terça-feira, 26 de setembro de 2017

Quem acreditou na ilusão pós-nacional cometeu um erro primário, por João Pereira Coutinho

O Blog do José Tomaz sempre nos brinda com textos selecionados. Este último, do João Pereira Coutinho, trata do nacionalismo.
Recomendo a leitura


Blog do José Tomaz
TERÇA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2017
"Quem acreditou na ilusão pós-nacional cometeu um erro primário", por João Pereira Coutinho
Folha de São Paulo


Leio e não acredito: são vários os intelectuais progressistas que defendem a independência da Catalunha. Bizarro. Eu julgava, na minha atroz ingenuidade, que o "nacionalismo" (palavra feia) era um dos venenos da história.

Aliás, a política do pós-Segunda Guerra Mundial, sobretudo na Europa, fez-se para evitar que o veneno voltasse a correr nas veias dos europeus —a União Europeia e o seu projeto federalista são apenas os melhores exemplos. Que se passa, camaradas?

Primeira hipótese: os progressistas, no caso de serem portugueses, não esquecem que são portugueses. E olham para a Catalunha como uma espécie de 1640, versão moderna: nesse ano, Portugal expulsava os espanhóis depois de 60 anos de domínio filipino. Hoje, os catalães procuram fazer o mesmo.

Segunda hipótese: há nacionalismos e nacionalismos. Os ingleses, quando votam a favor do brexit, são nacionalistas (maus). Os catalães, quando votam contra Madrid e os Bourbon, são nacionalistas (bons).

Confuso. Será que os camaradas não entendem que a natureza da luta é bastante semelhante? E que todos os povos têm direito a decidirem o seu futuro e a serem governados por si próprios?

É por isso que eu presto a minha homenagem à Catalunha (e aos ingleses, já agora). Não entro em detalhes "legais" sobre o referendo de 1º de outubro. Ele é "ilegal" face à constituição espanhola, que protege a unidade indissolúvel do país? Admito que sim.

Como também admito que a Catalunha acredita que terá mais vantagens econômicas fora de Espanha do que dentro (uma crença assaz questionável).
Mas o meu ponto é outro: o nacionalismo, entendido apenas como expressão soberana de uma cultura, de uma língua, de um território e de um passado, não tem nada de herético. E quem acreditou na ilusão de um mundo "pós-nacional" cometeu um erro primário.

Usei as palavras "ilusão" e "pós-nacional" porque elas surgem em ensaio que recomendo aos nacionalistas confusos e intermitentes. Intitula-se "The End of the Postnational Illusion" e foi escrito por Ghia Nodia no "Journal of
Democracy".

O autor parte de um constatação: o nacionalismo voltou com o brexit e Donald Trump. Moral da história? A tribo dos "cientistas políticos" falhou ao espalhar a ideia "iluminista" de que o nacionalismo era apenas uma febre passageira, que rapidamente seria suplantada por uma governança global.

Historicamente, entende-se esse otimismo racionalista. No século 19, escreve Nodia, os movimentos nacionalistas ainda casavam bem com as consciências "liberais": se os "antigos regimes" oprimiam a autodeterminação dos "povos", a causa nacionalista era o melhor antídoto para enforcar o último rei com as entranhas do último papa (obrigado, Voltaire).

Foi no século 20, com o nazifascismo, que o "nacionalismo" ganhou má fama.

Pouco importa que o nazifascismo tenha sido uma versão perversa do nacionalismo; e pouco importa que Hitler ou Mussolini tenham sido derrotados por nacionalistas como Churchill. A mancha ficou, e a política pós-1945, com a ONU ou a União Europeia, pretendeu construir uma "nova ordem" em que as nações seriam apenas relíquias do passado.

Sabemos que isso nunca aconteceu. No seu ensaio, Ghia Nodia relembra-nos de que, antes do brexit e de Trump, a segunda metade da centúria já tinha conhecido explosões nacionalistas que negavam a ilusão pós-nacional: os movimentos de libertação africanos contra o colonialismo e, claro, as reações nacionalistas contra o império soviético que triunfaram em 1989.

Mas seria possível acrescentar as "guerras civis" nos Bálcãs para entender não apenas que o nacionalismo estava vivo —mas, sobretudo e acima de tudo, que a pior forma de lidar com ele é negá-lo ou suprimi-lo. Que o comunismo o tenha tentado, não admira. Que os europeus federalistas queiram fazer o mesmo, deveria.

