sexta-feira, 29 de junho de 2018

Em três anos, 341,6 mil empresas foram fechadas no Brasil, aponta IBGE

Em três anos, 341,6 mil empresas foram fechadas no Brasil, aponta IBGE
Do total de empresas fechadas entre 2013 e 2016, 76,8% eram voltadas ao comércio. No mesmo período, mercado perdeu 3,7 milhões de vagas de trabalho e o salário encolheu 0,7%.
Por Daniel Silveira, G1 Rio

https://g1.globo.com/economia/noticia/em-tres-anos-3416-mil-empresas-foram-fechadas-no-brasil-aponta-ibge.ghtml

27/06/2018 10h00  Atualizado 27/06/2018 10h00

 Comércio foi o segmento que registrou o maior número de empresas fechadas entre 2013 e 2016, segundo o IBGE (Foto: TV Integração/Reprodução) Comércio foi o segmento que registrou o maior número de empresas fechadas entre 2013 e 2016, segundo o IBGE (Foto: TV Integração/Reprodução)
Comércio foi o segmento que registrou o maior número de empresas fechadas entre 2013 e 2016, segundo o IBGE (Foto: TV Integração/Reprodução)

Em meio à crise econômica, o Brasil teve 341,6 mil empresas fechadas em três anos. O comércio foi o segmento mais afetado, com 262,3 mil empresas fechadas neste período. É o que apontam as Estatísticas do Cadastro Central de empresas divulgadas nesta quarta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o levantamento, em 2016 havia pouco mais de 5,05 milhões de empresas ativas no país, o que representa uma queda de 6,3% na comparação com 2013, quando o número total de empresas ativas chegava a cerca de 5,4 milhões.

Do total de empresas fechadas neste período, 76,8% eram do segmento comercial. Segundo o IBGE, em 2013 havia 2,2 milhões de empresas voltadas ao comércio e em 2016 este número caiu para 1,94 milhão – uma queda de 11,9%.

Depois do comércio, em números absolutos, a indústria de transformação foi o segmento empresarial que mais fechou empresas no período – foram 37,6 mil fechamentos, o que corresponde a uma queda de 8,4%. O segmento de alojamento e alimentação aparece em terceiro lugar, com 15,6 mil empresas fechadas de 2013 a 2016, uma redução de 4,8%.

Alguns segmentos, no entanto, registraram aumento no número de empresas. No ramo da educação, foram 42,3 mil empresas a mais de 2013 a 2016 – uma alta de 32,6%. As empresas voltadas à saúde humana e serviços sociais tiveram incremento de 30,2 mil unidades no mesmo período, um amento de 18,9%. Já as atividades imobiliárias registraram acréscimo de 15,3 mil empresas –22,3% a mais.


Com o fechamento das empresas, o total de empregados no setor empresarial caiu em 6,8% entre 2013 e 2016, o que representa um contingente de 3,7 milhões de trabalhadores.

Salário menor
Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, o salário médio mensal, em termos reais, sofreu redução de 0,7% de 2013 a 2016 no país. Em 2016, o salário médio mensal pago pelas empresas era de R$ 2.661,18, enquanto em 2013, considerando a inflação do período, este valor era de R$ 2.680,61.

Segundo o IBGE, se manteve em 2016 a diferença salarial entre homens e mulheres. Naquele ano, eles tinham salário médio mensal de R$ 2.895,56, e elas, R$ 2.368,98. Assim, o salário dos homens era 22,2% maior que o das mulheres.

O IBGE destacou que, em 2016, os menores salários médios foram pagos por empresas dos segmentos de alojamento e alimentação (R$ 1.363,30), atividades administrativas e serviços complementares (R$ 1.652,44) e comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (R$ 1.753,80) – respectivamente 48,8%, 37,9% e 34,1% abaixo da média. Estas três atividades respondiam por 33,3% do pessoal ocupado assalariado naquele ano.

Já os maiores salários médios mensais foram pagos por empresas dos segmentos de eletricidade e gás (R$ 7.263,19), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (R$ 5.916,33) e organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais (R$ 5.033,15) – respectivamente 173%, 122,3% e 89,1% acima da média.

Juntas, estas três atividades absorviam em 2016 apenas 2,5% do total do pessoal ocupado assalariado no país.

O IBGE destacou que o valor do salário tem relação direta com o porte da empresa – quanto maior o porte da empresa, maior o salário. Os maiores salários médios mensais (R$ 3.420,71) eram pagos por empresas com 250 ou mais pessoas ocupadas. Já os menores salários médios mensais (R$ 1.463,81) eram pagos por empresas que tinham até nove pessoas ocupadas.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Pai não é obrigado a pagar pensão para filha que cursa mestrado, decide STJ

https://www.conjur.com.br/2018-jun-24/pai-nao-obrigado-pagar-pensao-filha-cursa-mestrado


Notícia importante.


Ainda que a pós-graduação — lato ou stricto sensu — agregue significativa capacidade técnica, o estímulo à qualificação profissional dos filhos não pode tornar a obrigação alimentar um dever eterno de sustento. Com esse entendimento, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça desonerou um pai da obrigação de prestar alimentos à filha maior de idade, que estava cursando mestrado.


Ministra Nancy Andrighi diz que não delimitar um marco de qualificação poderia levar ao pensionamento contínuo.


Para a relatora do caso, ministra Nancy Andrighi, "essa correlação tende ao infinito: especializações, mestrado, doutorado, pós-doutorado, MBA, proficiência em língua estrangeira, todos, de alguma forma, aumentam a qualificação técnica de seus alunos, e a não delimitação de um marco qualquer poderia levar à perenização do pensionamento prestado”.

A jurisprudência do STJ tem entendido que o pagamento de alimentos ao filho estudante se completa com a graduação, uma vez que "permite ao bacharel o exercício da profissão para a qual se graduou, independentemente de posterior especialização, podendo assim, em tese, prover o próprio sustento".

Esse mesmo entendimento foi aplicado pela 4ª Turma em uma ação de exoneração de alimentos na qual o pai alegava que a obrigação alimentar com a filha, de 25 anos, formada em Direito e com especialização, não poderia ser eternizada.

O relator, ministro Luis Felipe Salomão, entendeu que a manutenção da obrigação de alimentar, no caso, configuraria um desvirtuamento do instituto dos alimentos, que devem ser conferidos apenas a quem não tem possibilidade de se manter com seu trabalho.


Para o ministro Luis Felipe Salomão, havendo a conclusão do curso superior, cabe buscar o ingresso no mercado de trabalho.

Segundo o acórdão, “havendo a conclusão do curso superior ou técnico, cabe à alimentanda — que, conforme a moldura fática, por ocasião do julgamento da apelação, contava 25 anos de idade, nada havendo nos autos que deponha contra a sua saúde física e mental, com formação superior — buscar o seu imediato ingresso no mercado de trabalho, não mais subsistindo obrigação (jurídica) de seus genitores de lhe proverem alimentos”.

