domingo, 22 de fevereiro de 2015

O Congresso Mundial da Paz e Solidariedade entre os Povos

O fake dominical é que, depois do desfecho dos combates na Ucrânia, o líder soviético, ops, desculpe a falha, o presidente Vladimir Putin promoverá o Congresso Mundial da Paz e Solidariedade entre os Povos, em Moscou.
As inscrições já estão abertas e o envio dos trabalhos pode ser feito no site www.goputincrashthemall.com.
Pacifistas e membros do partido não pagam, basta apresentar a carteirinha e o comprovante de quitação da última mensalidade. Estudantes de sociologia, jornalismo e ciências políticas só pagam meia entrada.
Convidados especiais: David Cameron, Angela Merkel. François Mitterrand e Barack Obama.
Mestre de cerimônia: Bashar Al-Assad.
Venha, participe, garanta seu lugar. Aproveite os ingressos com desconto. Ainda há vagas, já que a Ucrânia, Geórgia, Estônia e Chechênia desistiram de enviar representantes.
Espero vocês lá, heim?

Vida que segue

O que resultará do conflito na Ucrânia?
Sem forçar muito o raciocínio, o cenário que mais se configura é:
- a Ucrânia fica mesmo sem a Crimeia e sem sua atual porção leste;
- os separatistas alcançam total autonomia e a entregam em seguida a Moscou, incorporando-se à Federação Russa;
- Putin negocia mais um pouco com Merkel e Hollande, promete se comportar e consegue suspender as sanções;
- a Ucrânia tenta e não consegue entrar na UE e fica fora da OTAN;
- surge um novo conflito, uma nova guerra, outro massacre em outro canto do planeta, todos se esquecem da Ucrânia e não se fala mais nisso.
Pessimismo demais?
É que já vimos esse filme antes. E vida que segue ...

A forma da rolha

Pessoal, estou mesmo em forma ... De rolha de poço.
O pessoal daqui de Brasília é muito mal educado. Imagine que outro dia resolvi dar uma corridinha. Logo alcancei um velhinho de bengala. Não é que o sujeito apertou o passo e não me  deixou passar? Pior foi ele ter aberto vantagem e me deixado para trás.
Povo sem educação!

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A Ucrânia nunca mais será a mesma

A Ucrânia nunca mais será a mesma.
Isso é óbvio. Imaginem o que aconteceria se o acordo de Minsk fosse realmente obedecido; e se os separatistas e o governo de Kiev acomodassem a Ucrânia numa federação. Pois, mesmo se tudo desse certo, mesmo se a paz voltasse a reinar por ali, mesmo assim a Ucrânia não seria mais a mesma.
Haveria ressentimentos profundos, uma raiva latente que logo explodiria em outro e mais outro conflito violento.
Não dá mais. A Ucrânia perderá mais um bom pedaço de seu território. 
Infelizmente para Kiev, os aneis já se foram; agora, que se cuide dos dedos. 
Infelizmente para Moscou, os aneis roubados pouco lhe valerão. A gloriosa Rússia está cada vez mais isolada e cercada de vizinhos ressentidos. Este é o verdadeiro legado de Putin.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

And the Oscar goes to ...

Acho que já vi esse filme antes.

Era uma vez no Oeste, filme de 1968, dirigido por Sérgio Leone. Artista principal: Henry Fonda; coadjuvantes: Charles Bronson e Cláudia Cardinale.

Era uma vez a Ucrânia, longa de 2014 e 2015; dirigido e estrelado por Vladimir Putin; figurantes: Barack Obama, Angela Merkel e François Hollande.

Enxadristas de meia tijela

O conflito da Ucrânia seria um caso incomum de guerra assimétrica em que a guerrilha levaria vantagem sobre as forças armadas convencionais de um país. Só que,
na verdade, isso não é uma guerra assimétrica. Quem está combatendo os soldados de Kiev são militares russos; e não só de Forças Especiais, mas também pessoal especializado de artilharia. Nesse jogo de xadrez, Merkel e Hollande deixaram todas as peças para Putin.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

