quinta-feira, 20 de setembro de 2018

MEDO E INDIGNAÇÃO - William Waak

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William Waack
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MEDO E INDIGNAÇÃO

Não me parece que Jair Bolsonaro seja o criador da onda que está surfando

William Waack, O Estado de S.Paulo

20 Setembro 2018 | 03h00

Está bem claro que nesta eleição vai se decidir contra alguma coisa, e não por alguma coisa. A maioria do eleitorado é a cara do fenômeno dos dispostos a romper “com o que está aí”. Provavelmente, encerra-se o período histórico iniciado com a saída do regime autoritário e a promulgação da Constituição de 1988. As grandes forças e o sentido político que se sobressaem nesta reta final da eleição claramente consideram obsoletos os sistemas político e boa parte das instituições que ali se consolidaram.

Alguns elementos que indicam o futuro próximo são bastante óbvios. A tendência do eleitorado em direção a figuras autoritárias é o mais notável desses elementos. O líder das pesquisas, Jair Bolsonaro, diz que resolve tudo praticamente no tapa, enquanto a agremiação política que parece, no momento, a que vai disputar o segundo turno com ele, o PT da corrupção, é o símbolo perfeito para a constatação de que enorme número de brasileiros não entende quais ideias erradas, entre elas a de que vontade política tudo resolve, levaram o País ao desastre. Estamos presenciando o enterro do “sonho” social-democrata tipo punho de renda do tucanato. O que havia de social-democracia no PT já havia sido sepultado pela avalanche de corrupção, cinismo e mentira.

Não existe neste momento um “centro”. O eleitorado raivoso clama por uma solução rápida – que a magnitude dos problemas enfrentados sugere ser impossível, mas não importa. Esse mesmo espírito do “vamos chutar o pau da barraca” prefere sonhar com passos para conter a crise que venham de fora da política, ou que sejam anunciados como soluções vindas de “fora do sistema”. Em outras palavras, e isso é bastante preocupante, há uma enorme aceitação da promessa de se resolver questões (como o déficit fiscal, que criaria perdedores por toda parte) sem considerar a necessidade de compromissos e de articulação política muito mais abrangentes do que conseguir 308 votos para maiorias na Câmara dos Deputados. 

Há uma imensa desconfiança em relação às instituições e uma das mais recentes a serem devastadoramente atingidas é a da imprensa em geral, e dos grandes grupos de comunicação televisiva em especial. É assombroso como o jogo se inverteu, e em que velocidade: atacar esses colossos que antes eram capazes de determinar o futuro de políticos é o que hoje confere estatura a políticos, e vários se dedicam com êxito a lucrar em prestígio e simpatia no eleitorado fazendo uso em causa própria dessa espantosa perda de credibilidade (em boa medida, por cegueira política e covardia de dirigentes).

Numa sociedade com índices espantosos de violência, e alguns sinais graves de anomia (como na greve dos caminhoneiros), não deveria causar espanto algum a força com que medo e indignação empurram a candidatura de Jair Bolsonaro – e um atentado ter influenciado tanto a disputa.

Não me parece que o ex-capitão seja o criador da onda que está surfando – até agora com boa vantagem sobre os rivais. Talvez ele seja a expressão acabada de que o bom mocismo, o politicamente correto tivessem sido apenas delírios de elites dedicadas a si mesmas e vivendo em bolhas confortáveis em meio a um país pobre, desigual, ignorante e atrasado (basicamente as mesmas mazelas enfrentadas pela geração que escreveu a Constituição de 88). 

O atraso, o retrocesso, o desastre e os malefícios trazidos durante os 13 anos de populismo irresponsável do lulopetismo já conhecemos bastante bem. Para onde vamos agora é uma completa incógnita. O que sairá do que acredito ser a destruição da política brasileira tal como a conhecemos por mais de 30 anos ninguém sabe.

CANDIDATO, COMO FAZ PARA EMAGRECER?

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CANDIDATO, COMO FAZ PARA EMAGRECER?

Marina Silva responde:

Nós vamos debater e ouvir todas as nutricionistas e personal trainers antes de decidir algo. É preciso gerar um debate. Veja bem, nós vamos valorizar a alimentação vegana e os produtos naturais que a terra nos dá através da floresta. Tem que valorizar a Amazônia e o verde. Tem que debater. 