Ex-cônjuge
Em julgamento da 3ª Turma, envolvendo a dissolução de um casamento de quase 30 anos, o ex-marido buscava a liberação do dever alimentar, fixado no valor de um salário mínimo em favor da ex-mulher, descontado de sua folha de pagamento por quase 20 anos.

A exoneração foi julgada procedente em primeira instância, mas a decisão foi reformada em segundo grau. O tribunal de origem considerou que a ex-mulher não possuía condições de buscar uma reinserção no mercado do trabalho, devido à idade (59 anos) e à falta de qualificação e experiência, em razão de se ter dedicado exclusivamente ao lar e à família. Seu estado de saúde também foi levado em consideração.

No recurso ao STJ, o marido destacou que, além de as doenças apresentadas pela ex-mulher não serem incapacitantes para todo e qualquer trabalho, foram adquiridas muito depois do divórcio. Além disso, a incapacidade não foi declarada em nenhum documento formal.

A jurisprudência do STJ diz que “os alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ter caráter excepcional, transitório e devem ser fixados por prazo determinado, exceto quando um dos cônjuges não possua mais condições de reinserção no mercado do trabalho ou de readquirir sua autonomia financeira”.

Essa transitoriedade, de acordo com julgados da corte, serve apenas para viabilizar a reinserção do ex-cônjuge no mercado de trabalho ou para o desenvolvimento da capacidade de sustentação por seus próprios meios e esforços.


"Não se deve fomentar a ociosidade ou estimular o parasitismo nas relações entre ex-cônjuges", disse o ministro Villas Bôas Cueva.


Ociosidade fomentada
Em seu voto, o relator, ministro Villas Bôas Cueva, reafirmou o entendimento do STJ de que não se deve ser fomentado a ociosidade "ou estimular o parasitismo nas relações entre ex-cônjuges, principalmente quando, no tempo da separação, há plena possibilidade de que a beneficiária dos alimentos assuma, em algum momento, a responsabilidade sobre seu destino, evitando o prolongamento indefinido da situação de dependência econômica de quem já deixou de fazer parte de sua vida”.

Para o ministro, os mais de 19 anos em que recebeu a pensão foi tempo suficiente e razoável para que a ex-mulher pudesse se restabelecer e seguir a vida sem o apoio financeiro do ex-cônjuge.

“À época da fixação da obrigação alimentar, a recorrida contava com 45 anos de idade, jovem, portanto, não podendo ser imputada sua escolha pessoal de não buscar se inserir no mercado de trabalho ao recorrente”, afirmou o relator.

Em relação à questão da saúde, Villas Bôas Cueva entendeu que a situação explicitada não se mostrou incompatível com toda e qualquer atividade profissional. Ele sugeriu ainda a possibilidade da mulher, com base na solidariedade familiar, formular o pedido de alimentos a seus parentes mais próximos, invocando o artigo 1.694 do Código Civil.

“O dever de alimentos entre ex-cônjuges, com longo período separados, decorre, além do binômio necessidade-possibilidade, da inexistência de outro parente com capacidade para prestar alimentos que tenha o dever legal de lhe assistir (artigos 1.696 e 1.697 do Código Civil de 2002)”, concluiu o ministro.

Óbito do alimentante
“A obrigação de prestar alimentos é personalíssima, intransmissível e extingue-se com o óbito do alimentante, cabendo ao espólio saldar, tão somente, os débitos alimentares preestabelecidos mediante acordo ou sentença não adimplidos pelo devedor em vida, ressalvados os casos em que o alimentado seja herdeiro, hipóteses nas quais a prestação perdurará ao longo do inventário.”

Esse entendimento foi aplicado pela 2ª Seção do STJ ,no julgamento de recurso especial contra decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, o qual considerou que, “falecido o devedor de pensão alimentícia fixada em favor de sua ex-companheira por sentença transitada em julgado, a obrigação transmite-se ao espólio, e o pagamento deve ter continuidade até o trânsito em julgado da sentença de partilha, circunstância que delimitará a extinção da obrigação”.

As herdeiras do falecido alimentante recorreram a Corte, e a decisão foi reformada. Para a 2ª Seção, apenas os valores não pagos pelo alimentante podem ser cobrados do espólio, nunca a obrigação de pagar alimentos, que é personalíssima.

Segundo o acórdão, “não há vínculos entre os herdeiros do falecido e a ex-companheira que possibilite protrair, indefinidamente, o pagamento dos alimentos a esta, fenecendo, assim, qualquer tentativa de transmitir a obrigação de prestação de alimentos após a morte do alimentante”.

A decisão ressalvou que é admitida a transmissão “apenas e tão somente quando o alimentado também seja herdeiro, e ainda assim enquanto perdurar o inventário, já se tratando aqui de uma excepcionalidade, porquanto extinta a obrigação alimentar desde o óbito”.

Morte do alimentado
Apesar de parecer óbvio que a morte do alimentado extingue o dever de alimentar, uma mulher, que continuou a receber alimentos do ex-marido após a morte do filho (credor da pensão alimentícia), sustentou que caberia ao pai da criança pleitear a exoneração dos alimentos, os quais vinham sendo descontados de sua folha de pagamento.

Por unanimidade de votos, a 3ª Turma manteve a decisão do tribunal de origem que determinou a restituição dos alimentos recebidos após o falecimento da criança.

Para a relatora, ministra Nancy Andrighi, “caberia à recorrente, ciente da continuidade do crédito indevido, promover, ou ao menos tentar, a imediata restituição dos valores ao recorrido, enquanto não houvesse ordem judicial que o liberasse dos pagamentos. E, hipoteticamente, se o recorrido não fosse localizado ou se recusasse a receber os valores, poderia a recorrente, por exemplo, consignar judicialmente o montante”.

A mãe argumentou ainda que o dinheiro recebido foi utilizado no pagamento de medicamentos e do próprio funeral do filho e que os alimentos pagos são incompensáveis e irrepetíveis.

A Turma reconheceu que os alimentos são incompensáveis e irrepetíveis, mas ressalvou que as regras que vedam a compensação e a repetição beneficiam, exclusivamente, o credor da pensão.

“As referidas regras não podem aproveitar à genitora que, após o falecimento do credor, que se encontrava sob sua representação legal, apropriou-se dos valores descontados em folha de pagamento do recorrido sem justificativa plausível”, disse a ministra.

Em relação à alegação de que o dinheiro foi utilizado em proveito do menor, mesmo após a sua morte, a relatora destacou que o tribunal de origem não reconheceu que esses gastos foram devidamente comprovados. Os números dos processos citados não são divulgados em razão de segredo judicial. Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ.

domingo, 24 de junho de 2018

A Alemanha empobrecerá


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Angela Merkel encontrou um inimigo que não pode ser batido. Pela primeira vez a Alemanha deixará de liderar o bloco europeu sem qualquer contestação.

O questão não é que Trump não pode ser desafiado; o problema é que ele não pode ser vencido; não por uma União Européia fragilizada, afogada em problemas de imigração e com um estado de bem estar social tão inchado que a impede de competir com as grandes produtoras do mundo.