A aprendiz de enxadrista

Tem gente que elogia a iniciativa de Merkel e Hollande em buscar um cessar-fogo  no conflito na Ucrânia. Eu me posiciono no campo oposto. Não se pode barganhar com o líder soviético, ops, desculpe, russo.
A ameaça de Obama em armar o governo de Kiev esbarra em vários fatores técnicos, como, por exemplo, o  tempo que se leva para capacitar os soldados a usar o armamento. O material bélico ucraniano é de origem russa; os canhões e os morteiros são de calibre diferente do americano. Os sistemas de mísseis são diferentes, os aviões são diferentes, a doutrina é diferente, tudo é diferente. 
As armas das forças armadas ucranianas são antigas e precisam ser trocadas, só que isso se torna ainda mais difícil para um país em guerra. Para a Ucrânia, receber armas novas dos EUA é como trocar o pneu com o carro em movimento. Difícil, muito difícil
Os países europeus têm sua parcela de culpa no conflito. Dos 28 países da Otan, só quatro obedecem ao percentual de 2% do PIB que a aliança recomenda que se gaste em defesa. 
A maior parte dos países reduziu suas forças armadas para bem abaixo do mínimo tolerável. Há quem chame isso de racionalização; eu chamo de imprevidência. Seja como for, o fato é que a Europa sem os EUA não tem condições de reagir no caso de um eventual avanço russo sobre a Ucrânia ou sobre outros países do leste europeu.
Putin não ousa seguir adiante porque sua máquina é forte, mas incapaz de ser decisiva. Os europeus são fracos, mas ele teme a capacidade de retaliação americana.
E é justamente nisso que Merkel errou. Sua iniciativa de paz coloca algumas pedras no caminho político de uma reação dos EUA à estratégia de Putin em prolongar o conflito. Bem intencionada, a dama alemã animou a tropa russa a continuar a pressão sobre Kiev.
Merkel, Hollande e Obama são políticos experientes, conhecem o jogo do poder, contam com assessores capazes. Deveriam saber o que estão fazendo nesse xadrez político, só que enfrentam um mestre enxadrista russo, jogam com as pretas e, até onde vejo, estão perdendo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Homem de Aço

Putin se revela pelas suas ações. Um ano atrás, tomou a Crimeia de um golpe só e, quase ao mesmo tempo, montou e armou a resistência do Donbas. 
As sanções econômicas impostas pelo ocidente ainda surtem seus efeitos, refreiam o impulso do avanço russo, mas não afastam a ameaça que paira sobre a Ucrânia.
E o que revelam as ações do nosso homem de Moscou?
Em primeiro lugar, o mais evidente. Putin é persistente. Seu objetivo é manter a Ucrânia sob sua órbita de influência e, embora isso não seja possível por enquanto, seu apoio aos separatistas coloca Kiev sob permanente pressão.
O segundo traço evidente de sua personalidade é que ele foi e continua sendo um comunista, um homem forjado pelo Estado, um produto do Partido Comunista da União Soviética. Seu pensamento é o de um dirigente soviético centralizador, rígido, impiedoso. Promove, sim, uma nova nobreza russa, mas composta por olicargas da economia de sua inteira confiança. Sufocamos opositores e afasta quem se atrever a se postar em seu caminho.
O terceiro traço de Putin resulta de seu patriotismo. Ele acredita no grande destino de sua pátria, que é o centro do mundo. Os outros países pouco ou nada significam. Não lhe interessa o que anseiam ucranianos, lituanos, georgianos e muito menos os chechenos. A Rússia de Putin não se submete a desejos ou anseios de ninguém.
Putin é o Homem de Aço de Moscou. Palavras e promessas não convencem o aço, acordos em pedaços de papel não protegem nada contra o aço, só o aço vence o aço.
Não acredito no acordo de Minsk. Não se pode barganhar com um homem como Putin. Não adianta oferecer boa vontade e paz ao homem de Moscou. Ele não quer isso. Ele agora quer é o território e as almas dos ucranianos.
Mais do que armas, será preciso uma vontade férrea para impedir o avanço do Homem de Aço. Isso, nem Merkel, nem Hollande e nem Obama demonstraram possuir. 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Xeque