Bolsonaro responde: 

Pô, tá de brincadeira com essa pergunta né? Fecha a boca porra! Pára de comer e levanta a bunda do sofá que emagrece porra! Tá com dó? Vai lá então e oferece uma balinha! Quero ver emagrecer assim! Não vai emagrecer pô. Tem que fechar a boca e acabou porra! Chama o Paulo Guedes, corta o mal pela raiz, faz uma low Carb e vai pra academia! Se fude e acabou porra!

Ciro Gomes responde: 

Olha, o meu currículo é muito bom. No Ceará nós temos o menor índice de obesidade do país. Tudo isso graças à alimentação integral implantada em mais de 350 escolas em todo o Estado. Minha proposta é tirar o nome do brasileiros obesos do SPC. E isso é possível. Basta transferir os quilos extras de gordura do abdômen para as coxas. Depois é só imprimir comida nas impressoras 3D para estimular o consumo. 

Alckmin responde: 

Veja bem, no Estado de São Paulo resolvemos isso de um modo bem simples. Corta a merenda. Corta os lanches e dá um cafézinho. 

Haddad responde:

Olá, eu sou o jovem Haddad Lula. Na minha gestão Haddad, fizemos mais de 400 km de ciclovia na cidade de São Paulo. Reduzimos o consumo de 120 gramas de proteínas nas refeições marginais para 90 gramas. Arrecadamos milhões multando quem comia mais que o limite. Se eleito como Haddad Lula farei uma ciclovia até Curitiba com pontos de distribuição de pão com mortadela a cada 10km para que todos possam ir visitar Lula Livre. 

Meirelles responde: 

Se quer emagrecer, chama o Meirelles. Quando Lula quis emagrecer ele chamou o Meirelles. Quando o Temer quis acabar com a barriguinha, ele chamou o Meirelles. O Meirelles resolve! Basta reduzir as calorias ingeridas e elevar o gasto calórico. Correr a 85% da frequência cardíaca máxima e fazer uma reforma alimentar. 

Boulos responde:

Primeiramente, foi golpe, Lula Livre, Moro na cadeia e viva Maduro e a Venezuela. Vamos acabar com essa ideia capitalista de comer de 3 em 3 horas. Aliás, vamos acabar com essa opressão de comer todos os dias. A obesidade é uma invenção capitalista para fazer o pobre comer e engordar. Vamos adotar o modelo da dieta bolivariana e implantar no Brasil o que Maduro fez na Venezuela. Vai todo mundo ficar sem comer e emagrecer. 

Amoedo responde:

O NOVO método de emagrecimento que eu proponho é novo. Vamos liberar o mercado de whey protein pra geral, tem que estimular o consumo e a venda de proteína. Cortar o carboidrato em excesso. É assim que estimularemos o crescimento do país e do povo. Pra quê apenas emagrecer se podemos crescer e construir um estado magro e musculoso ? Vamos fazer o Brasil sair da jaula.

Daciolo não compareceu ao debate. 
Está no monte jejuando. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O boneco de neve

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Nevou no Rio de Janeiro, pela primeira vez na história!!!

8:00 Eu fiz um boneco de neve.

8:10 Uma feminista passou e me perguntou porque eu não fiz uma mulher de neve.

8:15 Eu fiz uma mulher de neve.

8:17 Minha vizinha feminista reclamou do perfil voluptuoso da mulher da neve dizendo que ela ofende as mulheres da neve em todos os lugares.

8:20 O casal gay que mora nas proximidades teve um ataque de raiva e protestou, porque poderiam ter sido dois homens de neve.

8:22 Um transgênero da outra rua me perguntou por que não fazia um boneco com partes removíveis.

8:25 Os veganos no final da rua se queixaram do nariz de cenoura, já que os vegetais são comida e não para decorar bonecos da neve.

8:31 O cavalheiro muçulmano do outro lado da rua exige aos berros que a mulher da neve use uma burca.

8:40 A polícia chega dizendo que há uma denúncia anônima contra mim, de alguém que foi ofendido pelo meu racismo e discriminação, porque os bonecos são brancos.

8:42 A vizinha feminista reclamou novamente que a vassoura da mulher da neve deveria ser removida porque ela representa as mulheres em um papel doméstico de submissão.

8:43 Um promotor chegou e ameaçou me processar se eu não pedisse desculpas públicas pelo maldito boneco de neve.

8:45 A equipe de jornalismo da TV apareceu. Eles me perguntam se eu sei a diferença entre bonecos de neve e mulheres de neve. Eu respondo: as "bolas de neve" e agora elas me chamam de sexista.