A Europa sobrevive por dois únicos motivos: porque sobretaxa e porque se aproveita da política fiscal condescendente dos Estados Unidos.

Em 1993 a Europa assina a etapa mais importante do então chamado ato único europeu, que prevê quatro elementos fundamentais para a chamada União Européia:

1. Livre circulação de mercadorias.
2. De serviços.
3. De pessoas.
4. De capitais.

Nos próximos sete anos as principais economias do bloco, com exceção da Inglaterra, que já antevia a desvantagem cambial em relação com os alemães, adotariam o Euro.

Assim teve início o imperialismo cambial e fiscal alemão sobre os demais países.

A Alemanha é um país exportador. Com mão de obra qualificada, altíssimo grau de escolaridade e um mercado que depende quase que exclusivamente de produtos com alto grau de sofisticação, ela precisa mandar tudo para fora.

Através do câmbio único e da livre circulação de mercadorias, ela achata a concorrência dos italianos, franceses e espanhóis e domina uma vastidão tão grande de mercados que vão da indústria automobilística aos equipamentos hospitalares.

O Euro é a vacina que a Alemanha precisa para equiparar a moeda, eliminando as fronteiras cambiais. Um Volkswagen chega à Itália sem impostos e na mesma cotação. É um estupro.

Durante quarenta anos a Alemanha vem se beneficiando da boa vontade fiscal americana para atolar o país com seus veículos; mantendo os pátios no próprio território, a sua indústria mantém-se aquecida, com empregos e impostos gerados no local, enquanto que a mercadoria percorre os quatro cantos do mundo.

E tudo foi bom; o país floresceu, a sua economia se desenvolveu e o seu povo prosperou, às custas de um emaranhado de negociações, que vão desde o empréstimo de dinheiro aos países mais fracos do grupo até o lobby político direto, para que projetos benéficos à Alemanha sejam aprovados pelo bloco.

Enfim...o plano era ótimo; até que surgiu Donald Trump.

Trump diz: "chega de mamata. Querem continuar mandando as sua quinquilharias para cá? Nos taxem, ai, da mesma forma. Não dá para vocês pagaram 6% para virem pra cá e nós, quando queremos entrar no mercado de vocês, pagarmos 16%".

O problema é que, sem esse bolsão de proteção tributária, boa parte dos produtos europeus se tornariam preteridos frente aos americanos, mais baratos e mais abundantes.

E, se quiser entrar pra valer na concorrência, os europeus teriam que enfrentar chineses e japoneses, que pressionariam ainda mais os seus preços e achatariam as suas margens.

Mas o problema não é nem tanto esse; com uma população velha e que se acomodou ao estado de bem estar social e ao arranjo de mercado que os protege dos predadores fora do continente, a Europa definhou competitivamente.

Com exceção da própria Alemanha, da Suíça e da Inglaterra, todos os outros não aguentariam a competição. Sobreviveriam em alguns mercados de excelência, mas, na maioria, perderiam.

O que Trump pede? Justiça tributária e comercial. O que a Europa pede? Regalias e uma balança desleal.

O problema (para os europeus) é que finalmente alguém possui bolas grandes o bastante para dizer: "Se não for assim, não será; e se preparem para pagar, por aqui, o mesmo que pagamos por ai".

Estima-se que essa brincadeira custe até 190 bilhões de dólares aos cofres europeus, apenas em sobretaxas aos automóveis e caminhões leves.

Demarty, diretor geral do comércio da UE, já demonstrou o seu desespero: "O bloco não quer jogar ainda mais lenha na fogueira"; ele sabe que, se Trump quiser estender a todos os produtos, a conta pode chegar a 1 trilhão.

A Europa responde com sobretaxas de 2.8 bilhões de euros aos produtos americanos. É aquele tipo de coisa que você faz só para mostrar que não tem medo, ainda que todos saibam que você já borrou as calças.

Parte dos países europeus pedem que o bloco ofereça um acordo de livre mercado com os americanos; para os países mais pobres é lindo: terão acesso a produtos mais baratos (as vezes melhores) e fogem da ditadura alemã. Para a Alemanha? O golpe comercial mais duro dos últimos 25 anos.

Há, inclusive, de acordo com o próprio Demarty, ameaças de abandono do bloco, em favor de acordos ainda mais favoráveis com os americanos. Mais um pesadelo para Merkel: tanto os Estados Unidos quanto a China podem oferecer acordos comerciais muitíssimo mais interessantes do que os Alemães.

Pouco a pouco a Alemanha se dá conta: o desmonte do seu feudo é inevitável. Foi bom enquanto durou.

Os Chineses, aguardam pacientemente; a abertura dos mercados representaria uma economia de 1.6 trilhão em acordos que eles estavam costurando para, a longo prazo, chegarem aos mesmíssimos objetivos, com 20 anos de antecedência.

Para a Europa, há dois caminhos: se abrir ou pagar o pedágio do seu protecionismo. Os países menores já anunciaram que optam pela primeira opção; para a Alemanha, só resta um: ceder e empobrecer. :) <3

A desprezível entrevista de Pedro Bial

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O programa do Bial não merece qualquer audiência.

Ontem, mais precisamente na madrugada de hoje, Pedro Bial fez um papel lamentável em seu programa de entrevistas na TV, Conversa com Bial.

A pretexto de falar do assunto do momento, a Copa do Mundo, Bial convidou os ex-jogadores Rivelino e Raí para o programa.

Logo no início, ficou claro que, na verdade, ele queria falar de política com foco em detratar o período pós 64.

A intenção era posar de "democrático" e marcar pontos com a numerosa e influente comunidade de Esquerda.

Deu com os burros na água.

Ele começou perguntando a Rivelino se ele e os demais integrantes da mítica seleção de 1970 tinham sofrido pressão da "ditadura", em especial do próprio presidente Médici, a quem ele se referia o tempo todo com um tom ensaiado de repulsa.

A resposta de Rivelino foi curta e enfática: "Nenhuma!".

Bial ficou desconcertado, meio que perdido, pois ele esperava ouvir algum tipo de crítica ao regime ou a revelação de algum segredo que o desabonasse.

Bial ainda insistiu, dizendo que o Brasil vivia "os anos mais negros da ditadura" e que era possível que a seleção brasileira também estivesse sofrendo algum tipo de restrição, ameaça ou imposição de conduta e mais uma vez Rivelino respondeu de pronto: "Nenhuma!".

Acredito que Rivelino, a esta altura, já tinha entendido os objetivos de Bial e decidido que não iria fazer o jogo do apresentador.

Bial lembrou do episódio do afastamento de João Saldanha da função de técnico da seleção de 70,  pouco antes da Copa, possivelmente por exigência de Médici, em função de um suposto comportamento crítico de Saldanha em relação ao regime.

Rivelino lembrou que havia motivos de outra natureza, principalmente que Saldanha era jornalista e não técnico de futebol, além de ser um personagem polêmico. Apesar disso, elogiou outras qualidades de Saldanha.

