quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

JOGOS DE PODER

Algumas coisas são mais ou menos emblemáticas nessa vida. Uma delas, é o caso do Wikileaks, que representa o quanto a liberdade de imprensa pode influir nos grandes jogos de poder. Que coisa incrível esse wikileaks!

O Julian Assange, dono daquele site, é um australiano de menos de quarenta anos de idade. Tão novo e já aprontou a maior confusão com os todo-poderosos donos do mundo. Tudo porque, em novembro do ano passado, ele deixou vazar na Internet algumas centenas de milhares de documentos sigilosos do Departamento de Estado norte-americano.

Dia sim, dia não, a imprensa publica alguma nova mensagem comprometedora, divulgada pelo Wikileaks. É como um vazamento nos canos de nossas casas, e nós vamos conhecendo a verdade gota a gota.

Pois ontem descobrimos mais uma gota desse oceano chamado “jogo do poder”. Dessa vez, buliram com o Brasil.

Um telegrama de janeiro de 2009, do Departamento de Estado à embaixada norte-americana em Brasília, deixou claro que os Estados Unidos não admitem o projeto brasileiro de lançamento de foguetes. Eles negam seu apoio ao projeto e, pior, não querem que outros países o apoiem. Em linguagem diplomática, os EUA adotam uma antiga política de não "encorajar" as tentativas do Brasil de desenvolver um foguete sozinho. No caso, o chamado Veículo Lançador de Satélite, o VLS.

No que se refere a satélites, o jogo do poder apresenta aspectos econômicos, políticos e militares. Em primeiro lugar, a economia do setor espacial movimentou, em 2008, cifras em torno de 250 bilhões de dólares, envolvendo uma cadeia de produtos e serviços que espanta pela multiplicidade e abrangência. Serviços bancários, de mapeamento, telecomunicações são apenas alguns dos segmentos produtivos contidos no grande negócio dos satélites.

Os aspectos políticos derivam da soberania, da capacidade de um país organizar-se e determinar suas ações sem interferências dos outros. Em poucas linhas, é limitada a soberania de um país que não dispõe de seus próprios satélites e dos respectivos veículos lançadores. Ainda mais se esse país tiver dimensões continentais e necessidade de interligar locais de difícil acesso.

O aspecto militar prende-se, por exemplo, ao uso dual dos veículos lançadores de satélite, cuja tecnologia guarda grande semelhança à dos mísseis balísticos intercontinentais.

Não é recente essa negação dos Estados Unidos em permitir ao Brasil o desenvolvimento de um programa espacial autônomo. Eu conheço uma história muito elucidativa a respeito disso.

Alguns anos atrás, uma empresa norte-americana foi impedida de vender ao Brasil um determinado componente que seria empregado na construção do nosso VLS. As autoridades brasileiras solicitaram uma explicação ao governo dos Estados Unidos do motivo da negação. A resposta recebida foi que aquele país não autorizava a transferência de tecnologia espacial para o Brasil. Ao nosso país não era permitido possuir aquela tecnologia.

Mas a história continua. A empresa brasileira que havia encomendado o componente resolveu fabricá-lo aqui mesmo. Pesquisou, desenvolveu um processo e montou uma pequena instalação industrial para a produção. O investimento foi elevado e era alto o custo do componente fabricado no país. Foi nesse momento que os Estados Unidos resolveram autorizar a exportação da peça ao Brasil por uma fração do preço do componente nacional. O pior foi que nossas próprias leis de licitação nos obrigaram a importar aquela peça.

Essa historinha é bastante elucidativa quanto ao jogo do poder. Contudo, há outros episódios e alguns deles são assustadores.

Em agosto de 2003, uma explosão na base de Alcântara provocou a morte de mais de vinte técnicos brasileiros, que finalizavam a preparação de nosso foguete, cujo lançamento estava marcado para alguns dias depois. Logo aventou-se a hipótese de alguma sabotagem, mas isso jamais ficou comprovado. Mesmo assim, as resistências dos Estados Unidos em permitir o livre curso de nosso programa espacial acabaram alimentando as desconfianças dos que acreditam naquela hipótese.

A explosão não apenas destruiu o foguete. Ela matou gente altamente qualificada, chefes de família, e liquidou, naquele momento, nossa capacidade em produzir o VLS.

Talvez falte dizer que no jogo do poder vale dedo no olho. Sempre houve mortes nesse tipo de jogo.

Chegamos, então, aos nossos dias, onde a notícia do vazamento do wikileaks divide o espaço nos jornais com a licitação para a escolha dos caças do Programa FX2. Nessa escolha, um dos critérios mais importantes é a transferência de tecnologia.

Sinceramente, eu estou curioso em saber o quanto as restrições norte-americanas ao nosso programa espacial influirão na escolha dos caças.













quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Blog do Ilha

Olá. Os que não me conhecem podem acessar minha página em "http://clovis.ilha.sites.uol.com.br/"
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Clóvis Ilha