Fazem uns quinze anos que eu li o Chatô, do Fernando Moraes. De todas as
centenas de páginas do livro, o que se fixou na minha memória foi apenas o
trecho em que Assis Chateaubriand explica para um de seus empregados que, se
ele quisesse publicar sua opinião política, deveria comprar o seu próprio
jornal.
O Globo segue esse ensinamento a risca. Isso fica evidente na sua
campanha contra as armas. A edição de hoje publica o artigo “falta um efetivo
controle de armas”, assinado por Robert Muggah e Ilona Szabó de Carvalho.
Uma breve busca no google aponta que o primeiro autor é um estrangeiro,
especialista em segurança e que escreve sobre a violência no Brasil. A pesquisa sobre a Sra Ilona mostra que é uma
jovem brasileira, provavelmente niteroiense, especialista em relações
internacionais. Ambos os autores estão vinculados ao instituto Igarapé, uma ONG
fundada em 2008, com sede no Rio de Janeiro e que se propõe a tratar sobre política
sobre drogas nacional e global; prevenção e redução da violência; e assistência
internacional.
Até aí, tudo bem. Os autores seriam especialistas no assunto que
trataram. O verdadeiro problema está no artigo que escreveram. Para começar, eles
afirmam que há menos de 20 milhões de armas
de fogo em circulação no Brasil. Essa número pode estar tremendamente
inflado. As ONG não conseguem provar essa quantidade de armas, que está muito
acima do estimado pelos órgãos de controle do governo.
Os autores afirmam que apenas um terço das armas estaria licenciada e
registrada. A quantidade de armas ilegais me parece absurdamente alta, o que
reforça minha suspeita que a ONG infla sua estimativas para causar maior
impacto.
Depois, os autores dizem que a maioria das armas ilegais pertence a
colecionadores individuais, empresas de segurança privada e a facções
criminosas. Eis aí uma acusação perigosa. Os primeiros a violar a lei seriam os
colecionadores de armas e depois as empresas de vigilância. São duas categorias
de possuidores de armas sujeitos a fiscalização do Exército e da Polícia
Federal. De maneira enviezada, os autores acabam rotulando de incompetentes aquelas
duas instituições. Na minha opinião, foi um atrevimento irresponsável dos
autores.
O artigo continua e vai alimentando o alarmismo. Diz que o Brasil é um
dos maiores produtores e vendedores de armas leves e munições do mundo, ficando
atrás apenas de Estados Unidos, Itália e Alemanha. Para mim, essa informação é
boa. Uma pequenina parcela das armas produzidas no Brasil é vendida no mercado
interno. A grande maioria é exportada. Além disso, Itália e Alemanha, que
vendem mais que nossas empresas, não são países conhecidos por roubos ou homicídios
em seus territórios.
Então, o artigo é infeliz quando tenta vincular produção de armas à violência.
O texto louva o Estatuto do Desarmamento, de 2003, e diz que ele poupou
cerca de 5000 vidas no primeiro ano de sua implantação. Muito bem, parece um número
elevado, mas o mesmo artigo diz que cerca de 35000 homicídios no Brasil ocorrem
a cada ano com o uso de armas de fogo. Então, no ápice dos efeitos da campanha
de desarmamento, a supressão dos direitos do cidadão em possuir armas resultou
em apenas uma leve redução das mortes.
Fica evidente que desarmou-se o cidadão honesto e as mortes por armas de
fogo continuaram tão altas como antes.
Fui chefe de Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados e nunca
concordei com o uso indiscriminado de armas. Para mim, o cidadão tem todo o
direito em possuir uma arma de uso permitido para defender a sua vida e de sua
família. Sempre fui contra o porte de arma, que é a possibilidade do sujeito
conduzir sua arma consigo na rua. Arma é para ficar em casa e ponto final.
Se o dono do jornal publica apenas a sua própria opinião, que ela seja então baseada na verdade, e não apenas mais um instrumento de promoção política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário