domingo, 21 de junho de 2015

A frente socialista dos palestrantes milionários

"A frente socialista dos palestrantes milionários", por Guilherme Fiuza
Epoca

A Petrobras é uma mãe, e se você não está na ninhada é porque não se filiou ao partido certo


Enquanto a Polícia Federal descobre R$ 4,5 milhões pagos por uma empreiteira a Lula, o PT lança a candidatura presidencial do filho do Brasil com uma “guinada à esquerda”. Coerência total: o dinheiro da empreiteira, segundo o Instituto Lula, era para “erradicar a pobreza e a fome no mundo”. É um projeto ambicioso, mas pode-se dizer que já está dando resultado, com a erradicação da fome da esquerda por verbas e cargos. Uma fome de cada vez.

O discurso preparado pelo PT para seu Congresso em Salvador inicia a arrancada para dar ao Brasil o que ele merece: a volta de Lula da Silva em 2018. Com sua consciência social e convicção progressista, o Partido dos Trabalhadores salta na trincheira contra o neoliberalismo, assumindo sua vocação de governo de oposição – o único no mundo. O truque é simples, e vai colar de novo: a vida piorou e o desemprego voltou por causa “da crise global do capitalismo”, esse monstro que infiltrou Joaquim Levy no governo popular. Lula voltará à Presidência para enxotar novamente essa maldição capitalista (bancado pelo socialismo das empreiteiras amigas).

O gigante se remexe na cama, mas a armação dos companheiros definitivamente não atrapalha seu sono. ÉPOCA mostrou o ex-operário trabalhando duro pelo sucesso internacional da Odebrecht, a campeã de financiamentos externos do BNDES. Revelou que oMinistério Público investiga o ex-presidente por tráfico de influência. Vem a Polícia Federal e flagra as planilhas da Camargo Corrêa, investigada na Operação Lava Jato, com uma média anual superior a R$ 1 milhão em transferências para Lula (Instituto e empresa de palestras) desde que ele deixou a Presidência. E o gigante ronca.

O Brasil não se incomoda com a dinheirama entregue a Lula. É uma ajudinha ao grande líder para que ele combata a pobreza no planeta, qual o problema? Nenhum. A não ser para essa elite branca invejosa, que acha estranho o dinheiro vir de empreiteiras que têm como cliente o governo no qual Lula manda.

Os petistas, como se sabe, são exímios palestrantes e consultores. Destacam-se nessa arte estrelas como o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e o ex-ministro Antonio Palocci, ambos consagrados por suas consultorias mediúnicas milionárias. Lula deve ter passado seus oito anos no Palácio do Planalto treinando duro, porque saiu de lá em ponto de bala. Não é qualquer um que chega a Moçambique, faz uma palestra e embolsa R$ 815 mil – pagos à vista por uma empreiteira brasileira. Deve ser isso o paraíso socialista: empresários pagando fortunas a iluminados por palestras em outro continente, para a construção de um mundo melhor.

Assim fica fácil salvar o Brasil da crise global do capitalismo, conforme a plataforma do PT no seu 5º Congresso Nacional. Com a assinatura da delação premiada de Júlio Faerman, ex-representante da empresa holandesa SBM, os brasileiros entenderão ainda melhor como o capital internacional elitista e malvado escorre docemente para o bolso dos defensores do povo – através das fantásticas operações socialistas envolvendo a maior estatal do país. A Petrobras é uma mãe – e se você não está na ninhada é porque não se filiou ao partido certo.

A inflação bate 8,5%, e o milagre brasileiro (da miopia) permite que a presidente da República assegure, tranquilamente, o respeito à meta – que é de 4,5%. Quem quiser chamá-la de mentirosa assegurando o respeito ao que ela diz, portanto, estará dentro da margem de erro. Mas ninguém fará isso, porque o Brasil adormeceu de novo, em bloco. A recessão iminente, a escalada do desemprego e o consequente aumento da violência urbana – com tiros e facadas democraticamente distribuídos nas capitais do país – são problemas que a nova Frente Popular vai resolver em 2018, com Lula lá. Duvida? Então procure saber o tamanho do caixa que a frente de palestrantes e consultores formou nos últimos 12 anos, com o mais sórdido dos cúmplices: a opinião pública brasileira.

A reeleição de Lula após o mensalão permitiu a ascensão de Dilma. A reeleição de Dilma após o petrolão permitirá a volta de Lula. A divertida gangorra prova que o crime compensa. A não ser que... Melhor não falar, para não perturbar o sono do gigante.

 

sábado, 20 de junho de 2015

Venezuela triste

O Estadão publicou ontem a irritação da presidente com a viagem dos senadores à Venezuela. Não, ela disse, não devemos nos intrometer nos assuntos internos dos nossos vizinhos, ainda mais na Venezuela, prosseguiu, tão profundamente dividida.
A presidente poderia estar coberta de razão, mas não está. O território venezuelano está ali, encaixado no norte do Brasil, e não sairá de lá a não ser que haja uma nova acomodação geográfica do planeta, daquelas que separam continentes  e fragmentam as linhas imaginárias que marcam os limites geográficos dos países.
Recheando o vasto território vizinho, está o povo venezuelano, nossos vizinhos que ainda se mantêm unidos, embora, como nossa própria presidente reconheceu, profundamente divididos.
A última eleição presidencial naquele país deu o grau dessa divisão. Em grosso modo, cinquenta porcento de um lado, cinquenta porcento do outro.
O país de cima é metade mais metade e o governo que o desgoverna representa, se muito, apenas um dos lados opostos, embora imponha sua vontade a todos.
O erro da presidente é confundir o governo de Maduro com a própria Venezuela, e ele não é. O compromisso do Brasil é respeitar o país vizinho, o que é muito diferente de aceitar que seus governantes matem manifestantes nas ruas e encarcere oposicionistas sem julgamento ou sequer indiciamento.
Meu maior medo hoje é a metade armada da Venezuela resolver prender, amputar, matar a outra, desarmada. Será que teremos então que ficar calados e continuar não nos metendo nos problemas internos dos nossos vizinhos?

sábado, 13 de junho de 2015

Ronald Reagan

Reagan trabalhou atuando em filmes em Hollywood, mas em nenhum de seus papeis alcançou a grandeza de sua marca na História. Uma das mais marcantes personagens do século XX não foi o ator, mas o político.
Aos 70 anos, chegou já bem rodado na presidência. Vivera os tempos de uma grande guerra, o glamour das câmeras de cinema, foi diretor de um sindicato de atores, executivo de uma grande empresa, governador da Califórnia, expoente de um partido político.
Um ano como presidente e Reagan sofre um atentado a bala, que poderia ter lhe encurtado a vida. Saiu do hospital e nos anos seguintes comandou o fim da guerra fria a bordo da cadeira mais importante do mundo.
Este foi o seu maior feito, ao redor do qual orbitam todas suas virtudes e fraquezas.
Ao lembrar de Reagan, pensamos no ator-presidente, o que ofusca sua característica mais importante: o pragmatismo. E foi um hábil negociador, um homem com suas convicções bem arraigadas, mas que buscava sempre a convergência. 
Foi um conservador? Era de direita? Sim, e daí? 
Daí que Reagan nos mostrou que a Política com P maiúsculo é o caminho para melhorar a sociedade. Não só isso, mas principalmente isso.
Ele nos deixou em 2004. Um homem desses faz falta.