Estou quase nos cinquenta e sou conservador. Não estranhem, isso não é uma confissão, mas um preâmbulo.
Conservadores, por definiçâo, não gostam de revoltas porque elas quase sempre destroem sem nada construir no lugar. Daí a minha antipatia inicial à primavera árabe, que eu via com o receio de quem já viu tantas outras rebeliões que não passavam de movimentos orquestrados por grupos de esquerda, tão totalitários e antidemocratas como as autocracias que ainda predominam no Oriente Médio. Mas, parece que há perfume em alguma brisa da primavera árabe. Seriam flores da democracia? De que democracia, então?
Seriam flores do tipo da democracia que veio do pensamento iluminista europeu dos séculos XVII e XVIII? Ou será que a primavera árabe é mais um fenômeno da globalização dos desiludidos?
Ano passado, jovens protestaram nas ruas brasileiras, num movimento difuso, mas que certamente demonstrava insatisfação e desejo de mudança; na Europa, a juventude sem emprego ainda protesta contra a austeridade que equilibra economias mas destroi esperanças; no Oriente Médio, a revolta é claramente contra as ditaduras que sufocam qualquer suspiro por liberdade.
Os desiludidos estão nas ruas porque as promessas fáceis das esquerdas representaram em corrupção, ineficiência e autoritarismo.
O que se viu em Túnis parece com o que se vê no Rio, Madri ou Kiev.As flores da democracia exalam o perfume da democracia, que desperta desejos por mais liberdade, mais participação, mais honestidade e menos hipocrisia.
Por isso, mesmo conservador, mesmo antipático a revoltas, fico feliz por sentir o aroma perfumado dos ventos que começam a soprar do Oriente Médio.
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