O Estadão publicou ontem a irritação da presidente com a viagem dos senadores à Venezuela. Não, ela disse, não devemos nos intrometer nos assuntos internos dos nossos vizinhos, ainda mais na Venezuela, prosseguiu, tão profundamente dividida.
A presidente poderia estar coberta de razão, mas não está. O território venezuelano está ali, encaixado no norte do Brasil, e não sairá de lá a não ser que haja uma nova acomodação geográfica do planeta, daquelas que separam continentes e fragmentam as linhas imaginárias que marcam os limites geográficos dos países.
Recheando o vasto território vizinho, está o povo venezuelano, nossos vizinhos que ainda se mantêm unidos, embora, como nossa própria presidente reconheceu, profundamente divididos.
A última eleição presidencial naquele país deu o grau dessa divisão. Em grosso modo, cinquenta porcento de um lado, cinquenta porcento do outro.
O país de cima é metade mais metade e o governo que o desgoverna representa, se muito, apenas um dos lados opostos, embora imponha sua vontade a todos.
O erro da presidente é confundir o governo de Maduro com a própria Venezuela, e ele não é. O compromisso do Brasil é respeitar o país vizinho, o que é muito diferente de aceitar que seus governantes matem manifestantes nas ruas e encarcere oposicionistas sem julgamento ou sequer indiciamento.
Meu maior medo hoje é a metade armada da Venezuela resolver prender, amputar, matar a outra, desarmada. Será que teremos então que ficar calados e continuar não nos metendo nos problemas internos dos nossos vizinhos?
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