sábado, 31 de dezembro de 2011

Draconiano

Draconiano. Essa era a palavrinha que passei o dia quase todo querendo lembrar. Eu a buscava no fundo da minha mente, mas quando chegava perto, ela me fugia.

Isso acontece rotineiramente. Nós passamos a vida juntando um bom vocabulário e vamos guardando as palavras como se nossa cabeça fosse um baú, o que seria muito bom se os vocábulos não fossem seres animados, com suas perninhas velozes.

Então, passei por uma rua e vi a placa de proibido buzinar. Meditei, meditei e meditei e concluí como é injusto impor regras num bairro diferentes das dos demais. Isso seria ... e aí me esqueci da palavrinha mágica, o draconiano.

Veio o anacrônico, que nem de perto explicava o que queria dizer. O injusto servia, mas precisava fazer a bainha. Só o draconiano se ajustava como uma luva ao meu pensamento.


E eu busquei o draconiano por cinco horas seguidas. Fui a uma torteria, tomei o café com leite mais caro da história e não conseguia pensar em outra coisa. Que palavra era aquila que eu não lembrava?


Voltei e encontrei o almoço pronto! Milagres de se hospedar gente caridosa como minha irmã e meu cunhado, que fazem que o anfitrião seja tratado como visita.


Mas a caça continuava. E continuou até que numa das gôndolas do supermercado cheio, veio a resposta: draconiano. E fui logo tratando de me lembrar de dragões, para não esquece-la.


Essas palavras de hoje são impossíveis. Têm pernas, braços e rodas. Fogem a toda hora. Para caçá-las, se as tem que perseguir, com armas e laços em punho, para capturá-las. Parecem que elas não gostam do cativeiro do baú. 


Palavras são protagonistas da escrita. Só ficam felizes quando lançadas no papel ou na tela, para todos as vejam.


Draconiano. Quando será que vou esquecer dessa palavra outra vez?


Esse meu esquecimento já é um hábito e tenho medo de estar rumando à demência. Mas, tenho um truque para saber se estou, ou não, fraco da cabeça. Sempre procuro me lembrar do nome da Cybil Sheppard. 

Para quem não a conhece, ela é a gata do Gata e o Rato. Contracenava com um Bruce Willis com cabelo, nos anos oitenta. A mulher arrasava. Uma loira bonita e muito da gostosa. Como costuma acontecer, línguas pouco generosas diziam que a câmara sempre a mirava desfocada, para esconder suas rugas. Pura maldade.


Cybil sofria do mesmo mal que o Robert Redford, um galã dos anos 70 que ficou com jeito de maracujá de gaveta. Fazer o que? Vamos convir que o sujeito é um bom ator e é bonito mesmo. No seu trabalho, o Redford carregava quilos de maquiagem no rosto e se expunha aos mil e um quilowats dos holofotes.

É natural que os atores fiquem com a pele arrasada, do jeitinho de determinada parte do corpo componente da genitália masculina. Ou seja, toda enrugada.


Não me digam que isso é injusto. Envelhecer faz parte das regras da vida e as leis da natureza são mesmo draconianas.


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