Treze anos atrás, uma ligação de Bagdá para Recife me custava dez dólares o minuto, o que era caríssimo. A ligação era difícil, mal conseguia falar e ouvir, mas eu não reclamava. O mundo era assim.
Agora, perdido de novo em outro canto longe do Brasil, passo minutos e mais minutos olhando minha mulher e filha exibindo-se na câmara do Skype, me contando o dia como foi e o amanhã como será. Vejo as imagens diante de mim e as travessuras da pequena me deixam rindo no canto da tela do computador, enquanto a mãe finge se zangar.
O mundo mudou muito, não é mesmo? Convenhamos que tudo hoje é muito mais fácil que nos meus velhos tempos de Bagdá. Tão mais fácil que podemos, num clicar de mouse, não só descobrir novos caminhos, como deixar que outros descubram alguns passos que deixamos marcados para trás.
E como são os caminhos que percorremos? Na verdade não sei e nem sei se gostaria de saber, mas asseguro que eles às vezes se cruzam com quem menos esperamos.
Essas passagens são como tijolos que vamos acumulando na parede da existência. Nessa parede, já pendurei alguns quadros. Vez em quando, gosto de apreciá-los ou mudá-los de posição para vê-los melhor. Só que, quando presto atenção, me dou conta que o mais importante não são os quadros, mas a parede. Sei que na minha ainda faltam alguns tijolos. Também sei que sou o pedreiro da minha própria existência.
De tijolo em tijolo, acabei na terra fria dos índios Mapuche.
Admito que, pelo tempo que estou por aqui, já devia falar espanhol, pensar espanhol, sonhar espanhol. O fato, meus amigos, é que ultimamente sonho Cinema Mu(n)do.
Ainda não domino o idioma de Cervantes, mas essa viagem servirá para juntar mais alguns quadros para minha coleção e para colocar mais tijolos na minha parede.
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