Deixa ver se entendi bem: os separatistas ucranianos conquistaram território do inimigo; Obama acena com o fornecimento de armas para Kiev; e Merkel e Hollande correm para Minsk tentando descolar um tratado de paz.
Então, justo na hora em que a Rússia obtém uma vantagem e se oferece para negociar, a França e a Alemanha resolvem deixar para trás conceitos como livre determinação dos povos e respeito à soberania das nações. Todos sabemos o que russos, alemães e franceses farão em Minsk: um leilão sobre a posse de território da Ucrânia e da alma de seu povo.
Particularmente os alemães decepcionam os que esperavam por sua liderança. Eles incentivaram os ucranianos em seu movimento pró-ocidente e agora os deixam com a brocha na mão. Ao mesmo tempo em que dizem sim senhor ao homem de Moscou,  Merkel e Hollande unem as mãos, formam uma paredinha e bloqueiam a única jogada de Obama que poderia dar certo.
A Rússia aguentou o tranco das sanções até obter uma posição vantajosa no tabuleiro. Quanto a alemães e franceses, esses querem mais é que a partida acabe.
Nesse jogo, os russos podem ficar com todos os peões, bispos, cavalos e até as torres. Só precisam deixar o rei vivo e não comer a rainha, pelo menos não na frente de ninguém.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O blefe

Há dois novos ingredientes na sopa do conflito na Ucrânia. Um é o temor de Merkel, que mora bem mais perto da Rússia que seu colega americano; o outro é o blefe de Obama, que criou o factoide de fornecer armas para Kiev para pressionar o nosso homem de Moscou.
Obama e Merkel tem seus motivos e objetivos. Os blefes de Obama podem, sim, repercutir favoravelmente para abreviar o fim do conflito na Ucrânia. Propaganda vazia ou não, a notícia do fornecimento de armas americanas para a Ucrânia  preocupa e desanima até os russos mais belicistas.
Já as conversas de Merkel com Putin falando de paz, de harmonia e entendimento dificilmente surtirão outro efeito que não seja prolongar uma solução viável para o problema.
Tem gente com quem se pode conversar e há aqueles que só funcionam sob pressão. Duvido que Putin tenha escalado os degraus do Kremlin graças à sua oratória ou simpatia. Ele não é a versão russa do Tancredo Neves. Para convencer o chefão de Moscou será preciso lhe oferecer um  bom acordo, com mais benefícios do que custos. 
Se Merkel pensa em barganhar com a autonomia ucraniana diante dos patrões moscovitas,ela estará, mais uma vez, desapontando quem contava com sua liderança.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Madalenas arrependidas


Tenho uma questão  que vem me incomodando. Como devemos nos portar com as Madalenas arrependidas do PT? Sim, porque se ainda tem fanático com estrelinha na lapela, já contabilizo alguns tantos barcos de refugiados tentando escapar da ilha da petelândia.
O que dizer para um sujeito que se diz traído pelo partido. que se envergonha do tamanho da roubalheira?  
Ora, o petrolão veio depois do mensalão e o escândalo  já estourava nos blogs, nas bancas e no rádio  muito antes das eleições de outubro. Todos sabíamos da ladroagem, mas uma turma numerosa digitou treze na urna sem se incomodar.
O que tem de novo nisso tudo é a estimativa de 88 bilhões de prejuízo da maior estatal brasileira, mais depoimentos da Lava Jato e o tempo que está se fechando para nossa governante. A economia afunda, há o perigo do desemprego e o impeachment  deixou de ser palavrão, ainda que continue constrangendo bacanas como Jô Soares ou Kennedy Alencar.
Diferente dos tempo do impedimento do Collor, não há agora uma liderança política ditando os passos para que o partido dos corruPTos seja apeado do poder. Aécio vocaliza, mas não rege o coro dos descontentes. Desta vez, são jornalistas e blogueiros que buscam canalizar a insatisfação que milhões de brasileiros expressam no Facebook, tweeter, whatsapp, etc.
Cresce a legião de insatisfeitos e aumenta também o número de arrependidos. Eu pergunto se devemos aceitá-los do mesmo modo como Jesus perdoou Madalena.
Acho que não. Madalena vendia seu corpo aos romanos por dinheiro, mas era o corpo dela, era ela que suportava as consequências de seus atos. Não era cafetina, era prostituta. Foi sincera nas lágrimas derramadas ao pé de Jesus, mereceu o perdão.
Em favor dos  refugiados da estrelinha digo que eles possivelmente não roubaram nada para si. Só que, diferente da prostituta que vendia seu próprio corpo, eles venderam a alma quando aceitaram que se roubasse pela causa. Duvido em sua sinceridade.
Finalizo meu sermão dominical dizendo que o melhor castigo para toda essa gente é o desprestígio, a desmoralização e o esculacho. Ah, e tem muito jornalista que vai recuar um monte de casas no jogo da credibilidade.

