domingo, 27 de abril de 2014

Desemprego e desempregados

Pelo método de medir desemprego no Brasil, o desempregado é o sujeito que procura emprego e não acha. É diferente do método espanhol, que mede os desempregados pelo número de gente sem emprego.
Na Espanha, 25% da população está desempregada; no Brasil, um terço da população não tem emprego e a grande maioria desses nem quer se empregar.
O Bolsa Família dá de comer para muitos brasileiros acomodados com a pobreza. Essa turma pode ser preguiçosa, mas não é ingrata.
Por isso é que é tão difícil tirar do poder a cambada de ladrões que nos governa.

sábado, 26 de abril de 2014

Flores da democracia

Estou quase nos cinquenta e sou conservador. Não estranhem, isso não é uma confissão, mas um preâmbulo.
Conservadores, por definiçâo, não gostam de revoltas porque elas quase sempre destroem sem nada construir no lugar. Daí a minha antipatia inicial à primavera árabe, que eu via com o receio de quem já viu tantas outras rebeliões que não passavam de movimentos orquestrados por grupos de esquerda, tão totalitários e antidemocratas como as autocracias que ainda predominam no Oriente Médio. Mas, parece que há perfume em alguma brisa da primavera árabe. Seriam flores da democracia? De que democracia, então?
Seriam flores do tipo  da democracia que veio do pensamento iluminista europeu dos séculos XVII e XVIII? Ou será que a primavera árabe é mais um fenômeno da globalização dos desiludidos?
Ano passado, jovens protestaram nas ruas brasileiras, num movimento difuso, mas que certamente demonstrava insatisfação e desejo de mudança; na Europa, a juventude sem emprego ainda protesta contra a austeridade que equilibra economias mas destroi esperanças; no Oriente Médio, a revolta é claramente contra as ditaduras que sufocam qualquer suspiro por liberdade.
Os desiludidos estão nas ruas porque as promessas fáceis das esquerdas representaram em corrupção, ineficiência e autoritarismo.
O que se viu em Túnis parece com o que se vê no Rio, Madri ou Kiev.As flores da democracia exalam o perfume da democracia, que desperta desejos por mais liberdade, mais participação, mais honestidade e menos hipocrisia.
Por isso, mesmo conservador, mesmo antipático a revoltas, fico feliz por sentir o aroma perfumado dos ventos que começam a soprar do Oriente Médio.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Xadrez

Não entendo muito de xadrez, mas repito o que ouvi dizerem: quem estuda e treina muito xadrez se torna um bom … enxadrista.

Sei que oscrussos são bons nesse jogo e meus poucos lances no tabuleiro saíram a fórceps, depois de muita insistência de um tio que é …filho de russo.

A turma do Kremlin deve ser boa de xadrez, mas parece não entender bulhufas do tabuleiro do jogo político.

Tá certo que nessa história toda lá na Crimeia, os ucranianos cometeram seus pecados. No final de fevereiro, o governo e a oposição em Kiev haviam costurar um acordo para a crise. Bastava antecipar as eleições para deixar a solução bem encaminhada. Ora, pacta sund servanda, os pactos devem ser respeitados, mas não foi isso que aconteceu e a oposição derrubou o ex-presidente Yunokovych.

Bem, revoluções são revoluções e nelas não se costuma respeitar leis e menos ainda os pactos.Poderiam afirmar que a Rússia está tão somente reagindo à derrubada do antigo presidente, mas isso já não cola mais.

Os bambambans da diplomacia russa não enxergaram o obvio. Forçaram o jogo na Crimeia, precipitaram uma eleição para lá de fajuta e deixaram o Obama sem opções.

Não tinha necessidade disso. Um referendo minimamente honesto daria a Putin toda a legitimidade que ele precisava.

Mas, não. Ao invés de colher dividendos políticos, os russos preferiram a truculência. Ocuparam quarteis, botaram os cães de guerra nas ruas e patrocinaram eleições em urnas transparentes, com eleitores  votando sob a miracde fuzis. Que barbaridade!

Os enxadristas do Kremlin confundiram política com xadrez. Pensaram ter encurralado o adversário paracdar um xeque-mate, mas ficaram mesmo sem opções para sair da encrenca em que eles mesmos se meteram.

