domingo, 24 de junho de 2012

Entre palavras cruzadas e o Sudoku

Não gosto do colunista Jânio de Freitas. Não concordo com suas ideias, mas não é bem isso que me faz desgostar dele. Afinal, o colunista, como todos nós, tem direito à sua própria opinião.
O meu desgosto também não é pela qualidade dos seus textos, que são confusos e mal escritos. Parece que aquele colunista escreve por catarse, para botar fora tudo aquilo represado dentro de si. Daí, as palavras saem tortas, em frases mal construídas. Depois, o leitor que se vire para decifrar o zigue-zague publicado.
Aliás, a coluna do Jânio estaria melhor publicada no setor de jogos e entretenimentos do jornal, colocada entre os desafios das palavras cruzadas e do Sudoku.
Mas, em nome de uma certa decência, entendamos que todos somos humanos e limitados; mesmo os escritores profissionais podem errar.
Assim, não é a opinião nem a qualidade dos textos que me fazem desgostar daquele colunista.
O que realmente me incomoda é quando um autor resolve  mentir em nome de uma causa, qualquer que ela seja. Nenhuma ideologia pode valer o desrepeito à opinião contrária ou o desprezo à inteligência alheia.
Quem mente esquece o maior mandamento de Cristo, o de amar ao próximo; e quem engana, não ama.
Em resumo, não gosto do colunista Jânio de Freitas porque sinto que ele não gosta de seus leitores.

Caminho de Pedras

Agorinha mesmo, terminei de ler o "Caminho de Pedras", da Rachel de Queiroz. Ela terminou de escrevê-lo em outubro de 1936; eu o comprei em 1987 e só me dignei a lê-lo vinte e cinco anos depois. O livro passou todo este tempo encaixotado ou esquecido em armários e estantes, me acompanhando pelos diferentes destinos que a farda me conduziu.

Quanto terminou o "Caminho de Pedras, Rachel de Queiroz tinha vinte e seis anos e já era uma escritora pronta, autora de romances que brilhavam pela correção gramatical, pela construção inovadora e frases inteligentes. Ela, como poucos, mereceu seu assento na Academia Brasileira de Letras. Era comunista, mas, diferente de tantos outros vermelhos, galgou por si mesma a trilha do sucesso.

Sou um anticomunista visceral e Rachel era vermelha. Eu a compreendo. O vermelho parecia, na década de 1930, responder aos anseios dos inconformados de tantos absurdos que se praticavam naqueles tempos. Depois, sei que ela se deparou, decerto vexaminada, com as barbaridades de Stalin e outros tantos algozes da foice e martelo. 

Meu anticomunismo é visceral, mas decorre mesmo é do repúdio ao despotismo, autoritarismo, corrupção, vagabundagem, crueldade e oportunismo repetidamente demonstrados pelos dirigentes vermelhos. 

Entendo a utopia, o sonho, a vontade de mudar que move a juventude, angustiada em ver os problemas do mundo. Os jovens de sempre são idealistas, mas também arrogantes, porque pensam que transformarão a sociedade, que não falharão onde os jovens de todos os outros tempos falharam.

O grito de guerra da juventude de quarenta e tantos anos atrás era para não confiar em quem tivesse mais de trinta. Aqueles que bradavam esse grito hoje são homens e mulheres de quase setenta. Devemos mesmo confiar neles?

A história do Caminho de Pedras é triste e reveladora. Triste porque as personagens sofrem quando perseguem sua utopia; reveladora porque mostra que a utopia da foice e do martelo esmaga o sonho de liberdade e justiça. 

Para os vermelhos, o coletivo sempre predomina sobre o individual. Parece justo, mas não é, pois por detrás das palavras de ordem, sempre prevalescem os desejos dos dirigentes mais espertos. A foice e o martelo são apenas instrumentos para dominar os indivíduos. As pessoas não passam de pedaços de carne prontos para serem moídos pela máquina do Partido.

Séculos atrás, quem dissesse que o homem era o centro do universo seria queimado vivo pelos bispos da Igreja; e, talvez por mera coincidência, as roupas daqueles bispos eram vermelhas. Duas ou três centenas de anos mais tarde, os revolucionários da França gritavam Liberdade, Fraternidade e Igualdade; se cobriam com barretes também vermelhos; eram povo e se julgavam a si mesmos infalíveis quando  conduziam nobres e plebeus, culpados e inocentes, ao patíbulo da guilhotina.