Ainda sobre esse episódio, Rivelino recordou, olhando diretamente nos olhos de Bial, que a imprensa era quem criticava rotineiramente João Saldanha, tendo, possivelmente, um papel preponderante na saída do técnico. Para o jornalista Pedro Bial, isso foi sentido como um soco na barriga.

O apresentador veio então com um assunto que até então eu desconhecia, que o presidente Médici tinha feito muitas ligações para os jogadores da seleção brasileira durante o campeonato no México, inclusive para Rivelino. Acredito que Bial estava insinuando que os jogadores poderiam estar agindo como colaboradores do regime e trafegando informações sigilosas com o presidente Médici.

Perguntado sobre essas ligações do presidente para os jogadores, Rivelino confirmou que falara várias vezes com o presidente mas que este só conversou sobre futebol, comentando os jogos, elogiando os jogadores e fazendo votos de mais sucesso na campanha.

Nesse ponto, Rivelino já tinha desconstruído todo o roteiro pré-estabelecido por Bial, que queria porque queria apresentar ao seu público um linchamento ao vivo do regime de 64 por um dos grandes ídolos de um grupo que marcou época justamente naqueles anos chamados "de chumbo" pelos pseudo-democratas da Esquerda e da "luta armada".

Foi então que eu entendi a presença de Raí no programa. Bial queria mesmo era ter chamado Sócrates, ex-jogador de futebol e militante político com um viés contrário ao regime pós 64. Sócrates teria sido mais útil aos propósitos de Bial mas, como já é falecido, o apresentador achou que o irmão dele, o também ex-jogador Raí, poderia compartilhar dos sentimentos e da ideologia do irmão e derramar críticas ao antigo regime.

Acontece que Raí também frustrou o apresentador. O tempo todo esquivou-se das perguntas maliciosas de Bial. Falou pouco e só enalteceu o papel do irmão na transição do regime e na redemocratização do país.

Bial estava com azar, mas, pelo menos, ele tinha a seu lado, à distância e por vídeo, o jornalista e comentarista de assuntos internacionais Marcelo Lins, da Globonews.

Bial, para dissimular e não fugir ao "tema", introduziu Marcelo Lins como grande fã e conhecedor de futebol.

Acontece que Marcelo Lins não falou uma palavra sobre o esporte, restringindo-se apenas a críticas duras contra o regime pós 64 e falando de sua própria "dolorosa" experiência como filho de um "perseguido" do regime e do "sofrido" exílio da família na Suíça, onde um dos "poucos" prazeres era frequentar a casa de um cônsul brasileiro onde assistiam futebol com outros membros da comunidade brasileira de exilados.

Numa última tentativa de retomar seu roteiro e implicar Rivelino, Bial citou a Copa da Independência de 1972, um torneio de futebol com a presença de 20 países, organizado como parte dos festejos dos 150 anos da independência do Brasil e do qual Rivelino havia participado.

Bial classificou o torneio como mera propaganda de um regime ditatorial e ainda chamou a  comemoração cívica do Sesquicentenário da Independência de "efeméride inventada", sugerindo que nada havia a comemorar e que a independência, ou a democracia, era uma farsa e o evento apenas uma exaltação de um regime ilegal e impiedoso.

Bial perguntou a Rivelino a visão dele a respeito desses fatos e o ex-jogador, com uma linguagem bem direta e segura, disse que não entendia nada de política, que nessa matéria ele era "um zero à esquerda" e que o negócio dele era futebol, que era do que entendia e o que sabia fazer. E por aí a conversa parou.

Meio desolado, Bial chamou mais uma vez Marcelo Lins para desfiar sua ladainha contra o antigo regime e reforçar os propósitos daquela conversa. Pouco depois, Bial fez os agradecimentos e a despedida de praxe e encerrou o programa.

Eu não era grande fã do Bial mas nunca pensei que fosse capaz de protagonizar um papel desses. Pensei que o ponto mais baixo de sua carreira tivesse sido o Big Brother Brasil, mas não foi.

Quanto a Rivelino, conhecido nos bons tempos como Patada Atômica devido ao seu forte chute, cresceu ainda mais no meu conceito. Em um chute virtual, jogou o goleiro Bial e a sua bola murcha lá para os fundos da rede, onde ficou caído desnorteado, com as pernas para cima.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Brasil tem menos servidores públicos do que os países desenvolvidos


 O artigo a seguir foi obtido por acesso ao seguinte link: 

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2016/10/30/internas_economia,555328/brasil-tem-menos-servidores-publicos-do-que-os-paises-desenvolvidos.shtml

Brasil tem menos servidores públicos do que os países desenvolvidos
Para especialistas, problema é a má distribuição e disparidade salarial nas diversas áreas
postado em 30/10/2016 08:00
A cada 100 trabalhadores brasileiros, 12 são servidores públicos. A média é a mesma verificada nos demais países da América Latina, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já nos países mais desenvolvidos, o percentual costuma ser quase o dobro — nesses locais, a média é de 21 funcionários a cada 100 empregados. Em nações como Dinamarca e Noruega, mais de um terço da população economicamente ativa está empregada no serviço público.

Apenas no âmbito federal, o Brasil conta com 2,2 milhões de funcionários, 250 mil a mais que há 10 anos — alta de mais de 10%. No mesmo período, a despesa anual com esses servidores saltou de R$ 115 bilhões para R$ 264 bilhões, um aumento de 129%. As informações são do Boletim Estatístico de Pessoal, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Já a quantidade de servidores municipais chegou a 6,5 milhões em 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar de os números absolutos impressionarem, especialistas dizem que os dados da OCDE provam que, na comparação com os outros países, a quantidade não pode ser considerada exorbitante. “Não é que o Brasil tenha servidores demais. Tem uma população grande e, consequentemente, um número expressivo de servidores públicos. Não se pode analisar de forma descontextualizada”, explica a professora Mônica Pinhanez, doutora em Desenvolvimento Internacional e Políticas Públicas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Afinal, com 204 milhões de habitantes, o país tem a quinta maior população mundial.

“Esse dado, sozinho, não significa que tenha mais ou menos eficiência”, pondera. A visão de que o número de funcionários determina se uma nação é muito ou pouco desenvolvida é, nas palavras dela, preconceituosa. “Tem que qualificar a questão, ver que serviços são oferecidos em contrapartida. Tem, também, o fato da economia ser mais ou menos liberal. Além disso, é importante notar que países menos desenvolvidos, muitas vezes, dependem do setor público para empregar a comunidade”, argumenta a professora.

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Produtividade
Julgar a realidade do funcionalismo público apenas com números é um erro comum, concorda o especialista em governança e políticas públicas Antônio Lassance, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Não existe uma quantidade ideal de servidores. Ficar com números muito baixos ou muito altos pode ser um mau sinal, dependendo da produtividade desses servidores. Estamos longe de números civilizados a esse respeito”, acredita o pesquisador.