9:00 Estou no noticiário como um suspeito, terrorista, racista, delinquente, com tendências homofóbicas, determinado a causar problemas durante o mau tempo. Estou passando por tudo isso por causa dos malditos bonecos de neve!!

9:05 Quem mandou fazer a p... dos bonecos de neve?... Estão me perguntando se eu tenho um  cúmplice. Ou se alguma organização me incentivou a fazer os bonecos, nas redes sociais.

9:29 Os manifestantes da extrema esquerda e da extrema direita, ofendidos por tudo, estão marchando pelas ruas exigindo que me decapitem.

9:32 Os neonazistas marcham em frente à minha casa acusando-me de ser comunista.

9:35 As feministas me xingam e pintam a fachada da minha casa com a palavra “machista”.

9:45 Os evangélicos me acusam de querer usurpar o lugar de Deus, por criar um homem e uma mulher de neve, e querem me exorcizar, dizendo que eu realizei um ritual pagão.

9:55 Organizações ambientais me acusam de poluir a neve.

Moral da história: não há. É apenas o mundo em que vivemos hoje - e vai piorar. O que foi aqui narrado pode ocorrer, e algumas coisas já estão acontecendo. 

De tudo isso, a coisa mais difícil de acontecer é... neve no Rio de Janeiro.

(Autor desconhencido).

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Acesso às Tecnologias Disruptivas - Natalino Uggioni

https://www.linkedin.com/pulse/acesso-%C3%A0s-tecnologias-disruptivas-natalino-uggioni/