Cem anos atrás, finalmente o movimento comunista alcançava seu momento de maior glória, com a revolução russa de 1917. Os vermelhos não foram os únicos culpados, mas tiveram grande culpa nos mandos e desmandos que vitimaram tanta gente nos anos seguinte.

Morte em nome da ideologia. Tem sido assim desde sempre.

Não sou mais jovem e não acredito em utopias. Prefiro ser carregador de piano do que concertista, pois sei que dá muito trabalho transformar o mundo. Essa transformação tem que acontecer com muito suor, pela vontade de todos e não conduzida por uma minoria engajada e quase sempre destituída da virtude essencial de respeitar à opinião alheia.

Qual é a resposta para as injustiças? Certamente, não são as bandeiras vermelhas, nem as fogueiras, tampouco a guilhotina. Regresso à Revolução Francesa e sigo adiante na história. Daí, me deparo com a pilha de cadáveres produzida pelos brados de igualdade e de liberdade.  A resposta, então, está no brado esquecido, o da fraternidade.

Fraternidade significa respeito pelo próximo, abnegação, doação e, sobretudo, fazer o certo, sempre, custe o que custar e por mais difícil que pareça.

Não vale roubar ou matar ou mentir em nome de uma ideologia. Nenhuma causa pode ser maior que o ensinamento de amar ao próximo. Ensinamento cristão, convenientemente esquecido mesmo pelos bispos de hoje, tão engajados na libertação dos pobres.

O Caminho de Pedras foi um bom livro. Levei muito tempo para lê-lo. Ainda bem, pois eu, com a maturidade dos quarenta e tantos anos,  o saboreei e compreendi muito melhor que o jovem de vinte e cinco anos atrás o poderia fazer.

Tudo tem seu tempo e sua hora, os do "Caminho de Pedras" tiveram que ser agora.

sábado, 23 de junho de 2012

Tempestade


Houve quase uma unanimidade do legislativo paraguaio em sua decisão de impeachment do presidente Lugo e, até onde sei, todos os congressistas também foram eleitos pelo mesmo povo que elegeu o ex-presidente. Esse fato tem sido pouco destacado pela mídia e pelos doutos analistas políticos que colocam suas caras enfeitadas sob os holofotes da grande imprensa.
Geográfica e historicamente, Brasil e Paraguai compartilham muitos aspectos comuns. Claro que há diferenças de perspectivas, inclusive as relacionadas à guerra que travamos no século XIX, mas posso dizer que pertencemos à civilização ocidental e temos cromossomos comuns pela nossa mesma origem ibérica. 
Em resumo, nosso vizinho é outro país, mas um país bem parecido com o nosso. Concluo que podemos, então, ter um bom entendimento do que se passa por ali. Digo isso porque vale a pena acessar os periódicos paraguaios e verificar os comentários que seus leitores postaram. Busquei as publicações de ontem e não encontrei muitos textos defendendo o ex-presidente. O que percebi de minha leitura foi que muitos paraguaios estão indignados com a intromissão das líderes dos países vizinhos em seus assuntos internos. Lá, como aqui, muitos se indignam com a maneira de se tratar o certo e o errado.
O que percebo disso tudo é que há setores ideológicos que pensam ser os arautos da pureza. Não titubeiam em chamar-se a si mesmos de progressistas e aos outros de retrógrados. Para eles, houve uma usurpação; um golpe da direita reacionária.   Os ditos progressistas não levam em conta os leitores dos jornais, os que se manifestam nas colunas, os que reclamam contra seus métodos desastrados e autoritários
Já disse antes por aqui que os governantes devem irradiar generosidade e transbordar honestidade, porque política não é guerra, mas a arte da confrontação.
Os que nos governam, governam a todos nós, tanto aos que votaram, como aos que não votaram em seus partidos. Política não é propriamente acomodação, mas, sobretudo, respeito aos contrários e compromisso com as instituições. Assim, não pode haver espaço para um governante que insiste em governar sozinho, desconsiderando as opiniões contrárias, ainda mais quando ele não tem maioria no Congresso. Ontem, houve um rompimento. Talvez seu o maior pecado desse processo tenha sido sua rapidez, mas tenho minhas dúvidas.  
É que nós e os paraguaios somos vizinhos, temos muito em comum, mas sabemos pouco do que ocorre no outro lado da fronteira. Talvez a ruptura que tanto nos assustou seja o resultado de uma crise que já vinha se acumulando há muito tempo. Daí, porque não vimos as nuvens negras no céu, acabamos nos assustando com a violência da tempestade que chegou. 