Impeachment

Democracia exige muito mais do que voto, exige também compostura dos governantes.  Mesmo os que foram regularmente eleitos submetem-se à Lei, que inclui o instrumento do impeachment.
Portanto, o impeachment   é legal e legítimo. É um processo político, que implicará em intenso debate político e redundará num julgamento também político. Tudo no âmbito político e, repito, tudo legal e legítimo.
Há quem enxergue uma tentativa de golpe quando se levanta a hipótese de impeachment contra a atual governante. Os que vêem desse modo estão cegos pela ideologia. Golpes são ilegais, o processo de impeachment não.
A cegueira ideológica aceita crimes como esse roubo monumental que se praticou contra a Petrobras e Brasil. Vale tudo em nome da causa. Essa cegueira não é doença dos olhos, mas de caráter.
Não há sequer uma chance de impeachment de Kirshner, Putin ou Maduro. Isso é ruim para os argentinos, russos e venezuelanos. Melhor para nós, que temos esse instrumento e que já o usamos uma vez. 
Para finalizar, o pior cego é aquele que não quer ver.

O poder da vontade

Guerra é mais do que disputa por território, mais do que o desejo de eliminar o adversário, mais do que um instrumento de poder.
Guerras não se ganham com armas mais modernas, exércitos treinados ou estratégias bem elaboradas. Tudo  isso é essencial, mas a guerra requer mais do que isso.
A guerra nada mais é do que a expressão da vontade coletiva levada ao extremo da violência.
Homens que foram à guerra relataram que continuaram combatendo movidos pelo compromisso com seus companheiros. Matavam e morriam pela união de seu pequeno grupo.
Em nível mais elevado, a vontade coletiva motiva o povo a apoiar a guerra e suportar suas privações.
No plano moral, a guerra se entrelaça com a política.
Eis, então, outro cerne da questão ucraniana: a determinação dos russos em manter o conflito, numa vontade alicerçada mais na união da nacionalidade do que no temor dos mísseis da OTAN.
Putin prolonga a guerra para abafar a independência da Ucrânia; os russos a apoiam por compartilhar a nacionalidade com os separatistas, que são russos da periferia, mas russos, sim.
O centro de gravidade desse conflito não é Putin, mas a vontade do povo russo em apoiar os separatistas. Quebra-se essa vontade por meio de ações no plano moral e material. O envio de uma frota americana ao Mar Negro que eu tanto defendia um ano atrás apenas reforçaria a guerra. Os russos não temem o conflito, pelo contrário. Também não temem a pobreza ou a miséria, companheiras de tanto tempo. 
O apoio da Rússia aos separatistas diminuirá quando seu povo perceber que essa é uma guerra injusta e que não vale a pena de ser lutada.

