sexta-feira, 21 de março de 2014

Que seja eterno enquanto dure

Costumo dizer que não acredito em bruxas e que nada é por acaso.
Repito sempre essa frase, mas é da boca para fora. Porque as bruxas existem, sim, e ultimamente há um monte delas andado soltas por aí, e as coincidências são o que mais acontece com todo mundo.
Peguei um livrinho qualquer. Capinha azul, fininho, poucas páginas, letras grandes, do jeitinho certo para quem quer somente preencher uns cinco minutinhos da vida lendo alguma coisa.
Fui folheando, bati o olho e arregalei. Li alguns trechos atentamente, reli e resolvi que tinha que lhes contar o que estava escrito.
Antes que alguém reclame, esclareço que o tal livrinho está impresso em inglês, e eu tive que traduzir os trechos para o meu sofrível português. Por favor, não se zanguem comigo quando descobrirem os inevitáveis erros de tradução.
O título do livro é “Conceitos Estratégicos para a Defesa e Segurança dos Membros da OTAN”.
Embaixo, em letrinhas miúdas: “adotado pelos chefes de estado e de Governo durante o encontro da OTAN em Lisboa, 18-20 de novembro de 2010.”
Pois é, logo hoje, o destino quis que eu abrisse justamente esse tal livrinho azul.
Dai, fui lendo e vejam só: no item 33, está escrito mais ou menos assim:
“A cooperação entre a Rússia e a OTAN é de estratégica importância assim como contribui para a criação de um espaço comum de paz, estabilidade e segurança. A OTAN não representa uma ameaça para a Rússia. Pelo contrário: nós queremos ver uma verdadeira parceria estratégica entre a OTAN e a Rússia [...] com a expectativa de reciprocidade da Rússia”.
Lindas palavras. Continuando, fui ao item 34:
“O relacionamento entre a OTAN e a Rússia baseia-se em objetivos, princípios e compromissos [... ] com especial respeito aos princípios democráticos e à soberania, independência e integridade territorial de todos os Estados na área Euro-Atlântica.”
Aí, fiquei emocionado com tão boas intenções, mas tem mais:
“Não obstante as diferenças sobre questões específicas, continuamos convencidos do entrelaçamento entre a segurança da OTAN e da Rússia, e de que uma parceria forte e construtiva, com base na confiança mútua, transparência e previsibilidade, pode servir melhor à nossa segurança.“
“Estamos determinados a fortalecer as consultas políticas e a cooperação prática com a Rússia em áreas de compartilhado interesse, incluindo defesa contra mísseis, contra-terrorismo, ações contra o tráfico de drogas, contra a pirataria e a promoção de uma ampla segurança internacional.
Leiam de novo e percebam que, há apenas três anos, os temas de cooperação estavam muito mais relacionados às chamadas “novas ameaças”, como o terrorismo e o crime organizado, do que a assuntos de defesa propriamente ditos.
Tenham certeza que tudo isso mudou desde a ocupação da Criméia.
Para terminar, é razoável afirmar que diplomatas russos e ocidentais estiveram presentes nas reuniões. Fico imaginando o final da reunião, depois de escreverem o rascunho das decisões, na recepção gentilmente oferecida por uma das luxuosas embaixadas, canapés e champanhe, sorrisos e apertos de mão. Nem seria tanta maldade imaginar diplomatas russos e franceses trocando beijinhos no rosto.
É gente, é bonita a história romântica da diplomacia internacional.
O amor entre as nações sempre é eterno, mas só enquanto dura.

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