domingo, 23 de outubro de 2011

Chilenas

Já compareci antes neste blog para malhar os chilenos. Realmente, o povo daqui é muito pouco flexível e merece as minhas críticas. Acho que é coisa de gente da montanha. 

Malhei os chilenos, mas tenho que reconhecer que eles são muito bons. É gente trabalhadora, que respeita o próximo e cuida do que é  patrimônio de todos.

Hoje, levei a família ao Cerro Santa Lucia. Fomos de metrô, em trens absolutamente limpos, sem sujeira no chão, sem aquelas pixações horrorosas nas paredes. No Cerro, ninguém gritando, ninguém furando fila, ninguém cuspindo no chão. Que diferença do Brasil!

A turma daqui é bitolada, mas é gente boa. Os chilenos são simpáticos e prestativos. Depois de três meses, já admiro as mulheres chilenas. Elas são bem baixinhas, mas bonitinhas. Os homens são horrorosos, mas as crianças são lindas. Dá gosto de vê-las nos trens, nos parques, nas ruas. Os pais carregam seus filhos para todo lugar, sem estresse, o que é muito legal.

Quer saber? Tenho vergonha da baixaria que aprontamos em nossa terra. Acho que temos muito que aprender com o pessoal daqui.

Outro recado. Estamos em alta aqui no Chile, o que é um verdadeiro convite para a arrogância. Não caiamos nessa armadilha. Temos é que ser humildes e mostrar para todo o mundo que o brasileiro é cordial e amigo.  Assim, conquistaremos parceiros para toda vida.

Estamos na noite de um domingo que foi lindo, quente, ensolarado. Talvez por isso eu esteja de bom humor, satisfeito de estar vivendo por aqui. 

Acho que sentiremos saudades do Chile.

Binladaran o Kadafi

Engraçado. Na época que mataram o Bin Laden, li um montão de artigos politicamente corretos reclamando da crueldade dos Estados Unidos em exterminar um sujeito desarmado. Tadinho do Bin Laden. Agora, quando mataram o Kadafi, tenho procurado ler os bacanas de sempre mas não consegui encontrar nenhum texto criticando a sua execução.

Devo mesmo estar mal informado. 

Ah, já sei. É que se for para malhar os yankees, aí pode; mas se for para malhar os amigos dos amigos, aí não pode. Tá explicado, então.

Só não venham me dizer que o Bin Laden morreu por ordem de um presidente que tinha a obrigação de levá-lo a julgamento; enquanto o Kafafi foi morto por vontade popular. Não me digam isso, pois estou meio cansado de bacanas tentando me convencer do que é certo ou errado.

Controle civil

Estou cansado de ler artigos e mais artigos de autores brasileiros reclamando da suposta falta de controle civil sobre a atividade militar. Mas como, ô cara pálida? 

Para começar, nada se compra no quartel que não seja em perfeita conformidade com a lei. Aliás, para ser bem sincero, as organizações militares são modelo quando se trata de aquisições de bens e serviços. Temos órgãos próprios de verificação de conformidade ALÉM do controle do TCU. Todos usamos SIAFI, Comprasnet e se pode obter as informações bem detalhadas.

Vamos continuar, tratemos da transparência. Ora, ninguém é mais transparente que as Forças Armadas. Qualquer um neste planeta pode ler o boletim do Exército. Basta ter um computador e um modem. Além disso, o site do Exército publica todas as atividades que ocorrem na Força. Qualquer um pode ler ou, se preferir, ver e ouvir o que se passa na força

E quanto ao controle civil? Inicio dizendo que as Forças seguem o que a presidente ou o ministro da defesa determinem. Além disso, o princípio da disciplina IMPÕE obediência integral às leis. 

Quartel não é caixa preta, não! Para conhecê-lo, basta levantar o traseiro da cadeira e pedir para visitá-lo. Aí, fica difícil para quem não gosta de trabalhar. Felizmente, no Brasil milhares e milhares de jovens realizam seu serviço militar a cada ano. Essa turma sabe bem como a banda toca nos dias festivos no quartel.


Me pergunto qual será o controle que falta do civil sobre o militar. Será que essa corjalha de intelectualóides quer que o Exército seja como determinadas Polícias Militares, totalmente submissas ao fisiologismo partidário do governo da hora? É esse tipo de controle que eles querem? Parece que sim.

Ah, antes que alguém se ofenda com o parágrafo acima, pergunto se há alguma inverdade no que disse. Queria que todas Polícias Militares seguissem o padrão da PM de São Paulo, na minha opinião, a melhor do País. Mas não é assim. Infelizmente, já vi Policiais Militares que mancharam o nome de sua corporação, enchendo de vergonha aos homens de bem.

