segunda-feira, 8 de maio de 2017

Vida militar

Sou militar há 34 anos e estou na reserva desde agosto do ano passado.

Num breve histórico da minha vida profissional, digo que ingressei  na AMAN por vocação, quase uma obsessão. Ressalto que havia passado para engenharia elétrica numa universidade pública e nada me forçava a ir para o Exército. Sabia também que jamais seria rico na minha profissão, mas teria uma vida digna, tanto na ativa como na inatividade.

Com efeito, sempre vivi apertado financeiramente e apenas no final da minha carreira nos serviço ativo consegui alguma estabilidade, mesmo assim, porque minha esposa trabalha e recebe um salário semelhante ao meu.

Destaco que ao longo da minha vida profissional, concluí um dos melhores cursos de engenharia do Brasil, fiz mestrado, doutorado e vários outros cursos de aperfeiçoamento. Também nunca faltei o serviço e cumpri missões com risco de vida, no Brasil e no exterior. Fui comandante e ordenador de despesas de duas unidades, em quatro anos seguidos e sempre seguindo pelo caminho mais correto, nunca pelo mais fácil.

Exerci numerosas e importantes funções, com a satisfação de fazer bem o meu trabalho, mas com sentimento de desconforto ao constatar que colegas de colégio progrediam em suas profissões no mundo civil, recebendo salários muito acima dos postos mais altos da minha carreira. 

Devido aos apertos próprios da minha profissão, nunca tive condições de pagar um convênio de saúde para mim ou meus familiares, muito menos um plano de previdência privado. A aposentadoria era algo que não me preocupava, pois a regra do jogo sempre foi essa: ganha-se mal na ativa, mas preserva-se a paridade do salário na reserva. 

Hoje, leio com revolta artigos de "especialistas" que não passaram pelos apertos da minha profissão, reduzindo os militares a seres privilegiado e egoístas, que pouco fazem e que não pensam no futuro do Brasil. Pois lhes digo que ninguém, absolutamente ninguém, pensa mais neste país que os militares. 

Romper a regra da paridade dos salários na ativa e na inatividade  não é justiça. mas uma oportunista quebra de contrato. Tal situação configura-se também como uma grande covardia com quem não pode se defender durante seu período de serviço ativo. Sim, porque o Estatuto dos Militares estabelece que na ativa não podemos nos posicionar sobre assuntos políticos.


Por fim, quero usar o meu exemplo para ilustrar que não existe militar aposentado. Mesmo na reserva, permaneço trabalhando no Exército, como prestador de tarefas. 

É verdade que não sou mais obrigado a tirar serviços seguidos ou a ir para o campo, em dias seguidos de manobras, ou arriscar a vida em missões de paz, fora do meu país, ou em perigosas operações de garantia da lei e da ordem. Sim, a inatividade não me obriga mais a viver essas privações e perigos.


Contudo, minha atual situação ainda me exige a, por exemplo, viajar a serviço e permaneço sujeito às regras disciplinares impostas pelos regulamentos militares.

Desde sempre tive o hábito de seguir leis e regulamentos e sempre foi estrito no atendimento à legalidade. Por isso, me parece profundamente injusto que se quebre a regra da paridade entre ativos e inativos. 

Com todo o respeito que as outras profissões merecem, tenho que dizer que é fácil criticar os militares; o difícil é viver a nossa vida. 

Pensem nisso.



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