quarta-feira, 2 de março de 2011

LAMBANÇA DO SPORT

Em 1987, eu era um garoto recém-formado e servia em Porto Alegre. Não havia TV a cabo e as emissoras locais transmitiam quase que somente os jogos dos times gaúchos. Assim, passei o ano praticamente ignorando o que acontecia com o Mengão.

Acho que não exagero quando digo que, em termos de futebol, aquele ano foi o mais desorganizado de todos os tempos. A CBF assumiu sua incompetência e delegou ao Clube dos 13 a tarefa de montar um campeonato que reunisse os grandes do futebol brasileiro.

Os dirigentes dos clubes cumpriram a tarefa com o pensamento focado nas rendas e desprezaram os demais critérios de merecimento. O resultado é que eles criaram a Copa União, reunindo os melhores times do Brasil, mas deixando de fora o Guarani e o América do Rio, que haviam sido o vice-campeão e o quarto colocado do campeonato do ano anterior.

A Copa União já havia iniciado quando a CBF resolveu montar um outro campeonato com dezesseis times que haviam ficado de fora. Para a entidade máxima do futebol brasileiro, os times que disputavam a Copa União comporiam o Módulo Verde o campeonato inventado de última hora seria o Módulo Amarelo.

A CBF decidiu que os vencedores dos módulos amarelo e verde se enfrentariam numa final que apontaria o campeão brasileiro daquele ano.

Ocorre que o Clube dos 13 não aceitou a imposição. Um dos motivos era a disparidade na composição dos módulos.

O módulo verde reunia as equipes de maior torcida do Brasil, como Flamengo, Internacional, Fluminense, Botafogo, Vasco, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Cruzeiro, Atlético Mineiro, etc.

Por outro lado, disputavam o Módulo Amarelo o Sport, Criciuma, Joinville, Rio Branco, Inter de Limeira, Ceará, dentre outros.

Eu morava em Porto Alegre e fui na grande final da Copa União. Quase levei porrada no Beira-Rio quando assisti o empate de um a um entre o Mengão e o Inter. Na partida no Rio de Janeiro, deu Mengão de um a zero.

Já no Módulo Amarelo, houve duas partidas. Na primeira, o Guarani ganhou do Sport de dois a zero; na segunda, em Recife, o Sport bateu o bugre por três a zero.
O regulamento mandava e as equipes foram para a prorrogação que terminou empatada em zero a zero.
A decisão foi para os penaltis. Os jogadores foram batendo as penalidades e nada de se chegar a uma conclusão. Aí, ocorreu a cena mais inusitada que eu já havia visto. Os jogadores resolveram desistir de bater as penalidades e terminar a partida do jeito que estava, empatada. Saíram  abraçados de campo, convictos que dividiriam o título.
 
Não me pergunte o porque, mas, poucos dias depois, o Guarani resolveu desistir do título e o Sport foi considerado campeão do Módulo Amarelo.

Daí, a CBF mandou que o Mengão e o Inter, campeão e vice-campeão da Copa União, depois de muita luta contra os grandes do futebol brasileiro, teriam de jogar com o Sport e Guarani, que haviam sido declarados campeão e vice-campeão do módulo amarelo, após desistirem de bater os penaltis na final e saírem de campo determinados a dividirem o título.

Diante dos absurdos cometidos, foi a vez do Clube dos 13 determinar que o Mengão e o Inter não jogassem aquela partida.

O resultado é que o Sport e Guarani disputaram um quadrangular fantasma, em que ganharam por WO as partidas que disputariam com o Flamengo e o Internacional.

A CBF determinou que o Sport era o grande campeão brasileiro daquele ano.

No prosseguimento da confusão, o Sport procurou a Justiça Federal em Pernambuco, que proferiu uma sentença que lhe assegurou o direito de ser o campeão brasileiro de 1987.

Em fevereiro deste ano, após longos anos de injustiças, a CBF emitiu portaria declarando que o Mengão e o Sport foram, os dois, campeões brasileiros de 1987. O fato assegurava ao rubro-negro da gávea o título de hexa-campeão brasileiro. Mas o Sport não se conformou.


Para acrescentar mais lambança ao imbroglio, os dirigentes do Sport ontem declararam que a Justiça Federal em Pernambuco havia determinado à CBF que revogasse a Portaria que proclamou o Mengão como campeão de 1987.

Agora há pouco, o site do Globo Esporte publicou que:
"o Juiz Francisco Alves dos Santos Júnior, titular da 2ª Vara Federal de Pernambuco, publicou uma nota no portal da Justiça Federal do Estado explicando a notificação feita nesta terça-feira à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o seu presidente, Ricardo Teixeira, sobre a divisão do título brasileiro de 1987. Ao contrário do que disse a diretoria do Sport, o juiz afirmou que não decidiu que a entidade deveria a revogar a portaria que também considerou o Flamengo campeão nacional daquele ano."

Eis a lambança do Sport, agindo de má-fé, distorcendo a história em seu favor.

É por isso que eu digo: MENGÃO - HEXA CAMPEÃO!!!!

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