domingo, 16 de outubro de 2016

O mundo paralelo dos políticos - Merval Pereira

O mundo paralelo dos políticos

POR MERVAL PEREIRA

16/10/2016 08:23

A volta ao debate da lista fechada para escolha dos candidatos partidários à Câmara, no bojo de uma provável reforma política que vai entrar na pauta do Senado esta semana, é mais uma demonstração de que nossa classe política vive em um mundo paralelo, que não se conecta com o sentimento dos eleitores.
        O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, começou a defender  a tese, que anteriormente era do PT, usando o mesmo argumento falacioso: sem financiamento privado, somente a lista fechada viabiliza uma campanha eleitoral bancada pelo dinheiro público.
        Na verdade, existem razões por baixo dos panos para que a tese volte à mesa de negociações. A adoção de lista fechada mudaria o sistema eleitoral brasileiro e daria argumentos jurídicos aos que buscam uma anistia para os políticos que foram financiados pelo caixa 2 ilegal no regime anterior. 
        São argumentos contestáveis, frágeis, pois os crimes cometidos não desaparecem, embora desapareça o tipo penal, já que os partidos passarão a ser os responsáveis pela escolha dos deputados. Fora isso, é espantoso que no momento em que se vive, no Brasil e no mundo, uma crise de representatividade, com os partidos políticos não sendo mais reconhecidos como um canal eficaz entre a sociedade e o governo, se volte a falar em fortalecer as organizações partidárias, dando às suas burocracias, e não ao eleitor, a capacidade de escolher quem atuará na Câmara.
        A reforma política sairá do Senado com a definição de dois pontos fundamentais: o fim das coligações nas eleições proporcionais, e a instituição da cláusula de desempenho, que obriga uma votação nacional mínima para que o partido tenha representação no Congresso.
        O presidente do Senado, Renan Calheiros, prometeu a uma delegação de deputados que deixará para a Câmara a definição de como os deputados serão escolhidos, entendendo que os senadores não podem definir o sistema eleitoral proporcional. O PT, quando detinha a maioria na Câmara, bateu-se pela lista fechada, assim como hoje o presidente da Câmara Rodrigo Maia, em nome da nova maioria, usa os mesmos argumentos para defender o que contestou anteriormente, quando era da minoria parlamentar.
        O que só prova que esse sistema é uma tentativa de retirar a palavra final do eleitor, dando poder à burocracia partidária. Seria preciso primeiro que os partidos se reorganizassem à base de programas e projetos, para depois pensar-se num sistema que, fortalecendo os partidos, reforçará seus atuais defeitos, já identificados pelo eleitorado.
        Rodrigo Maia cita o fato de que houve uma grande massa de abstenções, votos brancos e nulos nas recentes eleições municipais para dizer que nossos sistema político-partidário está falido e precisa ser revisto. Tem razão na análise, mas não na solução que propõe. O que é preciso é rever o esquema de financiamento de campanhas eleitorais, pois na democracia a eleição custa caro.
        Mas uma nova legislação, que pode acatar o financiamento privado desde que controlado rigidamente e com limitações, não deve necessariamente permanecer com a proibição do financiamento privado definida pelo Supremo Tribunal Federal.
        A decisão radical foi necessária diante dos abusos e do quadro de corrupção disseminada que está sendo revalado pela Operação Lava Jato. As eleições municipais de agora demonstraram que é possível fazer uma campanha mais barata, mas evidenciaram também alguns problemas, como o tempo muito curto das campanhas, que dificultou o conhecimento dos candidatos pelo eleitor.
         Com a redução dos números de partidos, que deve ser aprovada até mesmo pela falta de dinheiro para que o fundo partidário financie tantos partidos que vão surgindo sem controle, poderemos pensar mais adiante em um modelo político-eleitoral que conecte o eleitor aos partidos, como o voto distrital.
         Mas o começo da mudança não pode ser o fortalecimento da burocracia dos partidos políticos atuais, que já não são representantes acreditados pelo eleitor. Eles precisarão primeiro mudar seu comportamento para depois se candidatarem à confiança do cidadão. Ou podem também ser mudados pela punição da Justiça pela corrupção de que participaram sem pudor nos últimos anos. 