Acesso às Tecnologias Disruptivas

A quarta revolução industrial, a era baseada nos sistemas cyber físicos, já é realidade; estamos vivendo a era das transformações digitais, com a evolução para os sistemas cognitivos na qual é necessário que as empresas insiram em seus processos novas tecnologias, modernas e estratégicas, como: Big Data, Machine Learning; IoT - que otimiza processos industriais e pode ser aplicada a diversas atividades produtivas, Cloud - que é a nova plataforma de inovação para as empresas, Blockchain, conexão em tempo real, inteligência artificial, sistema de suporte à tomada de decisão e decisões automatizadas, sistemas ciber físicos, integração dos sistemas, entre outros.
Esse processo evolutivo começou com a digitalização na fase da informatização, seguida da etapa de conectividade e prosseguiu para a que hoje é denominada indústria 4.0, ou ainda manufatura integrada, um processo de evolução e inovação tecnológica cujos métodos industriais e empresariais de produção devem contemplar: visibilidade (ver o que está acontecendo), transparência (entendimento do porquê acontece), capacidade preditiva (estar preparado para o que virá) e adaptabilidade (apresentação de respostas rápidas). Nesse contexto a Internet das Coisas (IoT) facilita a ponte entre o mundo físico e o digital, tudo habilitado pela evolução da infraestrutura tecnológica, cenário em que os dados são considerados o recurso natural do século XXI.  Sobre os dados mundiais, 90% deles foram criados nos últimos 2 anos, 80% dos quais são dados não-estruturados e 50% dos líderes de negócios apontam não terem acesso aos dados que necessitam.
Ainda incipiente no Brasil para um grande número de empresas, é relevante que os gestores e líderes percebam, o mais rápido possível, a importância de iniciarem ou darem sequência e investirem em tecnologias e ferramentas que as coloquem ou, pelo menos, as aproximem mais do mundo 4.0.
Os passos para as empresas atingirem esse nível passam pela implantação de manufatura enxuta (Lean Manufacturing), eficiência energética, produção mais limpa e digitalização de processos e os níveis de adequação a esse cenário podem ser subdivididos em: Geração 1 – empresas que possuem tecnologias digitais e isoladas; Geração 2 – empresas com tecnologias digitais em poucas áreas; Geração 3 – empresas que tenham plataformas integradas e Geração 4 – empresas com plataformas integradas, mais big data analytcs
Estudo realizado recentemente pela CNI aponta que, em 2017, somente 1,6% das empresas brasileiras estavam no nível geração 4, porém, aproximadamente 25% delas projeta estar nesse nível em 2027. Portanto, as empresas inovadoras devem continuar evoluindo na fronteira tecnológica; empresas competitivas precisam acompanhar a fronteira da competitividade e as empresas que estão atrás, em níveis mais baixos, precisam encurtar distância da fronteira produtiva e evoluir na fronteira tecnológica.
Apesar do avanço em algumas empresas nos últimos anos, ainda existe um grande gap de conhecimento em relação à essa revolução digital e cognitiva e seus impactos em boa parte delas, bem como, das muitas oportunidades ocultas que podem existir por trás disso. Cabe destacar que já temos exemplos de boas iniciativas por parte de alguns atores (da tríplice hélice: governo, academia e empresas), mas ainda há um grande desconhecimento das oportunidades e do valor agregado que o engajamento nesse mundo, por meio da Inovação, independentemente da forma se inovação aberta (open innovation) ou não (inovação aberta consiste na utilização e exploração da participação externa para acelerar a inovação, com o princípio de que, fora dos limites físicos da empresa, há uma quantidade enorme de mentes das quais poderão vir novas e diferentes ideias e soluções para os problemas que estão na pauta das discussões internas; e com a possibilidade de serem ainda melhores e mais eficientes que as ideias internas).
Programas que incentivam o empreendedorismo e a geração de novos negócios, novos projetos e novos processos de produção, criação de novas empresas (startups), promoção de ações inovadoras e indução da inovação de acordo com os desafios empresariais, têm sido uma constante e ganham espaços importante na pauta das empresas. Isso mostra que elas estão percebendo a necessidade de se reinventarem, de modo a não se tornem irrelevantes pela concorrência e isso vale para todos os setores. Investimento em economia criativa; mentes criativas (com espaço para criação) criam novas soluções, novas formas mais rápidas e eficazes para realização das tarefas e também para o desenvolvimento de novos modelos de negócios.
Esse ritmo de mudanças deverá ser acelerado com a chegada da geração (mais) digital, que se materializará numa sociedade digitalizada, gerando dados dos quais poderão ser extraídas previsões de todo tipo, para alimentar o fluxo integrado em toda a cadeia. Usando e cruzando esses dados, as máquinas e equipamentos se tronarão mais inteligentes e isso se reverterá em um futuro diferente, de modo que não importa qual o estágio em que a empresa se encontra nesse universo 4.0, urge que ela não deixe de avançar e acompanhar a evolução de modo a continuar viva e fortalecida, com um novo jeito, com formas diferentes de se fazer negócios e de ganhar dinheiro.
Os novos modelos de negócios estão mudando e em ritmo intenso, mais integrados, cada vez mais conectados, inteligentes e servitizados (migrando para a oferta de serviços e soluções para os clientes e o mercado e menos de produtos). As empresas oferecerão mais que o produto, oferecerão um serviço amparado em uma plataforma de soluções; isso, certamente, impactará na competitividade empresarial.
Essa nova era com consumidores conectados e empoderados, com novos comportamentos e com tecnologias transformadoras que exigem e exigirão cada vez mais, e mais rapidamente, uma profunda transformação nos modelos de negócios. Gestores e equipes precisarão ser requalificados para esse novo cenário.
Ninguém mais adquiri qualquer equipamento de TI para uso pessoal que não se conecte à internet; máquinas modernas já saem da fábrica com a possibilidade de conexão na rede mundial e isso já impacta, e impactará cada vez mais, a cadeia global de valor, em função de toda essa tecnologia envolvida.
Entre as barreiras para implementação de todas essas ferramentas, processos e metodologias que sustentam e que levarão as empresas para o mundo 4.0 está a necessidade de investimentos que as empresas poderão estruturar na forma de um programa de inovação e melhoria para pleitear recursos junto aos órgãos de fomento, com juros subsidiados. Se a elaboração da proposta, na forma de projeto, contar com o apoio de profissionais qualificados, tanto maior será a chance de sucesso no encaminhamento para fins de captação de recursos, a juros baixos. Isso tudo bem “arrumado” e organizado na forma de um bom programa de inovação em processo, muito provavelmente, encontrará amparo ao pleito.
Natalino Uggioni

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Esquerda gerou ambiente de ódio

Esquerda gerou ambiente de ódio

RUY FABIANO

As manifestações de condolências dos adversários políticos de Bolsonaro, em face do atentado, embutem uma mensagem subliminar (ou nem tanto), segundo a qual ele teria sido vítima de um ambiente por ele mesmo criado – o ambiente de ódio.

Ou seja, o culpado é ele mesmo. “Semeou o ódio e colheu o ódio", nas palavras solidárias da pacifista Dilma Roussef.