Um economista americano, ex-campeão de xadrex, sugeriuque Obama repitisse o que Kennedy fez cinquenta anos atrás com Krushov na crise dos mísseis, ou seja, que ele oferecesse uma saída honrosa aos russos.

Ah, isso seria um erro primário! Imaginem como ficaria ruim para o Obama aceitar que Putin usurpasse a Crimeia e ainda pagar uma compensação para a Rússia não invadir a Ucrânia. Como se diz por aqui, como é wue Obamacse explicaria em casa?

No atual momento do jogo, quem tem que encontrar a solução é o próprio Putin, não o Obama.Se fosse xadrez, o próximo lance seria dos russos. Eles é que têm que encontrar um modo de aliviar as sanções que o Ocidente merecidamente lhes impôs.

Querem se integrar á economia europeia? Então, comportem-se como gente civilizada, começando por respeitar o acordo que firmaram há pouco em Genebra.

Putin está numa posição pior no tabuleiro político e tem que arquitetar bem sua próxima jogada. Talvez tenha que demitir alguns de seus conselheiros. Convenhamos que nem será tão ruim assim para eles, que terão mais tempo para ocupar jogando xadrez.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Não existe vácuo de poder


A Rússia já se apoderou da Crimeia e mantém a Ucrânia sob pressão. Os russos afirmam não estarem dispostos a invadir o país vizinho, mas incentivam e coordenam ações de separatistas e pressionam por uma maior autonomia das províncias do leste ucraniano, locais onde há muita resistência ao governo de Kiev.

A Rússia não quer abocanhar novos territórios. Melhor do que isso é garantir permanentes focos de tensão entre os vizinhos. Putin aproveita-se de um momento de fraqueza de seu par norteamericano.

A morte de Bin Laden encerrou o ciclo das  batalhas contra o terrorismo e motivou a mudança do eixo da estratégia  dos EUA. Suas forças armadas têm se reduzido significativamente. Durante as campanhas do Iraque e do Afeganistão, o exército norteamericano 
atingiu um efetivo de 570 mil soldados na ativa. Com o fim daquelas campanhas, esse número cairá para pouco mais que 440 mil. 

Desde os anos 90, o Departamento de Defesa dos EUA baseava a estrutura de sua força no conceito de que deveria ser capaz de
atuar e prevalecer em dois teatros de operações simultaneamente. Com menos soldados ativos, esse conceito se modificou. Agora, suas forças armadas não buscam mais o predomínio e a vitória, mas apenas conter o avanço de seus eventuais adversários.  

Não são apenas os norteamericanos que estão mais fracos, mas também seus parceiros europeus da OTAN. Atingidos pela crise
econômica, países militarmente importantes como Alemanha, Inglaterra e França têm reduzido seus efetivos, desmobilizado unidades e se desfazido de numerosos equipamentos. Hoje, a OTAN tem menos capacidade de combate do que há poucos anos atrás.

Em 2004, ocorreu a chamada Revolução Laranja na Ucrânia, com claros objetivos de aproximação com o ocidente e de afastamento
da Rússia. Na época, o mesmo Presidente Putin não ensaiou os movimentos que hoje executa. Tal fato deixa claro que o verdadeiro fator da crise não é o desejo russo de maior autonomia para os ucranianos do leste, mas a exploração da oportunidade de um momento de fraqueza dos EUA e de seus aliados europeus.  

Essa fraqueza não é apenas militar, mas sobretudo de disposição política dos líderes norteamericano e europeus em defender os 
interesses de seus países. A recusa do parlamento britânico em autorizar um ataque à Síria no ano passado é um bom exemplo de que a Europa Ocidental está relutante em lidar com medidas extremas para a defesa de seus interesses.

Não existe vácuo de poder. Os EUA mudaram o foco de sua estratégia num momento de fraqueza política e militar de seus aliados europeus. Com isso, deixaram o campo livre para Putin, que avança aproveitando a retirada de seus oponentes. 

A Rússia ganha prestígio e se coloca numa posição em que conseguirá diminuir ou mesmo anular os impactos das sanções.
Num primeiro momento, tudo isso é ruim, principalmente para os ucranianos, e, em seguida, para os países do leste europeu.

O cenário que se vislumbra indica que o poder militar dos EUA e da OTAN é o único instrumento capaz de deter o avanço russo sobre seus vizinhos.