sábado, 22 de outubro de 2011

Coro dos ignorantes

Estou no Chile, estudando política e estratégia. Por isso, tenho lido muito sobre nossa estrutura de defesa. Um dos autores que li, o diplomata João Paulo Soares Alcina Júnior, publicou o artigo Dez Mitos sobre Defesa Nacional do Brasil. Um desses supostos mitos é que o orçamento das nossas forças armadas é baixo. Para ele, o Brasil gasta muito em defesa e, em termos absolutos, nosso orçamento seria o décimo sexto mais alto do mundo.

O autor cita que é alto o percentual gasto com pessoal ativo, reservistas e pensionistas no Brasil, que alcança quase a 90% do total de gastos militares. Esse percentual é muito maior, por exemplo, que o dos Estados Unidos, onde o pagamento de pessoal representa em torno de 40% de seu orçamento de defesa.  Ele considera, portanto, que o problema de nossa defesa não seria o baixo orçamento, mas o fato dele ser destinado quase na totalidade para o pagamento de pessoal.


Eu discordo. Em primeiro lugar, o Brasil é a sétima economia do mundo e nosso orçamento deveria estar nessa mesma posição comparado com os demais. Somos o décimo sexto e não o sétimo maior orçamento. Portanto, gastamos pouco em defesa em relação aos demais países do mundo. 

Esse baixo orçamento se reflete exatamente no peso do pagamento de pessoal. Quem tem um mínimo de visão sabe que nosso pessoal ganha pouco. O salário de nossas praças é incompatível com o valor de seu trabalho. O mesmo se passa com os oficiais, cujo salário fica longe, muito longe, do percebido por outras categorias do serviço público. Recebemos uma fração do que é pago a, por exemplo, aos  funcionários do Judiciário. 

Por outro lado, ao nosso expediente diário se agregam horas e mais horas de serviço de escala, de trabalhos noturnos. É o preço da dedicação integral ao serviço, que aceitamos de bom grado.


O efetivo das Forças Armadas é pequeno. A proporção entre militares e população no Brasil é muito menor que a verificada na grande maioria dos países do mundo, inclusive em nosso entorno geográfico.

Os militares são poucos e não recebem salários altos, muito pelo contrário. Então, na verdade, o percentual de gastos com pessoal é elevado justamente porque o orçamento de Defesa no Brasil é baixo, muito baixo, baixísssimo.


Aquele mesmo autor prossegue seu texto criticando a existência do serviço militar obrigatório no Brasil. Eu considero que àquele diplomata lhe falta visão e lhe sobra preconceitos. Para começo de conversa, o serviço militar prepara reservistas, que são os recursos humanos que utilizaremos nos conflitos. 

O efetivo profissional das Forças Armadas é insuficiente para fazer frente a uma guerra. Num conflito de grandes proporções, há evidentes necessidades de recompletamento. Guerras matam e, se não tivermos reservistas, não poderemos substituir os soldados mortos no campo de batalha. 

Não se prepara soldados de um dia para o outro. Os reservistas são importantes para nossa defesa e precisamos conjugar sua preparação com o desenvolvimento de nossas habilidades para a guerra.

Por falar em guerras, é bom lembrar a todos que as forças armadas existem para evitá-las. Como existimos, não temos guerra. Aí, como não temos guerra, alguns se manifestam perguntando qual a razão de se gastar tanto em defesa. 

Infelizmente, há muitos que engrossam o coro dos ignorantes neste país. Aos que gostam de ouví-los, minha solene e sonora vaia.

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