Tal ambiente, no entanto, o precede em décadas. Começa com o advento do PT e de seu ideário de luta de classes, a partir de 1980, e chega ao paroxismo com a tomada do poder federal pelo partido, a partir de 2003. Tudo isso está muito bem documentado.

Não é preciso farejar arquivos, em busca de documentos secretos. Está tudo no Youtube e no Google.

São incontáveis (e não cabem neste espaço) os episódios que atestam esse pioneirismo. Remontam a um tempo em que Bolsonaro era um ilustre desconhecido – ou conhecido apenas nos círculos do baixo clero do Congresso.

O seu protagonismo político começa exatamente quando foca sua atuação parlamentar no enfrentamento à bancada mais radical da esquerda. Pode-se, portanto, classificá-lo como personagem meramente reativo dentro de um quadro que já estava instalado.

Comparadas às de seus adversários da esquerda (que punham em prática o que diziam), suas declarações mais ferozes soam como as de um escoteiro-mirim. Coube ao PT dividir a sociedade em “nós” e “eles”, sendo que o “eles” abrangia todos os que não eram da esquerda – e, por isso mesmo, eram vilões, a ser esmagados.

Data de 2000 a famosa incitação de José Dirceu, numa greve de professores em São Paulo, a que os militantes batessem nos opositores. “Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”, conclamou.

Nas urnas, não apanharam, mas nas ruas, sim. Dias depois, a militância agrediu o governador Mário Covas, já padecendo de um câncer que o mataria. Dirceu disse que usara “força de expressão”.

Num seminário do PT, em maio de 2017, o senador peemedebista Roberto Requião, um aliado convicto, disse, para os aplausos da galera, que “não há mais espaço para conversas e bons modos”. Foi complementado pela deputada Benedita da Silva, que berrou: “Sem derramamento de sangue, não há redenção”.

O professor Mauro Iasi, da UFRJ, candidato em 2006 a vice-governador de São Paulo pelo Psol, na chapa de Plínio de Arruda Sampaio, disse, em 2015, a uma plateia de alunos, como deveria ser o diálogo com a direita: “Um bom paredão, onde vamos colocá-los frente a uma boa espingarda, com uma boa bala, e vamos oferecer depois uma boa pá e uma boa cova”. Ódio? Não: força de expressão.

A senadora e presidente do PT Gleisi Hoffmann, quando do julgamento de Lula pelo TRF-4, em Porto Alegre, em janeiro deste ano, avisou: “Para prender o Lula, vai ter que matar gente”.

João Pedro Stédile, do MST, na mesma ocasião, avisou: “Vamos ocupar terras porque queremos Lula livre”. E “ocuparam”.

José Dirceu, solto, porém condenado em segunda instância, tem emitido sucessivos vídeos, conclamando a militância a retomar, se necessário pela força, o poder. Num deles, diz: “A hora é de ação, não de palavras; de transformar a fúria, a revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate”.

Lula, em fevereiro de 2015, numa famosa fala à militância, na sede da ABI, no Rio, fez uma ameaça: “Quero paz e democracia, mas também sabemos lutar, sobretudo quando o Stédile colocar o Exército dele na rua”. Stédile, obediente, tem atendido o chefe.

E há ainda o líder do MTST, Guilherme Boulos, candidato do Psol à Presidência, que invade prédios e residências e cobra aluguel dos invasores. Este não apenas prega a luta armada: pratica-a.

Ódio como fonte de energia, conforme as palavras de Dirceu, é a grande contribuição da esquerda à democracia brasileira.

domingo, 9 de setembro de 2018

Bolsonaro não é o vilão da eleição, diz cientista político

Bolsonaro não é o vilão da eleição, diz cientista político

Para Jorge Zaverucha, é exagero dizer que candidato do PSL ameaça a democracia

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Marco Rodrigo Almeida
SÃO PAULO
O cientista político Jorge Zaverucha, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, tem uma posição rara entre seus pares acadêmicos em relação ao cenário eleitoral.
Não apenas se opõe ao discurso de que Jair Bolsonaro (PSL) é uma ameaça à democracia brasileira como também não descarta votar nele.
Para o professor, muitos eleitores deverão seguir pelo mesmo rumo após o atentado sofrido pelo capitão reformado na última quinta-feira (6), em Juiz de Fora (MG). 
 
