sábado, 26 de outubro de 2013

A ruína da civilização ocidental

O paradoxo dos nossos dias é que a grandeza da nossa civilização provocará a sua ruína.
Recentemente, li "Os Centuriões", de Jean Lartéguy, um livro publicado há cinquenta anos. Num de seus trechos, um chefe vietnamita comentou que a derrota da França seria inevitável,  pois seus soldados não podiam ultrapassar os limites das regras de conduta que a sociedade francesa lhes impusera, enquanto seus adversários dispunham de plena liberdade de ação para as piores atrocidades.
Não tenho dúvidas que isso foi especialmente determinante para a derrota da França na guerra  na Indochina e para a posterior perda de suas colônias na África.
Poucos anos depois, o poder militar avassalador dos EUA não foi suficiente para garantir a vitória contra aqueles mesmos vietnamitas, pois a opinião pública norte-americana não mais tolerava a continuação da guerra no Vietnã.
As limitações que França e EUA impuseram a seus soldados nas guerras que travaram décadas atrás, também se manifestam contemporaneamente no plano interno das nações.
Nos últimos anos, as democracias mais sofisticadas do mundo têm incorporaram ao seu arcabouço legal normas visando proteger suas minorias sociais da  possível opressão imposta pelos mais numerosos.
O que  seria uma medida de promoção da tolerância e de proteção contra os abusos dos mais fortes tem, muitas vezes, provocado um efeito perverso, permitindo o que se poderia chamar de tirania das minorias.
Dentre diversos casos, há, no Brasil, o exemplo dos Black Blocs, que atacam instituições e atingem a democracia, valendo-se de franquias democráticas, tais como os da liberdade de expressão e da presunção de inocência.
Buscando um cenário mais amplo, há atores internacionais que agem como Black Blocs em escala global, seja  espalhando em diversos países o terror dos atentados a bomba, ou, internamente, empregando o poder militar para massacrar seu próprio povo.
No caso da grande potência mundial, sua capacidade em impedir tais atrocidades encontra limitações impostas por sua própria sociedade, o que reduz a disposição de seu governo em empregar seus meios militares, mesmo quando moralmente justificável.
O povo norte-americano, cansado de guerra, não se vê impelido na busca de outros conflitos.
Em resumo, as sofisticadas democracias ocidentais acomodam suas tensões internas por meio de transferência de poder político a grupos minoritários, mas influentes; toleram abusos cada vez mais frequentes às normas democráticas; e restringem sua própria capacidade de agir contra terroristas e ditadores.
Eis, então, que a grandeza da nossa civilização nos arruinará

sábado, 12 de outubro de 2013

Nobel da Paz

O Nobel da Paz deste ano foi para a Organização para a Proibição de Armas Químicas, a OPAQ. Longe de ser injusto, pela relevância de eliminar armas de destruição em massa; e também longe de ser o mais merecido, porque a OPAQ existe tão somente para cumprir um tratado internacional.
Os inspetores de armas químicas aplicam a ciência pelo bem da humanidade, trabalham em ambientes inóspitos e se expõem ao perigo do envenenamento. É justo que sejam reconhecidos, mas eles só se movem quando autorizados pelos governos.
Quem mais mereceria esse prêmio seria a Convenção para a Proibição de Armas Químicas, um instrumento ratificado por praticamente todas as nações e que traduz o propósito de livrar o mundo de um tipo de arma particularmente cruel.
Não se pode premiar um propósito ou uma boa intenção. Então, o prêmio segue para a instituição que torna o desejo em realidade. É justo que seja assim.