Não sei qual será o desfecho da crise política na Catalunha. Mas, se Mariano Rajoy, premiê espanhol, acredita que a questão fica resolvida com a prisão de independentistas, a ocupação policial da região, o controle das suas finanças —e, no limite, a suspensão do estatuto autonômico da Catalunha—, eu tremo.

E suspeito que a crise do referendo catalão só se resolve com a realização do referendo catalão.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Conservadores que nada conservarão

A grande maioria do povo brasileiro, coisa de quatro a cada cinco conterrâneos, é de gente que repudia o aborto, a pauta LGBT, as cotas raciais e assim por diante. E não é de hoje que os conservadores predominam no nosso país. Oito anos atrás, o Olavo de Carvalho já dizia isso. Mesmo no tempo do Brasil Lula-Maravilhoso, de petrolões submersos em camadas de pré-delações, mesmo quando tudo dava certo com a turma da estrela vermelha, mesmo assim, o brasileiro já era conservador.
Dizem os institutos que trinta porcento do eleitorado vota cativamente na esquerda. Os números me contam então que mesmo um em cada três petistas não gosta dessa baderna gramscista que os vermelhos querem nos impor.
Depois da Lava Jato e do desencanto com o petismo, finalmente os brasileiros poderão votar ano que vem num candidato genuinamente da direita. Bolsonaro tem sido alvo de muitos ataques da esquerda e desconfio que o capitão artilheiro ainda será muito bombardeado. Veremos até que ponto os conservadores do Brasil estão dispostos a mudar tudo, sem nada conservar dessa baderna que nos governa.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O nomezinho disso é Obstrução da Justiça.

O nomezinho disso é Obstrução da Justiça.


Tomara que a mulher mais honesta do Brasil possa explicar suas santas virtudes ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba. 





O GLOBO
INVESTIGAÇÃO CONFIRMA QUE DILMA USOU E-MAIL ‘SECRETO’
Existência de endereços eletrônicos secretos foi identificada por dados obtidos pela procuradoria

Por ANDRÉ SOUZA
22/09/2017
“A adoção de tais medidas permitiu que João Santana e Mônica Moura se precavessem”
Rodrigo Janot Ex-procurador-geral.

A PGR confirmou que a ex-presidente Dilma usou conta de e-mail para alertar os publicitários Mônica Moura e João Santana sobre as investigações da Lava-Jato. Em vez de enviar as mensagens, Dilma e Mônica salvavam os textos nos rascunhos, e, depois de lidos, os apagavam. 

Em 6 de setembro, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disparava uma de suas últimas flechadas antes de se despedir do cargo. 
Ele denunciou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e o ex-ministro Aloizio Mercadante, acusados de tentarem atrapalhar as investigações da Lava-Jato. 
Detalhes da denúncia conhecidos agora revelam que, segundo Janot, as investigações conseguiram provar trocas de mensagens e telefonemas mostrando que Dilma alertou o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura do risco de prisão.
A denúncia vai em sentido oposto ao que Dilma alegou em 12 de maio deste ano, quando o teor da delação do casal veio a público. Na época, Dilma divulgou nota dizendo que “é fantasiosa a versão de que a presidenta eleita informava delatores sobre o andamento da Lava-Jato”. Também afirmou que “causa ainda mais espanto a versão de que por meio de uma suposta ‘mensagem enigmática’ (estranhamente copiada em um computador pessoal), conforme a fantasia dos delatores, a presidenta tivesse tentado ‘avisá-los’ de uma possível prisão”.
Segundo a delação de Mônica, ela e Dilma usavam conta de e-mail para conversar. Mas, em vez de enviar mensagens, salvavam os textos nos rascunhos. Depois da leitura, eram apagados. Com isso, evitavam o registro das mensagens. Foram criadas três contas para isso, sendo que uma delas em nome de uma telefonista da Presidência da República, que, ao ser ouvida, negou qualquer relação com o e-mail.
A novidade agora é que, segundo Janot, as investigações “confirmaram diversos telefonemas trocados entre Mônica Moura e terminais cadastrados em nome da Presidência no período dos fatos. A adoção de tais medidas permitiu que João Santana e Mônica Regina Cunha Moura se precavessem contra diligências investigatórias como buscas e apreensões e prisões”.
Segundo Janot, os dados comprovam a existência dos três e-mails. Um deles, em dezembro de 2015, segundo a delação de Mônica, dizia: “O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo. O pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora está com câncer e com o mesmo risco. Os médicos acompanham os dois dia e noite”.
A delatora registrou, em maio de 2016, em cartório, antes de ser presa, o conteúdo do rascunho do e-mail que supostamente recebera de Dilma. Na denúncia, que estava sob sigilo, Janot afirma que “dados telemáticos obtidos (...) confirmaram a existência dos emails em questão, inclusive daquele em que o rascunho transcrito acima, o qual já havia sido apresentado por meio de ata notarial (...), foi elaborado”. O ex-procurador-geral acusa Dilma: “A obstrução das apurações ocorreu mediante a criação e utilização, pela então Presidente da República, de correios eletrônicos (e-mails) especificamente voltados para o repasse de informações cifradas sobre o andamento de investigações sigilosas relacionadas ao casal de publicitários mencionado, que havia recebido recursos ilícitos para prestação de serviços à campanha presidencial de 2010, o que permitiu aos investigados se precaver de medidas cautelares como buscas e apreensões e prisões”, afirmou. Janot denunciou Lula e Mercadante, uma vez cada, e Dilma, três vezes. Além das mensagens e telefonemas trocados com Mônica, Janot disse que Lula foi nomeado para o cargo de ministro da Casa Civil em março de 2016 para ter proteção. Mercadante, “homem da estrita confiança de Dilma”, diz a peça, foi emissário da presidente para falar com um assessor do ex-senador Delcídio Amaral de modo a evitar que ele firmasse um acordo de delação premiada. Delcídio, que ficou preso até fevereiro de 2016, acabou se tornando delator. O assessor dele gravou a conversa com Mercadante. “Embora tenha tido a cautela de não dizer expressamente o que desejava em troca dos referidos favores, o contexto não deixa dúvidas quanto à motivação de Mercadante ao oferecer os auxílios político, jurídico e financeiro. Ou seja, sua verdadeira intenção era de fato evitar a colaboração premiada de Delcídio”, sustentou o ex-procurador-geral. 