A batina

O Bispo Lugo falhou. Não foi capaz de ser fiel ao celibato e teve vários filhos, com diferentes mulheres. Para isso, aproveitou-se do poder de persuação que detinha justamente por que era um padre. Em sua defesa, poderia argumentar o homem de batina também é homem, com todas as suas fraquezas e virtudes. No entanto, a batina destaca o homem que a veste e ele, mais do que os outros, tem que respeitá-lá.
Foi a batina que conduziu aquele homem à presidência, mas não foi ela que o derrubou do lugar mais respeitado de seu país.
Mais uma vez, o homem mostrou virtudes e fraquezas. Destas, a pior foi não perceber que ninguém se basta por si mesmo. Governantes precisam irradiar generosidade e transbordar honestidade, tanto nas intenções, como nas atitudes. Foi nisso que o bispo falhou e, por isso, seu governo desandou.
O bispo errou em suas decisões e muitos morreram pelos seus erros.
Veio o processo político, que parece que preencheu todos os requisitos legais. Só que, em política, não basta obedecer à legalidade. Para ser aceito sem maiores conflitos, aquele processo teria que resplandecer legitimidade. É como a velha história da mulher de César que tem que ser honesta e, mais ainda, parecer honesta.
Não é apenas um jogo de aparências, mas de percepções.
O processo pode ter sido plenamente legal, mas parece ilegítimo porque foi instantâneo.
Para resumir, havia uma doença e o remédio agiu rápido demais e, assim, não pareceu eficiente, mas fulminante. E o que fulmina, mata.

domingo, 17 de junho de 2012

Biodesagradável

Em tempos de Rio + 20, tudo o que não se pode é ser contra o meio ambiente. Centenas, até milhares de ambientalistas já estão no Rio de Janeiro e a imprensa tem publicado grandes porções de artigos ecologicamente corretos.

Eu gosto da natureza e tenho lido discursos muito bonitos, de gente muito bem intencionada. A preservação do meio ambiente nos é oferecida, a nós, cidadãos comuns, como uma caixa embalada no papel de presente da generosidade e do bom senso.  Debaixo da embalagem, o que se descobre é que proteger a natureza tem um custo elevado e que indústria, governo e mídia querem que paguemos essa conta.

A história das sacolinhas plásticas dos supermercados é emblemática. Durante anos, instalou-se em nossas mentes o conceito de que elas são as grandes vilãs da natureza, que demoram centenas de anos para se decompor, poluindo os rios e agredindo o meio ambiente. Depois de nos convencer que as sacolinhas eram tudo de ruim, veio a sua proibição e, só então, nos apresentaram a conta; sacolas biodegradáveis custam quase vinte centavos a unidade.

Hoje, assisti a um debate no Globo News Painel com representantes da indústria no Brasil. O que percebi é que os industriais aproveitam a onda da sustentabilidade para obter uma verdadeira façanha. Com um discurso ambientalmente correto, conseguem justificar o aumento dos preços de seus produtos ao mesmo tempo em que fecham o mercado brasileiro para a importação de produtos de países menos rigorosos  nas normas ambientais.

Um dos debatedorres deixou escapar que sua indústria não produz geladeiras, mas instrumentos de conservação de alimentos; outro, que representava os produtores de álcool, reclamava da ausência de políticas públicas para proteger o seu setor. 

Quem não nasceu ontem e não fica balindo por aí como uma ovelha descerebrada sabe muito bem que os usineiros produzem açúcar ou álcool conforme o preço mais atraente. Eles pouco se importam com o desabastecimento do mercado de combustíveis e gostam mesmo é de dinheiro fácil e mercado cativo.

Na mídia, há o time doss ambientalistas de sempre, agora reforçado com seus novos Ronaldinhos Gaúchos. Por exemplo, a Dona Míriam Leitão, de tão lidos e lindos artigos, também aderiu ao discurso ambientalmente correto, pregando mais e mais impostos para os brasileiros, tudo em nome da economia verde.