A nova Rússia

O tempo prejudica a Rússia. Sua economia piora com o embargo e sua estatura política diminui com seu isolamento.
Se a Rússia e os russos perdem com a crise, porque Putin teima em prolongá-la?
Tentando responder a essa pergunta, primeiro pensei na analogia de Moscou, Caracas e Brasília, pobres capitais onde os governantes querem se manter no poder a todo custo, mesmo com a miséria de seu povo.
Mas, não é isso que explica a situação do tiranete russo. Putin não tem adversários no plano interno. Com a complacência  das democracias ocidentais, passou anos destruindo qualquer chance da Rússia ter ao menos um arremedo de governo democrático. Em resumo, seus motivos para manter o conflito não são de ordem eleitoral.
Putin consolida sua posição de czar de todas as Rússias montando uma rede de sustentação econômica. Privilegia  um grupo de oligarcas concedendo monopólios e favorecendo seus negócios. Tal como nos tempos do império, eles são os duques, condes e barões da economia, mafiosos travestidos de grandes empresários.  O comunista Putin vai construindo a nova nobreza russa.
Continuar enriquecendo no poder absoluto parece ser um bom motivo para Putin não exasperar-se em abreviar a crise, mas ainda não explica seus esforços em prolongá-la.
O motivo parece ser mais simples do que parece. Até agora, o conflito tirou muito mais da Ucrânia do que dos russos. Em resumo, é só isso.
A mesma Europa que preferiu ter no trono de Moscou um demônio conhecido, agora hesita em destroná-lo. Passou anos cortejando a Rússia, comprando seu gás, prestigiando os seus duques e seu czar. Afinal, a nova Rússia podia valer a pena, pelo seu imenso patrimônio material e pela capacidade de seu povo. 
O novo império oferecia sonhos de riqueza, mas Putin tem ido longe demais. Quer o poder absoluto dentro da Rússia e também no seu entorno. Mesmo para Europeus que herdaram o espírito político de Chamberlain, tal exigência é inaceitável.
Faz bem a OTAN armar os ucranianos. Se isso representa o risco de escalar o conflito, também pode ser o remédio para encerrá-lo. Putin buscará uma solução apenas quando lhe convier e é bom que passe a ter pressa em encontrá-la.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Paz por território



Há quem acredite na troca de território por paz no conflito da Ucrânia. Eu não.
Não creio que a Ucrânia possa obter paz oferecendo autonomia do Donbas ou uma redefinição da fronteira  com a Rússia.  O cerne da questão não é território; é independência, mesmo.
A Rússia teme o ingresso da Ucrânia à OTAN e o que isso representa para a sua segurança.
O conflito se prolonga. Ruim para Kiev, ruim para Moscou, mas talvez não tão ruim assim para a Europa Ocidental, que vê a economia e a capacidade militar russa se corroendo. A Rússia vai perdendo sua capacidade de influência e pressão; o que abre espaço para o crescimento de outros atores no cenário internacional.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Alfajor de dulce de leche

Nem só de conspiração vive o homem. E nem a mulher. A presidenta dos hermanos também tem uma veia de humorista. Vale conferir em

http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/02/argentina-china-eles-so-quelem-complar.html?m=1

Ela, além de ser um doce de coco, un alfajor de dulce de leche, também é engraçadíssima.

Argentinos

Faz pouco tempo que voltei de uma pequena temporada em Buenos Aires. Passei uns dias de verão realmente quentes por lá e, no Shopping Abasto da Av Corrientes, experimentei o McDonalds Kosher. Nada demais. Escolhi o lugar porque a fila era menor, mas pude perceber como é numerosa  a comunidade judia daquele país portenho.
Pela minha convivência com os nativos, também percebi uma forte atração dos argentinos pelo mesticismo, pelo inexplicável, pelo mistério. Ora, convenhamos que não há mesmo muita racionalidade no culto a Evita e ao Maradona, nem na extensa disseminação de astrólogos, cartomantes, e psicólogos na capital dos hermanos. Eles estão na pior. Menos mal que o papa é argentino, mas a carestia come o poder de compra do cidadão comum que vive com dificuldade.
É claro que minhas percepções podem estar completamente furadas, mas elas se encaixam direitinho na absurda conspiração que ronda a morte do promotor.
O fato foi estranhíssimo. Ele passou anos investigando para morrer justo na véspera do grande dia em que apresentaria sua acusação contra a dirigente maior daquele país. Eis uma história difícil de acreditar, digna de um romance com ingredientes sobrenaturais ou recheado de hipóteses absurdas, tal como, só para citar um bem famoso, o Código da Vinci.
Até agora, há duas vítimas nesse caso: o promotor e o Serviço de Inteligência. Ah, sim, tem uma terceira vítima que eu ia esquecendo: a verdade.
Não sei quem puxou o gatilho da arma, se foi um espião argentino, o próprio promotor ou um tenebroso agente da Iluminati, mas é mesmo muito plausível a hipótese do acobertamento dos autores do atentado terrorista de 1994 em troca de vantagens comerciais.
Para finalizar, esse caso tem todos os ingredientes de uma emocionante história de ficção. Pena que a realidade seja tão dura para aqueles nossos rivais no futebol que teimam em escolher mal seus governantes.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Oposição fraterna

Excelente texto do Fernando Schuler.
Guardo para a posteridade

O terror tem seus opositores fraternos. Eles vivem em Paris, lecionam em boas universidades norte-americanas, publicam em nossas melhores editoras. Estão por aí. Diante do horror e da barbárie, não perdem a chance de relativizar.  Foi o que se viu, mais uma vez, no debate que se seguiu ao massacre do Charlie Hebdo, em Paris.