Para Cláudia Passador, especialista em gestão pública da Universidade de São Paulo (USP), não há falta de funcionários. “Nem sobra. Tradicionalmente, não temos histórico de excesso de servidor, de cabide de emprego. O que tem é carência de ferramentas de gestão na estrutura dessas organizações”, afirma. “Longe de ser um inchaço, o problema no setor público é que a administração parou na década de 1930. Falta atualização das ferramentas, uma reforma administrativa.”

Desequilíbrio
O que preocupa os especialistas é a desigualdade na distribuição dos servidores em cada área. “As pessoas têm a falsa ideia de que a falha do serviço público é de excesso de funcionários. Mas não é”, garante Lassance. O problema não é quantitativo, mas qualitativo, explica. Enquanto sobram funcionários em certas áreas, como no Legislativo, faltam em serviços básicos, como saúde e educação. “Há deficiências em várias áreas. Não porque não haja profissionais habilitados, mas porque os salários, muitas vezes, não são atrativos”, acredita o pesquisador.

“Alguns servidores custam muito caro, principalmente nos poderes Legislativo e Judiciário. O chamado teto salarial do serviço público foi completamente desmoralizado, sobretudo pelo Judiciário, que paga três, quatro, cinco vezes o teto a alguns juízes e desembargadores”, avalia Lassance. Segundo dados do Planejamento, cada servidor do Judiciário custa, em média, R$ 123 mil por ano, enquanto o gasto anual com um funcionário do poder Executivo é de R$ 42,7 mil. No Legislativo, a diferença é ainda mais evidente: o custo de cada servidor é, em média, R$ 153 mil por ano.

Com base nesses números, Lassance acredita que o Brasil está dando o recado errado às pessoas que se formam nas áreas de humanas, biologia ou matemática. “O país está dizendo ‘larga disso. Vai ser consultor legislativo, auditor de um tribunal de contas ou vá trabalhar no Judiciário. Vale mais a pena’”, argumenta.

O desequilíbrio existe tanto nos salários quanto na distribuição de pessoal, afirma o professor Clóvis Bueno de Azevedo, do Departamento de Gestão Pública da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. “Dizer que tem inchaço na máquina pública no Brasil é bobagem. O que temos é uma distribuição ruim de pessoal”, afirma. Há desproporção, segundo ele, no número de funcionários em áreas urbanas e rurais, entre as capitais e o resto do país e entre os serviços do centro e da periferia. “Em São Paulo, por exemplo, tem muito menos médicos na periferia que nas regiões centrais”, pontua.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Os ultrajovens


O poder dos ultrajovens


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O poder dos ultrajovens

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"Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultrajovem", escreveu Carlos Drummond de Andrade no final dos anos 1960, em uma crônica que versava sobre o embate de um pai com a filhinha em torno de uma lasanha. Ele insistia, ela ignorava. Ele repetia, ela se mantinha firme em seu propósito. Ele tergiversava, ela o lembrava do que queria. Ela ganhou por coerência. Ele perdeu por não entender a dinâmica dos tempos. A premissa é mais atual do que nunca. A força do poder ultrajovem é inexorável.

 

De acordo com pesquisas recentes, se depender da geração que tem por volta dos 20 anos (a mesma idade de ÉPOCA), estão encrencados os hotéis, as lojas de departamentos, as cadeias de restaurantes, a indústria automobilística, o comércio de diamantes, a produção de guardanapos e de canudinhos, os programas de fidelidade de hotéis e de cartões de crédito, os jogos de azar, os bancos, a produção de amaciantes de roupa, o sonho da casa própria, a ideia de casamento estável, os acasos felizes, as viagens de cruzeiro, as emissoras de TV aberta, os políticos de ocasião, os planos de aposentadoria, Paris e até o milk-shake do Bob"s.

 

Eles resolvem a vida (para o bem e para o mal) pelo celular, sorvem coisas de cor verde (comer virou questão de identidade), têm um pendor para medicamentos identificados com uma tarja preta, passam a noite em claro, não se sabe se estão trabalhando ou relaxando, gostam de empunhar bandeiras universais, mas se preocupam mesmo é com sua persona nas redes sociais, pensam igual a quase todo mundo da mesma geração, comportam-se como adolescentes apesar de terem idade de adultos, tecnologia lhes é tão intrínseco como respirar, ser de esquerda é do jogo, ter o nariz em pé é condição sine qua non, gostam de Insta Stories porque ele dura pouco, arriscam tudo por terem pouco a perder, rechaçam qualquer coisa que contenha plástico, gostam de viajar para lugares onde podem mostrar novidades no Instagram. Eles são o que são ou são o que querem parecer ser?

 

"Eles se tornam personagens de suas próprias vidas, preocupados com narrativas, contextos, motivações. Estão sempre esperando pelo terceiro ato — que nunca chega", disse um estudo da Boxl824, conduzido pelos pesquisadores Sean Monahan e Sophie Secaf nos Estados Unidos, sobre o que chamaram de GenExit, a geração que opta por experimentar novas possibilidades identitárias, mais livres e menos deterministas, mas não menos disruptivas.

 

Ainda que esteja cansado depois de um dia longo, o estudante de publicidade Luigi Dalmolin, de 21 anos, só vai para a cama após um banho quente. Por isso, entre uma ensaboada e outra, Dalmolin assiste a vídeos no YouTube ou responde a mensagens no WhatsApp, Graças a uma providencial capinha à prova d"água, ele faz parte de uma minoria — surgida recentemente — que toma banho com 0 telefone celular dentro do box. Estar com 0 celular nas mãos 0 tempo todo como faz Dalmolin, conectado, com os olhos vidrados e os dedos tocando a tela, é um dos principais comportamentos identificadores dos ultrajovens (ou geração Y). São as pessoas nascidas entre 1982 e 2000 (segundo 0 Census Bureau, agência governamental encarregada pelo censo nos Estados Unidos), ou entre 1981 e 1997 (segundo o instituto de pesquisa americano Pew Research Center). Os jovens apresentam características que os diferenciam das gerações anteriores e refletem mudanças relevantes no mundo.

 

A principal distinção dos ultrajovens é a necessidade de estar conectado o tempo todo. Smartphones são sua porta de acesso ao mundo; 43% dos jovens são como Dalmolin: não vão ao banheiro sem seus celulares. O aparelho é tão importante que 42% deles afirmam que deixariam de ir à academia se não pudessem levá-lo.

 

A fixação por smartphones atinge outras faixas etárias, mas, no caso dos ultrajovens, deu origem à "era da distração". A fartura de dispositivos conectados á internet está reduzindo cada vez mais a capacidade de concentração. No início de maio, Cari Marci, neurocientista e médico especialista em questões ligadas ao consumo e ao comportamento, esteve no Brasil para apresentar o resultado de pesquisas neurológicas realizadas por sua empresa, um braço da gigante teuto-americana Nielsen.