O cientista político Jorge Zaverucha, professor da Universidade Federal de Pernambuco, no escritório de sua casa, em Recife
O cientista político Jorge Zaverucha, professor da Universidade Federal de Pernambuco, no escritório de sua casa, em Recife - Heudes Regis/Folhapress
 
Líder na pesquisa Datafolha no cenário sem Lula, Bolsonaro também é o nome mais rejeitado pelo eleitor. 
Nos últimos meses, inúmeros pesquisadores e intelectuais manifestaram apreensão diante da possibilidade de sua vitória. À Folha, por exemplo, os cientistas políticos americanos Francis Fukuyama e Steven Levitsky e a historiadora Heloisa Starling disseram que Bolsonaro representa um grave risco às instituições democráticas. A revista britânica The Economist afirmou o mesmo em recente editorial.
Embora reconheça traços autoritários no candidato, Zaverucha faz avaliação diversa. A democracia brasileira, diz, há muito passa por processo de morte lenta, provocado pelos que se dizem democratas, não pelos supostos autoritários.
Doutor em ciências políticas pela Universidade de Chicago (EUA) e autor de livros a respeito da relação entre democracia, autoritarismo e as Forças Armadas, Zaverucha não vê diferenças significativas entre Bolsonaro e os demais candidatos e acredita que um eventual dele seguiria as regras do jogo.
 

