quinta-feira, 17 de abril de 2014
Não existe vácuo de poder
A Rússia já se apoderou da Crimeia e mantém a Ucrânia sob pressão. Os russos afirmam não estarem dispostos a invadir o país vizinho, mas incentivam e coordenam ações de separatistas e pressionam por uma maior autonomia das províncias do leste ucraniano, locais onde há muita resistência ao governo de Kiev.
A Rússia não quer abocanhar novos territórios. Melhor do que isso é garantir permanentes focos de tensão entre os vizinhos. Putin aproveita-se de um momento de fraqueza de seu par norteamericano.
A morte de Bin Laden encerrou o ciclo das batalhas contra o terrorismo e motivou a mudança do eixo da estratégia dos EUA. Suas forças armadas têm se reduzido significativamente. Durante as campanhas do Iraque e do Afeganistão, o exército norteamericano
atingiu um efetivo de 570 mil soldados na ativa. Com o fim daquelas campanhas, esse número cairá para pouco mais que 440 mil.
Desde os anos 90, o Departamento de Defesa dos EUA baseava a estrutura de sua força no conceito de que deveria ser capaz de
atuar e prevalecer em dois teatros de operações simultaneamente. Com menos soldados ativos, esse conceito se modificou. Agora, suas forças armadas não buscam mais o predomínio e a vitória, mas apenas conter o avanço de seus eventuais adversários.
Não são apenas os norteamericanos que estão mais fracos, mas também seus parceiros europeus da OTAN. Atingidos pela crise
econômica, países militarmente importantes como Alemanha, Inglaterra e França têm reduzido seus efetivos, desmobilizado unidades e se desfazido de numerosos equipamentos. Hoje, a OTAN tem menos capacidade de combate do que há poucos anos atrás.
Em 2004, ocorreu a chamada Revolução Laranja na Ucrânia, com claros objetivos de aproximação com o ocidente e de afastamento
da Rússia. Na época, o mesmo Presidente Putin não ensaiou os movimentos que hoje executa. Tal fato deixa claro que o verdadeiro fator da crise não é o desejo russo de maior autonomia para os ucranianos do leste, mas a exploração da oportunidade de um momento de fraqueza dos EUA e de seus aliados europeus.
Essa fraqueza não é apenas militar, mas sobretudo de disposição política dos líderes norteamericano e europeus em defender os
interesses de seus países. A recusa do parlamento britânico em autorizar um ataque à Síria no ano passado é um bom exemplo de que a Europa Ocidental está relutante em lidar com medidas extremas para a defesa de seus interesses.
Não existe vácuo de poder. Os EUA mudaram o foco de sua estratégia num momento de fraqueza política e militar de seus aliados europeus. Com isso, deixaram o campo livre para Putin, que avança aproveitando a retirada de seus oponentes.
A Rússia ganha prestígio e se coloca numa posição em que conseguirá diminuir ou mesmo anular os impactos das sanções.
Num primeiro momento, tudo isso é ruim, principalmente para os ucranianos, e, em seguida, para os países do leste europeu.
O cenário que se vislumbra indica que o poder militar dos EUA e da OTAN é o único instrumento capaz de deter o avanço russo sobre seus vizinhos.
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