Ceticismo - José Padilha

POLÍTICA

Ceticismo

Políticos que dizem dispor de modelo teórico ou ideológico capaz de balizar políticas de sucesso garantido estão mentindo ou equivocados

16/10/2016 - 16h12

José Padilha, O Globo

Sou cético acerca das ciências sociais. Simplesmente não acredito que seja possível a formulação de uma estrutura teórica (marxista, keynesiana, hayekiana, ou seja lá qual for a sua preferência pessoal) capaz de explicar, mesmo que de forma rudimentar, os processos econômicos, quiçá os processos sociais em geral.

Os sistemas sociais, além de muito complexos, não são fechados (interagem com outros sistemas) e são caóticos (pequenas variações nas condições iniciais podem causar grandes diferenças no resultado final).

Além disso, as ciências sociais não dispõem de modelos teóricos que incorporem, ao mesmo tempo, variáveis políticas, econômicas, tecnológicas, geográficas, climáticas e culturais. E é óbvio que qualquer dessas variáveis pode alterar drasticamente a evolução de uma sociedade. Os processos sociais são, pura e simplesmente, complexos demais para serem modelados.

Logo, qualquer político que afirme dispor de algum modelo teórico ou ideológico capaz de balizar políticas sociais e econômicas de sucesso garantido, sobretudo no longo prazo, ou está mentindo ou está seriamente equivocado. Tome o exemplo das empresas estatais.

É verdade que as empresas estatais tendem a ser ineficientes e que estão sujeitas ao achaque de maus governantes (caso da Petrobras e da Eletrobras), mas isso não significa que não existam contextos em que as empresas estatais sejam benéficas ou mesmo necessárias para o desenvolvimento de um país.

Às vezes, o setor privado de um país não dispõe de recursos para investir em infraestrutura e energia, e a formação de uma empresa estatal é a única forma viável de resolver o problema. Por outro lado, a privatização de empresas estatais ineficientes e caras pode impulsionar o desenvolvimento de um país. A História está plena de exemplos nos dois sentidos. Chavões do tipo “temos que privatizar” ou “temos que estatizar” são exemplos de arrogância intelectual injustificada ou sintomas de fanatismo.

A verdade é que todos os grandes dogmas da esquerda e da direita são mitos. Afirmações do tipo “só os empreendedores capitalistas irão inovar” são balela. A internet, por exemplo, não foi inventada por empresas privadas buscando o lucro. Foi inventada por cientistas e professores universitários trabalhando para o setor público. E a Nasa, que inovou bastante, é uma agência do governo americano.

Por sua vez, a ideia de que “o Estado tem que redistribuir riquezas para compensar os defeitos do sistema capitalista” sequer faz sentido. A que sistema capitalista essa ideia se refere? Se a todos, trata-se de uma ideia equivocada, posto que o sistema capitalista americano dos anos 50 e 60, por exemplo, gerou crescimento com distribuição de riquezas.

A realidade é bem mais complexa do que parece à primeira vista. O máximo que um administrador público pode fazer é estar consciente da falibilidade das teorias sociais em geral, avaliar sem apego ideológico os modelos teóricos e as políticas públicas que tiveram melhor resultado na História recente de sociedades parecidas com a sua, e aplicá-los tentativamente, sempre monitorando os resultados e reavaliando os rumos.

Sabendo que penso assim, o leitor pode imaginar o quão estupefato fico face ao atual debate político brasileiro. Os nossos formadores de opinião, quase todos socialistas ou neoliberais convictos, travam um debate estúpido a partir de posições ideológicas dicotômicas que, acreditam eles, explicam o Brasil e o mundo.

Como se a esquerda e a direita radicais exaurissem todas as possíveis formulações teóricas das ciências sociais. Apenas para dar um exemplo: se você acha que a teoria dos jogos é um bom ponto de partida para modelar um dado processo social e emite opiniões a partir dela, as suas opiniões são de esquerda ou de direita? Pois é, nem todas as ideias são reduzíveis às ideologias dominantes...