Para mim, fica parecendo que alguns imbecis da academia se fazem de bacana para a platéia, mas querem mesmo é botar a boquinha numa teta bem cheia, para mamar bastante, sem ter que suar a camisa. Fica fácil encher o saco dos leitores com ideias pré-fabricadas, que só revelam como ainda é alto o grau de preconceito de alguns professores universitários.

Para essa pilantralha, minha solene e sonora vaia.

Chaves de fenda

Alguns autores dizem que o aparato militar é um instrumento da Defesa e existe para servir à Sociedade,  e não o contrário. Esse é mais um equívoco de nossa intelectualidade. 

Farei a seguinte analogia. Comparo o poder militar a uma chave de fenda, ou seja, a uma ferramenta com um propósito muito específico. Muitos pensam que as Forças Armadas servem apenas para a Guerra e nada mais, Então, essa analogia serve a esse tipo de pensamento.

Contudo, podemos fazer duas considerações a respeito de chaves de fenda. Primeiro, que, bem ou mal, nós as utilizamos para diversas outras finalidades, como para abrir embalagens plásticas, dar marteladas em pregos ou para raspar a tinta da parede.

Em seguida, lembremos de um aspecto fundamental. As chaves de fenda só funcionam com a força da mão de seu dono. Ou seja, o dono da chave tem que querer usá-la e, para isso, tem que fazer força. Senão, a chave de fenda será apenas uma ferramenta inútil.

O mesmo se passa com o poder militar, que provê defesa à toda Sociedade mas que, para isso, depende da vontade política e do empenho de toda nação.

Como corolário, afirmo que a Defesa é um assunto que ultrapassa as ações de cunho somente militar e interessa a toda sociedade.

Aos fracos de pensamento lhes deixo minha solene e sonora vaia.

sábado, 22 de outubro de 2011

Coro dos ignorantes

Estou no Chile, estudando política e estratégia. Por isso, tenho lido muito sobre nossa estrutura de defesa. Um dos autores que li, o diplomata João Paulo Soares Alcina Júnior, publicou o artigo Dez Mitos sobre Defesa Nacional do Brasil. Um desses supostos mitos é que o orçamento das nossas forças armadas é baixo. Para ele, o Brasil gasta muito em defesa e, em termos absolutos, nosso orçamento seria o décimo sexto mais alto do mundo.

O autor cita que é alto o percentual gasto com pessoal ativo, reservistas e pensionistas no Brasil, que alcança quase a 90% do total de gastos militares. Esse percentual é muito maior, por exemplo, que o dos Estados Unidos, onde o pagamento de pessoal representa em torno de 40% de seu orçamento de defesa.  Ele considera, portanto, que o problema de nossa defesa não seria o baixo orçamento, mas o fato dele ser destinado quase na totalidade para o pagamento de pessoal.


Eu discordo. Em primeiro lugar, o Brasil é a sétima economia do mundo e nosso orçamento deveria estar nessa mesma posição comparado com os demais. Somos o décimo sexto e não o sétimo maior orçamento. Portanto, gastamos pouco em defesa em relação aos demais países do mundo. 

Esse baixo orçamento se reflete exatamente no peso do pagamento de pessoal. Quem tem um mínimo de visão sabe que nosso pessoal ganha pouco. O salário de nossas praças é incompatível com o valor de seu trabalho. O mesmo se passa com os oficiais, cujo salário fica longe, muito longe, do percebido por outras categorias do serviço público. Recebemos uma fração do que é pago a, por exemplo, aos  funcionários do Judiciário. 

Por outro lado, ao nosso expediente diário se agregam horas e mais horas de serviço de escala, de trabalhos noturnos. É o preço da dedicação integral ao serviço, que aceitamos de bom grado.


O efetivo das Forças Armadas é pequeno. A proporção entre militares e população no Brasil é muito menor que a verificada na grande maioria dos países do mundo, inclusive em nosso entorno geográfico.

Os militares são poucos e não recebem salários altos, muito pelo contrário. Então, na verdade, o percentual de gastos com pessoal é elevado justamente porque o orçamento de Defesa no Brasil é baixo, muito baixo, baixísssimo.


Aquele mesmo autor prossegue seu texto criticando a existência do serviço militar obrigatório no Brasil. Eu considero que àquele diplomata lhe falta visão e lhe sobra preconceitos. Para começo de conversa, o serviço militar prepara reservistas, que são os recursos humanos que utilizaremos nos conflitos. 

O efetivo profissional das Forças Armadas é insuficiente para fazer frente a uma guerra. Num conflito de grandes proporções, há evidentes necessidades de recompletamento. Guerras matam e, se não tivermos reservistas, não poderemos substituir os soldados mortos no campo de batalha. 