EX-PRESIDENTE MANTÉM VERSÃO 
Em relação a Lula, Janot citou vários telefonemas grampeados por ordem do juiz federal Sergio Moro. Segundo ele, as ligações mostram uma articulação para que o ex-presidente se tornasse ministro. Com isso, os casos na primeira instância, inclusive com Moro, seriam transferidos para o STF. A assessoria de Dilma informou que a posição dela continua a mesma expressa em nota de setembro. Na época ela classificou a atitude do ex-procurador-geral de lamentável e sem qualquer fundamento. Disse também que as investigações se baseavam em interceptações telefônicas ilegais, numa referência à nomeação de Lula, mas não fez menção ao caso de Mônica Moura. Também em 6 de setembro, as assessorias de Lula e Mercadante divulgaram notas negando as acusações. Lula disse, por exemplo, que sua nomeação não foi crime porque não interromperia o curso normal das investigações.

Escalada de tensões

O ditador norte coreano fez um discurso mais para consumo interno, mas que também assusta muita gente por aqui. Esse episódio servirá para medirmos os limites entre a audácia e a bravata de Trump e de Kim Jong-Un.

http://www.lavanguardia.com/internacional/20170922/431457115403/kim-jong-un-trump-chocho.html?facet=amp

ESCALADA DE TENSIONES

Kim Jong Un, a Trump: “Domesticaré con fuego al viejo chocho estadounidense”

El líder norcoreano respondió a las amenazas de sanciones contra su país del presidente de EE.UU. advirtiéndole que pagará muy caro su discurso “excéntrico” ante la ONU

EFE, Seúl

22/09/2017 08:01 | Actualizado a 22/09/2017 11:11

Último capítulo del eterno toma i daca entre Washington y Pyongyang. El líder norcoreano Kim Jong Un advirtió este viernes al presidente de Estados UnidosDonald Trump, de que pagará muy caro por su "excéntricodiscurso ante la ONU , en el que amenazó con destruir totalmente Corea del Norte.

"Estoy pensando ahora en qué respuesta estaría esperando cuando (Trump) permitió que esas excéntricas palabras salieran de su boca", señala Kim en un comunicado que recogen hoy los principales medios norcoreanos.

Ahora que Trump me insultó a mi y a mi país ante los ojos del mundo, consideramos una repuesta al más alto nivel"

En este sentido, el líder norcoreano añadió que "ahora que Trump me insultó a mi y a mi país ante los ojos del mundo, consideramos una repuesta al más alto nivel", que estará "más allá de sus expectativas".