 

Marci encara a tal distração como resultado da falta de tempo ocioso. Os "nativos digitais" não se enfadam, porque estão sob constante estímulo. Se estão na fila do mercado, não precisam "esperar"; é só sacar o celular e responder a uma mensagem ou dar uma conferida nas notificações das redes sociais e pronto: a fila andou rapidinho.

 

Essa constante alternância entre a vida real e as plataformas digitais gera um alto nível de emoção e engajamento. Quimicamente, esse fenômeno estimula a dopamina, o "neurotransmissor do prazer" — ou seja, os ultrajovens ficam literalmente felizes com essa interação toda. Marci chama isso de "regulador de humor". "Quando você cresce em um mundo com esses dispositivos, surge a possibilidade de calibrar suas emoções", disse a ÉPOCA. "No entanto, há uma questão importante a ser observada: ao estar constantemente pegando e guardando o celular, você passa a não dar atenção completa a nenhuma das atividades que está fazendo." Prevalece a distração.

 

Em seus estudos, Marci comparou a capacidade de concentração de nativos digitais com a de "imigrantes digitais", aquelas pessoas que já eram grandinhas quando a internet se popularizou, na segunda metade da década de 1990. O experimento foi feito pela observação de para onde os participantes olhavam durante a transmissão de um programa de TV: o celular ou a televisão. Os resultados mostraram que um imigrante digital troca a atenção 17 vezes — o que lhe garante uma média de atenção de cerca de três minutos. Já o nativo digital troca 27 vezes — uma queda de 30% no tempo em que consegue prestar atenção em algo (cerca de dois minutos). Levando em conta que ver televisão exige pouco esforço cognitivo, não parece ser um grande problema ter a atenção mais dispersa — até porque, segundo Marci, conforme vamos envelhecendo, a capacidade de concentração aumenta. 

 

Porém, Marci encontrou um estudo parecido, feito com crianças de 3 anos, e a comparação dos resultados o alarmou. As crianças trocaram a atenção entre seus brinquedos e a televisão 33 vezes. Ou seja: os nativos digitais têm uma capacidade de concentração muito mais próxima à de uma criança do que à de um adulto. "0 que me preocupa, como médico, é que, se não falarmos sobre isso, as pessoas passarão a transferir esse comportamento para outras áreas de suas vidas", disse Marci.

 

Em 70 mil anos de existência, os cérebros humanos nunca tiveram tantos estímulos quanto os que hoje afetam os ultrajovens. Eles são cobaias da adaptação física e intelectual a novidades incessantes. Ao mesmo tempo que possuem facilidades que seriam impensáveis anos atrás — conectar-se com um sem-número de pessoas e informações mundo afora em segundos —, também encaram os primeiros sinais de alerta dessa exposição, traduzidos em altos níveis de ansiedade e depressão.

 

Em abril, Lucas Crispim, analista de marketing de 26 anos, desafiou a si mesmo a ficar 24 horas desconectado. Desinstalou o Facebook e o Instagram de seu celular para não ter a tentação de acompanhar o andamento de curtidas, visualizações e notificações. Não deu certo. "Não consegui sequer chegar à marca de oito horas", disse. "A ansiedade foi demais." Essa aflição é comum a muitos jovens. Pesquisas apontam que esta é a geração mais irrequieta que já existiu.

 

"Nomophobia" (do termo em inglês "no-mobile-phone phobia", ou "fobia de ficar sem celular", em tradução livre) foi o termo usado para caracterizar esse comportamento em estudo feito no Reino Unido, em 2013, pela empresa de marketing OnePoll. O levantamento mostrou que mais da metade dos usuários ficava ansiosa quando perdia o aparelho, quando ficava sem cobertura da rede ou quando a bateria acabava. Em pesquisa da empresa americana Coupofy, 20% dos usuários admitiram que seus celulares são a única razão pela qual não dormem o suficiente.

A ansiedade dos jovens se manifesta não só pela distância dos smartphones, como também pela proximidade: 58% dos entrevistados pela Coupofy acreditam que a ansiedade é o principal efeito colateral do comportamento compulsivo. Adolescentes que têm relações de quase dependência com celulares e com as mídias sociais experimentam níveis elevados de estresse, agressividade, depressão e distração, além de baixa autoestima e sono.

 

"Sinto que tenho uma relação de amor e ódio com o celular. É bom estar com ele. Ao mesmo tempo, pode ser ainda melhor estar sem. Ainda assim, não largo dele", disse Luigi Dalmolin, com o celular na mão, óbvio, mas ao menos fora do chuveiro. Os jovens, como principais usuários do Instagram — 59% deles têm entre 18 e 29 anos —, são os que mais sofrem. A angústia de acompanhar a vida alheia nas redes sociais tem nome: FoMO. A sigla foi cunhada em 2004 por Patrick J. McGinnis em um artigo na revista The Harbus, da Harvard Business School, a partir do termo "fear of missing out" (ou "medo de ficar de fora", em tradução livre).

 

Como designer, Victor Campos, de 24 anos, exerce uma atividade que exige persistência e repetição. Contudo, ele conta que ultimamente desiste de algumas atividades quando percebe que não conseguirá um resultado bom em um tempo curto. Quando desenha, por exemplo, se não consegue algo de qualidade logo na primeira investida, deixa de tentar. "Sofro por não ter conseguido e paro", disse. Na esteira da ansiedade, surge também o perfeccionismo a assombrar os jovens. Comparados com as gerações anteriores, os estudantes universitários de hoje são mais duros consigo mesmos, mais exigentes com os outros e se sentem pressionados a atingir a perfeição. 

 

Um estudo publicado na revista acadêmica Psychological Bulletin em janeiro deste ano examina respostas a um famoso teste sobre perfeccionismo, desenvolvido pelo psicólogo Randy O. Frost, chamado Escala Multidimensional da Perfeição. Dividida em seis dimensões, a escala leva em conta os níveis de preocupação por cometer erros, de rigorosa autocrítica e cobrança, de busca por excelência, de percepção de altas expectativas e crítica parentais, de dúvida sobre a qualidade das próprias ações e de preferência por ordem e organização. Foram analisados mais de 40 mil estudantes universitários, que participaram da pesquisa entre 1989 e 2016. Os resultados mostraram um aumento de 10% no perfeccionismo autodirecionado (voltado para si mesmoj, de 33% no perfeccionismo socialmente prescrito (altos padrões ditados pelas expectativas dos outros) e de 16% com relação a terceiros (padrões perfeccionistas que são aplicados a outras pessoas).

 

De acordo com Thomas Curran, um dos autores do estudo, os dados sugerem as mídias sociais como um dos culpados. "Os jovens relatam expectativas educacionais e profissionais cada vez mais irreais para si mesmos", afirmou. "Como resultado, o perfeccionismo está aumentando entre eles." A comparação de cada um com o que se vê nas redes sociais se tornou o grande ladrão da alegria alheia.

 

Redes sociais oferecem parâmetros a essa geração. Não apenas os de autoavaliação, mas também de informação e diversão. A maior parte dos jovens lê notícias no Facebook, a mais presente das redes sociais. Em 2015, a agência americana Quartz informou que o Brasil lidera o ranking de consumo de notícias pelo Facebook, com 67% de sua população buscando informação prioritariamente nessa plataforma.