Opositores fraternos, por óbvio, registram sua repulsa pelo acontecido. Solidarizam-se com as vítimas e dizem que os irmãos Kouachi, apesar de tudo, fizeram uma coisa errada. Sua crítica se concentra no método. Eles tinham, vá lá, suas razões. A revista, de fato, passou do limite. Os EUA, como explicou o escritor Tariq Ali, invadiu o Iraque, em 2003, e aqueles meninos assistiram a tudo pela televisão. Viram imagens das torturas na prisão de Abu Ghraib. Estavam com raiva. Mas agiram errado, apesar de tudo.

Opositores fraternos não pertencem exclusivamente a esta ou aquela ideologia. Eles podem ser encontrados entre um certo de tipo de conservadorismo estúpido, relativamente abundante nas redes sociais, para quem não se deve brincar com a religião alheia. "Ódio gera ódio", li em um post na internet, sugestivamente feito por um professor de filosofia de uma universidade federal.

Seu mais emblemático representante talvez seja Jean-Marie Le Pen, que nos dias que se seguiram ao massacre acusava a revista de blasfêmia e vulgaridade, e bradava, orgulhoso, "eu não sou Charlie".

A artilharia mais pesada da oposição fraterna veio, não obstante, do chamado campo de esquerda. Mesmo que fosse previsível que isto acontecesse, confesso que me surpreendi com a forma mais ou menos explícita de seu discurso  compreensivo em relação ao terror. No uso explícito da tragédia para atacar seus inimigos na disputa política. Na fixação em enquadrar qualquer coisa na conversa de esquerda x direita. O terrorismo encontra sua audiência no Ocidente.

A argumentação usada por essa turma é relativamente uniforme. A estratégia é enquadrar o massacre em um quadro mais amplo, que envolve a guerra ao terror, no pós-11 de setembro, a opressão aos imigrantes, a política de Israel, o passado colonizador europeu, a crise (sempre ela) do capitalismo. Um conjunto mais ou menos previsível de razões que, devidamente ordenadas, produzem uma sutil inversão da culpa pelo acontecido. Ela passa a ser sistêmica. O radicalismo islâmico torna-se um ator secundário. O Ocidente opressor, tendo à frente seu vilão habitual, os EUA, passa a ocupar o banco dos réus. 

Opositores fraternos

Tariq Ali publicou um artigo na Folha de São Paulo intitulado "Guerra entre Fundamentalismos". O que testemunhamos, diz ele, "é um conflito entre fundamentalismos rivais, cada um mascarado por diferentes ideologias". Tentei descobrir, no artigo, em que consistia exatamente o fundamentalismo rival dos terroristas, mas não consegui.

Ele menciona certas restrições francesas a piadas antissemitas, o uso de tortura na guerra ao terror, as ações militares francesas na Síria, a direita francesa e coisas assim. Para Tariq Ali, misturando tudo, o Ocidente se equivale ao terrorismo islâmico. Ele não consegue perceber muita diferença. Se vivesse em Cabul, à época do Taleban, ou em Teerã, ao invés de Londres, talvez conseguisse. Mas não o faz, ao menos até o final do artigo.

O discurso se parece com o argumento segundo o qual a frente nacional e o fascismo islâmico são da mesma seara. Argumento de mau gosto, visto utilizar uma frase de Charb, diretor de redação da Charlie Hebdo, evidentemente retirada de contexto. Não passa de um exercício de leviandade intelectual comparar um massacre terrorista com a ação política de um partido legalmente constituído.