O que se tem é que esse é um jogo do ganha e perde. Ganham os produtores, com seus altos preços e reserva de mercado; ganha o governo, com seus impostos; a mídia, com seus discursos bacanas e bem remunerados. Só quem perde somos nós, a gentalha brasileira, que vai pagar mais caro pelos produtos que consome

Nesse jogo de interesses, prefiro ser ambientalmente incorreto do que mais um otário, balindo descerebradamente a cada discurso dos espertos. Gosto do meio ambiente, mas não desse pessoal. Tenho vontade de entupir-lhes a garganta com bastante detergente biodesagradável.



sábado, 16 de junho de 2012

Preguiça moral

O Editorial do Globo de hoje trata dos efeitos colaterais do Bolsa Família. Primeiro, apresenta um pouco da história dos programas de transferência de renda no Brasil. Depois, cita que, no ano passado, o Bolsa Família distribuiu um montante de R$ 16,7 bilhões a cerca de 13,3 milhões de famílias, um universo que continua a se expandir.
Reportagem anterior apontou indícios de que haveria uma escassez de mão de obra no Nordeste, o que seria devido a um efeito colateral do Programa.  Em português castiço, neguinho não se levanta para trabalhar, porque já tem como passar o mês. 

Portanto, os problemas do Bolsa Família são o resultado da tendência de seus beneficiários em se acomodar ao benefício do Estado, num estágio de pobreza pouco acima da miséria. 
Tal quadro representaria, ao mesmo tempo, duas perversidades. A primeira, um congelamento das possibilidades de ascenção social e, a segunda, o bloqueio de vultosos recursos orçamentários que poderiam ser melhor empregados para financiar outros gastos, como educação, defesa, segurança e saúde.
Isso me lembra um amigo que trabalhou na SUDENE, uns vinte anos atrás. Ele me contou que inspecionava localidades do interior do Nordeste que recebiam incentivos financeiros para projetos locais. Havia  comunidades que prosperavam, enquanto outras não conseguiam, dizia ele, "botar um prego numa barra de sabão".
É feio falar mal de pobre, mas é inegável que muita gente não gosta mesmo de progredir. Pior é que há um pensamento circulando na mídia e nas conversas em restaurantes parisienses dizendo que o bonito é viver na pobreza e na ignorância. Nesse pensar, o certo é agricultura orgânica e preservação incondicional do meio ambiente, mesmo que isso represente fome e miséria.
Imagino que há muito neguinho e loirinho rindo a toa de nossa preguiça moral.
 

Lágrimas na estátua

Baixa temperatura e céu fechado em Brasília. No contexto de um recente escândalo de corrupção, um togado de alto escalão não concordou que a Polícia Federal tenha recorrido a gravações para obtenção de provas, mesmo com a autorização da Justiça. Pior, mandou, e saibam que ele manda muito, soltar Mr WaterFalls. Hoje, na praça dos Três Poderes, uma lágrima corre por debaixo da venda sobre os olhos da estátua sentada defronte ao STF.

Instrutivo

Quem disse que jornal não ensina? 
A edição de sexta-feira de O Globo é, para dizer o mínimo, instrutiva quanto à luta que se trava neste país sobre o certo e o errado.
Primeiro, a ironia inteligente de Merval Pereira, demonstrando que, no mundo político-empresarial, um mais um é igual a três, acrescendo-se uma comissãozinha de cinquenta porcento. 
Depois, a Míriam Leitão querendo convencer seus leitores da decência do discurso ambientalmente correto e que o consumidor tem dinheiro de sobra para pagar mais e mais impostos em nome de uma dita economia verde.
Entre um e outro colunista, meu estômago só aguenta os textos do membro da Academia Brasileira  de Letras.