 

O especialista americano em comportamento do consumidor Morris Holbrook afirmou que, duas décadas atrás, pesquisadores de marketing passaram a prestar mais atenção nos aspectos hedônicos e nas experiências de consumo ?— conhecidos como fantasias, sentimentos e diversão (ou, em inglês, os "três Fs": fantasy, feelings e fun). Pesquisas mais recentes ampliaram ainda mais essa visão e levaram ao reconhecimento dos "quatro Es" — experiência, entretenimento, exibicionismo e evangelização. Foi aí que surgiu a noção de marketing experiencial. Os indivíduos não apenas recebem experiências de modo multissensorial, mas também respondem e reagem a elas. Combine tudo isso à necessidade de não perder nada e cria-se um público sedento por participar e compartilhar — e essa parte é essencial. Segundo uma pesquisa do Instituto Ipsos americano, 75% dos jovens nos Estados Unidos valorizam as experiências acima de outros eventos e 48% deles participam de eventos para compartilhar nas redes sociais. "Ao chegar a algum lugar diferente, só depois de tirar uma foto "digna de ser postada" eu aproveito", contou Gabriele Borges, de 20 anos, estudante de comércio exterior.

 

0 empenho social se reflete nos aspectos profissionais da vida dos jovens. De acordo com um estudo de 2016 feito para a agência Lynx pela Bowler/Pimenta Pesquisa, 54% da geração Y acredita que as empresas devem se engajar e assumir bandeiras sociais e, para 82% desse público, as companhias têm poder transformador. Dos entrevistados, 43% são capazes de citar empresas engajadas em causas sociais e ambientais e dar exemplos dessas iniciativas.

 

A pesquisa Jovens e a geração nem-nem, realizada pelo Centro de Inteligência Padrão (CIP), em parceria com a empresa de pesquisa digital MindMiners, mostra que 66,4% dos jovens concordam que causas como criação ou manutenção dos direitos de minorias sociais, como dos LGBTs, negros e imigrantes, são importantes. Para eles, levantar bandeiras a respeito de problemas sociais e realizar ações para diminuir desigualdades pode colocar empresas em outro patamar. Não é à toa que 76,7% gostariam de trabalhar em uma empresa com políticas de inclusão social. Para aproveitar o potencial criativo dos jovens, os empregadores precisam oferecer um espaço que ao menos tente estar à altura de suas expectativas.

 

Eles preferem fazer compras on-line e apostar em marcas que prezam pela ecologia, criando peças de roupas descartáveis ou que não usem produtos de origem animal. Segundo um relatório de 2014 do grupo de pesquisas americano Brookings Institute, os jovens demonstraram maior confiança e lealdade — assim como maior propensão a comprar — a marcas que apoiam soluções para causas sociais específicas.

 

Isso vale também para comida. Para essa geração, a comida não é apenas comida, é comunidade. Em 2014, nos Estados Unidos, estimava-se que 12% dos jovens fossem "vegetarianos fiéis", em comparação com 4% dos membros da geração X (os nascidos entre as décadas de 1960 e 1980) e 1% dos baby boomers (os nascidos logo após a Segunda Guerra Mundial). Uma pesquisa do Ibope indicou que 7% dos brasileiros entre 20 e 24 anos se declaram vegetarianos. O mercado vegano cresce 40% ao ano no país.

 

Conectados, engajados, vegetarianos, os ultrajovens diferem muito de seus predecessores. A parte da diversão que envolve a noite e as drogas tradicionais parece não interessá-los tanto assim. Na última década, 10 mil bares e casas noturnas fecharam nos Estados Unidos. Na Inglaterra, quase metade desapareceu. Em São Paulo, entre 2012 e 2015, a diminuição foi de 15%. Segundo a pesquisa americana Gen Y and housing (Geração Y e habitação), em 2010 pouco mais de 60% dos jovens frequentavam casas noturnas e, entre os que o faziam, apenas 25% iam mais de uma vez por mês.

 

Um estudo da Monitoring the Future, empresa que acompanha o comportamento dos jovens nos EUA, mostrou que o uso de drogas sintéticas e álcool por adolescente às vésperas da maioridade chegou a seu nível mais baixo desde que a pesquisa foi iniciada, em 1975. Apenas 40% dos estudantes declararam ter ingerido algum tipo de bebida alcoólica. De acordo com uma análise feita pelo DrugAbuse.com, uma linha telefônica de tratamento contra as drogas, os jovens americanos usam menos maconha e cocaína do que as gerações anteriores faziam na mesma idade. No entanto, à medida que as principais drogas de rua se tornaram menos populares, analgésicos e antidepressivos preencheram esse vácuo: na última década, o abuso de opiáceos disparou. O caminho para o vício geralmente começa com uma receita legal vinda do consultório médico.

 

O álcool não foi considerado no estudo americano. No Brasil, a bebida está presente entre mais de 40% dos jovens que vão para a balada em São Paulo —18% no Brasil todo. E também não se levaram em consideração as drogas sintéticas. "Houve um grande aumento no consumo de bebidas no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando foi feito um novo investimento na economia noturna, com a abertura de bares para atrair mulheres jovens e a introdução de bebidas alcoólicas", disse Fiona Measham, professora da Durham University, na Inglaterra, em entrevista ao jornal The Telegraph. Ela estuda os padrões de mudança do uso de álcool e drogas em jovens há mais de 20 anos e argumenta que, embora a bebedeira e o consumo de drogas tenham aumentado desde os anos 1950, esses índices finalmente estão caindo. "A geração anterior à geração Y frequentava muitos bares, bebendo compulsivamente e usando cocaína", disse. "Agora não há aquela embriaguez frenética. Há uma nova sensação de sobriedade entre os jovens."

 

Fora das baladas e usando menos drogas, diminuiu também a prática de sexo. Em um de seus estudos, a psicóloga Jean Twenge, professora e pesquisadora da San Diego State University e autora do livro Generation me, descobriu que os jovens relatam ter menos parceiros sexuais que a geração X e os baby boomers em sua juventude. Um relatório de 2015 do Center for Disease Control and Prevention descobriu que menos pessoas de 15 a 19 anos relatam ter feito sexo se comparadas às gerações anteriores. O declínio é significativo nos dois gêneros, mas particularmente entre os homens. A diminuição também é mais considerável entre os jovens mais jovens. Tudo isso pode ou não estar conectado com o uso das drogas prescritas por médicos. É perceptível que os indicadores de depressão e ansiedade subiram muito nos últimos 50 anos. Segundo um estudo de 2009 de Twenge, mais jovens estão usando antidepressivos e estimulantes, como a Ritalina, que podem diminuir o desejo.