Do ponto de vista socrático, de quem busca conhecer a própria ignorância, o debate político no Brasil se transformou em um festival inacreditável de besteiras gritadas em tom grandiloquente. O Brasil não precisa de neoliberais ou de socialistas simplórios, polarizados e convictos; o Brasil precisa de uma liderança racional e honesta.

Infelizmente, não vejo ninguém assim no horizonte. Sem exceção, não vi um único candidato a prefeito razoável nestas eleições. Uma lástima. Estou tão cético quanto o Brasil quanto sou cético acerca das ciências sociais.

José Padilha é cineasta

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ah, vascalhau

Vascão periga ser o vice-campeão da segundona. Ah, mas é tudo culpa do juiz. Ô time perseguido, esse Vasco!!! 

Não vi o jogo de ontem, mas, conforme as queixas de sempre, o Vascalhau deve ter jogado muito. Decerto sufocou o Payssandu, meteu uns dez gols legítimos, que foram todos anulados pelo juiz ladrão. Cansou de botar bolas na trave e houve umas vinte defesas milagrosas do goleiro adversário. Os gols que o Vasco sofreu foram todos roubados, em impedimentos escandalosos. E os pênaltis não marcados pelo ladrão de apito? Dezenas deles! Todos eles claríssimos. A zaga do time de Belém parecia jogar basquete, tantas vezes colocava a mão na bola!  

A sensação dos vascalhaus é que há um complô do universo contra o anão da colina. É muito azar, só isso explica!. 

Diante disso, eu entendo o ressentimento dos vascaínos contra o Flamengo. O discurso oficial de São Januário é que o Mengão é beneficiado pela CBF, pela Globo, pela arbitragem, pela sorte ...  

Sabem o que acho? Penso que os vascalhaus teriam um desgosto profundo se faltasse um Flamengo no mundo

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Quem escreveu a bíblia

http://super.abril.com.br/historia/quem-escreveu-a-biblia?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super

domingo, 2 de outubro de 2016

Abre o olho, Folha

Quem lê a Folha de São Paulo pode até ficar zangado ou indignado, mas jamais surpreendido. Seu conteúdo segue o que a imagem da propaganda indica.

A Folha é escrita para leitores jovens, descabelados, ecologicamente e politicamente corretos, que andam de paletó e calça jeans elegantemente rasgadas, em suas bicicletas bacanas pels ruas paulistanas.

O jornal criou o estereótipo de uma multidão de publicitários recém formados enchendo o centro de São Paulo. Sonhou a imagem e acredita no sonho.

Daí, a Folha defende a diversidade sexual, o aborto, os black blocks, a partidarização do ensino, a Cracolândia, o desarmamento, a bondade dos criminosos e, acima de tudo, o PT.

A Folha gritou "não vai ter golpe" e agora grita "fora, Temer".

Ah, a Folha ama o PT de verdade, de paixão operária e sindical, e escreve para quem ela acredita que seja o seu leitor mais importante: aquele jovem antenado, descolado, defensor da Justiça Social e formador de  opinião.

Nos anos de Lula e Dilma, a Folha bombou pela estrada rumo pote de ouro no fim do arco íris.

Só que havia uma pedra no caminho. O PT roubou, mas roubou muuuuito. Pior, os petistas foram pegos e não deu para disfarçar. Todo mundo viu que o ouro do arco íris foi para o partido da estrelinha.

Hoje teve eleição e o PT foi derrotado. Mais do que derrotado, dizimado, nocauteado. Tipo Maguila contra Holyfield. Dificilmente, o lutador de vermelho se levantará antes do fim da contagem.

Agora, vem a pergunta: será que existe mesmo uma multidão de jovens descabelados, de paletó e calça jeans rasgada enchendo o centro nervoso de São Paulo com suas bicicletas descoladas?

Parece que a Folha terá mesmo que acordar do seu lindo sonho e cair na real.

E é bom abrir logo o olho, pois tá ficando tarde.