio, tento ser tão bom como aqueles dois.

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