Porcos, corvos e ovelhas

O Estado de São Paulo de hoje publica que o Secretário Nacional de Justiça afirmou, em discurso na última quinta-feira, na Assembleia Legislativa de São Paulo, que a Lei da Anistia deveria ser revogada, que teria sido imposta ao país pelos militares.
Nada mais falso e mentiroso. Esse Secretario de (in)Justiça deveria ser demitido. Sua manifestação comprova que ele não tem competência para se manter no cargo. Contudo, nada acontecerá e vou explicar o motivo.
No livro "A Revolução dos Bichos", George Orwell conta a história de uma fazenda, onde os porcos submetiam os outros animais, representando as relações de poder e dominação de um regime comunista.
De todos os bichos, as ovelhas eram as mais fanatizadas pela ideologia oficial. Descerebradas, apoiavam incondicionalmente os porcos, com balidos tão altos que impediam qualquer tentativa de oposição.
O lema oficial era que todos os bichos eram iguais, mas uns eram mais iguais que os outros.
Na nossa fazenda, nós, cidadãos de bem, somos, em tudo, o oposto das ovelhas. Primeiro, porque vemos, lemos, ouvimos, entedemos e nos indignamos com os absurdos que se praticam em nosso país. Aqui, tudo se justifica por uma suposta Justiça Social, que não é justa e nem universal, mas apenas uma maneira que uma corja de porcos espertos arquitetou para dominar nossa sociedade.
A segunda diferença, talvez a mais marcante, é que as ovelhas fazem barulho e nós nos calamos.
Em silêncio, digerimos os pensamentos tortos dos politicamente corretos e eles nos fazem mal ao estômago e à alma.
Na nossa fazenda, muitos se calam e os poucos que se atrevem a falar a verdade enfrentam  os corvos, bichos espertos e mentirosos, alimentados com recursos públicos para defender os porcos no poder.
No final de março, supostos estudantes bloquearam o Clube Militar, gritaram palavras de ordem e cuspiram em oficiais octagenários que saíam do edifício. Conseguiram tumultuar um debate sobre o Movimento de 1964.
Ali perto, alguns expoentes supervisionavam o trabalho de seus agentes de bandeira vermelha enquanto fotógrafos se esforçavam em clicar suas máquinas para produzir a imagem de uma juventude heróica.
Estavam todos ali, os porcos, corvos e ovelhas. Daí, não surpreende a manifestação do Secretário de (in)Justiça contra a Lei da Anistia. É apenas mais um trecho de uma história que não terminou no livro do George Orwell. 
Nisso tudo, o que mais incomoda, a ponto de ensurdecer, é o gritante silêncio dos inocentes.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Quem quer respeito tem que se impor

Em entrevista publicada pela Folha de São Paulo de quinta-feira, o Zbigniew Brzezinski, que foi assessor de Segurança Nacional de Jimmy Carter, explicou o óbvio, mas o óbvio também tem de ser dito: o Brasil quer crescer e ficar importante, mas sobre de um probleminha geográfico. Nosso país está fora do eixo da Eurásia.

Outro probleminha é, digamos, monetário. Quem quer ser respeitado, tem que se impor. No sistema internacional, os diplomatas falam mais grosso quando os canhões lhes amplificam a voz. Ter um exército forte custa dinheiro. Será que temos bala na agulha para isso?


Durante muito tempo prevalesceu a ideia que um país de famintos não precisava de Forças Armadas. Para que gastar com soldados quando há tanta gente pobre? 


O Brasil não investiu em suas armas e hoje não tem poder de garantir a posse de seu pré-sal, muito menos o de projetar força para fora de nosso território. 


Aí, fica difícil conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.


 


 

Combate do futuro

Hoje resolvi contar para todo mundo que terminei de assistir os setenta e sete episódios do Galactica. E tudo começou com um ataque de surpresa dos cylons, que quase exterminou a humanidade.
Esse ataque foi bem sucedido por uma típica manobra de guerra cibernética. A cylon loira e gostosa infectou os sistemas de segurança dos humanos com um vírus mortal.
Termino de ver o seriado e me deparo com uma notícia no Globo de quinta feira contando que o Exército de Israel virou um celeiro de hackers.
O Ministério da Defesa definiu, na Diretriz 14 de 2009,  que a tecnologia nuclear fica com a Marinha, a aeroespacial com a Aeronáutica e a cibernética com o Exército.
Entre submarinos nucleares, aviões não tripulados e vírus de computador, qual será a arma mais decisiva no combate do futuro?

Desmatamento histérico

Depois dos setenta e sete episódios do Galactica, resolvi botar a leitura em dia. Li um texto publicado no Globo de quinta-feira que conta que o desmatamento na Amazônia é o menor em 23 anos. 

A boa notícia mereceu três miseráveis parágrafos. Bem menos que os duzentos e setenta e dois milhões de artigos publicados no Brasil e no exterior no ano passado, quando gritos histéricos quiseram nos convencer que o aumento do desmatamento no Mato Grosso era prova inequívoca dos males do novo código florestal.

