segunda-feira, 23 de maio de 2011

Briga feia

Um jornal de Mato Grosso publicou ontem uma declaração do Secretário do Meio Ambiente de Mato Grosso de que o aumento do desmatamento seria motivado por distorções no entendimento do novo código florestal. Para ele, alguns produtores teriam derrubado a floresta irresponsavelmente, na esperança de serem anistiados com a alteração da legislação. Como resultado, 16 propriedades teriam sido embargadas por aquela prática ilegal.

Na sexta-feira, outro jornal de Mato Grosso publicou uma declaração do superintendente do IBAMA naquele estado de que teria detectado dez propriedades desmatadas, sendo que, em seis delas, os proprietários não eram produtores rurais. Naquelas propriedades, os desmatadores realizaram a extração ilegal de madeira, para revenda.

Cabe, então, lembrar que o DETER é um sistema do INPE de monitoramento por satélite. Esse sistema sofre forte influência da camada de nuvens e, desse modo, seus dados são inerentemente imprecisos. Mesmo assim, servem como parâmetros de comparação. Além disso, os dados divulgados pelo INPE referem-se a um período de oito meses, entre agosto de 2010 a abril de 2011, relativamente longo e que reduz os erros de observação provocados pela nebulosidade.

Salta aos olhos o fato do desmatamento verificado pelo DETER para o mesmo período de 2009/2010 ter sido a apenas metade do constatado entre 2008/2009. Uma queda de 50% do índice de um ano para o outro representa um forte indicativo de discrepância. Por outro lado, os dados de 2010/2011, embora 27% superiores aos do período anterior, correspondem a apenas 65% do que foi observado em 2008/2009.

Assim, pode-se inferir que:
  1. a maior parte do desmatamento é obra de oportunistas, gente que explora madeira ilegalmente, com uma infundada expectativa de perdão de seu crime;
  2. provavelmente, o aumento do índice de desmatamento verificado este ano não representaria motivo para tanto alarde;
  3. todo o barulho em torno desse fato associa-se a um outro tipo de oportunismo,  praticado por ONGs que se aproveitaram de um fato para vincular o desmatamento ao novo código florestal.

Para o diretor do Greenpeace, o que está em jogo é a forma de ocupação da última grande fronteira de terras do planeta. Acho que ele está apenas parcialmente correto.

Na verdade, a discussão do novo código ambiental insere-se numa disputa mais ampla, que determinará se o Brasil decidirá seu futuro soberanamente ou se obedecerá aos ditames das ONG europeias quanto ao futuro da Amazônia.


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