Não se prepara soldados de um dia para o outro. Os reservistas são importantes para nossa defesa e precisamos conjugar sua preparação com o desenvolvimento de nossas habilidades para a guerra.

Por falar em guerras, é bom lembrar a todos que as forças armadas existem para evitá-las. Como existimos, não temos guerra. Aí, como não temos guerra, alguns se manifestam perguntando qual a razão de se gastar tanto em defesa. 

Infelizmente, há muitos que engrossam o coro dos ignorantes neste país. Aos que gostam de ouví-los, minha solene e sonora vaia.

Comportamento

As últimas notícias da mída brasileira dão conta de denúncias de corrupção envolvendo o titular do Ministério dos Esportes. Não entro no mérito se as acusações contra o ministro são, ou não, verdadeiras.
Apenas marco que seu comportamento nesta crise é acentuadamente distinto ao do Coronel Mário Sérgio, antigo comandante da PMRJ, que renunciou a seu cargo quando um de seus subordinados, a quem ele havia indicado a um importante comando na corporação, foi denunciado como participante na morte de uma juíza.
O coronel assumiu a responsabilidade que lhe cabia, e, no meu entendimento, sua atitude foi digna do respeito de todos.

sábado, 15 de outubro de 2011

Impostos

Estou no Chile, um país onde não há saúde nem educação pública, onde dez porcento da população retém metade da renda nacional.

Os chilenos vivem num país muito limpo e organizado, onde se paga pouco imposto, mas onde há pouca proteção social. Eles levaram o neoliberalismo às últimas consequencias, mas não tenho coragem de criticá-los.

No Chile, não há saúde nem educação gratuitos, mas os chilenos pagam poucos impostos. No Brasil, pagamos muito imposto, mas também não temos saúde e educação que valha todo o dinheiro que o governo arrecada.

Pergunto: e daí? Eu mesmo respondo: daí nada! O problema não é pagarmos muito imposto. O problema é não recebermos os serviços que pagamos.

O que o cidadão quer é ser respeitado. Pagar suas taxas e obrigações e ter o devido retorno. Ele quer que o dinheiro público seja bem aplicado e que o corrupto e o corruptor vão para a cadeia.

Na hora que as pessoas tiverem a percepção que os desonestos são punidos e que os serviços públicos são realmente prestados, garanto que diminuirá a rejeição por novos impostos.

Afinal, ainda há muitos brasileiros que precisam ser resgatados da miséria e dinheiro não nasce em árvores. Mas ninguém quer fazer papel de otário nessa história.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Feliz aniversário

Hoje, num seminário, uma importante figura política do Chile disse que a democracia é obra que nunca termina, que está sempre em elaboração. Gostei da frase e acho que ela tem a ver com o aniversário de nossa constituição.

Na época de sua elaboração, eu era um jovem que trabalhava de dia e estudava à noite. Não acompanhei as discussões que movimentaram a sua feitura.

Era um tempo em que computadores eram grandes máquinas que cabiam em amplas salas refrigeradas. A Internet não passava de um experimento. Talvez por isso, não tivesse tanta facilidade para acompanhar os trabalhos da constituinte, que, a bem da verdade, eram divulgados pela imprensa escrita, pelo rádio e pela televisáo.

Eu não gostava do Ulisses Guimarães e, por isso, antipatizei com a constituição que ele, com sua liderança, nos entregou.

Com o tempo, vi que o Ulisses, assim como todos os homens, tinha seus defeitos e qualidades. Sua obra, o tal livrinho verde amarelo que hoje podemos comprar nas bancas de jornal, possui suas falhas, sim, mas é a base de todas as leis. É bom conhecê-la. Melhor ainda é perceber que ela possui muitas e muitas virtudes. 

Como o político chileno, também acho que democracia é uma obra inacabada.  Aliás, essa é a graça de viver num regime democrático, com uma consituição imperfeita, mas de boas intenções.
 

Aniversário da Constituição.

Nossa constituição está de aniversário. Ela possui vários defeitos e, todos os anos, exatamente nesta mesma época, podemos ler matérias e mais matérias criticando-a.

Na época de sua elaboração, eu era um jovem tenente e me preparava para o concurso do IME. A pesada rotina da tropa e a dedicação aos estudos me impediam de acompanhar melhor as discussões que movimentaram a sua feitura. 

Quando pronta, por não gostar do Ulisses Guimarães, passei a minorar o valor de nossa constitiuição. Hoje, vejo que ela possui várias boas qualidades. 

Progredimos na consolidação das instituições. Para quem não sabe, a democracia é uma obra que nunca termina e dever ser continuamente aperfeiçoada.

Parabens, Brasil, por esse aniversário.