Alguém duvida da honestidade de nossa imprensa?

Zero comentários

Outro dia, li o Reinaldo Azevedo sacaneando o autor de um comentário que ele não gostou. O blogueiro mais lido do país chamou o crítico de mal lido. É que os textos publicados no blog do intrometido não continham sequer um único comentário. 
Pus a carapuça na cabeça e ela me serviu. Eu, que escrevo por pura catarse, sou mal lido. Também sou um blogueiro de zero comentários. Tenho apenas dezesseis seguidores, bravos leitores de um autor ausente.
A esses doidos que me leem, minha honesta e humilde homenagem.

Cylons e mais cylons

Faz tempo que não escrevo nada por aqui. Parte do problema é por causa do trabalho, que resolveu me entupir de relatórios e mais relatórios; outra parte da culpa é minha mesmo. Resolvi assistir todos os setenta e sete episódios do Battlestar Galactica e isso tomou um tempão. Mas valeu a pena. 

Hoje, assisti o fim da saga e os humanos conseguiram chegar na Terra.  Os cylons se dividiram em bonzinhos e malvados; o bem triunfou sobre o mal e, tirando algumas inconsistências, a história convenceu.

Depois de meses escravizado pelas batalhas galáticas, volto a escrever por aqui. E já reclamando do salário. Deixa explicar. Tenho quase trinta anos de serviço e cheguei no último posto da carreira. Acima de mim, só os generais. O mal é crônico até para nossos chefes: todos ganhamos mal.

Sei que não deveria dizer isso, mas é inevitável. Ganhar mal incomoda e faz mal à saúde.

Fui a um cardiologista paisano e o doutor resolveu que minha pressão alta precisa  de um novo remédio; me ofereceu duas opções: a primeira era excelente, com uma molécula moderníssima, mas cara; a segunda era meia boca, não resolveria tão bem o meu problema, mas era menos caro.

Daí, o médico me perguntou qual remédio deveria me receitar. 
Antes disso, quis saber da minha profissão; militar, rebati; e ele prosseguiu: "qual é o seu posto?"

Daí, meio envergonhado, não respondi à pergunta e já emendei: "me receita o remédio menos caro que é o que eu posso pagar". 

Infelizmente, minha amada profissão não me permite viver com o melhor que vida pode dar. Isso é frustrante, mas, pelo menos, ainda dá para pagar o remédio menos caro. O fato é que trinta anos vestindo a farda, tenho que fazer as contas para não ficar devendo no final do mês.

Acho que esse problema é universal, muita gente boa passa por isso. O que mais doi é comprovar que o meu patrão, o Governo, privilegia algumas carreiras e pouco se importa com outras. Entendo que isso nada mais é que a aplicação do velho ditado: "quem não chora não mama". Vou além: quem berra mais alto, mama mais. Como o militar não pode e nem deve chorar, a conclusão é óbvia.

Numa perspectiva menos egoísta, pior que ganhar mal é ver nossas Forças Armadas mal equipadas. Durante muito tempo vi o dinheiro faltando no quartel, as viaturas paradas na garagem, as armas guardadas nos depósito sem nunca atirar, mas sempre limpas e lubrificadas.

Pelo menos nesse aspecto, as coisas estão mudando. Prova disso são os quinhentos mil relatórios que tenho feito diariamente, as duas mil reuniões mensais para tratar de projetos estratégicos, a corrida maluca para me manter informado de tudo, as providências e mais providências urgentes e urgentíssimas. Eu trabalho para um Exército que quer e vai se transformar.

Um Exército moderno certamente implicará em soldados valorizados.

Voltando à Galactica, concluo que ganhar mal não é um privilégio dos coroneis brasileiros. O Comandante Adama também tinha seus problemas de salário e chegou a cogitar em mudar de profissão. Ele até tentou, mas não deu. Amava demais a carreira militar e preferiu encerrar seus quarenta e cinco anos de serviço na astronave mais velha e capenga da frota estelar. Daí, veio o ataque dos cylons, a destruição da humanidade e só sobrou a Galactica, justamente ela, para conduzir os poucos sobreviventes a um novo destino.


Sorte dos humanos e azar dos cylons que Adama estivesse no Comando. Prova que a qualidade do homem importa mais que o poder da máquina.