"Definitivamente domesticaré con fuego al viejo chocho estadounidense mentalmente desquiciado", añadió el mariscal, en un discurso al que Pyongyang ha querido dar un aire más solemne de lo habitual al publicarlo en la portada del diario Rodong Sinmun junto a la fotografía de Kim leyendo el texto en un despacho.

Domesticaré con fuego al viejo chocho estadounidense mentalmente desquiciado”

Poco después de que los medios norcoreanos publicaran las palabras del líder, el ministro de Exteriores norcoreano, Ri Yong Ho, comentó en Nueva York, donde asiste a la Asamblea General de la ONU, que la respuesta a la que se refiere Kim podría ser por el lanzamiento a modo de prueba de una bomba nuclear al océano Pacífico. "Podría tratarse de la más poderosa de las detonaciones de una bomba H en el Pacífico", señaló Ri.

Estas declaraciones de Pyongyang llegan en respuesta al discurso en la Asamblea General de las Naciones Unidas que pronunció el pasado martes Trump, quien advirtió de que si EE.UU. es forzado a defenderse a sí mismo o a sus aliados no le quedará "más opción que destruir totalmente Corea del Norte".

Podría tratarse de la más poderosa de las detonaciones de una bomba H en el Pacífico"

RI YONG HO

El ministro de Exteriores norcoreano

El presidente de Estados Unidos, Donald Trump, anunció el pasado jueves nuevas sanciones unilaterales contra Corea del Norte, que buscan cortar los fondos a su programa de misiles balísticos al restringir aún más el comercio con el país asiático. “Anuncio una nueva orden ejecutiva que expande significativamente la autoridad (de EE.UU.) para perseguir a individuos, compañías e instituciones financieras que financian y facilitan el comercio con Corea del Norte”, dijo Trump durante un almuerzo con el presidente surcoreano, Moon Jae-in, y el primer ministro japonés, Shinzo Abe. “Los bancos extranjeros afrontarán una amenaza clara: hacer negocios con Estados Unidos o facilitar el comercio con el régimen sin leyes de Corea del Norte”, agregó Trump.

Las continuas pruebas armamentísticas del régimen de Pyongyang, que le han deparado ya dos nuevos paquetes de sanciones de la ONU solo en 2017, y la retórica beligerante de Trump han elevado en el último año el ambiente de tensión que se respira en la península coreana a niveles inéditos.

La crisis con Corea del Norte ha sido uno de los asuntos más candentes este año en la Asamblea General de la ONU, donde se espera que el canciller norcoreano hable este sábado.

Corda em cada de enforcado - Fernando Gabeira

Olavo de Carvalho ensina que temos que derrotar a esquerda chamando-a pelo nome: cruel, despótica, falsa, corrupta, e vamos enchendo as linhas com mais e mais verdades.

Acontece também que os esquerdistas têm seus arroubos de verdade. Esse é o caso do Fernando Gabeira. Seu artigo de hoje no Estadão mostra que a inteligência por vezes supera a ideologia.

Corda em casa de enforcado

FERNANDO GABEIRA - O ESTADO DE S.PAULO

22 Setembro 2017 | 03h00

Quanto tempo os políticos brasileiros vão levar para entender que o jogo acabou?

   

Como será o trabalho de Raquel Dodge? Eis uma pergunta que ainda não se pode responder. Quase todos se revelam – e às vezes se transformam – no curso dos acontecimentos.

A imprensa registrou a omissão da Lava Jato no discurso de posse de Dodge. De fato, ignorou algo de repercussão internacional. Mas talvez, diante de três componentes da mesa investigados pela Lava Jato, Dodge tenha preferido, como se dizia na infância, não falar de corda em casa de enforcado.

No momento atual, deve fazer correções nos acordos de delação premiada dos donos da JBS. E a decisão de Janot em denunciar Temer de novo deve ocupar o centro da cena. As previsões são quase unânimes de que Temer escapará na Câmara.

O Brasil continuará sendo dirigido por um homem acusado de dirigir uma organização criminosa, com o respaldo da Câmara. E não vejo grandes reações a isso no horizonte. A leitura da denúncia de Janot me dá uma pista para entender a passividade popular diante de mais uma denúncia rejeitada.

A denúncia afirma que o Brasil era dirigido por uma organização criminosa, no governo PT, e que a passagem do poder, pós-impeachment, mudou o comando do processo de corrupção. Em suma, houve uma troca de quadrilhas no topo do poder.

Imagino que as pessoas se perguntem: se o impeachment provocou apenas uma troca de quadrilhas, por que a queda de Temer não traria outra quadrilha ao governo? A sociedade tornou-se refém de um sistema político partidário fracassado.

