O blog do Caio Blinder tece comentários sobre o artigo How Siria is Like Iraq, escrito no site Real Clear World. Nele, Robert Kaplan admite ter cometido um erro em ter defendido a invasão do Iraque, dez anos atrás, pois os fatos mostraram que Saddam Hussein seria um mal menor diante do que seu país se tornou após o conflito com os Estados Unidos.
Admiro a atitude de Robert Kaplan em admitir um erro que teria cometido. Li seu artigo e o considerei consistente, mas discordo de sua análise.
Kaplan diz que um bom analista teria que formular seu trabalho pensando em cinco ou seis etapas adiante. Ora, isso seria muito temerário, pois os acontecimentos sempre carregam um elevado grau de incerteza.
Pode ser que um mestre do xadrez consiga antecipar cinco ou seis jogadas adiante de seu adversário, mas isso é bem diferente de se prever, na vida real, as consequências a longo prazo de um fato no presente.
A incerteza é ainda maior quando se trata do Oriente Médio, onde povos milenares coabitam países artificialmente criados, com menos de cem anos de existência juridicamente aceita. Lembro que aqueles mesmos países foram construídos em território que pertenceu, por séculos, ao Império Otomano, sem notícias de maiores instabilidades. Contudo, ao longo de um século, o que era tranquilo se transformou numa região onde afloram as rivalidades, onde a violência assusta pela sua extensão e profundidade.
Não ouso prever o que ocorrerá naquele canto do planeta. Acho que ali funciona melhor o ditado que diz que o futuro a Deus pertence.
Um segundo aspecto quanto à análise de Kaplan diz respeito à ideia do mal menor. Não acredito nesse conceito. Recordo que, na vida, não existe um pequeno câncer ou uma pequena gravidez. O que é pequeno hoje, amanhã pode lhe consumir o corpo e a alma. Assim também é com os regimes de governo. Não se pode pensar numa ditadura inofensiva ou até mesmo do bem, funcionando como como uma rolha impedindo que se libere o mal contido numa garrafa. O autoritarismo também evolui e nada é tão ruim que não possa piorar.
A guerra civil da Síria envolve interesses difusos, com um nível de violência e crueldade que a equipara aos piores conflitos da humanidade, como aqueles que atingiram os balcãs ou os da rivalidade entre hutus e tutsies na África.
Os que praticam genocídios merecem as consequências de seus atos. Não me preocupo tanto com qual facção merece viver ou morrer nas guerras. Afinal, morrer faz parte dos riscos do combate. O que realmente me incomoda é a imagem de crianças envenenadas, daqueles pequenos anjos que o homem mata com tanta facilidade.
Melhor que prever o futuro é impedir os massacres de inocentes que continuam acontecendo.
Ontem, Ban Ki Moon afirmou que o governo Sírio é o responsável pelo massacre do dia 21 de agosto. A crueldade só aumenta a pressão da garrafa síria. A rolha, do jeito que está, provocará a explosão da garrafa em mil estilhaços. Parece que é hora de destampá-la e enfrentar de vez o mal que ela contém.
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