 

Em 2016, o estado de São Paulo registrou queda de 20% na emissão da primeira habilitação em um ano, segundo um balanço do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Especialistas creditam a redução a uma tendência mundial de desinteresse pelo automóvel por parte dos jovens. A venda dos veículos também caiu: na comparação entre o número de emplacamentos de veículos de 2015 em relação a 2014, a queda foi de 22%, incluindo carros, motos, caminhões e ônibus. Considerando apenas o segmento de automóveis, a queda foi de 27% nos emplacamentos, segundo a Fenabrave. É claro que a crise econômica que abate o Brasil desde 2013 é a maior responsável pela diminuição das vendas. Mas há uma percepção de que os mais jovens já não se deixam fascinar tanto por meios de transporte individuais movidos a gasolina como os jovens desde a década de 1950. Essa mudança começa pelas classes AeB, com maior acesso a táxis ou serviços como Uber. Nas classes mais baixas, ter uma carta de habilitação e um carro ainda é sinônimo de liberdade para ir e vir e, portanto, um desejo a ser realizado.

 

Aos 24 anos, prestes a quitar seu primeiro carro, Jaine Mori decidiu vendê-lo. Ela comprou o carro porque seu emprego, na época, demandava que se locomovesse muito. Porém, ao trocar de empresa, a necessidade diminuiu. Ela também aproveitou para se mudar para mais perto do local de trabalho. De repente, o carro pareceu obsoleto. "Eu me mudei para mais perto do metrô e do transporte público em geral. Ficou bem mais fácil me locomover na cidade", contou. Como o carro é um bem que desvaloriza muito e, segundo Mori, "só dá gasto", ela achou que valeria mais a pena vendê-lo do que arcar com o preço da gasolina, do seguro e das revisões. Detalhe: ela pretende vender o automóvel com a ajuda de um aplicativo especializado em cotação, vistoria e contato com clientes. "É muito mais prático", disse.

 

0 carro não é o único costume ligado à ideia tradicional de construção de patrimônio que os jovens estão abandonando. A opções de habitação também vêm mudando. De acordo com um estudo publicado pela Zap Imóveis em 2015, os ultrajovens tinham 40% a mais de interesse em viver de aluguel do que pessoas nascidas em outras gerações. Um levantamento feito no Uruguai mostrou o mesmo movimento: oito em cada dez jovens (com idade entre 18 e 34 anos) estão interessados em alugar, enquanto apenas 20% buscam imóveis à venda.

 

Como o valor gasto com moradia costuma representar a maior despesa do orçamento doméstico, a melhor opção muitas vezes é arranjar alguém para dividir as contas. O costumeiro era casar-se, mas muitos jovens preferem morar com amigos a juntar escovas de dentes com seus parceiros. Segundo o IBGE, os jovens brasileiros de até 25 anos estão casando menos ou mais tarde. Em 2016, homens de 15 a 24 anos marcaram as menores taxas de nupcialidade dos 40 anos de amostra da pesquisa. No grupo de 20 a 24 anos (tradicionalmente o com maiores índices de casórios), os noivos marcaram 23,7 matrimônios para cada 1.000 habitantes — número bem inferior aos 70,5 de 1974. Há dez anos, o índice era de 25,9.

 

Ninguém está dizendo que nos próximos anos os jovens deixarão de casar, morar juntos e ter carros. O que esses indicadores mostram é que hábitos como matrimônio, moradia e carros estão perdendo a importância que tiveram na economia nos últimos dez, 20 anos ou mais. O publicitário Marcos Oliveira, de 26 anos, não quer acumular patrimônio. "Não quero investir dinheiro em um apartamento ou em um carro. Para me locomover, posso usar transporte público ou o particular compartilhado. Se eu comprar um flat para morar hoje e casar em alguns anos, não haverá como morar ali, pois não terá espaço. Não sei o que farei em cinco anos", disse. Para ele, a vida moderna não é tão rígida quanto antigamente. Por isso, não vale a pena enfrentar a burocracia necessária para possuir bens físicos. É trabalho demais. "Diferente de meus pais que viam como uma necessidade ter uma casa e um carro para acomodar a família."

 

Se no século XX a maior indústria reinante era a do automóvel, hoje é a Apple. E, para além de eletrônicos, a geração Y está trocando bens materiais por viagens. Uma pesquisa de 2016 organizada pela empresa de aluguel de habitações Airbnb na China, na Inglaterra e nos EUA apontou que, ao pensar nos próximos cinco anos, os jovens consideram mais importante viajar antes de tudo. Para 70% deles, o ato de viajar está ligado diretamente a suas personalidades e a quem eles são como pessoas. No ano passado, um levantamento do Ministério do Turismo apontou que 28,4% das pessoas entrevistadas com idade até 35 anos faziam planos de viagem, um crescimento de quase 10% se comparado com o mesmo período do ano anterior.

 

Ao priorizar viagens e diminuir a compra de carros e apartamentos, os jovens, que representam cerca de 20% da população mundial, trazem grandes implicações para o formato futuro da economia — e para a velocidade da recuperação da crise. E o mais interessante ainda está por vir: as gerações que chegam a partir dos anos 2000, como a geração Z, partirão das experiências da geração Y para moldar seus costumes. A ver.

Fonte: ÉPOCA

Autor: Nina Finco

O 7 a 1 moral

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O episódio da traição brasileira na escolha da copa 2026 é um exemplo perfeito de todos os nossos defeitos, colecionados.

Tínhamos dado a palavra de apoio aos americanos, canadenses e mexicanos de que iríamos votar neles. Havia, inclusive, um pacto continental para isso.

Na hora do voto, optamos pelo Marrocos. Mentimos e esse é um dos nossos maiores defeitos.

Após o término da votação, que sagrou a tríplice candidatura vencedora, os jornalistas do mundo inteiro voaram para perguntar ao presidente da CBF, Coronel Nunes, o que havia sido aquilo.

Ele: "Não fui eu que votei. Foi uma outra pessoa no meu lugar". A mentira foi revelada pelas gravações. Ou seja: nos eximimos da própria responsabilidade, nosso segundo grande defeito.

Ao ser pressionado, falou: "Eles (EUA) já fizeram copa. Era bom que fosse o Marrocos", traindo a confiança dos nossos parceiros, que é o nosso terceiro e rotineiro defeito.

Depois, em tom de desabafo, ele comentou: "Pensei que o voto era secreto", mostrando despreparo e desconhecimento das regras, nosso quarto defeito.

Ao fim, depois dos cinco minutos mais longos da sua vida, disse em tom jocoso: "É só um voto", fazendo pouco caso da coleção de lambanças cometidas; ou seja, sendo arrogante e se negando a reconhecer os erros, nosso quinto e sexto defeitos.

Enfim, em cinco minutos, através de um dos nossos representantes, reunimos todos os motivos que nos fazem estar onde estamos: nos porões do mundo. Só faltava ele tirar uma pistola e sapecar três ou quatro pessoas, para podermos adicionar a violência e fechar o hall de defeitos com chave de ouro e trazer mais um título de "país da vergonha alheia" ao nosso belo Brasil. :) <3

Ícaro de Carvalho