Temer, segundo as pesquisas, está com 3,4% de aprovação. Alguns membros da quadrilha, Cunha, Henrique Alves e Geddel, além do operador Lúcio Funaro, estão presos. Os restantes, Padilha e Moreira Franco, foram denunciados. Sua expectativa é a estabilidade econômica e algum crescimento. Ele acha que com isso responde aos problemas específicos colocados pelo seu desgaste. Curioso como se aproxima do PT na supervalorização do crescimento material, uma espécie de cura para todos os crimes denunciados.

É um modo de pensar que exclui os valores democráticos e reduz as pessoas ao universo do consumo. A suposição é de que elas aceitam tudo, desde que estejam ganhando um pouco mais.

A denúncia será julgada naquele clima que conhecemos e avaliada de acordo com as orientações políticas de cada um. No entanto, o volume de informações existentes, a prisão de vários componentes do grupo, o realismo fantástico daquelas malas cheias de dinheiro de Geddel... Tudo isso não sai da memória tão cedo. Como não saiu o deputado Rocha Loures correndo com a mala da pizzaria. A cena foi repetida tantas vezes que, no final, eu mesmo dizia: lá vai o Rocha Loures com sua mala a caminho do táxi.

Mesmo sendo leigo em Direito Penal, a gente ouve falar em quadrilha, vê tanta mala cheia de dinheiro, pensa em quadrilha. E até hoje não há explicação para elas, uma fortuna familiar, um novo modo de entregar pizzas. As malas são concretas, as contas no exterior, apenas dados bancários.

Muita gente pensa que a rejeição da denúncia passará em branco talvez porque espere demonstrações de rua. Hoje o descontentamento é crônico e às vezes aparece pontualmente, em palcos, gritos de “fora Temer”. Daqui a pouco, os 3% vão-se embora, ficam 0,4%.

Até as forças de oposição parecem contentar-se com Temer sangrando. E alguns analistas chegam a prever uma vitória da corrupção, com mudanças na Lava Jato. Nem todos os dados estão lançados. A descoberta dos R$ 51 milhões com a impressão dos dedos de Geddel, isso ainda vai ser explicado. Não é possível que se apreenda tanto dinheiro, um recorde histórico, e não se explique sua origem.

De todas as maneiras, creio, o Brasil vai tentar se livrar desse gigantesco esquema de corrupção que domina o País e foi revelado, na maioria de seus lances, com muita competência pelas investigações.

O The Guardian reproduziu esta semana uma matéria portuguesa falando dos empreiteiros envolvidos na Lava Jato que compraram imóveis para garantir um visto de residência definitiva por lá. Está dentro da lei portuguesa que estimula o investimento imobiliário no país.

Mas as manchetes revelam o interesse internacional pela Lava Jato, mesmo fora da América Latina, onde, com dinheiro do BNDES, a Odebrecht fez um estrago. Recentemente, os bancos suíços admitiram, no pós-Lava Jato, uma mudança de regras no sentido de tornar mais difícil o fluxo de dinheiro da corrupção. Um ganho planetário, uma vez que os brasileiros não descobriram o caminho nem foram os únicos a usar bancos suíços.

Além do apoio popular, são muitas as razões para achar a Lava Jato irreversível. Colocaram o bode na sala e simplesmente será impossível ignorá-lo.

Não sei como o País reagiria se fosse golpeado em sua expectativa de julgamento dessas quadrilhas. Muitos políticos continuam contando com a paciência popular. Não percebem que, ultrapassados certos limites, eles próprios podem pôr-se num risco maior que a prisão.

Supor que ainda possam prevalecer diante da Lava Jato e a pressão popular imaginar o País derrotado por um sistema político-partidário arruinado moralmente é lembrar o pior dos mundos. O triunfo do agonizante sobre uma sociedade cada vez mais informada.

Estou consciente de que minha calma se baseia numa análise mais ampla. Peripécias podem acontecer. Como a delação da JBS, que se mostrou um erro, apesar das provas colhidas.

-15Todos foram informados de que o Brasil foi dirigido por quadrilhas. É importante encontrar um desfecho legal e pacífico para essa descoberta. A teimosia dos políticos em combater a Lava Jato pode levar não só a reações violentas, como também estimular discursos de intervenção militar, muito presentes nas redes sociais.

Apesar da confiança no rumo geral, há esta inquietação tática: quanto tempo os políticos vão levar para compreender que o jogo acabou?

*Jornalista