sábado, 29 de dezembro de 2012

A falsidade na campanha de desarmamento



Fazem uns quinze anos que eu li o Chatô, do Fernando Moraes. De todas as centenas de páginas do livro, o que se fixou na minha memória foi apenas o trecho em que Assis Chateaubriand explica para um de seus empregados que, se ele quisesse publicar sua opinião política, deveria comprar o seu próprio jornal.

O Globo segue esse ensinamento a risca. Isso fica evidente na sua campanha contra as armas. A edição de hoje publica o artigo “falta um efetivo controle de armas”, assinado por Robert Muggah e Ilona Szabó de Carvalho.

Uma breve busca no google aponta que o primeiro autor é um estrangeiro, especialista em segurança e que escreve sobre a violência no Brasil.  A pesquisa sobre a Sra Ilona mostra que é uma jovem brasileira, provavelmente niteroiense, especialista em relações internacionais. Ambos os autores estão vinculados ao instituto Igarapé, uma ONG fundada em 2008, com sede no Rio de Janeiro e que se propõe a tratar sobre política sobre drogas nacional e global; prevenção e redução da violência; e assistência internacional.
  
Até aí, tudo bem. Os autores seriam especialistas no assunto que trataram. O verdadeiro problema está no artigo que escreveram. Para começar, eles afirmam que há menos de 20 milhões de armas  de fogo em circulação no Brasil. Essa número pode estar tremendamente inflado. As ONG não conseguem provar essa quantidade de armas, que está muito acima do estimado pelos órgãos de controle do governo.

Os autores afirmam que apenas um terço das armas estaria licenciada e registrada. A quantidade de armas ilegais me parece absurdamente alta, o que reforça minha suspeita que a ONG infla sua estimativas para causar maior impacto.

Depois, os autores dizem que a maioria das armas ilegais pertence a colecionadores individuais, empresas de segurança privada e a facções criminosas. Eis aí uma acusação perigosa. Os primeiros a violar a lei seriam os colecionadores de armas e depois as empresas de vigilância. São duas categorias de possuidores de armas sujeitos a fiscalização do Exército e da Polícia Federal. De maneira enviezada, os autores acabam rotulando de incompetentes aquelas duas instituições. Na minha opinião, foi um atrevimento irresponsável dos autores.

O artigo continua e vai alimentando o alarmismo. Diz que o Brasil é um dos maiores produtores e vendedores de armas leves e munições do mundo, ficando atrás apenas de Estados Unidos, Itália e Alemanha. Para mim, essa informação é boa. Uma pequenina parcela das armas produzidas no Brasil é vendida no mercado interno. A grande maioria é exportada. Além disso, Itália e Alemanha, que vendem mais que nossas empresas, não são países conhecidos por roubos ou homicídios em seus territórios.

Então, o artigo é infeliz quando tenta vincular produção de armas à violência.

O texto louva o Estatuto do Desarmamento, de 2003, e diz que ele poupou cerca de 5000 vidas no primeiro ano de sua implantação. Muito bem, parece um número elevado, mas o mesmo artigo diz que cerca de 35000 homicídios no Brasil ocorrem a cada ano com o uso de armas de fogo. Então, no ápice dos efeitos da campanha de desarmamento, a supressão dos direitos do cidadão em possuir armas resultou em apenas uma leve redução das mortes.

Fica evidente que desarmou-se o cidadão honesto e as mortes por armas de fogo continuaram tão altas como antes.

Fui chefe de Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados e nunca concordei com o uso indiscriminado de armas. Para mim, o cidadão tem todo o direito em possuir uma arma de uso permitido para defender a sua vida e de sua família. Sempre fui contra o porte de arma, que é a possibilidade do sujeito conduzir sua arma consigo na rua. Arma é para ficar em casa e ponto final.

Armas exigem controle e uso responsável. Sua posse e venda devem ser rigidamente controladas e normatizadas. Por outro aldo, repudio a campanha de desarmamento conduzida por ONG e amplamente apoiadas pelas Organizações Globo,  alicerçadas em dados fantasiosos e argumentos falsos.  

Se o dono do jornal publica apenas a sua própria opinião, que ela seja então baseada na verdade, e não apenas mais um instrumento de promoção política.

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