Como fica a corrida eleitoral após o atentado contra Bolsonaro? A tendência é que a candidatura se fortaleça. Ele tinha poucos segundos na TV, e agora só se fala dele, do ataque que sofreu. Por ser um drama humano, certamente ganhará simpatia, vai angariar adeptos. Antes parcela do eleitorado o via como violento. Agora é visto como vítima. 
Além disso, os outros candidatos irão reduzir as críticas a ele. Terá uns dez, 15 dias de sossego, o que já é uma grande coisa para a campanha.
E em relação ao discurso de combate ao crime? Também nesse ponto será beneficiado. Poderá dizer: “Olha só, fui atacado por uma faca. Vocês que querem proibir as armas de fogo vão tentar também proibir as armas brancas?”. O discurso dele é que a arma de fogo é só um instrumento: quem mata é o homem, não a arma. Então proibir armas de fogo não deixará o país mais seguro. O que ocorreu com ele comprova esse discurso. 
Cientistas políticos e outros acadêmicos, no Brasil e no exterior, têm dito de forma quase unânime que Bolsonaro ameaça a democracia brasileira. O que o senhor pensa? O que seria uma ameaça? O que me transparece é um temor de que ele poderia liderar um golpe de Estado. Não vejo essa possibilidade. Quando falam desse suposto perigo, essas pessoas dão a entender que nossa democracia é uma vestal que estaria prestes a ser violada por um brutamontes chamado Bolsonaro. Eu digo que a coisa é mais matizada. Nossa democracia há tempos é frágil, capenga, mal se sustenta.
O senhor pode dar exemplos? A democracia tem sido violada desde o seu nascedouro. A imprensa já revelou que pelo menos cinco artigos da Constituição de 1988 foram introduzidos à socapa, sem terem passado por votações, sem que os constituintes soubessem.
Um exemplo mais recente. O Senado rasgou a Constituição ao fatiar a votação do impeachment de Dilma Rousseff, o que permitiu que seu mandato fosse cassado, mas seus direitos políticos fossem preservados. A Constituição foi rasgada várias vezes, mas não pelas mãos de Bolsonaro.
Mas o senhor vê alguma espécie de ameaça em Bolsonaro, como tantos dizem? Não vejo muita diferença dele para os demais. A nossa democracia vem sendo avacalhada dia a dia. Se ela não fosse avacalhada, não existiria Bolsonaro. Uma das razões de existir Bolsonaro é essa bagunça. Isso não foi provocado pelos supostos autoritários, mas pelos ditos democratas. 
O PT apoia Maduro e Ortega. Isso não é ameaça à democracia? Isso não é ameaça maior que Bolsonaro?
O cientista político Steven Levitsky, autor de “Como as Democracias Morrem”, afirmou que Bolsonaro não está comprometido com as regras democráticas, que ele é o Hugo Chávez do Brasil. Acho que ele exagera. Chávez tinha claramente um passado golpista quando chegou ao poder. Não vejo Bolsonaro como sendo um golpista. Em seu programa de governo diz que fará o jogo democrático. Caso ganhe, acredito que governará de acordo com as regras, como qualquer outro candidato. Ele pode ter um senão ou outro, mas dizer que isso chega a ser uma ameaça é muito forte.
E as declarações de que fecharia o Congresso ou os elogios a nomes como o coronel Ustra, símbolo da repressão durante a ditadura militar? Bolsonaro já falou muitos absurdos, é claro. Fechar o Congresso, fuzilar Fernando Henrique Cardoso. É mesmo preocupante elogiar Ustra, mas me parece que com o passar do tempo ele vem mudando de opinião. Antes era um estatista na economia, agora é liberal.
O senhor acha que essa mudança é crível? Acho que é crível. Ele era mais extremista, agora já mede as palavras. Sinal de maturidade. Ele vê que a posição dele agora é outra. Uma coisa era ser um deputado do baixo clero, outra é ser um sério candidato à Presidência da República. 
Tentam criar uma dicotomia entre Bolsonaro e os ditos democratas. Vamos com calma. Exageram ao dizer que Bolsonaro é uma ameaça à democracia. Tentam pintá-lo como um monstro. 
Quando o PT pratica chicanas jurídicas, como no episódio do desembargador Rogério Favreto, para tentar garantir a candidatura de Lula, isso não é uma ameaça? 
Bolsonaro não é o vilão da eleição, seus oponentes não são os mocinhos.
Por que tentam pintá-lo assim? É uma questão ideológica, de esquerda contra direita. Bolsonaro diz, por exemplo, que não houve golpe militar em 1964. Ele está errado, é um absurdo o que diz. 
Por outro lado, ele chama a atenção para algo que a esquerda não quer aceitar, que havia em 1964 uma disputa entre o autoritarismo de esquerda e o de direita. Não fosse a direita a dar o golpe, é provável que a esquerda o desse. Bolsonaro destaca que houve um grande apoio civil ao golpe de 64, e isso é verdade. A ditadura não foi apenas militar, foi civil militar.
Qual o principal ponto da candidatura de Bolsonaro?  Ele promete combater a violência de um modo mais incisivo que os outros. Foi o primeiro a levantar a questão de que o cidadão deve ficar armado. Um dos eixos desta eleição é a questão da segurança, e ele transmite ao eleitor a ideia de que dará uma resposta a isso. 
O que achou das propostas dele nessa área? Há coisas boas e ruins. Um ponto positivo: ele diz que todas as mudanças serão feitas por meio da defesa das leis e da obediência à Constituição. Isso não é discurso de quem é autoritário. E diz também coisas parcialmente corretas. 
Diz que vai acabar com a progressão de pena. Ele deveria acabar com a elasticidade da progressão de penas. A progressão deve continuar, mas não como essa brincadeira que virou no país.
Sobre as armas, ele teve o cuidado de afirmar que não quer armar a população, mas sim garantir o direito à legítima defesa. Deixa claro isso.
E quais são os pontos negativos? Ele exagera muito na questão ideológica. Diz que a esquerda corrompeu a democracia nos últimos 30 anos. Isso é obra de todos os partidos. Tivemos também Maluf, Collor, que não são de esquerda.
Ele também exagera na questão do Foro de São Paulo. Concordo que é uma instituição autoritária, que apoia os bolivarianos, mas não podemos colocar o problema da segurança na conta do foro.
O programa sugere que o aumento de homicídios no Brasil tem relação com o Foro de São Paulo. Não há nenhum dado que permita concluir isso. Não há fundamento científico para isso. É a ideologia querendo mandar na ciência. É um chute monumental.
Como interpreta a onda de candidatos militares nesta eleição? Um sinal de que a democracia está fracassando é que os próprios partidos querem esses candidatos militares. Os civis acham que eles trarão votos, pois há a imagem de que são honestos, disciplinados. Como o poder civil está abalado, aceita a introdução dos militares. 
Em quem o senhor vai votar nesta eleição? Ainda não decidi, só sei em quem não vou votar. 
Exclui votar em Bolsonaro? Não, não excluo, de jeito nenhum. Posso vir a votar nele, vai depender do cenário.
RAIO-X
Professor da UFPE, Jorge Zaverucha tem 62 anos. É doutor em ciência política pela Universidade de Chicago, nos EUA. Escreveu, entre outros, os livros “FHC, Forças Armadas e Polícia” (ed. Record) e “Frágil Democracia--Collor, FHC e os Millitares” (Civilização Brasileira)