Reuters TV/Reuters
Irmãos Kouachi, após ataque ao Charlie Hebdo

Um partido do qual pode-se (com razão) não gostar, mas perfeitamente legítimo e incorporado à democracia francesa. Espécie de falácia da equivalência comum no dia a dia das discussões políticas (não houve quem chamasse o adversário de "nazista", em nossa última campanha eleitoral?). O que me surpreende é que o truque seja usado por intelectuais com algum preparo. Talvez o façam por imaginar que serão lidos apenas por leitores do devidamente alinhados. Em parte, é isso mesmo que acontece.

É o caso de Noam Chomsky. Em um entrevista à revista digital Raw Story, ele produziu sua versão particular da "falácia da equivalência": comparou o massacre, entre outros episódios, com a morte de 50 civis decorrentes de ações do exército norte-americano na Síria. Confesso que li várias vezes para me certificar que era isso mesmo que ele dizia.

Chomsky está dizendo que, de um modo geral, os irmãos Kouachi equivalem-se a Barack Obama. Com alguma vantagem para os primeiros, pensei eu. Ao menos tiveram a coragem de fazer pessoalmente o serviço, ao invés de enviar os seus homens. Chomsky dá de ombros para o fato de que o exército americano é uma força regular, que integra uma coalizão internacional, em ação contra um grupo genocida. E cujo foco não é punir infiéis nem produzir a morte de civis.

Na lista dos opositores fraternos não poderia faltar, por óbvio, o filósofo Zlavoj Zizek. Em um artigo na revista New Statesman, Zizek define o fundamentalismo como uma "reação contra uma falha real do liberalismo". Por isso ele seria "repetidamente gerado pelo liberalismo". Sociedades liberais presumivelmente tem muitas falhas, e fiquei imaginando qual delas teria produzido o fundamentalismo.

Zizek não explica, mas parece oferecer uma pista quando diz que a permissividade liberal e o fundamentalismo são dois polos gerando e pressupondo um ao outro. Para ele, não são sociedades teocráticas ou seitas radicais, seja no Irã, no Paquistão ou na Arábia Saudita que produzem o fundamentalismo. Precisamente sociedades que não atravessaram processos de secularização e modernização liberal. Nada disso. Merecemos nós as chicotadas. A democracia liberal e sua maldita sociedade de direitos.

Zizek busca inspiração em um frase de Horkheimer sobre fascismo, nos anos 30, para concluir que "quem não estiver disposto a falar criticamente sobre a democracia liberal, deve também ficar quieto com respeito ao fundamentalismo religioso".

Parece esquecer o óbvio: Horkheimer se referia a um fenômeno (o fascismo) produzido no coração do mundo europeu. O que obviamente não é caso do fundamentalismo islâmico. Além da analogia apressada, o nonsense: era exatamente a favor, e não contra, a democracia liberal e seus valores que marchou a multidão, em Paris, seguindo o presidente Hollande. É a crença na liberdade que deve se fazer ouvir, ao invés de se calar.

Zizek parece dizer que só uma alternativa ao capitalismo poderá resolver o problema do terrorismo. O que não deixa de ser curioso, visto que todos os sistemas que se propuseram esta tarefa se tornaram, sem exceção, eles mesmos formas de terrorismo de Estado. Mas isto é só um detalhe. O papel aceita tudo.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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FERNANDO SCHULER

é doutor em Filosofia e mestre em Ciências Políticas, com pós-doutorado pela Universidade de Columbia, e professor do Insper


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Eu e o João Grilo

O Estado Islâmico executou dois reféns japoneses que cometeram o pecado de serem capturados no lugar errado. Há alguns recados implícitos na execução.
O primeiro é que a carteirinha PRESS não alivia ninguém.
Depois, que não interessa a nacionalidade do refém. Sangue é sangue e eles cortam a garganta de qualquer um.
O terceiro recado é que o Estado Islâmico pode ser islâmico, mas não é Estado. Não respeita as regras de convivência do Sistema Internacional e é, sim, uma organização terrorista. É um erro crasso pensar que eles vão dialogar.
O último recado é a conclusão. Todos, até mesmo o Brasil, podem ser alvo de atentados terroristas do Estado Islâmico. 
Para combatê-los é preciso entender o que eles pensam e o que querem. Tem gente mais inteligente do que eu que pesquisa e escreve sobre o assunto.
Eu e o João Grilo quase nada sabemos sobre terrorismo; só sabemos que é assim que ele funciona.